8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 1/9
Tl76b
82-1023
l
J
CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
Câmara
Brasileira do Livro,
SP
Tnpié, Victor-
lucien, 1900 19_74.
. _
I
O barroco
I Victor-Lucten Taplé ;
traduçao de
Ar"?ando
Ribeiro Pinto. -
São
Paulo : Cultrix : Ed .
da
lJ \:vc:rsidade de
São
Paulo, 1983.
(Mestres
da modernidade)
Bibllografin.
1. Arte
barroca
I Titulo.
7. CDD·7g9.033
18. -719.032
lndlces
para
catálogo sistemático :
t Arte
barroca
709.Q33 (17.) 709.Q32
(18
.) '
2. llarroco : Arte 709.033
(17.)
709.032 (18.)
I .
I
\
1 J
.. .
VICTOR-LUCIEN TAPI}j,
(Membro do Instituto dbFrança
e professor honorário
da Sorbonnc)
B RROCO
Tradução de
ARMANDO RIBEIRO PINTO
t
. 1 XXX)31559
EDITORA CULTRIX
São a u l ~
I
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
. , I .
. . . .
.
8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
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f
nelriSiliO italiano, já
acusam caracteres barrocos. No
séculÓ
xvn
essas forças serão captadas pelo barroco romano e
pelo cla
ssicismo
francês, impelidos sem dúvida
em
direções opostas pelo exemplo
de obras
maiores que
cada
corrente imporá como
modelos
J
Não se
deve cqncluir
daí que barroco e ciassicismo, pJ ssu indo
cada um sua autonomia constituíram dois mundos espirit
1
1ais he
terogêneos, recip r
ocamente
irredutíveis.
Seria reportar ao passad
o
uma antinomia
do
gosto que só existiu muito mais tarde e em de
corrência de
uma
longa
evolução
das
cricunstâncias
e
dos
espíritos.
O
conhecimento imparcial da época · revela, ao contrário t ontami
nações, intercâmbios, interferências
cujas condições
histórid s, devi
damente compreendidas fo rnecem a chave.
O
estudo
do
bkrroco e
do
classicismo
enseja
conhecer essas relações,
mas nossa I atençã
o
deve incidir somente sobre o barroco para inferir-lhe o caráter e a
evolução nos diversos pa(ses
europeus
e
naqueles
que de
endernm
diretamente
da
civilização européia .
26
\
\
\
.-
:
õ
•
c a
i
~
I
SOCIEDADES
DA
EURO
O HARR
\ )
MODERNA E
Co nvém resgatar, nas sociedades ropéias em
quo
o barroco
se desenv olveu a pa rtir do século XVI os valores que
se
revelaram,
co mp
r
ovadamente mais
favoráveis a sucesso.
O
primeiro
que se deve mencion 6 a
concepção
que
muito
s
homen
s tiveram então da religião e culto. A
crise
religiosa do
sécul o
X
q\Jes ionpu to
da
a
espiritual
da
Idade Média
.
A Reforma,
vi
sualizuda e1q seu conju
é
uma J;llptura com
es
sa
herança e, acima dos . séculos em que o ideal cristão pareceu.--eor
romper-
se ao contato dos interesses unu•u•auu; um
retomo . b-Ori ....
gens
do
cristianismo. Deus porém só
O
Cristo redentor po-
ré m o Cristo tal como
se retrata
testemunho
da Escritura
o
puro evangelho . A comunhão por
mas
não a missa. A fra
ternidade
do
s fiéis e
não
mais a h uia
da Igreja.
A
recordação
dos defunt os, porém não mais as aos mortos
e
que se atre
v
em
, o
bras imp
erfeitas
do homem
a fletir o
julgamento
do
Deus
e as secret
as
r
azõe
s
Je
sua eleição
1
de sua
justiça
. Por isso, a
in terc
essão da Virgem
e dos
santos
a reversibilidade
dos
méritos
se vêem rejeit
ad
os como indiscretos,
té
.
atentat
órios . à onipotência
do
Criad o
r.
Dis
so resulta
senão ção
da
arte
religiosa
·(Lu,.
te ro o de mon strou por
~ u a
. . çom
Ç ~ p s
çªntps;
Cal-
vin o, mes mo negando que seja I representar Deus reconhece
qu e as
ar
tes
de
_
intar_
e .
esculpir
.
..
dons_.de
. Deus), pelo
_menOS:.
llll\
;1 t ~ I H i
à t ~ f \ d a ~ ~ ~
ª-.gr.ª
. § ~ 1 )
amHlVÇ
.
..à.
do barro co. O iconoclasmo surge assi na viol8ncia das lutas, com
a obstinução de
suprimir
imagens a simples
visão
f
omentaria
o piniões noc ivas. À Reforma Contra-Reforma. Empre-
endendo, · da
Jgrejá
d ã ~ ü a f n i . l l -
27
•li
I
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I
i
,
I
I
guém contestava a urgência, o Concflio de Trento especific6u nu
merosos dogmas ou diferiu a definição de outros - in dubiis libertas
P l l r ~ m .
ao invés de
umu
ruptura ele assinalava uma evoluçãb . Re
novar a vida cristã e a espiritualidade como a Reforma precdnizara,
mas desta
vez
no âmago e através de uma Igreja romana u r a d a ,
conj.ugaua resolutamente ao que 9 passado contivera de autêfltico e
ortodoxo . Vêem-se, assim; proclamados o culto da Eucaristia, inde
pendentemente da consumação das santas espécies pelos a in
tercess
ihl
dos santos e a obrigação de venerar suas imagens, ja posi
ção exce pcional da Virgem nesse culto dos Santos, a legitimidade
das devoções
à
sua glória, antecipando a promoção de novos o g m a s
Im
aculada Concepção, Assunção), a primazia do trono de Pedro
e a autoridade do Papa, ainda não declarado infalível.
A
ihtenção
de
rCCllnqui stnr aqueles que a Reforma afastara da fé rot
n'
ana, de
iluminar os que viviam na antiga e confusa rotina,
p r e s u n h a
a
propagação da liturgia e novos locais de culto. A arte relig,osa era
assim reanimada, promovida a
um
novo surto. Não
há
dúvida de
que o Concílio de Trento, onde nas últimas sessões principhlmente,
teólogos franceses imprimiram energicamente a sua marca,J foi um
Concílio dos Italianos e Espanhóis, filhos de dois países em que
as
artes ocupavam um lugar primordial, em que o iconoclasmb repug
nava às tradições . O Concílio, em reação contra o paganisr10, ape
na s um dos aspectos do Renascimento, não renegava, portanto, todo
o Renascimento , dele conservando as lições disponíveis
a r a
uma
nova arte religiosa. Além disso, foi ' a pomposidade do Renascimento
que reapareceu nu arte barroca. a preciso, porém,
p r e v e n i - s e
para
não identificar Contra-Reforma .e estilo barroco como dadod estáveis,
ligados necessariamente um ao outro,
já
que,
ao·
contrárioI se trata
de uma evolução.
Porque o Concflio não ministrou prescrições em matéria de arte.
Ele falou muito do que era preciso banir das igrejas: imagens lasci
vas, profanas ou que ameaçavam arredar os espfritos da
I
doutrina .
Nesse ponto, mais uma advertência negativa
do q l i e u m ~
doutrina
s i t i v ~
Colocados os princ{pios da liturgia e da
d i s c i p l i n
o meio
de aphcá-los dependia das circunstâncias e do gosto de jcada um.
Tanto
isto é verdade, que a arte religiosa da Itália nos anos próximos
ao Concílio
foi
uma arte severa, .cujos laços com o
barroto
triunfal
do século seguinte quase não se identificam
à
primeira vista . Na com
p.osição necessária das catygorias os ·historiadores falaram) a propó
sl o, de um estilo da Contra-Reforma, o que
é
dizer a i s ,
ou
de
barroco severo, o que talvez seja contradição nos tennos. A verdade,
no entanto, reside no fato de que os princípios arquitetô
1
icos e
as
8
\
~ o r m n s
do Renascimento e do maneirismo foram conservados, depois
lnlcrpretaclos n.um sentido cada vez mais favorável ao movimento,
à
prOl:ura do efeilo pelo contraste e a suntuosidade, . e que se' formou
ass
im tim
novo estilo ao
q u ~ l
se aplica j
1
ustamente
··a
epiteto de bar
roco. Essa ev olução está ligada muito mt nos às intenções iniciais do
Concílio do que ao destino de sua mensagem.
I
Sem dúvida, cercando o sacrifício da missa de uma liturgia
so-
lene, afirmando ·que
urn
culto peculiar deveria ser rendido
à
hóstia
consagrando a legitimidade das cerimônias de homenagem como
proci
ss
ões, o Concílio planejava, para arte religiosa que deveria
d
es
envolver-se a partir dele, um caráter jde esplendor. Hoje Jiturgis
ta
s severos ou preocupados em atenuar que separa a Igreja romana
das igrejas refo
rm
adas, deixam transpareçer seu desgosto ante a mag
nitude atingida pelo gosto da suntuosidbde. Eles receiam, retrospec
ti
vamente, que os Salves do Santo Sn
1
cramento, com
as
luzes,
as
flores, n incenso, não tenham distraído qpiedade do que a teria mais
s u > ~ t ~ n c i a l m ~ n t alimentado: i n t e l ~ ê n c . i a mais profunda o sa
cnftclo eucanst1co, uma part1c1paçao m1
s
attva ou menos passiva do
. povo cristão , do caráter comunitário da missa. Mas são juizos
de valor e não explicação. A época ainda era de luta. Convinha-lhe
afirmar, de forma ostensiva, as venlade
1
s dogmáticas do Concílio,
de
marcar assim a retomada das posições iauanclonadas . Não se acredi
tava que a religião intima das almas r.udesse ser menos intensa, se
e s ~ e ,
na sociedade inteira,
as
m a n i f e ~
a ç õ e s
grandiosas de
um.
culto
puhllco. Era portanto natural que apos uma reação contra
as
con
descendências sensuais do Renascimentb, o catolicismo reencontrasse
o gosto das decorações pomposas. Pi incipalmente na Espanha, na
I álin, onde ta
is
tendências já existiam, jou na Flandres católica, con
servada espanhola porque continuava católica.
A espiritualitlade da alegria , na acepção do Oratório e de São
Felipe Néri , também predispunha as almas a traduzirem em cantos
e gestos seu regozijo interior. /11
y J
ís
·et
ca ticis
Em Romà, en
fim
, capital do mundo religioso, na romana, atenta à retomada
do destino dos povos por príncipes catÓlicos - um duque da Baviera,
um IIabsburgo em Praga, no centro de sociedades quase totalmente
conquistadas
à
Reforma,
um
HenriquJ IV que se convertia para rei
nar e restabelecer a paz civil na Françh - a consciência pas vitórias
alcançadas · acarretava a exigência de I ções de graça. "Onde estão,
pois, os outros
~ 1 o v e ?
dissera o Cristb ao constatar a ingratidão da
q u ~ l
q ~ 1 e _ hav1a curado. Agradecerl a Deus era um estrito dever.
A mgra ldao representava uma fom1
1
de blasfêmia, um pecado do
29
J
.I
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.
I
orgulho. Quer_ queiram ou
n ~ o
havia também humildade e s
il
hp lici
dade de ~ o r a ç a o nessa necesstdade de preito e magnificência . rlorém,
eSSl'· c o n J i l l l t ~ J de
opini.i)es e sentimentos
provoçava
uma ren d
vação
da arle reltgtOsa pela nqueza e a profusão. Não ' um estilo invêntado
para surpreender as imaginações, perturbar os · sentidos, submJrg
ir
a
razão,
captar
as adesões religiosas
por
um
aparato de
s e d u ç ã
mas
um
t i l o
sem dúvida triunfal, porque
se conciliava com
a
expe ·
iênc
ia
do tempo e que, sob esta forma, representava uma expressão da ,prece.
neve ser aqui dissipado o precottceito que associou muito tempo
o barroco e a atividade
da
Companhia
de
Jesus, ao
ponto de se fazer
admitir a expressão de est ilo jesuíta. Este, para ser autêntico pres
supnria que a Companhia tivesse
adotado
um
tipo uniforme de
ar
quitetura religiosa e
de de
coração, ou que a igreja do Gesu em
contemplHànea tio
Concílio,
tivesse serv
ido
de
modelo à
arte
posterior.
Duas asscn;õt s contraditadas pelos fatos. ·Vimos o caráter igreja
dn Gesu. l
A l ntos
ao
perfeito acordo
da arte r ~ l i g i o s a
_
com as pres
rições
th>
L'n
ndliu
,
llS
jesuítas
só pen savam em
fins práticos. S laS i
grejas
deviam ser iluminadas para que o fiel pudesse acompanhar bem o
nfído, lc r as
orações de
seu livro; a ac(lstica impostada
de
modo
que se nu,·isse o pregador e o canto ressoasse em sua pldnitude.
Um acesso fácil
à Mesa
Sagrada devia
garªntir
sern .
deso
Idem a
d i s t ~ i b u i ç ã n da
comunhão. Ainda algumas particularidades, como
a ausência
de
um
grande coro,
inútil já que não havia ofítio
pú
blico, a pre sença de oratórios
onde
os padres, isolados
do
rbsto da
igreja, adorariam o Santo Sacramento num recolhimento mJis ínti
mo, e a
i ~ s o
se resumia
l mo o
11ostro a maneira
próptia
dos
jesuítas . U resto, isto é, o principal: planta do edifício,
e ~ t i l o
du
co
nstrução, submetidt1S
à preferência
dos
doadores,
ao dos
arquitetos e subordinad os às circunstâncias. Hq lve no te thpo do
generalato
do
P.
Mercurian
(
1580),
efêmera
veleidade dd
impor
às div ersas províncias da Companhia o mesmo tipo de edifídio, m as
u princípio
da liberdade
prevaleceu.
Da modesta
igreja de Af1chieta,
na
ba
ía do Rio de Janeiro, simples como uma igreja . paroquial tle
vila,
ao
hábil, · p
oré
m livre apelo
do Gesu,
a igreja
professa
de
Paris (
m ) ~
São Paulo-São Luis),
mais
_prima afastada do
qtie
filha
n t u a r t ~ romano : (f. Moisy); à pura e romana igreja
I
o no
v e lado pans1ense;
à
capela de
La
Fleche, onde se conserva a vo
luta de ogivas; à obra-p
1
fima barroca do noviciado romand, Sanlo
André
do Quirinal, de
Dernini, em San
Salvator de Pra
ga,
com
suas três naves e seus
p ú l ~ i t o s ;
à igreja
Am
Hof de Viena , dom sua
30
I
- . . d . á 1 I . ·
1 eemaçao manetrtsta e seu a tntr ve terraço
(a
. hsta seria ines-
gntávt:l
é u t ~ l a variedade
surpreendente
de
tipos
s u a
diversidade
se cxp
lt
ca, acuna de tmlo, pelo desejo ser eficaz. Flexibilidade
e moderação da Compa
nhia
: o
importantb não
era fascinar pela uni
l'onnidade e c11clnsividade de um modelo, mas tornar uma igreja
agrndá
vel
aos usuá
ri
os,
respeitando
a
c o l h a
dos
doadores, adap
tando
-
se
aos hábi tos
da
região, às condições
do
espaço.
Dissolve-se assim o fantas ma do
t i l o
jesufta. Mas fica evi
de ncia do, em
eompensação,
que os jestlitas,
construindo
muito na
época en1 que triunfava o barroco, elegdram esse. estilo para alguns
1k se
us mais
t á v e i resultados
e muit1.
contribuíram para
seu su-
cesso e reputaçao.
I
preciso conceber como os val0res religiosos católicos se
pt o
pagaram
então amplamente
na sociedade
européia. A partir
das
prescrições conciliares, favorecida s aqui, combatidas ali pelos gover
llos
o ca tolic.:ismo
renovado progrediu r
reconquistou almas. Algu
tna s delas aseenderam até à santidade ou conheceram as graças ex
cepcionais do êxtase:
por
injunções da fraqueza
humana, um redu
zido
número.
Em compensação, sociedades inteiras se banham na atmosfera
·
da
religião c, principalmente, sua
e s t r u ~ u r a
mental
é
religiosa. Do
nascimento à morte, o clero int ervém
bm
odas as etapas de uma
: is
tência. Nenhn.m
estado
civil a ser o da lgreja.
D a t i s ~ o s ,
casa1nentos, falecunentos, tudo é regtstrado pelo cura. Em mmtos
países mantém-se o registro elas confissões e
comunhões
pascais, pres
cri tas pelo Concílio de Trento. Se o trabà tho é regulado somente pela
lu'l.
do
dia e,
no
ca
mpo,
pelo ciclo
elas
j estações,
também
o
é
pelas
fases do ano litÍtrgico . Os domingos são de folga e de numerosas
-fcstus
de
san tos.
Os
açougues siio {echddos durante a
quaresma.
Os
di vertimentos populares acompanham júbilos da Igreja. :S ela · que
e111 presta a alguns dias seu
ritmo
de feSta e a outros seu caráter
de
pcnitêm:in. Cclcbrn-se o Natal para lembrar ·o nascimento do Salva
dor,
a Páscoa para o dia
da Ressurreição
, as festas da
Virgem para
evocar suas graças insignes e anunciar vinda do Cristo. Cada pafs,
.
ci
dad
e venera um santo
protetor, cujo nome se reproduz
.
nas
Ianultas de uma geração a outra.
Existe
algo tle
mais
direto ainda, nrincipalmente
nas
sociedades
r u r i ~ i s ~
Apesar
do .P
·
ogresso
da ciência, qnal só
se
desfrutaria com
knttdao os bcncftctos, e que, além disso só interessam a uma mi
noria da populm;ão, a precariedade dás' técnicas deixa
os
homens
tragicamente desamparados em face da
1
s calamidades que os amea-
31
i
I
I
:I
l
' i
I
i
l
I
I
I
\
I
i
I
i
8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 5/9
çam. Trata-se da saúde? As epidemias que nada previne nem detém,
alastram-se com um ritmo de catástrofe e desencadeiam terrívf is es
tragos. Em tempos normais a medicina empírica, a ignorânçia da
ci rurgia deixam as doenças súbitas e fatais destruir existências em
pleno vigor da idade. Muitas mulheres sucumbem aos partds e a
mortalidade infantil permanece considerável,
nãÇJ
atingindo seqGer 25
anos a média de vida humana. I
Trata-se dos bens da terra? Numa época em que os rendtmentos
do
solo cultivado são irrisoriamente baixos, em que os costuthes vi
gentes arrebatam do produtor uma parte importante de sua c:olheita
e interditam-lhe
as
reservas necessárias, as intempéries, des'\strosas
mes111o hoje em dia, conduzem rapidamente à miséria uma população
subnli111entada
e cedo esgotada pelo trabalho. As privações degrneram
em fome e acarretam puru aqueles que atinge as mesmas ~ q i l ê n
da
s trágicas: morte quase inevitável dos mais fracos, das c fianças,
velhos, mulheres grávidas e queda da natalidade durante
B indubitável que essa insegurança geral predispunha aJ almas
a solidtar a intercessão das forças espirituais. Uma religiosid'ade di
fusa uma crença um pouco temerosa no maravilhoso explicab1, con
forme a maneira pela qual podia ser iluminada ou captada, recep
tividade mais dócil ao ensinamento das i g r e ~ a s ou o refúpio nf s mis
térios da feitiçaria. A Contra-Reforma, mulllphcando as tmagy
ns
, en
corajando o apelo à intercessão dos Santos, norteia para a doutrina
definida pela Igreja uma inquietação que derivaria facilme dte para
a magia. As exigências inerentes a nosso tempo levam muitas vezes
a desconhecer que esse ritual, se deixava numerosas almas ào nível
de práticas mescladas de superstições, fomentava
em
muitas outras
uma vida religiosa autêntica. As prescrições conciliares tinhpm sido
formais a esse respeito: recomendavam a invocação pessoal
i.los
san
tos e o
~ : u l t o
de suas relíquias e imagens, como uma coisa b9a e útil,
condenavam "aqueles que defendem que os Santos não rogam a Deus
pelos homens
ou
que é uma idolatria invocá-los, .a
fim
de qf e orem
para cada
11111
de
nós
em particular" (25.a sessão, dezembrj 1563).
"Cada um de nós em particular." Cento e vinte anos dfpois do
Condlio, esta mesma idéia é reafirmada por Bossuet na or·ação fú-
nl bre da rainha da França: Que eu menospreze esses filósf:fos que
avaliando os conselhos ~ t e Deus à medida dos seus pensamer tos, não
o fariam autor senão de i.tma certa ordem geral, onde o res o se de
senvolve como p o d e ~ .
. \
Como se a soberana inteligência
I
ão pu
desse compreender em s
1
eus desígnios as coisas individuais que, sós,
subsistem verdadeiramente. Não duvidemos disso, cristãos. Deus or-
1 I
32
I
denou também nas nações as famílias individuais de que elas são com
postas."
Di
.sposição que prepara e fomentâ, na arte religiosa, ·não ape
'nns o caráter trunscendenta.l das visões de paraíso e eternidade,
rnvilhns dos santos na glóna, mas os testemunhos concretos e stmples .
de uma proteção familiar, inesclada à àtividade de cada dia, que _
antecipadamente, empresta a algumas estáluas uma personalidade, tam
bém específica, encoraja os fiéis a d e p o ~ i t a r e m nelas um s ~ n t i m e f \ O
de predileção, a visitá-las em peregrinndões ou em instâncias isola-
das, ·como seres vivos e eficazes. /
No decurso dos debates do Concílio, os perigos da idolatria
eram salientados nessas práticas, mas nãb contrabalançavam a amea
ça mais grave de
um
culto abstrato que lpoderia levar
à
ind.iferença.
l'or isso, os padres espanhóis tinham felli.l reconhecer nas Imagens,
wr11o tais,
em
primeiro lugar pelo ~ u e _ l a s represe.ntavam . mas t ~ m ·
hém diretamente e em razão das bençaos de que tmham s1do objeto
e das graças de que e s t a v ~ ~ i n ~ e s t i d a ~ jum caráter venerável de ob
jeto consagrado que as dtstmgura da tmagem profana e
as
banhava
de espiritualidade. Quamlo no dia subsbqUente à guerra dos Trinta
Anos, o Imperador Fernando l l l orderlava reerguer no Império os
calv:írios e as imagens das encruzilhad ds, erigidos pela piedade dos
antigos cristãos e destruídos no decurso
I
e agitações, não fazia mais
do que aplicar o próprio espírito do €oncílio e reatar a tradição.
Mas se se considerar até que ponto as o m l i ç õ e s da vida favoreciam
esses recursos à intercessão e preparav
1
am um uso constante dessas
imagens, compreende-se o sucesso que poderia advir de tal medida
e como ela facilitava, muito mais do 1ue as prescrições poHticas e
talvez melhor do que os sermões, a propagação de uma religião
sensível e familiar.
Poder-se-ia perguntar em que es[as tendências sociológicas e
religiosas garautiam o sucesso de uma arte que fosse antes barroca
do
que outra coisa. Mas a resposta é fácil.
Em primeiro lugar, essa. religião as imagens era conforme ao
gosto da Europa e, naturalmente, os modelos espanhóis se expan
dirum nos países católicos para se a s ~ o c i a r
à
propaganda religiosa.
Como o caso da estatueta do Menino {esus identific11da até hoje sob
a denominação de Menino Jesus de Praga e que tem por modelo
autêntico uma pequena estátua de
ced
trazida da Espanha por Mm•
de Pernstejn e oferecida por sua filha Imperador Ferdinando, que
a colocou numa igreja de Praga.
Dehe
modo, à vezes
a
própria
33
8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 6/9
:
i :
\ \
c
I
I
I
figura, porém mais freqUentemente ainda o santo cuja dev qçã o
se
expandia com sucesso, procediam
da
Espanha, como Santo lsidoro,
reconheddo como padroeiro dos trabalhadores e l a m e n t aceito
nos meios ntrnis de tod a a Europa.
Nos
países
da América
Latina,
cullo e expressão do culto caminharam juntos e difundiram t o novo
continente o feito da
Espanha. Encontram-se,
pdis, tanto
as
dl
evoções
espanholas co
mo
a forma de arte CJUe as
traduzia.
Mas onde o novo
impulso de espiritualidade dos
santos não adotava forçosamente
os
modelos ibéricos, o c
ulto se
dese nvolvia
num mundo
já hAbituado
com
a
arte
iluminista do gótico e cuja
s ~ n s i b i l i d a d e
s;at isf azia
menllS com uma bdl za ideal do que com tmagens famtltares e
to
c.:antes qu
e a
aproximavam da
doçura ou
da dor, dos
sofrir
tentos
e
da
misericórdia. E preciso, portanto, que a imagem e n t e r
t e ç a
on
acílllllê,
que
ensine,
porém inquietando
o
coração
e,
em
nenhuma
parte, a medida clássica nu a ha rmonia
platônica
parecen\ bastar,
ada ptadas ao objetivo visado.
Normalmente,
o
culto
do k
santos,
tal como era ~ o m p r e e m l i d o . na t r a R e f
~ r m a
e n c o n t r ~ v a se asso
cindu a um
cluua
de
maravilhoso
e
de
realismo, que a
liberdade
do
barl·
uco
podia melhor evocar e satisfazer.
-
·-
· I - En tre os valores civis que favoreceram a arte de .sun uosidade
h a
r o ~ a , .
deve-se
a ~ e n t a r
para
a .
in
stituição
m o n á r q t i ~
e luxo
que
os pnnt:lpc.;s at:retlttavam necessl ar
para
seu presllg1o.
Dt r
ise-á que
essa prent:
upação
existira
no temp
o do
Renascimento,
e
que propor
cionou
bons resultados
ao
espírito
do
classicismo .
~ t o
é yerdade e
assinala uma
li
gação a mais
entre
o
Renascimento
e o
barr0co, entre
o Renascimento o classicismo
do
século
XVII.
Entretantp, n itlé
ia
de cercar a majestade real tle um aparato de riqueza, assumia mais
co
nsistência
à
medida
em
que
grandes Estados se formarani na Fran-
. , I
· a , na Inglaterra, nu Espanha, e que com tsso se
quts
marcar a pre-
eminência da instituição e do personagem no qual ela se encarnav a
tclllpurnriunlente.
Ainda
uma vez mais é
à
Itália que
se
d,irige,
pro
curando segu ir o exemplo das Cortes italianas, que mantinham junto
delas os artistas e cujos
príncipes se divertiam
·em construi'.. palácio s,
em remodelar-lhes os arranjos int eriores. Surpreendente é lo caso de
Henrique
IV, habituado
às vicissi tud es
de uma
vida gueureira e de
per igos, d u r a n t ~
tanto
tempo pouco preocupado
de
ter o I
gibão
ras
gado
e as vestes sujas,
mas que,
uma vez estabelecido
no poder de
um rei
de
França, toma logo o gosto
de
construir .em Paris e em
Folttaineblea u, de o r g ~ n i z a r no L ~ u v r e a grande G a l e ~ . Í ~ à
i r a
dágua .
Ao humor pesso(\l do prfnctpe, que pode, se o ·qutser, ser um
amador esclarecido, apreciar as belas coisas e,
pela
facilitla
ue
de
as
34
\
I
• I.
adquirir, reuni-las em torno dele, se a ·rescenta uma condescendên
c.:ia geral
da opinião, em que entram,
aÓ mesmo tempo, o gosto
po
pula r do espetáculo e a
mais recente
to nvicção de que o poder é
realizado so mente se
se
manifesta nos
de
totlos pelo brilho
do
cenário
em
que se exert:e. Como não Ii ca r impressionado pela in
sis tência
de
Ri
che
lieu, depois
de J3o
s
suet
o defender,
um no 1 es-
tamellt politique, o outro na Politique /tirée des propres paro{es e
I Escriture Sainte, de
que o lu
xo
da
casa
real deve ser rebuscado,
pa
ra im
pô
-lo
aos
estrangeiros'/
As
dbspesas
com
magnificência e
dignidade não são menos
necessárias 1Jara a
manutenção da
majes
t
ade
aos
olh
os dos povos estrangeiros " Há, portanto, intenção de
dcsl
u111br
a
r, vontade de parecer
faustos b,
por
razões
de oportunidade
política. Desenvolve-se assim, além do j Renascimento, p a r a l e l a m e n t ~
ao
e
sforço
dos juristas e
doutrinários ~ ~ r a
fornecer ao poder
do
ret
justificuçi'>es
de
o rdem intelectual, a resolução tle
comover as
sen
sib ilidades pela gra ndeza do esp et ácuth real. Bossuet falará de
não
sei que encanto emana
da pessoa
do príncipe. Se se acrescentar a
idéia geralmente aceita, tanto entre os católicos
como entre
os
pro
testuntes ( J aime I da Inglaterra),
de
9 poder do rei emana d -
. retamenle
de
Deu s,
de
que o rei
é.
b representante
da autoridade
divina e, nesse seniido, tligúó de hmi tenagens que não se tribtltam
a
Clltt
ros l OIJtens· se se
pensar
enfim
huma
espécie
de contaminação
cu lto da n t o J ~ a r q l i i : l pelos
r i t o s
( ) ~ religiãô n9s· países: católicos,.
ler-se-á o elen
co de
co
mponeilles
do maravilhoso.
que se d e s e n ~ o l v ~
em to
rno \<1
instituição.
Ainda ma
is: a mo
narquia será
ta
110
mais
grandiosa quanto
mais
misteriosa for.
Em
1648, parlamentar s parisienses, pressionados
por
fvlnzari11 para definirem claramente os respectivos direitos do Parla
mento
e
do
re i, ao invés de
aproveitar
:
em
a ocasião para
amesquinhar
um
pod
er do qual eles ·não
~ a n ~ a denunciar
ab.usos, protes
ta m,
como diante de um
sac rtl
ég
to,
declaram que sena
vtolar os selos
do segredo
tl
u majestade do Impértb. Tudo isso pode parecer es-
tranho
ao
b a r r o c o ~ mas na
rea\idacte jo
repete
. . .
- ·\ ·
Não
se
pouena, para compreend
r a
monarqma do
século
XVII,
negligencia r esse caráter sacra , nem deixar
de vislumbrar
uma dis
posição
em buscar em outras
instâncias o
que
possibilita fomentar a
emoção em torno dela. Donde as fbstas das
quais
a Idade Média,
sem dúvida, t
ra
nsmitira a
trad
ição, t
bas que recorrem
a
tudo
o
que
a arte contemporânea
oferece
de mÁis deslumbrante para a inaugu
ração de reinados,
para
os casamerltos, nascimentos, lutos na casa
real. Com
diferenças
que
resultam
I
das
disponibilidades financeiras
de cada Estado, no decorrer dos acontecimentos políticos mais ou
35
8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 7/9
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·i
i .
l
m ~ n o s propícios,
~ o n f o r m e
os pa{ses e as datas, essa pompa
1
monár
qtuca esteve
assOCI tda,
cedo ou ta'nle, em maior ou menor grau, em
os pulses europeus - Espanha, França, Império, n1esmo a
Ingl
aterra
-
a manifestações barrocas. E as outras classes sociais?
Já
se viu como o modo de vida
dos
camponeses
)S
pre
dispunha à forma de sensibilidade religiosa que a arte bar oca era
a mais apta a traduzir. Um estudo mais aprofundado obsta ia, sem
dúvida, considerar a classe camponesa como um to.do; propiciaria
re
conhecer nela os grupos que, mais específica ou conscien
1
temente,
contribuíram para ns realizações da .arte religiosa barroca
ho
cam
pe
sinato da Europa católica, mas têm-se como certas
as
afinidades
do mundo rural com uma arte de imaginação e de iluminu ta.
Mais complexos parecem os casos da aristocracia e da b trguesia.
Uma e outra classes, detentoras da fortuna, constituem a clien
tela dos artistas e tem-se o direito de procurar o que, em sua ideo
logia específica, as impeliria a outorgar sua preferência a Úm estilo
mais do que a outro.
I
Na base da economia geral do tempo, observa-se em todos
os países a progressão
do
domínio fundiário, quer se trataske da re
constituição de parcelas de terras desmembradas, em herdades ar
rendadas por seus proprietários, nobres ou burgueses, ou de mais fJ
ampl os domínios, cujo senhorio se reserva a exploração, co fiando-a .
na prática a intendentes e fazendo garantir a maior parte dos tra
balhos, o titulo de vassalagem gratuita, pelos camponeses detentores ..
de dependências ou locatários de terras de aluguel. Seja
u a l
for a
origem das rendas, a aristocracia (ou a burguesia que se Iconfunde
com ela e tem acesso
à
nobreza, na França, através de cargos judi
ciais), está fortemente ligada à terra. Não ·há riqueza sem gran-
de propon;fio de domínios e de florestas, nem nobre podtroso que
ntí
u seja proprietário e orgulhoso de o ser.
Por
muitos dspec tos n
vida senhorial se aproxima da vida camponesa,
e n r o l a
- s ~
na mes-
ma moldura natural e, malgrado as diferenças de recursos) n.artiçipa
das _mesmas representações colet,ivas. No solar aristocráticb de pro
vfncta francesa, o nobre, caçador ou agricultor
é
antes
dd
udo um
r ~ t r í Como sua fortuna seja mais extensa sem d ú v i garan
tida
p { ~ r
alguma herança burguesa, comporta uma dessas 1esidências
senhonais, que as famílias consideran1 questão
de
honra, e que pas
sam _de uma geração outra, embelezadas e readaptada
à
moda
dta_ O orgulho de
t ~ a n s m i t i r
herança perm lnece, ,
r v é s
de
tres seculos, um dos traços mats marcantes da sensibilidade desse
I
i
6
.I
gr
u
po
social,
ma
s
é,
com freqiiência, frustrado pelas vicissitudes das
111ás gestões, dos infortímios dos
f i l h o
pródigos, dos
ri
scos impre
vis
íveil: \
. P
or
isso, a cont inuidade dessa ltrndição nõo é uma regra tão
gené
ri
ca como se tem dito; mas se se tem dito
ou
dese
jaJ
o fazer crer,
é
justamente porque correspondia ao ideal por excelência. "Temos
poucos bens, dizia orgulhosamente um Lefevre d'O rmesson, mas es-
tes
bens nos vêm de nossos pais." ' Há, desse modo,
110
senhor e
pmprie t;Írio fund iár io, ao mesmo te n
1
tpo, camponês e rei, pois ele
exe rce sobre se us vassalos uma proteção e uma autoridade adminis
trativa que relembra m as dos
p d n c i p e
sllbre seus súditos. E mu itos
valores da concepção monárquica cdmo a posse
ss
ão territ
or
ial , a
continuid ade hereditária, u c o m p o r t
m e n t o
paternal, encontram-se
na concepção senh
or
iaL
Aí
também
é um
mundo da imaginaç
ão
e
da se nsibi lidade.
I .
Nesse se ntid o, o mumlo da burguesia se apresentaria, em con-
1
aslt , li
gado a valores ma
is
positivos Todavia, quando os negócios
ou a manipulação do diuheiro assegu
1
raram a riqueza (deve-se con
side rar que as maiores fortun
as
são
as
dos
fin
ancistas, principalmente
nos países em que a economia capitalista se desenvolve mais), o
pr
es
tígio da nobreza, ao mesmo
ten
lpo
od
iada e invejada, perma
ne
ce tão poderoso que a passagem phra o modo de vida da aristo
c
ra ci
a e a adoção de seus hábitos muito depressa, Mas
não é necessário deter-se nesses excepcionais
ou
rápidos da
minoria da burguesia. Um fato deve reter mais a atenção.
Ê
que na
Europa do sécu lo XVII, os países que concederam preferência de-
clarada à arquitetura e
à
decoraçã0 bar roca, com seu fausto ou
apenas seu gos to do excesso e da
l u m i n u r a ,
foram aqueles ·onde
dominava o ele•.nento rural e aristoeráti co e onde a burguesia pa
reci a mai s reduzid a
. É
difícil, nessas bondições, deixar de estabelecer
lltna provável relação de causalidadé entre a econom
ia
senhorial e
o barroco, a economia urbana e um k arte mais sóbria, que seria a
do c
ln
ssidsuto. A coisu
é
bnstunte
su
1
rpreendente no que diz respeito
à
Fronça.
·E
mb ora faltem ainda as
c a s
comprobatórias,· pode
se admitir que a sociedade burgues
1
a na França era proporcional
nt
ente mais numerosa
do
que na Eufopa central, na Espanha ou na
ltáliu; que pequenos patrimônios lhe ésseguravam a abastança na par-
I
~ t ~ i
do ritmo
e
vida, sem autor
iz
ar despesas supérflu
as.
É
in-
1 dub1avel que, para a clientela burguesa das cidades, a arqtútetura
, f
ram: es
a adotou freqUentem
en
te uma postura de
fri
eza e severidade
que se prefere dizer cl ássiça,
p e n ~ s
para reduzir
as
despesas ao
\ mínim o. Ela se sa
ti
sfez em obt er uth resultado sa tisfat ório pela re
g
ul
aridade re lativa
QU
pela harmonih das proporçÕes, sem excessos
37
8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 8/9
8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco
http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 9/9
11 •
ç
I
Qua
n
do
essas tendên
cias
foram reveladas
nu m
a li teratura e em
fmmas
d e arte plás tica co m ca
ra
cterís ticas equilibr
adas
e a
cons
is
tência
int
erior do classicismo
ou em
mo num
entos
de
arqu
ite tu ra
na decoração dos edifícios religiosos,
no
folclore fl
orido
d ds en
can tos rebuscados o u ingênuos do
barroco
a
cont
radi
ção
entre
os
dois
es tilos su rpree nd eu os espíritos ao ponto de
fazer
d m i t i que
por sua natureza, cada
qual procedia
de
um
· gê nio p r o f m e n t e
diferente d n outro. Na verdade porém
as
coi sas não
aco
nt 9
ce ram
desse m
odo.
Ca da
um dos
fa to res
indicados ne sta
breve análise
sem
aca rreta r, necessa riamente o suce
sso
ex clu sivo
de
um estilo mu i1 país
predispunha-o, dis tint amente a
maior
favorecimento ou rd trição.
Principalmente as co ndi
ções
hist
ór
i
cas
-
ou
se ja,
ao mesmo
[empo
ew
nõmic as, políticas . r e l i ~ i o s s e
sóc
iai s - d e t e r m i n ~ l h e o
d ese nvo lvimento e emprestaram à civilização
da
Europa
m o ~ e r n
a
comuvente d iversidade qu e co n
tinua
a re
presentar
o testemu 1ho de
sua riqueza esp iritual e exige, nesse sentido d
aq
ueles que a e tuda m
o r
espe
ito a toda s as su as manifestações e uma s
imp
at ia
com
reensi
va, su scetível à qualidade de todas as suas mensagens.
·I
..
Segunda
Parle
S EXPERif:NCIAS BARROCAS
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