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m março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) introduziu uma nova série do Sistema de Contas Nacionais (SCN), base para a formulação do Produto Interno Bruto (PIB), adotando 2010 como ano de referência e incorporando recomendações da mais recente revisão do Manual de Contas Nacionais, realizada em 2008. O manual é elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Fundo Monetário Nacional (FMI), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. A ONU recomenda que a quarta versão do Manual Internacional de Contas Nacionais seja incorporada aos Sistemas de Contas Nacionais até 2016. A maior parte dos países fez a revisão a partir de 2014 e a expectativa é de que em dois anos todos estejam alinha- dos com a mesma metodologia. Os dados definitivos dos indicadores do PIB brasileiro dos anos de 2012, 2013 e 2014 deverão apresentar novas alterações em relação à primeira revisão divulgada na última semana de março, realizadas com base nos dados trimestrais. Os dados definitivos de 2012 e 2013 serão divulgados em novembro, e o de 2014, no final do ano que vem. A expectati- va é, que nos três anos, possivelmente haja novamente uma elevação nas taxas de crescimento do país. O economista Octavio Manoel Rodrigues de Barros observa que a atualização das Contas Nacionais do IBGE é importante por seguir de perto as recomendações internaci- onais sobre o tema. Elas visam a atualizar os pesos das ativi- dades, incorporar novos produtos e melhorar a classificação das atividades na estimação de tudo que é produzido no país. RUMOS 28 – Março/Abril 2015 METODOLOGIA R REPORTAGEM E O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se alinha a órgãos internacionais e muda a metodologia das Contas Nacionais, cálculo que influencia o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro. Confira como ficou o índice para 2014 e o impacto causado nos anos anteriores Por Carmen Nery O indicador trimestral de PIB de praticamente todos os países é, em parte, estimado, já que as informações definiti- vas demoram a ser divulgadas. “Isso é feito para que haja celeridade na divulgação do principal termômetro de atividade do país. Quando se conhecem os dados definitivos, o PIB é recalculado. Por isso, a atualização é extremamente positiva para o país”, considera Barros. Ele estima que o Produto Interno Bruto nominal de 2014 – divulgado em 27 de março em R$ 5,521 trilhões com taxa de 0,1% – está 8% acima daquele sugerido pela metodologia antiga. “Nossos cálculos sugerem que, quando forem revelados os dados definitivos, o PIB de 2014 pode estar até 10% acima do estimado na metodologia ante- rior”, prevê. O Brasil começou a se preparar para a mudança em 2011, iniciando os trabalhos de concepção e compilação do SCN 2010. Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, explica que a escolha de um ano de referência signifi- ca que esse é o ano no qual as contas são analisadas com mais profundidade e realizadas pesquisas especiais como se fosse montada uma nova estrutura naquele ano para, a partir daí, se evoluir tanto para a frente quanto para trás. A série SCN 2010 foi aperfeiçoada por meio da adoção de nova classificação de produtos e atividades integrada com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0); a introdução dos resultados do Censo Agropecuário de 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/9 e do Censo Demográfico de 2010. Também foi atualizada a matriz de consumo intermediário com dados da Pesquisa de Consumo Intermediário de 2010 para as ativida- Adequação necessária

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m março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) introduziu uma nova série do Sistema de Contas Nacionais (SCN), base para a formulação do Produto Interno Bruto (PIB), adotando 2010 como ano de referência e

incorporando recomendações da mais recente revisão do Manual de Contas Nacionais, realizada em 2008. O manual é elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Fundo Monetário Nacional (FMI), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. A ONU recomenda que a quarta versão do Manual Internacional de Contas Nacionais seja incorporada aos Sistemas de Contas Nacionais até 2016. A maior parte dos países fez a revisão a partir de 2014 e a expectativa é de que em dois anos todos estejam alinha-dos com a mesma metodologia.

Os dados definitivos dos indicadores do PIB brasileiro dos anos de 2012, 2013 e 2014 deverão apresentar novas alterações em relação à primeira revisão divulgada na última semana de março, realizadas com base nos dados trimestrais. Os dados definitivos de 2012 e 2013 serão divulgados em novembro, e o de 2014, no final do ano que vem. A expectati-va é, que nos três anos, possivelmente haja novamente uma elevação nas taxas de crescimento do país.

O economista Octavio Manoel Rodrigues de Barros observa que a atualização das Contas Nacionais do IBGE é importante por seguir de perto as recomendações internaci-onais sobre o tema. Elas visam a atualizar os pesos das ativi-dades, incorporar novos produtos e melhorar a classificação das atividades na estimação de tudo que é produzido no país.

RUMOS – 28 – Março/Abril 2015 RUMOS – 29 – Março/Abril 2015

METODOLOGIAR REPORTAGEM

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se alinha a órgãos internacionais e muda a metodologia das Contas Nacionais, cálculo que influencia o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro. Confira como ficou o índice para 2014 e o impacto causado nos anos anteriores

Por Carmen Nery

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O indicador trimestral de PIB de praticamente todos os países é, em parte, estimado, já que as informações definiti-vas demoram a ser divulgadas.

“Isso é feito para que haja celeridade na divulgação do principal termômetro de atividade do país. Quando se conhecem os dados definitivos, o PIB é recalculado. Por isso, a atualização é extremamente positiva para o país”, considera Barros. Ele estima que o Produto Interno Bruto nominal de 2014 – divulgado em 27 de março em R$ 5,521 trilhões com taxa de 0,1% – está 8% acima daquele sugerido pela metodologia antiga. “Nossos cálculos sugerem que, quando forem revelados os dados definitivos, o PIB de 2014 pode estar até 10% acima do estimado na metodologia ante-rior”, prevê.

O Brasil começou a se preparar para a mudança em 2011, iniciando os trabalhos de concepção e compilação do SCN 2010. Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, explica que a escolha de um ano de referência signifi-ca que esse é o ano no qual as contas são analisadas com mais profundidade e realizadas pesquisas especiais como se fosse montada uma nova estrutura naquele ano para, a partir daí, se evoluir tanto para a frente quanto para trás.

A série SCN 2010 foi aperfeiçoada por meio da adoção de nova classificação de produtos e atividades integrada com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0); a introdução dos resultados do Censo Agropecuário de 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/9 e do Censo Demográfico de 2010. Também foi atualizada a matriz de consumo intermediário com dados da Pesquisa de Consumo Intermediário de 2010 para as ativida-

des econômicas da extrativa mineral, indústria de transfor-mação, construção civil e serviços – a agropecuária foi atua-lizada com o Censo 2006.

Houve ainda a atualização das margens de comércio e de transporte com base em pesquisas específicas e na Pesquisa Anual de Serviços. Além disso, foram atualizadas as estrutu-ras de impostos; e utilizados dados da declaração de Impos-to de Renda Pessoa Física, aperfeiçoando os resultados do setor institucional famílias na Conta Econômica Integrada.

Em relação ao manual de 2008, é importante notar que foram introduzidos não apenas aperfeiçoamentos em deter-minados conceitos, mas, também, algumas modificações que tiveram impacto nos resultados do Produto Interno Bruto. Um exemplo é a nova taxonomia para os ativos não financeiros, ampliando o que deve ser considerado Forma-

Adequação necessária PIBão PIBinho

ção Bruta de Capital Fixo (FBCF). “A principal alteração introduzida pelas novas regras

internacionais é quanto ao que é considerado investimento. O tema consumiu anos de discussão até que se chegasse à conclusão de que os produtos de propriedade intelectual, que geram conhecimento, passassem a contribuir para a Formação Bruta de Capital Fixo, entre os quais os gastos com software, banco de dados, pesquisa e desenvolvimento, prospecção mineral e equipamentos de defesa”, destaca Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Ela explica que o Sistema de Contas Nacionais (SCN 2010) permanece fundamentado nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU) e nas Contas Econômicas Integradas (CEI). Também foi feita uma retropolação (retomada das informa-ções) dos dados até 2000, estimando-se nova série de TRU.

O Produto Interno Bruto do Brasil começou a ser medido em 1948. No auge da crise financeira de 2009, quando a economia mundial sofreu uma retração, o Brasil registrou um PIB estável de 0,3%, o “pibinho”. Já no ano seguinte, a economia cresceu fortemente, chegando a 7,5%, índice que ficou conhecido como o “pibão”.

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m março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) introduziu uma nova série do Sistema de Contas Nacionais (SCN), base para a formulação do Produto Interno Bruto (PIB), adotando 2010 como ano de referência e

incorporando recomendações da mais recente revisão do Manual de Contas Nacionais, realizada em 2008. O manual é elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Fundo Monetário Nacional (FMI), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Mundial. A ONU recomenda que a quarta versão do Manual Internacional de Contas Nacionais seja incorporada aos Sistemas de Contas Nacionais até 2016. A maior parte dos países fez a revisão a partir de 2014 e a expectativa é de que em dois anos todos estejam alinha-dos com a mesma metodologia.

Os dados definitivos dos indicadores do PIB brasileiro dos anos de 2012, 2013 e 2014 deverão apresentar novas alterações em relação à primeira revisão divulgada na última semana de março, realizadas com base nos dados trimestrais. Os dados definitivos de 2012 e 2013 serão divulgados em novembro, e o de 2014, no final do ano que vem. A expectati-va é, que nos três anos, possivelmente haja novamente uma elevação nas taxas de crescimento do país.

O economista Octavio Manoel Rodrigues de Barros observa que a atualização das Contas Nacionais do IBGE é importante por seguir de perto as recomendações internaci-onais sobre o tema. Elas visam a atualizar os pesos das ativi-dades, incorporar novos produtos e melhorar a classificação das atividades na estimação de tudo que é produzido no país.

RUMOS – 28 – Março/Abril 2015 RUMOS – 29 – Março/Abril 2015

METODOLOGIAR REPORTAGEM

E

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se alinha a órgãos internacionais e muda a metodologia das Contas Nacionais, cálculo que influencia o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro. Confira como ficou o índice para 2014 e o impacto causado nos anos anteriores

Por Carmen Nery

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O indicador trimestral de PIB de praticamente todos os países é, em parte, estimado, já que as informações definiti-vas demoram a ser divulgadas.

“Isso é feito para que haja celeridade na divulgação do principal termômetro de atividade do país. Quando se conhecem os dados definitivos, o PIB é recalculado. Por isso, a atualização é extremamente positiva para o país”, considera Barros. Ele estima que o Produto Interno Bruto nominal de 2014 – divulgado em 27 de março em R$ 5,521 trilhões com taxa de 0,1% – está 8% acima daquele sugerido pela metodologia antiga. “Nossos cálculos sugerem que, quando forem revelados os dados definitivos, o PIB de 2014 pode estar até 10% acima do estimado na metodologia ante-rior”, prevê.

O Brasil começou a se preparar para a mudança em 2011, iniciando os trabalhos de concepção e compilação do SCN 2010. Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, explica que a escolha de um ano de referência signifi-ca que esse é o ano no qual as contas são analisadas com mais profundidade e realizadas pesquisas especiais como se fosse montada uma nova estrutura naquele ano para, a partir daí, se evoluir tanto para a frente quanto para trás.

A série SCN 2010 foi aperfeiçoada por meio da adoção de nova classificação de produtos e atividades integrada com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0); a introdução dos resultados do Censo Agropecuário de 2006, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/9 e do Censo Demográfico de 2010. Também foi atualizada a matriz de consumo intermediário com dados da Pesquisa de Consumo Intermediário de 2010 para as ativida-

des econômicas da extrativa mineral, indústria de transfor-mação, construção civil e serviços – a agropecuária foi atua-lizada com o Censo 2006.

Houve ainda a atualização das margens de comércio e de transporte com base em pesquisas específicas e na Pesquisa Anual de Serviços. Além disso, foram atualizadas as estrutu-ras de impostos; e utilizados dados da declaração de Impos-to de Renda Pessoa Física, aperfeiçoando os resultados do setor institucional famílias na Conta Econômica Integrada.

Em relação ao manual de 2008, é importante notar que foram introduzidos não apenas aperfeiçoamentos em deter-minados conceitos, mas, também, algumas modificações que tiveram impacto nos resultados do Produto Interno Bruto. Um exemplo é a nova taxonomia para os ativos não financeiros, ampliando o que deve ser considerado Forma-

Adequação necessária PIBão PIBinho

ção Bruta de Capital Fixo (FBCF). “A principal alteração introduzida pelas novas regras

internacionais é quanto ao que é considerado investimento. O tema consumiu anos de discussão até que se chegasse à conclusão de que os produtos de propriedade intelectual, que geram conhecimento, passassem a contribuir para a Formação Bruta de Capital Fixo, entre os quais os gastos com software, banco de dados, pesquisa e desenvolvimento, prospecção mineral e equipamentos de defesa”, destaca Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Ela explica que o Sistema de Contas Nacionais (SCN 2010) permanece fundamentado nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU) e nas Contas Econômicas Integradas (CEI). Também foi feita uma retropolação (retomada das informa-ções) dos dados até 2000, estimando-se nova série de TRU.

O Produto Interno Bruto do Brasil começou a ser medido em 1948. No auge da crise financeira de 2009, quando a economia mundial sofreu uma retração, o Brasil registrou um PIB estável de 0,3%, o “pibinho”. Já no ano seguinte, a economia cresceu fortemente, chegando a 7,5%, índice que ficou conhecido como o “pibão”.

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R REPORTAGEM

“Isso significa que o siste-ma teve mudanças concei-tuais importantes, mas não na sua estrutura básica, que sempre foi baseada em TRU e CEI”, diz Rebeca.

A TRU mostra como funcionam as atividades e os produtos, identificando toda a estrutura produti-va do país – que atividades econômicas geram quais produtos. Mostra também as produções secundárias como, por exemplo, uma fazenda de gado cuja atividade principal seja a produção de leite mas que também produza queijo –que é uma atividade da indústria de transformação, mas, nesse caso, uma produção secundária da agropecuária.

“Elaboramos o mapa completo das produções e da estrutura produtiva: o que cada atividade precisa consumir para produzir que chamamos de –Recursos e Usos. E também qual o desti-no da produção: consumo próprio, insumo, venda ou exportação. Já a CEI tem um objetivo diferente, pois analisa os agentes econômi-cos – governo, famílias, empresas financeiras, não financeiras e sem fins lucrativos. No caso da família, olha a conta desde o

RUMOS – 30 – Março/Abril 2015

METODOLOGIA

que o grupo produz até o que só conso-me”, esclarece.

A nova série de contas trimestrais foi divulgada na última semana de março e refere-se ao período de 1995 a 2014. Já as séries anuais foram atualizadas de 2000 a 2011. Em novembro, serão divulgadas as séries anuais de 2012 e 2013. Os dados anuais definitivos de 2014 só serão conhecidos no final de 2016. Em todas as atualizações, o valor do PIB foi aumenta-do, não só no Brasil, como em todos os países. Aqui, na série inteira, na média, houve um aumento de 5%.

Cláudio Considera, economista e pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que, para a comparação 2000-2013, a nova série SCN 2010 aponta que as principais alte-rações ocorreram em 2011 e 2012, com o PIB crescendo em 2011 mais 1,2 p.p. (de 2,7% para 3,9%) em relação à série antiga (base 2000) e mais 0,8 p.p. em 2012 (de 1,0% para 1,8%). Ele ressalta que o novo Sistema de Contas Nacionais foi feito

para uma melhor adequação da mensuração do PIB brasileiro aos padrões internacionais, tornando a comparação com outros países mais eficaz.

RUMOS – 31 – Março/Abril 2015

Período decomparação

Em 2014, o PIB varia 0,1% e totaliza R$ 5,52 trilhões

Trimestre/trimestre imediatamenteanterior (c/ajuste sazonal)

Indicadores

PIB Agrope-cuária

Indústria Serviço FBCF Cons.Fam.

Cons.Gov.

0,3 1,8 -0,1 0,3 -0,4 1,1 -0,6

Trimestre/mesmo do anoanterior (s/ajuste sazonal) -0,2 1,2 -1,9 0,4 -5,8 1,3 -0,2

Acumulado no ano/mesmoperíodo do ano anterior(s/ajuste sazonal) 0,1 0.4 -1,2 0,7 -4,4 0,9 1,3

Valores correntes notrimestre (R$ milhões) 1.446,1 48,0 279,6 901,4 277,0 914,1 324,9

Valores correntes noano de 2014 (R$ milhões) 5.521,3 262,3 1.104,7 3.351,8 1.090,1 3.449,8 1.114,9

PIB per capita = R$ 27.229 ( -0,7% em volume em relação a 2013)

Taxa de investimento (FBCF/PIB) no ano de 2014 = 19,7%

Taxa de poupança (POUP/PIB) no ano de 2014 = 15,8% Usina Termelétrica Tambaqui, em Manaus. As térmicas tiveram um forte impacto no PIB de 2011.

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Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

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As Contas Nacionais

As Contas Econômicas Integradas representam o núcleo central do Sistema de Contas Nacionais, que consiste em uma sequência de contas de fluxos inter-relacionadas, detalhadas por setor institucional, incluindo empresas financeiras, empresas não-financeiras, administração pública e famílias. Elas são a base para o cálculo do Produto Interno Bruto. E mostram, também, as relações entre a economia nacional e o resto do mundo. As Tabelas de Recursos e Usos fornecem estimativas, a preços correntes e constantes do ano anterior, da oferta e demanda de bens e serviços desagregadas por produtos.

As tabelas de produção e de consumo intermediário mostram os bens e serviços produzidos e consumidos pelas atividades econômicas. As tabelas de recursos e usos contêm os componentes do valor adicionado e o total de pessoas ocupadas, por atividade econômica, a partir de estatísticas primárias (demografia, agropecuária, indústria, comércio, serviços, construção civil, transportes etc.), originárias do IBGE e de outras instituições.

Para isso foram incorporadas, para os anos a partir de 2010, as atualizações das pesquisas estruturais anuais: Pes-quisa Industrial Anual (PIA), Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), Pesquisa Anual do Comércio (PAC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Produção Agrícola Municipal (PAM), Produção Pecuária Municipal (PPM) e Produção de Extração Vegetal e da Silvi-cultura (PEVS). Além da reclassificação das atividades da CNAE 1.0 para a CNAE 2.0, e da introdução de novas informações conjunturais, principalmente nas abertu-ras: agropecuária, construção, serviços imobiliários, administração pública e for-mação bruta de capital fixo.

Também foram atualizados os pesos das atividades; incorporado o Índice de Preço ao Produtor (IPP) como fonte com-plementar na compilação dos produtos da indústria de transformação; e introduzida uma nova metodologia no cálculo do índi-ce de volume da produção da construção civil, que passou a considerar os gastos

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R REPORTAGEM

“Isso significa que o siste-ma teve mudanças concei-tuais importantes, mas não na sua estrutura básica, que sempre foi baseada em TRU e CEI”, diz Rebeca.

A TRU mostra como funcionam as atividades e os produtos, identificando toda a estrutura produti-va do país – que atividades econômicas geram quais produtos. Mostra também as produções secundárias como, por exemplo, uma fazenda de gado cuja atividade principal seja a produção de leite mas que também produza queijo –que é uma atividade da indústria de transformação, mas, nesse caso, uma produção secundária da agropecuária.

“Elaboramos o mapa completo das produções e da estrutura produtiva: o que cada atividade precisa consumir para produzir que chamamos de –Recursos e Usos. E também qual o desti-no da produção: consumo próprio, insumo, venda ou exportação. Já a CEI tem um objetivo diferente, pois analisa os agentes econômi-cos – governo, famílias, empresas financeiras, não financeiras e sem fins lucrativos. No caso da família, olha a conta desde o

RUMOS – 30 – Março/Abril 2015

METODOLOGIA

que o grupo produz até o que só conso-me”, esclarece.

A nova série de contas trimestrais foi divulgada na última semana de março e refere-se ao período de 1995 a 2014. Já as séries anuais foram atualizadas de 2000 a 2011. Em novembro, serão divulgadas as séries anuais de 2012 e 2013. Os dados anuais definitivos de 2014 só serão conhecidos no final de 2016. Em todas as atualizações, o valor do PIB foi aumenta-do, não só no Brasil, como em todos os países. Aqui, na série inteira, na média, houve um aumento de 5%.

Cláudio Considera, economista e pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que, para a comparação 2000-2013, a nova série SCN 2010 aponta que as principais alte-rações ocorreram em 2011 e 2012, com o PIB crescendo em 2011 mais 1,2 p.p. (de 2,7% para 3,9%) em relação à série antiga (base 2000) e mais 0,8 p.p. em 2012 (de 1,0% para 1,8%). Ele ressalta que o novo Sistema de Contas Nacionais foi feito

para uma melhor adequação da mensuração do PIB brasileiro aos padrões internacionais, tornando a comparação com outros países mais eficaz.

RUMOS – 31 – Março/Abril 2015

Período decomparação

Em 2014, o PIB varia 0,1% e totaliza R$ 5,52 trilhões

Trimestre/trimestre imediatamenteanterior (c/ajuste sazonal)

Indicadores

PIB Agrope-cuária

Indústria Serviço FBCF Cons.Fam.

Cons.Gov.

0,3 1,8 -0,1 0,3 -0,4 1,1 -0,6

Trimestre/mesmo do anoanterior (s/ajuste sazonal) -0,2 1,2 -1,9 0,4 -5,8 1,3 -0,2

Acumulado no ano/mesmoperíodo do ano anterior(s/ajuste sazonal) 0,1 0.4 -1,2 0,7 -4,4 0,9 1,3

Valores correntes notrimestre (R$ milhões) 1.446,1 48,0 279,6 901,4 277,0 914,1 324,9

Valores correntes noano de 2014 (R$ milhões) 5.521,3 262,3 1.104,7 3.351,8 1.090,1 3.449,8 1.114,9

PIB per capita = R$ 27.229 ( -0,7% em volume em relação a 2013)

Taxa de investimento (FBCF/PIB) no ano de 2014 = 19,7%

Taxa de poupança (POUP/PIB) no ano de 2014 = 15,8% Usina Termelétrica Tambaqui, em Manaus. As térmicas tiveram um forte impacto no PIB de 2011.

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Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

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As Contas Nacionais

As Contas Econômicas Integradas representam o núcleo central do Sistema de Contas Nacionais, que consiste em uma sequência de contas de fluxos inter-relacionadas, detalhadas por setor institucional, incluindo empresas financeiras, empresas não-financeiras, administração pública e famílias. Elas são a base para o cálculo do Produto Interno Bruto. E mostram, também, as relações entre a economia nacional e o resto do mundo. As Tabelas de Recursos e Usos fornecem estimativas, a preços correntes e constantes do ano anterior, da oferta e demanda de bens e serviços desagregadas por produtos.

As tabelas de produção e de consumo intermediário mostram os bens e serviços produzidos e consumidos pelas atividades econômicas. As tabelas de recursos e usos contêm os componentes do valor adicionado e o total de pessoas ocupadas, por atividade econômica, a partir de estatísticas primárias (demografia, agropecuária, indústria, comércio, serviços, construção civil, transportes etc.), originárias do IBGE e de outras instituições.

Para isso foram incorporadas, para os anos a partir de 2010, as atualizações das pesquisas estruturais anuais: Pes-quisa Industrial Anual (PIA), Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), Pesquisa Anual do Comércio (PAC), Pesquisa Anual de Serviços (PAS), Produção Agrícola Municipal (PAM), Produção Pecuária Municipal (PPM) e Produção de Extração Vegetal e da Silvi-cultura (PEVS). Além da reclassificação das atividades da CNAE 1.0 para a CNAE 2.0, e da introdução de novas informações conjunturais, principalmente nas abertu-ras: agropecuária, construção, serviços imobiliários, administração pública e for-mação bruta de capital fixo.

Também foram atualizados os pesos das atividades; incorporado o Índice de Preço ao Produtor (IPP) como fonte com-plementar na compilação dos produtos da indústria de transformação; e introduzida uma nova metodologia no cálculo do índi-ce de volume da produção da construção civil, que passou a considerar os gastos

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RUMOS – 32 – Março/Abril 2015

com mão de obra.Na nova série, o PIB

chegou a R$ 3,887 tri-lhões, em 2010, e a R$ 4,375 trilhões em 2011 e as variações em volume foram 7,6% e 3,9%,

respectivamente. Em média, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011, na nova série, ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga. Nesse período, a taxa média anual de crescimento foi revisada de 3,5% na série anterior para 3,7% no SCN 2010.

A estagnação de 2014 – No ano de 2014, o PIB manteve-se estável, variando 0,1% em relação ao ano anterior. A explicação está na varia-ção positiva de 0,2% do valor adicio-nado e do recuo nos impostos (-0,3%). Nessa comparação, a Agro-pecuária (0,4%) e os Serviços (0,7%) cresceram e a Indústria caiu (-1,2%). O recuo dos impostos reflete, principalmente, a redução, em volume, do Imposto de Importação (-4,7%) e do IPI (-1,7%) – decorrentes, em grande parte, do desempenho negativo da indústria de transformação no ano. Em 2014, o PIB alcançou R$ 5,52 trilhões (valores correntes). O PIB per capita ficou em R$

27.229, com queda (-0,7%), em volume, em relação a 2013.Em 2014, mudaram-se os pesos dos setores econômicos.

Serviços passaram de 66,6% para 67,8%, pois a introdução da CNAE 2.0, que é baseada na classificação de atividades internacional, gerou um remanejamento de atividades que estavam na Indústria para Serviços. Produções que estavam computadas na indústria gráfica, por exemplo, agora apare-cem em Serviços, como edição de livros e publicações. A agroindústria caiu de 5,3% para 4,9%, pelo fato de a ativida-de ter sido reestimada com base no último Censo Agrope-cuário. A Indústria passou de 28,1 para 27,4%.

A variação em volume do valor adicionado da Agropecuá-ria (0,4%) decorreu do desempenho de várias culturas impor-tantes, que registraram crescimento de produção, como a soja (5,8%) e a mandioca (8,8%), mas apresentaram perda de pro-dutividade. Um exemplo é a soja, cuja produção havia cresci-do 24% em 2013 com expansão da área de plantio de 11%, enquanto em 2014 a produção cresceu 5,8%, mas a área plan-tada aumentou 8,5%. Vale ressaltar também que algumas culturas tiveram variação negativa na estimativa de produção anual, como a cana-de-açúcar (-6,7%), o milho (-2,2%), o café (-7,3%) e a laranja (-8,8%).

Na Indústria, destacou-se o crescimento da extrativa mineral, o único com resultado positivo, tendo avançado 8,7% no ano, influenciado tanto pelo aumento da extração de petróleo e gás natural quanto pelo crescimento da extração de minérios ferrosos. Já a construção civil e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana caíram (-2,6%). O desempenho desta última foi influenciado pelo maior uso das termelétricas, sobretudo a partir do segundo trimestre do ano. Apesar da forte expansão da extrativa mineral, isso não foi suficiente para reverter a queda na produção industrial em função dos pesos de cada segmento: extrativa mineral (4%), construção civil (6,5%), produção e distribuição de eletricidade, gás e água

RUMOS – 33 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

unificação metodológica dos sistemas de contas nacionais de diferentes países teve início em 1947, quando a Comissão de Estatísticas da ONU come-

çou a elaborar um manual de recomendações metodoló-gicas internacional. A primeira edição do manual foi publicada em 1953, com base nas ideias de Richard Stone – Nobel de Economia em 1984 sobre as contas dos seto-–res institucionais, origem das atuais Contas Econômicas Integradas (CEI). Em 1968, foi publicada a segunda ver-são do manual, incorporando contribuições de Wassily Leontief Nobel de Economia de – 1973 – para o estudo das relações entre diferentes setores da economia, que deram origem às atuais Tabelas de Recursos e Usos. Em 1993, foi publi-cada a terceira versão do manual, cujas recomendações foram incorporadas pelo IBGE em 1997. A quarta edição foi publicada em 2008, cujas recomen-dações estão sendo adotadas agora na revisão do Sistema de Contas Nacio-nais ano base 2010.

“A revisão do sistema de contas nacionais significa rever toda a série de contas. No caso do Brasil foram qua-tro razões principais: mudança na clas-sificação da economia, atualização da base de dados, incorporações de pes-quisas internas feitas especificamente para aquele ano base e, por fim, a ado-

ção de recomendações internacionais para mudanças em padrões e conceitos na forma de medir a economia”, explica Roberto Olinto (foto), diretor de Pesquisas do IBGE. Ele observa que mudança de base não é novidade no Brasil, que já teve quatro grandes alterações.

De 1947 a 1989, o desempenho da economia brasileira era medido pelo Sistema de Contas Nacionais Consolida-das, da Fundação Getulio Vargas. Olinto explica que se tra-tava de um sistema simplificado, com um conjunto de con-tas agregado, que sofria revisões a cada Censo Econômico.

A partir de 1990, a tarefa foi assu-mida pelo IBGE. Em 1997, o ins-tituto adotou a terceira versão do Manual de Contas Nacionais (SCN) da ONU, alterando não apenas a base de dados do SCN, mas ampliando toda a sua estru-tura. Tal mudança levou à divul-gação de uma nova série das Con-tas Nacionais, de 1990 a 1997.

“De lá para cá a estrutura se manteve a mesma”, diz Olinto. Em 2007, novamente o SCN foi aperfeiçoado, seguindo mais uma vez recomendações da ONU, do FMI, da Comissão Europeia, do Banco Mundial e da OCDE. E agora, em 2015, foram introduzidas as recomen-dações do manual de 2008.

Por que mudar?

AAgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

-2,1-0,81,9

3,23,3

-4,00,50,2

1,0

-2,50,12,4

3,93,2

-0,60,50,7

1,8

-0,40,80,5

0,7-0,13,40,10,5

0,7

Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2012

AgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

7,31,72,2

2,62,05,22,58,3

2,5

7,91,82,5

2,92.26.12.17.6

2,7

0,60,10,4

0,30,20,9

-0,4-0,8

0,2

Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2013

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais

Div

ulg

açã

o IB

GE

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

-0,3-0,2

1,31,3

2,7

3,1

1,11,2

5,75,7

3,2 3,1

4 4

6,1 6

5,25

7,57,6

2,7

3,9

1

1,8

2,52,7

Série antiga

Série nova

Variação do PIB % – Série nova e antiga

Na pauta das exportações, os produtos siderúrgicos e celulose apresentaram crescimentoem 2014, em comparação com o ano anterior.

Le

an

dro

Gra

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i/Va

le

Fonte: IBGE, 2015.

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RUMOS – 32 – Março/Abril 2015

com mão de obra.Na nova série, o PIB

chegou a R$ 3,887 tri-lhões, em 2010, e a R$ 4,375 trilhões em 2011 e as variações em volume foram 7,6% e 3,9%,

respectivamente. Em média, os valores correntes do PIB de 2000 a 2011, na nova série, ficaram 2,1% acima dos valores da série antiga. Nesse período, a taxa média anual de crescimento foi revisada de 3,5% na série anterior para 3,7% no SCN 2010.

A estagnação de 2014 – No ano de 2014, o PIB manteve-se estável, variando 0,1% em relação ao ano anterior. A explicação está na varia-ção positiva de 0,2% do valor adicio-nado e do recuo nos impostos (-0,3%). Nessa comparação, a Agro-pecuária (0,4%) e os Serviços (0,7%) cresceram e a Indústria caiu (-1,2%). O recuo dos impostos reflete, principalmente, a redução, em volume, do Imposto de Importação (-4,7%) e do IPI (-1,7%) – decorrentes, em grande parte, do desempenho negativo da indústria de transformação no ano. Em 2014, o PIB alcançou R$ 5,52 trilhões (valores correntes). O PIB per capita ficou em R$

27.229, com queda (-0,7%), em volume, em relação a 2013.Em 2014, mudaram-se os pesos dos setores econômicos.

Serviços passaram de 66,6% para 67,8%, pois a introdução da CNAE 2.0, que é baseada na classificação de atividades internacional, gerou um remanejamento de atividades que estavam na Indústria para Serviços. Produções que estavam computadas na indústria gráfica, por exemplo, agora apare-cem em Serviços, como edição de livros e publicações. A agroindústria caiu de 5,3% para 4,9%, pelo fato de a ativida-de ter sido reestimada com base no último Censo Agrope-cuário. A Indústria passou de 28,1 para 27,4%.

A variação em volume do valor adicionado da Agropecuá-ria (0,4%) decorreu do desempenho de várias culturas impor-tantes, que registraram crescimento de produção, como a soja (5,8%) e a mandioca (8,8%), mas apresentaram perda de pro-dutividade. Um exemplo é a soja, cuja produção havia cresci-do 24% em 2013 com expansão da área de plantio de 11%, enquanto em 2014 a produção cresceu 5,8%, mas a área plan-tada aumentou 8,5%. Vale ressaltar também que algumas culturas tiveram variação negativa na estimativa de produção anual, como a cana-de-açúcar (-6,7%), o milho (-2,2%), o café (-7,3%) e a laranja (-8,8%).

Na Indústria, destacou-se o crescimento da extrativa mineral, o único com resultado positivo, tendo avançado 8,7% no ano, influenciado tanto pelo aumento da extração de petróleo e gás natural quanto pelo crescimento da extração de minérios ferrosos. Já a construção civil e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana caíram (-2,6%). O desempenho desta última foi influenciado pelo maior uso das termelétricas, sobretudo a partir do segundo trimestre do ano. Apesar da forte expansão da extrativa mineral, isso não foi suficiente para reverter a queda na produção industrial em função dos pesos de cada segmento: extrativa mineral (4%), construção civil (6,5%), produção e distribuição de eletricidade, gás e água

RUMOS – 33 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

unificação metodológica dos sistemas de contas nacionais de diferentes países teve início em 1947, quando a Comissão de Estatísticas da ONU come-

çou a elaborar um manual de recomendações metodoló-gicas internacional. A primeira edição do manual foi publicada em 1953, com base nas ideias de Richard Stone – Nobel de Economia em 1984 sobre as contas dos seto-–res institucionais, origem das atuais Contas Econômicas Integradas (CEI). Em 1968, foi publicada a segunda ver-são do manual, incorporando contribuições de Wassily Leontief Nobel de Economia de – 1973 – para o estudo das relações entre diferentes setores da economia, que deram origem às atuais Tabelas de Recursos e Usos. Em 1993, foi publi-cada a terceira versão do manual, cujas recomendações foram incorporadas pelo IBGE em 1997. A quarta edição foi publicada em 2008, cujas recomen-dações estão sendo adotadas agora na revisão do Sistema de Contas Nacio-nais ano base 2010.

“A revisão do sistema de contas nacionais significa rever toda a série de contas. No caso do Brasil foram qua-tro razões principais: mudança na clas-sificação da economia, atualização da base de dados, incorporações de pes-quisas internas feitas especificamente para aquele ano base e, por fim, a ado-

ção de recomendações internacionais para mudanças em padrões e conceitos na forma de medir a economia”, explica Roberto Olinto (foto), diretor de Pesquisas do IBGE. Ele observa que mudança de base não é novidade no Brasil, que já teve quatro grandes alterações.

De 1947 a 1989, o desempenho da economia brasileira era medido pelo Sistema de Contas Nacionais Consolida-das, da Fundação Getulio Vargas. Olinto explica que se tra-tava de um sistema simplificado, com um conjunto de con-tas agregado, que sofria revisões a cada Censo Econômico.

A partir de 1990, a tarefa foi assu-mida pelo IBGE. Em 1997, o ins-tituto adotou a terceira versão do Manual de Contas Nacionais (SCN) da ONU, alterando não apenas a base de dados do SCN, mas ampliando toda a sua estru-tura. Tal mudança levou à divul-gação de uma nova série das Con-tas Nacionais, de 1990 a 1997.

“De lá para cá a estrutura se manteve a mesma”, diz Olinto. Em 2007, novamente o SCN foi aperfeiçoado, seguindo mais uma vez recomendações da ONU, do FMI, da Comissão Europeia, do Banco Mundial e da OCDE. E agora, em 2015, foram introduzidas as recomen-dações do manual de 2008.

Por que mudar?

AAgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

-2,1-0,81,9

3,23,3

-4,00,50,2

1,0

-2,50,12,4

3,93,2

-0,60,50,7

1,8

-0,40,80,5

0,7-0,13,40,10,5

0,7

Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2012

AgropecuáriaIndústriaServiços

Despesa de consumo das famíliasDespesa de consumo do governoFormação bruta de capital fixoExportações de bens e serviçosImportações de bens e serviços (-)

PIB

7,31,72,2

2,62,05,22,58,3

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Antes (%) Depois (%) Dif. p.p.

Revisão das taxas de crescimento – 2013

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais

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2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

-0,3-0,2

1,31,3

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3,1

1,11,2

5,75,7

3,2 3,1

4 4

6,1 6

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7,57,6

2,7

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1,8

2,52,7

Série antiga

Série nova

Variação do PIB % – Série nova e antiga

Na pauta das exportações, os produtos siderúrgicos e celulose apresentaram crescimentoem 2014, em comparação com o ano anterior.

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Fonte: IBGE, 2015.

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RUMOS – 34 – Março/Abril 2015 RUMOS – 35 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

capital fixo (-4,4%) foi o destaque. A redução é justi-ficada, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital (-9,5%), sendo influenciada ainda pelo desempenho negativo da construção civil neste período (-3,3%). Por outro lado, no item “outros”, já é possível visualizar o impac-to das alterações no SCN 2010, pois houve uma expansão de 5,5%, puxada por desenvolvimento de software que fez a participação desse item subir para 14,3%, o que é três vezes superior à participação nos anos anteriores – a construção civil participa com 52,6% e máquinas e equipamentos com 33,1%.

Em 2013, a formação bruta de capital fixo havia crescido 6,1%. A taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.

A despesa de consumo das famílias desacelerou em relação ao ano anterior (quando havia crescido 2,9%) e cres-ceu 0,9%. Se, por um lado, a massa salarial dos trabalhadores

(2%) e indústria de transformação (10,9%).A indústria de transformação, que compreende os bens de

capital e bens de consumo duráveis, teve queda de -3,8%, a maior desde 2009, influenciada pela redução do valor adicio-nado da indústria automotiva (incluindo peças e acessórios) e da fabricação de máquinas e equipamentos, aparelhos elétri-cos e produtos de metal. Esse resultado foi parcialmente contrabalançado pelo crescimento de outras atividades, com destaque para a indústria farmacêutica, a fabricação de produ-tos de limpeza e perfumaria e a fabricação de bebidas.

Dentre as atividades que compõem os Serviços, que cresceram 0,7%, o comércio sofreu queda (-1,8%), especial-mente no atacado, que é ligado ao segmento industrial. Os demais serviços acumularam crescimento no ano de 2014, com destaque para serviços de informação (4,6%), ativida-des imobiliárias (3,3%) e transporte (sobretudo o de passa-geiros), armazenagem e correio (2,0%). Administração, saúde e educação pública cresceu 0,5%, seguida por inter-mediação financeira e seguros (0,4%) e outros serviços (0,1%), que é bastante ligado ao consumo das famílias.

Na análise da despesa, o recuo da formação bruta de

PIB e PIB per capita

Taxa (%) de crescimento anual

PIB

PIB per capita

2000

2005

2010

2014

9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

-1

-2

Fonte: IBGE, 2015.

ntre as principais alterações nos componentes do PIB em 2011 – ano em que houve maior elevação do PIB (2,7% para 3,9%) em função da nova metodologia –,

duas mudanças metodológicas contribuíram para o impacto positivo. A primeira foi a alteração na metodologia da taxa de crescimento da construção, que antes captava apenas parte dos custos, e passou-se a mensurar os custos de mão de obra, o que mudou as taxas de crescimento do setor. Além disso, o índice passou a analisar mais profundamente o setor de ener-gia, separando-se as hidrelétricas das termelétricas.

“Em 2010 as térmicas foram bastante utilizadas e depois desligadas em 2011. Isso teve um impacto positivo no PIB de 2011, pois passou a gerar energia mais barata. Outro ponto é que tanto em 2011 quanto em 2012 ainda não havia sido feito o cálculo anual definitivo na metodologia antiga. E assim comparamos dados definitivos da nova metodologia, com dados preliminares da metodologia antiga”, explica Rebeca, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE.

Em 2011, segundo dados do Boletim do PIB da FGV, a indústria da transformação teve um aumento de 2,1 p.p., passando de 0,1%, na série antiga para 2,2% na série nova, sendo, portanto, responsável por um impacto significativo na mudança de crescimento do PIB real. Enquanto na série antiga a transformação contribuiu com 0,02 p.p para o cres-cimento de 2,73% do PIB, na série nova a influência dessa atividade no PIB foi de 0,26 p.p., o que representa um impac-to quase 17 vezes maior que o anterior. Essa alteração se deve à incorporação, na nova série das Contas Nacionais, da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2010 e 2011, enquanto na

Pela ótica da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo passou de 4,72% na série antiga, para 6,59% na série nova, aumentando em 1,5 vez a contribuição deste componente para o crescimento do PIB real. A taxa de 6,59% é explicada principalmente pelo crescimento de 7,3% no componente Construção Civil (com contribuição de 3,66 p.p.) e 5,38% do componente Máquinas e Equipamentos (com contribuição de 2,06 p.p.). O outro 0,87 p.p. é proveniente do componente “Outros” da Formação Bruta de Capital Fixo.

Na revisão das taxas de crescimento de 2012 e 2013, o PIB nominal de 2012 passou de R$ 4,392 trilhões para R$ 4,713 trilhões, evoluindo de 1% para 1,8%; enquanto o nível de 2013 subiu de R$ 4,844 trilhões para R$ 5,157 trilhões, com expansão de 2,5% para 2,7%. Em 2013, portanto, a alteração introduzida pelo SCN 2010, em relação à série anterior, foi de apenas 0,2 p.p.

Já em 2012, a construção puxou o PIB para cima e houve a introdução de novas fontes como a Pesquisa de Amostra por Domicílio (PNAD), a Pesquisa Agrícola Municipal e outras pesquisas estruturais que impactaram positivamente. “Em 2012 houve mudança de metodologia e de fontes de dados”, reforça Rebeca.

“O PIB cresceu mais em termos reais em 2012 e 2013. Isso aproximou os dados do PIB e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que já sugeria um crescimento maior. Os próximos dados definitivos do PIB, que serão divulgados em novembro, devem, inclusive, trazer uma nova revisão altista para o biênio”, diz Barros.

O Boletim do PIB da FGV analisa que, pela ótica da oferta,

Em detalhe: as alterações em 2011 e 2012, anos em que o PIB sofreu as maiores alterações com a nova metodologia

série antiga para esses anos eram usados os dados da Pesqui-sa Industrial Mensal (PIM-PF) antiga.

A Construção Civil subiu 4,6 p.p., passando de 3,6% na série antiga para 8,3% na série nova, o que elevou em quase 2,5 vezes a contribuição da Construção Civil para o cresci-mento do PIB. Com as mudanças, essa contribuição que era de 0,18 p.p. do PIB passou para 0,44 p.p. Essa alteração se deve à introdução da massa salarial do pessoal ocupado na construção civil no cálculo da sua produção, que anterior-mente considerava apenas os insumos típicos da construção.

Já o segmento de Outros Serviços passou de 2,3% na série antiga para 4,7% na série nova, impactando o PIB em 2,3 vezes mais do que antes. Dos 2,7% de crescimento da série antiga do PIB, a contribuição correspondente a Outros Serviços era de 0,28 p.p. e passou a ser 0,63 p.p. na série nova.

Enquanto o comércio, que antes contribuía com 0,37 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, pas-sou a contribuir com apenas 0,25 p.p. da taxa de crescimento de 3,9% na série nova. Assim, o comércio reduziu sua influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, o que provavelmente se deve a reduções nas margens de comércio, o que será alvo de uma avaliação posterior.

A Administração Pública, que antes contribuía com 0,32 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, passou a contribuir com apenas 0,26 p.p. para o crescimento de 3,9% na série nova. Adicionalmente, a Administração Pública também perdeu influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, na nova série em relação à anterior. Essa alteração terá que ser alvo de investigações posteriores.

Eletricidade, Construção Civil, Atividades Imobiliárias e Impostos foram os responsáveis pela alteração do PIB em 2012. A taxa da eletricidade passou de 3,50% para 0,37%. O impacto dessa mudança foi de 0,9, ou seja, é como se a taxa de 3,50% tivesse sido multiplicada por 0,09. A contribuição para o PIB que era de 0,09 p.p. passou a ser de 0,01 p.p..

A construção civil apresentou uma taxa 2,3 vezes maior do que havia apresentado na base 2000. Em termos de contribui-ção para o PIB, a mudança da taxa da Construção, 1,38% na série antiga, para 2,77% na série nova, resultou em 0,08 p.p. a mais para o PIB na série nova (de 0,07 p.p. na série 2000 para 0,15 p.p. na série 2010).

Já as Atividades Imobiliárias, que apresentavam taxa de 2,21% na série antiga, passou a apresentar 4,37% na série nova. O impacto dessa mudança foi 2,2 vezes maior que a série antiga, e isso teve reflexo na contribuição para o PIB, que era de 0,15 p.p. e passou para 0,34 p.p. Enquanto Impostos, que antes contribuíam com 0,24 p.p. para a taxa do PIB, passou a contribuir com 0,49 p.p., na série nova. Isto é resultado do aumento de 2 vezes mais da taxa da série antiga em compara-ção com a nova.

Pela ótica de demanda, o impacto maior foi causado pelo item investimentos. Com a introdução da base 2010, a Forma-ção Bruta de Capital Fixo, ainda que em queda, apresentou uma taxa menos negativa do que havia apresentado na base 2000 (de -3,9%, na série antiga, para -0,58%, na série nova). A participação, que era de -0,72 p.p., passou a ser de -0,12 p.p., contribuindo assim menos negativamente para o crescimento do PIB em 2012.

E

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RUMOS – 34 – Março/Abril 2015 RUMOS – 35 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

capital fixo (-4,4%) foi o destaque. A redução é justi-ficada, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital (-9,5%), sendo influenciada ainda pelo desempenho negativo da construção civil neste período (-3,3%). Por outro lado, no item “outros”, já é possível visualizar o impac-to das alterações no SCN 2010, pois houve uma expansão de 5,5%, puxada por desenvolvimento de software que fez a participação desse item subir para 14,3%, o que é três vezes superior à participação nos anos anteriores – a construção civil participa com 52,6% e máquinas e equipamentos com 33,1%.

Em 2013, a formação bruta de capital fixo havia crescido 6,1%. A taxa de investimento no ano de 2014 foi de 19,7% do PIB, abaixo do observado em 2013 (20,5%). A taxa de poupança foi de 15,8% em 2014, ante 17,0% em 2013.

A despesa de consumo das famílias desacelerou em relação ao ano anterior (quando havia crescido 2,9%) e cres-ceu 0,9%. Se, por um lado, a massa salarial dos trabalhadores

(2%) e indústria de transformação (10,9%).A indústria de transformação, que compreende os bens de

capital e bens de consumo duráveis, teve queda de -3,8%, a maior desde 2009, influenciada pela redução do valor adicio-nado da indústria automotiva (incluindo peças e acessórios) e da fabricação de máquinas e equipamentos, aparelhos elétri-cos e produtos de metal. Esse resultado foi parcialmente contrabalançado pelo crescimento de outras atividades, com destaque para a indústria farmacêutica, a fabricação de produ-tos de limpeza e perfumaria e a fabricação de bebidas.

Dentre as atividades que compõem os Serviços, que cresceram 0,7%, o comércio sofreu queda (-1,8%), especial-mente no atacado, que é ligado ao segmento industrial. Os demais serviços acumularam crescimento no ano de 2014, com destaque para serviços de informação (4,6%), ativida-des imobiliárias (3,3%) e transporte (sobretudo o de passa-geiros), armazenagem e correio (2,0%). Administração, saúde e educação pública cresceu 0,5%, seguida por inter-mediação financeira e seguros (0,4%) e outros serviços (0,1%), que é bastante ligado ao consumo das famílias.

Na análise da despesa, o recuo da formação bruta de

PIB e PIB per capita

Taxa (%) de crescimento anual

PIB

PIB per capita

2000

2005

2010

2014

9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

-1

-2

Fonte: IBGE, 2015.

ntre as principais alterações nos componentes do PIB em 2011 – ano em que houve maior elevação do PIB (2,7% para 3,9%) em função da nova metodologia –,

duas mudanças metodológicas contribuíram para o impacto positivo. A primeira foi a alteração na metodologia da taxa de crescimento da construção, que antes captava apenas parte dos custos, e passou-se a mensurar os custos de mão de obra, o que mudou as taxas de crescimento do setor. Além disso, o índice passou a analisar mais profundamente o setor de ener-gia, separando-se as hidrelétricas das termelétricas.

“Em 2010 as térmicas foram bastante utilizadas e depois desligadas em 2011. Isso teve um impacto positivo no PIB de 2011, pois passou a gerar energia mais barata. Outro ponto é que tanto em 2011 quanto em 2012 ainda não havia sido feito o cálculo anual definitivo na metodologia antiga. E assim comparamos dados definitivos da nova metodologia, com dados preliminares da metodologia antiga”, explica Rebeca, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE.

Em 2011, segundo dados do Boletim do PIB da FGV, a indústria da transformação teve um aumento de 2,1 p.p., passando de 0,1%, na série antiga para 2,2% na série nova, sendo, portanto, responsável por um impacto significativo na mudança de crescimento do PIB real. Enquanto na série antiga a transformação contribuiu com 0,02 p.p para o cres-cimento de 2,73% do PIB, na série nova a influência dessa atividade no PIB foi de 0,26 p.p., o que representa um impac-to quase 17 vezes maior que o anterior. Essa alteração se deve à incorporação, na nova série das Contas Nacionais, da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2010 e 2011, enquanto na

Pela ótica da demanda, a Formação Bruta de Capital Fixo passou de 4,72% na série antiga, para 6,59% na série nova, aumentando em 1,5 vez a contribuição deste componente para o crescimento do PIB real. A taxa de 6,59% é explicada principalmente pelo crescimento de 7,3% no componente Construção Civil (com contribuição de 3,66 p.p.) e 5,38% do componente Máquinas e Equipamentos (com contribuição de 2,06 p.p.). O outro 0,87 p.p. é proveniente do componente “Outros” da Formação Bruta de Capital Fixo.

Na revisão das taxas de crescimento de 2012 e 2013, o PIB nominal de 2012 passou de R$ 4,392 trilhões para R$ 4,713 trilhões, evoluindo de 1% para 1,8%; enquanto o nível de 2013 subiu de R$ 4,844 trilhões para R$ 5,157 trilhões, com expansão de 2,5% para 2,7%. Em 2013, portanto, a alteração introduzida pelo SCN 2010, em relação à série anterior, foi de apenas 0,2 p.p.

Já em 2012, a construção puxou o PIB para cima e houve a introdução de novas fontes como a Pesquisa de Amostra por Domicílio (PNAD), a Pesquisa Agrícola Municipal e outras pesquisas estruturais que impactaram positivamente. “Em 2012 houve mudança de metodologia e de fontes de dados”, reforça Rebeca.

“O PIB cresceu mais em termos reais em 2012 e 2013. Isso aproximou os dados do PIB e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que já sugeria um crescimento maior. Os próximos dados definitivos do PIB, que serão divulgados em novembro, devem, inclusive, trazer uma nova revisão altista para o biênio”, diz Barros.

O Boletim do PIB da FGV analisa que, pela ótica da oferta,

Em detalhe: as alterações em 2011 e 2012, anos em que o PIB sofreu as maiores alterações com a nova metodologia

série antiga para esses anos eram usados os dados da Pesqui-sa Industrial Mensal (PIM-PF) antiga.

A Construção Civil subiu 4,6 p.p., passando de 3,6% na série antiga para 8,3% na série nova, o que elevou em quase 2,5 vezes a contribuição da Construção Civil para o cresci-mento do PIB. Com as mudanças, essa contribuição que era de 0,18 p.p. do PIB passou para 0,44 p.p. Essa alteração se deve à introdução da massa salarial do pessoal ocupado na construção civil no cálculo da sua produção, que anterior-mente considerava apenas os insumos típicos da construção.

Já o segmento de Outros Serviços passou de 2,3% na série antiga para 4,7% na série nova, impactando o PIB em 2,3 vezes mais do que antes. Dos 2,7% de crescimento da série antiga do PIB, a contribuição correspondente a Outros Serviços era de 0,28 p.p. e passou a ser 0,63 p.p. na série nova.

Enquanto o comércio, que antes contribuía com 0,37 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, pas-sou a contribuir com apenas 0,25 p.p. da taxa de crescimento de 3,9% na série nova. Assim, o comércio reduziu sua influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, o que provavelmente se deve a reduções nas margens de comércio, o que será alvo de uma avaliação posterior.

A Administração Pública, que antes contribuía com 0,32 p.p. da taxa de crescimento de 2,7% do PIB, na série antiga, passou a contribuir com apenas 0,26 p.p. para o crescimento de 3,9% na série nova. Adicionalmente, a Administração Pública também perdeu influência no crescimento do PIB, no ano de 2011, na nova série em relação à anterior. Essa alteração terá que ser alvo de investigações posteriores.

Eletricidade, Construção Civil, Atividades Imobiliárias e Impostos foram os responsáveis pela alteração do PIB em 2012. A taxa da eletricidade passou de 3,50% para 0,37%. O impacto dessa mudança foi de 0,9, ou seja, é como se a taxa de 3,50% tivesse sido multiplicada por 0,09. A contribuição para o PIB que era de 0,09 p.p. passou a ser de 0,01 p.p..

A construção civil apresentou uma taxa 2,3 vezes maior do que havia apresentado na base 2000. Em termos de contribui-ção para o PIB, a mudança da taxa da Construção, 1,38% na série antiga, para 2,77% na série nova, resultou em 0,08 p.p. a mais para o PIB na série nova (de 0,07 p.p. na série 2000 para 0,15 p.p. na série 2010).

Já as Atividades Imobiliárias, que apresentavam taxa de 2,21% na série antiga, passou a apresentar 4,37% na série nova. O impacto dessa mudança foi 2,2 vezes maior que a série antiga, e isso teve reflexo na contribuição para o PIB, que era de 0,15 p.p. e passou para 0,34 p.p. Enquanto Impostos, que antes contribuíam com 0,24 p.p. para a taxa do PIB, passou a contribuir com 0,49 p.p., na série nova. Isto é resultado do aumento de 2 vezes mais da taxa da série antiga em compara-ção com a nova.

Pela ótica de demanda, o impacto maior foi causado pelo item investimentos. Com a introdução da base 2010, a Forma-ção Bruta de Capital Fixo, ainda que em queda, apresentou uma taxa menos negativa do que havia apresentado na base 2000 (de -3,9%, na série antiga, para -0,58%, na série nova). A participação, que era de -0,72 p.p., passou a ser de -0,12 p.p., contribuindo assim menos negativamente para o crescimento do PIB em 2012.

E

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RUMOS – 36 – Março/Abril 2015

R REPORTAGEM METODOLOGIA

cresceu, em termos reais, 4,1% entre 2013 e 2014, por outro, o crédito com recursos livres para as pessoas físicas deixou de crescer em termos reais. O resultado também reflete o aumento da taxa de juros e da inflação. A Selic passou de 8,25% a.a. em 2013 para 10,9% a.a. em 2014. O Índice de Preços ao Consumidor

(IPCA) cresceu em média 6,3% em 2014. A despesa do con-sumo do governo cresceu 1,3%, mas desacelerou em relação a 2013 (2,2%).

No setor externo, tanto as exportações (-1,1%) quanto as importações (-1,0%) de bens e serviços tiveram queda. Entre as exportações, os destaques negativos foram a indústria automotiva (incluindo caminhões e ônibus) e embarcações e estruturas flutuantes. Por outro lado, produtos siderúrgicos, celulose e produtos de madeira apresentaram crescimento. Já nas importações, a queda foi puxada por máquinas e equipa-mentos e indústria automotiva (incluindo peças e acessórios). Apresentaram crescimento: óleo diesel, tecidos e bebidas.

Já o PIB per capita alcançou R$ 27.229 (em valores cor-rentes) em 2014, após ter recuado (-0,7%), em termos reais, em relação a 2013. Em 2013, o crescimento do PIB per capita foi de 1,8% em relação a 2012.

O saldo externo de bens e servi-ços piorou, passando de R$ 120,5 bilhões negativos em 2015, para um déficit de R$ 152,2 bilhões em 2014. A renda líquida de propriedade rece-bida do resto do mundo também ampliou R$ 8,5 bilhões, passando de R$ 78,8 bilhões em 2013 para R$ 87,3 bilhões em 2014. Outras transferên-cias correntes líquidas recebidas do resto do mundo tiveram uma redu-ção de R$ 2,8 bilhões, saindo de R$ 6,5 bilhões em 2013 para R$ 3,7 bilhões em 2014.

Houve também um aumento de R$ 44,4 bilhões da necessidade de financiamento em 2014 em relação a 2013, passando de R$ 189,170 bilhões para R$ 233,560 bilhões.

Apesar das alterações nos resulta-dos do PIB de alguns anos – especial-mente 2011 e 2012 –, Rebeca Palis ressalta que a estrutura da economia foi mantida e a leitura continua a mesma. O ano de 2010 continuou sendo o ano de forte cres-cimento (7,6%) e 2014 apresentou os resultados negativos que todos já esperavam.

“O ano de 2014 teve uma desaceleração generalizada da economia. Todas as atividades econômicas tiveram resulta-do abaixo de 2013, com exceção da extrativa mineral. A indústria como um todo caiu fortemente, especialmente a indústria de transformação, que tem um peso maior. Servi-ços, que crescia bem, reduziu, e a agroindústria perdeu pro-

dutividade, após um cresci-mento forte em 2013”, resume a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. Olhando pela ótica das despesas, o investimento foi o grande diferencial negativo, com queda de 4,4%, após ter crescido 6,1% em 2013.

“E isso está relacionado ao desempenho da indústria de transformação com queda na produção de máquinas e equi-pamentos e na indústria automotiva, que são bens considera-dos investimento. Além da queda nas importações de máqui-nas e equipamentos. Mas não foi apenas o investimento que impactou. Em 2013, a demanda interna foi de 3,5%; em 2014, apenas 0,1%, ou seja, a demanda caiu não só em função dos investimentos, mas também pela queda no consumo das famílias, que têm um peso grande no cálculo (62,5%) e desa-celerou pela redução do crédito, inflação próxima ao teto da meta e elevação da taxa de juros”, explica.

Outro dado preocupante de 2014 foi a estagnação do comércio exterior, pois mesmo as exportações, que poderi-

am ter sido impulsionadas pelo câmbio favorável, caíram 1,1%. A importação foi afetada pelo câm-bio e pela desaceleração da econo-mia. “No caso das exportações a explicação está no fato de que houve uma desvalorização cambi-al nas moedas de todos os países emergentes e não apenas do Bra-sil. Além disso, todas as commodities tiveram redução de preços”, diz Rebeca.

Octávio de Barros observa que as alterações no PIB também tiveram impacto nas demais con-tas do país. A relação dívida/PIB é a que muda de maneira mais rele-vante: de 63,6% do PIB para 58,9%, uma melhora de 4,7 pon-tos. “Os ratios do superávit primá-rio, déficit em conta-corrente, entre outros, também irão mudar, mas pouco, apenas na primeira ou segunda casa decimal. O déficit em conta-corrente de 2014, por exemplo, com o novo PIB foi de 3,9%, enquanto na metodologia anterior era de 4,2%”, aponta o economista.

Para Claudio Considera, da FGV, o resultado prático é que quando o PIB aumenta, a relação dívida/PIB cai. Mas ele destaca que o Brasil está fazendo um esforço fiscal tão grande que 0,1% não faz diferença. “O que importa é a mudança de direção na política econômica. Os dados de 2014 mostraram uma economia estagnada. Em 2015 vamos entrar em recessão. Mas estamos vivendo o ajuste fiscal que tem por objetivo preparar a economia para voltar a crescer em 2016”, conclui Considera.

Em 2014, o setor de Serviços, que vinha mantendo um bom crescimento, teve redução, como boa parte dos demais indicados.

SX

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