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FICHA TÉCNICA

Título original: Starry NightAutora: Debbie MacomberCopyright © 2013 by Debbie MacomberEdição portuguesa publicada por acordo com Ballantine Books, uma chancela da Random House Publishing Group, uma divisão da Random House, Inc.Tradução © Editorial Presença, Lisboa, 2014Tradução: Manuela MadureiraImagem da capa: ShutterstockCapa: Catarina Sequeira Gaeiras/Editorial PresençaComposição, impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.1.a edição, Lisboa, novembro, 2014Depósito legal n.o 383 175/14

Reservados todos os direitospara a língua portuguesa (exceto Brasil) àEDITORIAL PRESENÇAEstrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730 ‑132 [email protected]

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Natal 2013

Queridos Amigos,Como já devem ter adivinhado, eu sou uma daquelas fanáticas pelo

Natal. Árvores de Natal, cenas de Natividade, luzes, e uma infinidade de decorações enchem a nossa casa e pátio desde o Dia de Ação de Graças até ao Ano Novo. Devido ao meu amor por esta época, tenho escrito uma história natalícia todos os anos apenas porque não podia deixar passar as festividades sem lhes pôr a minha marca pessoal.

Muitos leitores dizem ‑me que começaram a ler os meus livros depois de terem pegado numa das minhas histórias de Natal. Ao longo dos anos escrevi contos envolvendo criaturas angelicais — Shirley, Goodness e Mercy — e não me atreveria a deixar de fora Mrs. Miracle, um dos vossos preferidos e também meu. Depois vieram as comédias românticas, algumas delas escritas com lágrimas nos olhos de tanto rir.

Este livro representa um certo desvio para mim. É um romance, puro e simples. Uma história total e loucamente romântica envolvendo um dos meus lugares preferidos neste mundo — o Alasca. Eu mesma já sobrevoei o Círculo Polar Ártico com Wayne, o meu marido, e vi as auroras boreais. Alguns de vós talvez reconheçam Sawyer O’Halloran, da minha série Midnight Sons, que aparece aqui brevemente apenas por graça.

Tenho a felicidade de trabalhar com uma das mais fabulosas equipas editoriais. Shauna Summers e Jennifer Hershey efetuaram a edição desta história. Theresa Park, a minha agente, foi a mais calorosa entusiasta, juntamente com Rachel Bressler. O grupo da Random House — Libby McGuire, Susan Corcoran, Kim Hovey e Kristin Fassler — acrescentou igualmente o seu toque mágico ao garantir que este, como todos os meus livros, tem a maior publicidade possível. E isto, meus amigos, é apenas a ponta do icebergue. A minha própria equipa — Renate Roth, Heidi

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Pollard, Carol Bass, Wanda Roberts, Adele LaCombe e Katie Rouner — transformou ‑se simultaneamente na minha mão direita e na esquerda. A todos devo uma enorme nota de apreço.

Embora esteja ansiosa por revelar pormenores da história, recuso ‑me a negar ‑vos o prazer de se recostarem, virarem as páginas e mergulharem. E quando acabarem, a minha esperança é que fechem o livro, suspirem e afirmem que esta é uma das minhas mais românticas histórias de Natal que já leram.

Feliz Natal!

P.S. Gosto sempre muito de ter notícias dos meus leitores. Podem con‑tactar ‑me através do Facebook, do meu site www.debbiemacomber.com ou escrevendo para P.O. Box 1458, Port Orchard, WA 98366.

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CAPÍTULO I

Os pés de Carrie Slayton estavam a dar cabo dela. Passara os últimos noventa minutos empoleirada em saltos de cinco centíme‑tros, num leilão de arte para beneficência num estúdio pretensioso na baixa de Chicago. Não compreendia como é que uns sapatos que condiziam à maravilha com o seu vestido preto podiam magoar tanto. Vaidade, o teu nome é moda.

— O meu nome escreve ‑se com dois «l» — recordou ‑lhe a mu‑lher de meia ‑idade carregada de diamantes. — É Michelle, com dois «l».

— Entendido. — Carrie sublinhou a grafia correta. Michelle, com dois «l», acabara de gastar trinta mil dólares na mais ridícula peça de arte que Carrie já vira. É verdade que era para uma boa causa, mas agora ela parecia sentir a necessidade de que o seu nome fosse mencionado no artigo que Carrie escreveria para a próxima edição do Chicago Herald.

— Seria maravilhoso ter a fotografia do meu marido e a minha para acompanhar o seu artigo — acrescentou Michelle. — Talvez devesse tirá ‑la em frente do quadro.

Carrie olhou por cima do ombro para Harry, o fotógrafo do jornal que a acompanhara.

— Evidentemente, Larry e eu teríamos de aprovar qualquer fotografia que decidissem publicar.

— Evidentemente — concordou Carrie, esforçando ‑se por man‑ter o sorriso. Se não descalçasse depressa aqueles sapatos, ficaria com os pés permanentemente deformados. Mexeu os dedos, espe‑rando sentir alívio, mas em vez disso doeram ‑lhe ainda mais.

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Harry, graças a Deus, aproximou ‑se obedientemente, de câmara na mão, e tirou três ou quatro fotos do casal em pose diante daquilo que tanto poderia ser uma flor vermelha como a imagem de um tomate esmagado ou possivelmente o rescaldo de uma cena de crime. Carrie ainda não decidira qual. O título da obra não fornecia pistas. Vermelho. Sim, o quadro tinha essa cor, mas exatamente o que representava permanecia um mistério.

— Não é um assombro? — perguntou Michelle ao reparar que ela fitava atentamente a tela.

Carrie inclinou a cabeça para um lado e depois para o outro, procurando uma pista para o seu possível significado. Depois, notando que Michelle, com dois «l», esperava pela sua resposta, concordou: — Oh, sim, é espantoso.

Harry nem tentou disfarçar um sorriso, sabendo que tudo o que Carrie desejava realmente era descalçar aqueles ridículos sapatos. E pensar que ela se licenciara em jornalismo para aquilo!

Carrie sabia que era afortunada por ter emprego num jornal tão prestigiado. Um professor cobrara um favor e conseguira ‑lhe a entrevista. Carrie ficara atónita por ser contratada. Surpreendida e eufórica.

Decorridos dois anos, essa sensação atenuara ‑se muito. O seu trabalho era a página de sociedade. Quando fora contratada, tinham ‑lhe dito que eventualmente poderia escrever peças mais interessantes, fazer entrevistas e histórias com interesse humano. Até essa altura, tal não acontecera. Carrie sentia ‑se encurralada, frustrada, e subapreciada. Sentia que o seu talento estava a ser des‑perdiçado.

Para piorar as coisas, toda a sua família vivia no Pacifico No‑roeste. Deixara para trás tudo o que conhecia e amava, incluindo Steve, o seu namorado da faculdade, que casara menos de seis meses após ela ter aceitado o lugar em Chicago. Não demorara muito, notara Carrie. E o pior é que andava demasiado ocupada a relatar acontecimentos sociais para ter tempo para possuir ela própria uma grande vida social. Houvera namorados ocasionais, mas não encon‑trara ninguém que lhe fizesse acelerar o coração. Dave Schneider, o homem que ultimamente a acompanhava, era mais um amigo do

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que um interesse amoroso. Supunha que, depois de Steve, se sentia algo hesitante em se envolver de novo. Talvez depois de largar o Herald e regressar a casa a fim de escrever para um jornal na área de Seattle, como planeava, as coisas fossem diferentes.

De volta ao seu apartamento, Carrie apressou ‑se a tirar os sapa‑tos e suspirou de alívio.

Agora é que era. Estava farta. Logo de manhã entregaria o seu aviso de duas semanas, subalugaria o apartamento, e iria tentar a sorte no mercado de trabalho de Seattle. Se o chefe de redação, Nash Jorgen, recusava dar ‑lhe oportunidade de provar que possuía a garra necessária, então para quê ficar? Recusava ‑se a ser esparti‑lhada.

Tendo decidido isso, coxeou até ao quarto e atirou ‑se para cima da cama, cansada, frustrada e determinada a mudar.

— Não estás a falar a sério — argumentou Sophie Peterson, a sua melhor amiga no jornal, quando Carrie lhe contou a sua decisão.

— Inteiramente a sério — disse ela claudicando até à sua se‑cretária.

— O que tens no pé? — indagou Sophie, seguindo atrás dela.— Estupidez. Aquele fabuloso par de sapatos só estava dispo‑

nível num número abaixo do que eu uso habitualmente. Eram absolutamente perfeitos, e era «compre um par e leve o segundo por metade do preço». Não consegui resistir, mas agora estou a pagá ‑las.

— Carrie, não faças isso.— Não te preocupes, não tenho a menor intenção de usar aque‑

les saltos novamente. Meti ‑os num saco para oferecer a obras de beneficência.

— Não é isso — rebateu Sophie. — Não entregues a tua demis‑são! És precisa aqui.

— Não como repórter — asseverou ‑lhe Carrie, largando a mala na gaveta de baixo e despindo o grosso casaco de inverno. — Lamento, a minha decisão está tomada. Tanto tu como eu sabe‑mos que Nash nunca me dará uma tarefa decente.

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— A tua pior inimiga és tu própria. — Sophie encostou ‑se à parede que separava os seus dois cubículos e cruzou os braços e os tornozelos.

— Como assim?— Bom, por um lado, és o ideal para a página da sociedade.

És linda de morrer, alta e esbelta. Também não desajuda ficares fabulosa com um vestido preto coleante e um par de sapatos de salto alto. Ainda que eu conseguisse deixar crescer o meu cabelo para ficar assim farto, comprido e encaracolado sem dar cabo dele com as permanentes, Nash nunca consideraria alguém como eu. Não admira que ele te queira nesse lugar. Dá ‑lhe algum crédito, está bem? Ele sabe o que faz.

— Se a aparência é o único critério...— Há mais — interrompeu ‑a Sophie. — Tu és ótima a lidar

com as pessoas. Só precisas de bater as pestanas desses olhos azul‑‑bebé e os estranhos abrem ‑se contigo. É um dom, digo ‑te eu, um verdadeiro dom.

— OK, eu sou simpática, mas este não é o tipo de escrita que desejo fazer. Estou decidida a ser jornalista, uma verdadeira jornalista, que escreva sobre verdadeiras notícias e pessoas inte‑ressantes. — A princípio, Carrie sentira ‑se lisonjeada pela forma como as pessoas se esforçavam para lhe serem apresentadas nos acontecimentos que ela ia cobrir. Não demorou muito a perceber que o que pretendiam era verem os seus nomes impressos. O que a chocava era ver até que ponto as pessoas estavam dispostas a ir para se fazerem notadas. Estava rapidamente a ficar farta e isso aborrecia ‑a ainda mais do que a falta de fé de Nash nas suas capacidades.

As festividades natalícias eram o pior, e embora se estivesse apenas no início de novembro, o frenesim já começara. A lista de festas que Nash lhe dera para estar presente era já colossal. Ainda tinha enfeites do Dia das Bruxas em volta da sua secretária, e já havia uma árvore de Natal na montra dos grandes armazéns do outro lado da rua.

Decidida a manter o seu plano, Carrie foi diretamente para o gabinete de Nash Jorgen.

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Nash, um repórter veterano, levantou os olhos do ecrã do com‑putador e lançou ‑lhe um relance fulminante. Parecia pressentir que não se tratava de uma visita de cortesia. Ergueu os ombros com um suspiro fatigado. — O que há agora? — resmungou ele.

— Venho entregar ‑te o meu pré ‑aviso de demissão com duas semanas. — Se fosse à procura de conseguir uma reação, teria ficado desapontada.

Ele pestanejou algumas vezes, passou a mão pela barba de um dia e perguntou: — Por alguma razão especial?

— Eu esperava conseguir provar que posso ser uma esplêndida jornalista, mas nunca terei essa possibilidade a escrever apenas arti‑gos sobre casamentos de alta sociedade. Quando me contrataste, dis‑seste que me darias uma oportunidade de relatar verdadeiras notícias.

— Não me lembro do que disse. O que há de errado com o que escreves atualmente? És boa nisso.

— Não é o que eu quero escrever.— E então? Encaras isso o melhor possível, pagas a tua quota

e em devido tempo terás a oportunidade que procuras.Mas Carrie estava cansada de esperar. Endireitou os ombros,

numa resolução firme. — Sei que tenho sorte em trabalhar para o Herald. Foi ótimo obter este lugar, mas não é esta a carreira que eu desejava. Não me deixas escolha. — Pousou o pedido de demissão em cima da secretária.

Isso captou a atenção de Nash. Rodou a cadeira para a olhar uma vez mais. Franziu mais a testa e passou a mão pelo cabelo ralo. — Estás mesmo a falar a sério, não estás?

Ela sentiu um arrepio percorrer ‑lhe a espinha. Agora Nash ouvia ‑a de facto. — Sim, estou a falar a sério.

— Então ótimo. — Estendeu o braço por cima da secretária, pegou num livro de capa dura e entregou ‑lho. — Encontra Finn Dalton, consegue uma entrevista, e escreve ‑me uma história que eu possa publicar.

Carrie pegou no livro, sem reconhecer o nome do autor. — E se o fizer?

— Bom, primeiro que tudo, há uma probabilidade ínfima de conseguires sequer localizá ‑lo. Todos os jornalistas do universo

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anseiam por o entrevistar. Mas se tiveres sorte e ele concordar em falar e nós publicarmos o artigo, eu tiro ‑te da página da so‑ciedade.

Ela vacilou. Aparentemente Nash acabava de oferecer ‑lhe uma oportunidade, por muito impossível que tal parecesse. Agora cabia‑‑lhe a ela dar provas. Não se atreveu a mostrar como ficara excitada. — Eu vou encontrá ‑lo.

Nash fungou como se achasse a sua confiança divertida e depois ficou sério. Fitou ‑a com a mesma testa franzida de antes até que um sorriso lento lhe deslizou pelas feições duras. — Aposto que sim. Agora, ouve — se conseguires uma entrevista com Finn Dalton, podes ficar com qualquer trabalho que queiras.

Em passos pequeninos, Carrie saiu do gabinete a recuar. Apon‑tou para Nash. — Lembrar ‑te ‑ei de que deste a tua palavra.

O chefe de redação já voltara à leitura do ecrã do seu compu‑tador e não pareceu tê ‑la ouvido. Não tinha importância; ela ouvira ‑o, e ele expressara ‑se alto e bom som.

Uma vez fora do gabinete examinou o livro para ver a foto do autor, mas não conseguiu encontrar nenhuma, nem sequer na ba‑dana da contracapa.

De regresso ao seu cubículo, deteve ‑se no de Sophie. — Já ouviste falar de Finn Dalton?

As sobrancelhas de Sophie ergueram ‑se na sua cara redonda. — Queres dizer que tu não?

— Não. — O título do livro não era grande ajuda. Sozinho. O que não lhe dizia nada. A capa exibia uma paisagem coberta de neve com algumas árvores baixas dispersas.

Sophie abanou a cabeça. — Tens vivido debaixo de uma pedra?— Não. Quem é este tipo?— É um sobrevivencialista que vive sozinho algures na imen‑

sidão do Alasca.— Oh. — Aquilo era um bocado desencorajador, mas Carrie

considerava ‑se à altura do desafio. Nascera e crescera no Estado de Washington. Esperara ir juntar ‑se à família para o Dia de Ação de Graças, mas se precisava de usar os seus dias de férias para encontrar Finn Dalton, então estava disposta a isso.

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— O livro dele encontra ‑se há quase sete meses na lista dos bestsellers, maioritariamente em primeiro lugar.

Carrie sentiu ‑se impressionada. — Acerca de quê escreve ele?— É o género de tipo que se pode largar em plena natureza

com um pacote de pastilhas elásticas, um canivete de bolso e um lenço de assoar, e quando o encontras ele construiu um abrigo e uma canoa. Pelo que li, as suas histórias acerca da vida no Alasca e sobrevivência na tundra são de deixar os cabelos em pé. Bem, os teus, não seria fácil.

Aquilo era a ideia de Sophie de uma boa piada. Os cerrados cara‑cóis castanho ‑escuros de Carrie eram a perdição da sua existência. Ela domava ‑os o melhor que conseguia, mas era frequentemente alvo de gracinhas acerca do seu incontrolável cabelo.

— Nash diz que ele não dá entrevistas.— Não é só não dar entrevistas — este tipo assemelha ‑se a um

fantasma. Nunca ninguém o conheceu nem falou com ele.— Com certeza que o editor ou o revisor...— Não — afirmou Sophie, interrompendo ‑a. — Foi tudo feito

por computador.— Bom, então...— Tudo o que alguém sabe sobre ele é que vive perto de um

lago no Alasca, algures nas proximidades do Círculo Polar Ártico.— Como é que tu sabes tanto acerca deste tipo?— Não sei, e o problema é mesmo esse. Ninguém sabe. A im‑

prensa tem andado louca à procura dele. Imensos jornalistas tenta‑ram descobri ‑lo sem êxito. Ninguém sabe como encontrá ‑lo, e Finn Dalton não quer ser encontrado. Devia ter chamado ao seu livro Deixem ‑me em Paz. Uma pessoa podia passar por ele na rua sem saber quem era e, por tudo o que li, é exatamente assim que ele gosta.

Intrigada, Carrie folheou algumas páginas do livro. — Nash disse que eu poderia escolher qualquer trabalho que quisesse se conseguisse uma entrevista com Finn Dalton.

— Claro que disse. Nash já tem traquejo suficiente para saber que te colocou numa situação perdedora.

Carrie ergueu os olhos. — Não me interessa. Vou tentar.

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— Detesto ser desmancha ‑prazeres, Carrie, mas não tens hipó‑tese de encontrar este tipo. Melhores repórteres do que qualquer de nós tentaram e falharam. Todos os jornais, revistas e media andam à procura de desenterrar informações sobre ele, mas sem sucesso. Finn Dalton não quer ser encontrado.

Talvez fosse o caso, mas Carrie recusava ‑se a desistir sem ter sequer tentado. Aquilo era demasiado importante para largar ape‑nas por ser uma hipótese remota. — Estou desesperada, Sophie. — E na realidade, aquilo dizia tudo. Se queria fazer carreira a sério no jornalismo, tinha de encontrar Finn Dalton. Estava em causa todo o seu futuro no Chicago Herald.

— Admiro a tua determinação — murmurou Sophie —, mas receio que vás deparar com um beco sem saída atrás de outro.

— Talvez. — Carrie não se importava de admitir perante a amiga que encontrar Finn Dalton não seria fácil. — Mas recuso‑‑me a desistir sem tentar. — Sabia que Sophie não tinha a intenção de se mostrar negativa. — Eu quero esta oportunidade, e se isso significa seguir Finn Dalton até alguma tundra longínqua, então calço os meus sapatos de adulta e avanço. — Mas não com os saltos que usara na noite anterior, isso era certo.

A primeira coisa que Carrie fez para procurar Finn Dalton foi ler o livro. Não uma, mas três vezes. Sublinhou tudo o que pudesse dar ‑lhe o menor indício quanto à sua identidade.

Durante dois dias saltou o almoço, passando o tempo agarrada ao computador à procura de qualquer pedacinho de informação que a ajudasse a localizar Finn Dalton. Saltava de um motor de busca para outro.

— Como vai isso? — perguntou Sophie dois dias depois, quando se encontraram à saída da porta.

— Bem. — Através da sua missão de procura de factos, Carrie começava a formar uma imagem do homem que escrevera aquele livro espantoso. Após a terceira leitura quase sentiu que o conhecia. Ele nem sempre fora um solitário. Fora criado no Alasca e apren‑dera a viver da terra com o pai, que aparentemente idolatrava. Uma coisa era certa: parecia não achar qualquer utilidade nas mulheres.

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Em todo o livro não mencionava uma única vez a mãe nem qual‑quer outra influência feminina. O que mais chamava a atenção de Carrie era o que ele não dizia.

— Tiveste sorte? — indagou Sophie, interrompendo ‑lhe os pensamentos.

— Ainda não. — Hesitou. — Leste o livro?Sophie acenou afirmativamente. — Claro. Quase toda a gente

o leu.— Reparaste que ele não tem nada a dizer acerca do sexo

oposto? Dá a sensação de que não confia nas mulheres.Sophie encolheu os ombros como se não tivesse prestado

muita atenção, mas ela não andara a ler nas entrelinhas, como Carrie fizera.

— Que idade pensas que ele tem? — perguntou Sophie.— Francamente não sei dizer. — Finn era um excelente escri‑

tor e contador de histórias. Mas os contos que relatava podiam ter acontecido quase em qualquer altura durante as últimas décadas. Passava completamente em branco sobre acontecimentos atuais.

Sophie cruzou os braços e pareceu pensativa. — Eu diria que ele anda perto dos cinquenta, para ter sobrevivido sozinho todos estes anos.

Especulações não adiantavam nada a Carrie. — Olha, quando eu descobrir, serás a primeira a saber. De acordo?

Sophie sorriu e anuiu. — De acordo.

Nessa noite, enquanto Carrie se preparava para o próximo evento de beneficência, o seu telemóvel tocou. Era a mãe, de Seat‑tle. Falavam pelo menos duas ou três vezes por semana. Carrie era muito chegada à família e sentia imensas saudades de todos.

— Olá, mamã — atendeu, comprimindo o telemóvel contra um ouvido enquanto tentava enfiar um brinco com pérola na outra orelha.

— Olá, querida. Estás ocupada?— Ainda tenho uns minutos. — Mudou de ouvido e enfiou a

segunda pérola no sítio, antes de ajeitar os pés num confortável par de sapatos de salto alto. Tinha marcado encontrar ‑se com Harry daí a meia hora.

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— O papá e eu estamos muito entusiasmados por irmos ver ‑te no Dia de Ação de Graças.

— Pois, acerca disso. — Carrie pegou na bolsa e enfiou ‑a debaixo do braço, conservando o telemóvel agarrado. — Mamã, detesto dizer ‑te isto, mas há a possibilidade de eu não conseguir ir a casa para o Dia de Ação de Graças.

— O quê?Era doloroso detetar o desapontamento na voz da mãe. — Já

ouviste falar de Finn Dalton?— Claro. O teu pai gostou tanto do livro dele que comprou

mais dois exemplares. Eu também o li. Aí está um homem a sério.— Quero entrevistá ‑lo.— Palavra? Segundo me consta, ele não concede entrevistas.— Pois, foi o que também me constou.— Ele vai alguma vez a Chicago?— Duvido — murmurou Carrie. Quem dera que pudesse ser

assim tão fácil e fosse ele a vir ter com ela. Bom, não era provável. Mas também, uma coisa que Sophie dissera ficara ‑lhe na cabeça. Ela podia cruzar ‑se com ele no passeio e não saber quem era. — Pre ciso primeiro de descobrir Finn Dalton, mas deparo sempre com becos sem saída, como toda a gente. — Referiu as suas buscas online, as chamadas para o Alasca, e o número de telefones que lhe tinham desligado na cara. Ninguém se mostrara disposto a falar com ela. — Preciso de abordar isto de um ângulo diferente. Tens algumas ideias?

— Pelo que o teu pai disse, Finn Dalton não é homem que gostasse de se ver mencionado nas páginas de sociedade.

— É justamente isso, mamã. Isto seria uma peça de investi‑gação. O meu chefe disse ‑me que poderia escolher os trabalhos que quisesse se conseguisse obter esta entrevista. É suficientemente importante para eu usar os dias de férias que tencionava gozar por altura do Dia de Ação de Graças a tentar encontrá ‑lo.

— Oh, Carrie, detesto a ideia de fazeres isso.— Eu sei, eu também detesto, mas é necessário. — A mãe

conhecia perfeitamente os seus sentimentos relativamente à situa‑ção de trabalho atual.

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— Achas realmente que consegues encontrar Finn Dalton? — perguntou a mãe.

— Não sei se consigo ou não, mas se não conseguir não será por falta de tentar.

— Sempre admirei o teu espírito de tenacidade. Posso dizer ao teu pai que vais escrever uma peça sobre o homem que escreveu Sozinho?

— Ah... ainda não. Primeiro tenho de localizar Dalton.— O que descobriste até agora? — A mãe era essencialmente

prática. Carrie imaginava ‑a a arregaçar as mangas, pronta a atirar ‑se àquele projeto com a filha.

— Sabes onde é que ele nasceu?— Não. Presumi que devia ter sido no Alasca, mas não existe

lá registo do seu nascimento. Comecei a procurar nos registos de outros estados, principiando pelo noroeste, mas ainda não encontrei o nome dele. — Por aquele andar, chegaria ao virar do próximo século antes de encontrar o Dalton certo.

— E a educação? Registos de fim de curso?— Tentei isso, mas ele não vem referido em lado algum. Talvez

tenha sido ensinado em casa.— É provável que tenhas razão — comentou a mãe, parecendo

orgulhosa por Carrie ter feito tal raciocínio. — Uma das suas his‑tórias fala de o pai ter encomendado livros pelo correio, lembras ‑te? Aposto que eram livros de estudo.

Carrie fizera a mesma dedução.— Finn é um nome bastante invulgar, não é? — continuou

a mãe devagarinho, como se estivesse a pensar alto.— E é claro que pode ser um pseudónimo, mas o editor dele

afirma que o nome é tão real quanto o homem. — Nada parecia usual no que diz respeito a Finn Dalton.

— Sabes, quando o teu pai e eu casámos, os trabalhos no oleo‑duto do Alasca estavam no auge. Era um projeto grandioso e levou imensos homens ao Alasca; muitos ficaram por lá. O pai dele talvez seja desses.

— Sim. — Mas era um tiro no escuro. Ela já passara horas a percorrer todo o tipo de registos do Alasca em que conseguira

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pensar, e sem resultado. Lançou um olhar às horas, embora aquela conversa lhe estivesse a dar ideias acerca de onde continuar à pro‑cura do misterioso Mr. Dalton.

— Tanto quanto me lembro, muitos homens deixaram as mulheres e a família atraídos pelo dinheiro chorudo.

— Eu podia começar a analisar os registos de emprego no oleo‑duto durante esse período e ver o que encontro — sugeriu Carrie.

— Isso é uma ideia formidável. E, ouve, quando encontrares Finn Dalton, vê se arranjas maneira de o teu pai ter a possibilidade de conversar com ele, está bem?

— Não posso prometer isso. — Primeiro precisava de convencer Finn Dalton a falar com ela!

— Esforça ‑te.— Farei o que puder.— Adeus, querida.— Adeus, mamã. — Carrie terminou a chamada e enfiou o tele‑

móvel na sua pequena mala. Após um breve relance ao espelho da entrada, saiu a porta rumo ao que esperava seria um dos derradeiros eventos sociais que precisaria de cobrir.

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