Post on 06-Jul-2020
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Dia da incontinência urináriaTomé Lopes I Paulo Vale I Luís Abranches Monteiro I Mário João Gomes I Carlos Silva I Pedro MonteiroVaz Santos I Miguel Silva Ramos I Paulo Vasco
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INICIATIVA: APOIOS:
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As várias incontinências
tingindo com tão gran-
de frequência as mulhe-
res, só uma minoria
(cerca de 30%), procu-
ra conselho médico.
Ainda hoje este proble-
ma, que tem solução na maioria dos
casos, é pouco referido, avaliado ou tra-
tado. No homem, apesar de menos fre-
quente, esta condição tem também con-
sequências devastadoras na qualidade de
vida, devendo ser profundamente inves-
tigada para reconhecer a sua causa, o que
poderá levar a um eficaz tratamento.
INCONTINÊNCIA DE ESFORÇO
Neste caso a perda de urina é simultânea
com o tossir, espirrar, rir, correr, levantar
pesos. Este tipo de incontinência, que na
mulher acontece por hipermobilidade da
uretra, surge na consequência da gravi-
dez e do parto, alterações hormonais e
idade. No homem, é principalmente devi-
da à incompetência dos esfíncteres, cau-
sada em geral por situações pós cirurgia
da próstata, como quando é totalmente
extraída por cancro.
BEXIGA HIPERACTIVA
Neste tipo de incontinência (também desig-
nada incontinência por urgência), existe uma
vontade súbita e imperiosa para urinar, mui-
tas vezes associada a percas de urina e ao
aumento da frequência urinária. É causada
ciado a micções fracas e de pequeno volu-
me. Em homens e mulheres, pode acon-
tecer por doenças neurológicas ou após
grandes cirurgias do recto e do útero. Uma
situação típica deste tipo de incontinên-
cia acontece em homens com obstrução
urinária grave, causada pelo aumento de
volume da próstata, benigno ou maligno.
INCONTINÊNCIA TOTAL
É uma perda involuntária e contínua de uri-
na, sem haver um factor ou sensação
desencadeantes. O doente não tem
micções normais e a perca é total. Na mu-
lher pode acontecer em casos extremos
de incontinência de esforço, em que para
além duma hipermobilidade da uretra, exis-
te uma grave insuficiência dos esfíncteres.
A incontinência total é também a incon-
tinência típica das fistulas urinárias. O exem-
plo mais frequente é a fistula vesico-vagi-
nal, em que há uma comunicação entre a
bexiga e a vagina, causada por lesão duran-
te uma histerectomia. No homem, esta
situação de perda total e constante de uri-
na, apesar de rara, pode acontecer após
cirurgias radicais da próstata.
ENURESE NOCTURNA
É a perda involuntária e inconsciente de
urina durante o sono. Atinge principalmente
crianças até aos cinco anos de idade.
Alguns adolescentes e adultos jovens
podem também sofrer desta perturbação.
A
A incontinência urinária é uma perda involuntária de urina que provoca um problema social e higié-nico. Olhando para todas as condições urológicas, aquelas que se relacionam com a perda de urinasão muitas vezes as mais negligenciadas, especialmente por mulheres, que representam 85% dossofredores de incontinência. Cerca de 10 a 20% das mulheres com idades compreendidas entre os15 e os 64 anos e 40% com mais de 60 anos podem ser afectadas por esta condição.
«Ainda hoje este problema,
que tem solução na maioria
dos casos, é pouco referido,
avaliado ou tratado»
Tomé LopesDirector do Serviço de Urologia do Hospital Pulido ValenteVice-Presidente da Associação Portuguesa de Urologia
por contracções involuntárias do músculo
(detrusor) que constitui a parede da bexiga.
A origem destas é desconhecida na maio-
ria dos doentes. No entanto, as infecções
urinárias, os tumores da bexiga e as pedras
da bexiga podem estar por detrás desta per-
da involuntária de urina. Mais frequente na
mulher, aumenta com a idade nos dois
sexos e atinge cerca de 10% dos adultos.
Estes dois tipos de incontinência podem
existir associados (incontinência mista) e
são os mais comuns no adulto.
INCONTINÊNCIA POR REGURGITAÇÃO
É muito diferente das anteriores. É causa-
da por uma retenção crónica de urina, em
que a bexiga está continuamente acima
do limite da sua capacidade. Há como que
um transbordar do reservatório que é a
bexiga, situação que leva a um gotejar uri-
nário constante, diurno e nocturno, asso-
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O impacto socio-económico
incontinência urinária é
ainda um tema tabu na
sociedade pelo emba-
raço que causa aos
doentes quando deci-
dem apresentar o seu
problema ao médico, pela vergonha em
falar do assunto e pelo facto de ser enca-
rada como fazendo parte natural do enve-
lhecimento.
Não sendo a idade uma causa directa,
é contudo na população idosa de ambos
os sexos que existe uma maior taxa de
incidência (aproximadamente 40%). Pode,
no entanto, afectar pessoas em qualquer
idade, como acontece com alguma fre-
quência em crianças e em mulheres novas
em situação de pós parto.
A maioria das doentes não procura o
médico, mas a razão pode dever-se ao
facto de desconhecerem que a sua IU
pode ser curada ou controlada. Sentem
pouco à vontade para procurar apoio
médico e tentam integrar a doença na sua
vida de todos os dias usando resguardos
(fraldas ou outras protecções) ou adap-
tando hábitos de vida, não viajando, fican-
do por casa, etc.
A doença tem pois um impacto negati-
vo significativo na qualidade de vida.
É importante deixarmos claro que a incon-
tinência urinária pode ser tratada qualquer
que seja a sua origem.
Um tratamento eficaz pode melhorar
veis e consumo de recursos que precisam
de politicas de compensação e assistên-
cia. O custo da IU é não só financeiro mas
também social, crescendo em paralelo
com o envelhecimento da população e o
despertar da população e médicos para
este problema. No estudo de Hu-1995 o
custo do tratamento da IU na população
dos Estados Unidos com mais de 65 anos
é de 26.3 biliões de dólares, sendo que 18
biliões são utilizados para tratamentos na
comunidade e 8.3 em lares. Um estudo
europeu, baseado numa população de
16.766 indivíduos de seis países europeus,
dá uma estimativa de 22 milhões de pes-
soas sofrendo de bexiga hiperactiva (uma
forma de IU). Sabendo que são limitados
os recursos da Saúde, as escolhas certas
deverão ser realizadas. Devemos apostar
num modelo envolvendo custos, acção
terapêutica e resultados.
A
Estima-se que existam em Portugal para cima de 600.000 pessoas afectadas pela incontinênciaurinária (IU). Esta doença aumenta com a idade e atinge ambos os sexos, embora predominandona mulher. A “incontinência de esforço” é mais comum na mulher abaixo dos 60 anos e a“incontinência por urgência” e “mista” acima dos 60 anos.
«Um tratamento eficaz pode
melhorar muito a qualidade
de vida do doente, reduzir
a sua dependência familiar
e, no caso dos idosos, evitar
o internamento precoce
em lares de terceira idade»
Paulo ValeConsultor de Urologia – Hospital Garcia da OrtaPresidente da APNUG (Associação Portuguesa de Neurourologia e Uroginecologia)
muito a qualidade de vida do doente, redu-
zir a sua dependência familiar e, no caso
dos idosos, evitar o internamento preco-
ce em lares de terceira idade, sendo que
a incontinência urinária é uma das princi-
pais causas do seu internamento.
Por outro lado, sabemos que na União
Europeia um em cada seis cidadãos tem
mais de 65 anos. Em 2010, a proporção
passará a ser de um em cada quatro. Esta-
mos no advento da 4ª idade, sendo que o
sub-grupo que mais cresce proporcional-
mente nos maiores de 65 anos é o dos
anciãos maiores de 80 anos.
É o envelhecimento do envelhecimen-
to que consigo arrasta maior incidência de
doenças, de situações de incapacidade e
dependência, condicionantes desfavorá-
CUSTOS DIRECTOS
– Diagnóstico, tratamento, consequên-
cias do tratamento e cuidados de rotina.
CUSTOS INDIRECTOS
– Baixas no emprego, lares, etc.
CUSTOS NÃO QUANTIFICÁVEIS
– Sofrimento pessoal, inibição de inte-
racção social, evitar actividade sexual.
AVALIAÇÃO ECONÓMICA DA IU
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Tratamentos e novastécnicas cirúrgicas
ode acontecer por diver-
sos mecanismos. O mais
frequente é o relaxamen-
to crónico dos músculos
da base da pélvis (pavi-
mento pélvico), seguido
pela disfunção dos esfíncteres da uretra,
ou seja, dos anéis musculares que envol-
vem o canal de saída da urina. Estas duas
causas frequentemente coexistem.
Há múltiplos factores relacionados com
a capacidade de manter a urina dentro da
bexiga durante os esforços e as diversas
actividades físicas. Um dos principais é a
existência de um suporte pélvico, grupo
de músculos sobre os quais assenta a ure-
tra feminina e que devem ter a rigidez sufi-
ciente para a colapsarem cada vez que um
grande esforço abdominal incide sobre a
bexiga. É o caso da tosse ou dos espirros.
Conjuntamente a esta, ou de forma iso-
lada, a incontinência de esforço pode tam-
bém surgir por deficiente contracção dos
esfíncteres da uretra. Estes são pequenos
músculos que envolvem a uretra e que,
pela sua acção contráctil, a encerram
impedindo que a urina se escape conti-
nuamente para o exterior.
Então temos dois mecanismos diferen-
tes para lidar com dois tipos muito dife-
rentes de esforços: o pavimento pélvico
para os esforço intensos e súbitos, mas
imediatos, e os esfíncteres para os esforços
menos intensos mas sustidos por segun-
tra mas, com a sua rigidez, substituem o
deficiente suporte pélvico. Como são fitas
vaginais sem tensão (Tension-free Vaginal
Tapes) ficaram conhecidas genericamen-
te por “TVT”, muito embora possam ter
diversas denominações comerciais, já que
existem, hoje em dia, diversos fabricantes.
São fitas de malha de material sintético que
envolvem a uretra por baixo, e se fixavam
entre o osso púbis e a bexiga. Mais recen-
temente têm uma fixação mais forte poden-
do ser mais encurtadas ainda, cabendo na
palma da mão, tendo hoje em dia uma colo-
cação quase exclusivamente dentro da
vagina e tecidos imediatamente vizinhos.
Quando predomina a insuficiência dos
esfíncteres, estes métodos têm menos
sucesso, sendo, no entanto, muito supe-
riores às opções cirúrgicas antigas. Nestes
casos as cirurgias são um pouco mais com-
plexas podendo chegar inclusivamente à
muito rara necessidade de colocação de
um esfíncter artificial. Estes são próteses
complexas, de sistemas pneumáticos, de
colocação mais especializada e onerosa.
A mediatização do problema da incon-
tinência e esta nova resposta cirúrgica dos
últimos anos, quase sem internamento ou
mesmo em regime ambulatório, com taxa
de sucesso quase total e com baixo custo
e sofrimento, farão com que cada vez
menos pessoas fiquem incontinentes, apoia-
das apenas no uso de fraldas, preferindo o
silêncio à procura de ajuda profissional.
P
Incontinência urinária é a perda involuntária de urina pela uretra. Diz-se que é de esforço quando es-tá de algum modo associada a actividades físicas. Em regra a queixa é muito clara: as perdas de uri-na surgem cada vez que se pratica um esforço.
«A resposta cirúrgica
dos últimos anos, quase sem
internamento ou mesmo
em regime ambulatório,
com taxa de sucesso quase
total e com baixo custo
e sofrimento, fará com que
cada vez menos pessoas
fiquem incontinentes»
Luís Abranches MonteiroAssistente Graduado de Urologia Hospital de Curry Cabral
dos ou minutos. É assim possível ter per-
das apenas quando se levanta um peso do
chão e sem perder à tosse ou vice-versa.
Muito frequentemente as mulheres apre-
sentam algum grau de ambos mecanismos.
Estas deficiências musculares pélvicas
e esfincterianas podem ser mecânicas e
ter como causa os traumatismos do parto
e as alterações musculares crónicas deco-
rrentes do sedentarismo e da menopausa.
AS NOVAS CIRURGIAS
DA INCONTINÊNCIA DE ESFORÇO
No limiar do século XXI desenharam-se
pequenas próteses que não tocam na ure-
INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NA MULHER
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Prolapsos pélvicos
m condições fisiológicas
o equilíbrio dinâmico,
interesssando estruturas
viscerais abdomino-pél-
vicas e músculo-apo-
nevróticas perineais,
modela-se a cada instante. Particular-
mente no sexo feminino, o resultado des-
te diálogo não é uniforme, sofrendo
mutações funcionais e orgânicas, que con-
tribuirão para uma inércia degenerescen-
te das estruturas mioneurovasculares e de
suporte dos órgãos pélvicos, favorece-
doras da eclusão do prolapso genital e da
incontinência urinária.
Os órgãos pélvicos – vagina, útero,
bexiga, cólon, recto – são sujeitos a
pressões que se exercem segundo o sen-
tido da força de gravidade. Estes órgãos
são empurrados contra as estruturas de
suporte do pavimento pélvico. A falência
deste mecanismo favorece o apareci-
mento de incontinência urinária e pro-
lapsos genitais.
A debilidade do compartimento ante-
rior do pavimento pélvico poderá despo-
letar incontinência urinária, por hipermo-
bilidade uretral, e cistocelo (protusão vagi-
nal da parede inferior da bexiga). As ano-
malias dos compartimentos intermédio e
posterior traduzem-se pela presença de
prolapsos uterinos e da cúpula vaginal, de
da sensação de corpo estranho vulvova-
ginal, por desconforto, dispareunia e
pequenas hemorragias no decurso do acto
sexual, bem como aumento da ocorrên-
cia de infecções urinárias. Em casos
avançados a mulher sente exteriorização
vulvar exuberante, podendo, em situações
dramáticas, associar-se a obstruções ure-
terais com repercussão na funcionalidade
renal (uropatia obstrutiva).
O tratamento dos prolapsos uterino ou
da cúpula vaginal, bem como do enteroce-
lo, é cirúrgico e implicará, respectivamente,
a histerectomia, ou a correcção da anoma-
lia que está na sua génese, como por exem-
plo a suspensão da cúpula vaginal por via
cirúrgica convencional ou laparoscópica,
associada eventualmente à utilização de
materiais protésicos de suspensão.
A pecularidade da indicação cirúrgica
do prolapso urogenital resultava, até há
uma década atrás, não só do axioma “rara-
mente a doente morre do seu prolapso;
pode morrer da sua cura...”, mas também
das respectivas taxas de recidivas. Na
actualidade, com a emergência de técni-
cas minimamente invasivas de eficácia
comprovada e a utilização de materiais
protésicos, assiste-se à redefinição deste
pensamento. Em todos os casos presidi-
rá o princípio da melhoria da qualidade de
vida da doente.
E
Na escala evolutiva filogenética o Homem ocupa o patamar supremo de diferenciação. Os meca-nismos adaptativos morfofuncionais maximizaram-se, não sem que à postura erecta e bipedestrese associassem aquisições potencialmente predisponentes de patologia, como o Prolapso Pélvico,singular dos primatas.
«A debilidade do comparti-
mento anterior do pavimento
pélvico poderá despoletar
incontinência urinária, por
hipermobilidade uretral, e
cistocelo»
Mário João GomesAssistente Graduado Hospitalar Responsável da Unidade Uroginecologia/Neuro-Urologia/UrodinâmicaServiço de Urologia:Director – Dr. Filinto MarceloHospital Geral Santo António – Porto
enterocelos (herniação de segmento intes-
tinal) e rectocelos.
Na génese destas anomalias, basica-
mente, destacam-se o traumatismo do
parto vaginal, o ambiente hormonal sub-
sequente à menopausa e as sequelas
iatrogénicas da radioterapia e de cirurgias
pélvicas.
A doente reconhece o cistocelo ou o
rectocelo (protusão da parede anterior do
recto) durante a sua higiene, pela sensação
de corpo estranho associada à protusão
das paredes anterior ou posterior da vagi-
na, respectivamente. As manifestações
clínicas dum prolapso são traduzidas, além
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Bexiga hiperactiva
sta é uma doença cujo
sintoma principal é a
imperiosidade, isto é, uma
vontade forte e súbita de
urinar, não sendo possível
adiar a ida à casa de
banho. Para diminuir este sintoma muito
incomodativo, o doente vai mais vezes à
casa de banho. Por vezes, não consegue
chegar a tempo e tem perda de urina. A
incontinência urinária acontece em cerca
de 30% dos doentes com Bexiga Hiperac-
tiva, sendo mais frequente nas pessoas ido-
sas, porque são maiores as dificuldades em
chegar a tempo à casa de banho.
A sensação de ter a vida controlada pela
bexiga, a constante preocupação de estar
próximo de uma casa de banho e o receio
de cheirar a urina são preocupações que
assombram o dia-a-dia dos doentes.
Estes sofrem em silêncio e escondem a
sua doença. A vida profissional, social e
sexual acaba por ser seriamente afecta-
da por esta doença. Esta doença é muito
frequente. Na verdade, afecta cerca de 10
a 15% da população adulta, sendo mais
frequente nas pessoas mais idosas.
CAUSAS E DIAGNÓSTICO
Na maior parte dos doentes ainda não sabe-
mos as causas. Algumas doenças neuro-
lógicas (por exemplo acidentes vasculares
cerebrais, doenças da medula espinal) são
a causa da Bexiga Hiperactiva porque afec-
tam os mecanismos que controlam o fun-
cionamento da bexiga, que deixa assim de
estar sob o controlo do doente.
sar a perda de urina, dando tempo ao
doente para alcançar a casa de banho.
Consegue-se assim um melhor controlo
da bexiga na maior parte dos doentes.
As bebidas alcoólicas, o café, o chá, as
bebidas gaseificadas e ácidas, o chocola-
te, os adoçantes e os alimentos demasia-
do condimentados podem ser “irritantes”
para a bexiga e agravar os sintomas. Por
isso, o seu médico irá aconselhá-lo a evi-
tar algumas destas bebidas ou alimentos,
especialmente se nota alguma relação entre
eles e o agravamento dos seus sintomas.
Não deve abusar do uso de líquidos,
devendo no entanto manter uma ingestão
de líquidos razoável (quatro a cinco copos
de água por dia). Deve evitar o excesso de
peso, tratar a obstipação, não fumar e evi-
tar a auto-medicação (alguns fármacos
podem provocar perdas de urina, em par-
ticular nos idosos).
CASOS DIFÍCEIS
Infelizmente, nem sempre os tratamentos
habituais são eficazes e outras vezes os
doentes abandonam a medicação porque
não aguentam outros efeitos da mesma,
como por exemplo a boca seca.
Novos medicamentos estão a ser expe-
rimentados e alguns têm tido bons resul-
tados quando são aplicados dentro da
bexiga. Destes, a substância mais usada
actualmente é a toxina botulínica.
Se o seu caso for um destes difíceis de
tratar, fale com o seu médico. Ele poderá
orientá-lo para um Serviço de Urologia com
experiência no tratamento destes casos.
E
Alguma vez teve que interromper o que estava a fazer porque sentiu uma vontade forte e súbitade urinar? Se a resposta é sim e se essa situação acontece frequentemente, de tal maneira queinterfere na sua qualidade de vida, pode sofrer de uma doença chamada Bexiga Hiperactiva.
«Quanto mais cedo
for feito o diagnóstico,
melhores serão
os resultados
dos tratamentos»
Carlos SilvaEspecialista em UrologiaHospital S. João– Faculdade de Medicina do Porto
O seu médico suspeita que tem essa
doença pelos sintomas de que se queixa,
especialmente a imperiosidade. É preciso
ter em atenção que existem outras
doenças, como por exemplo as infecções
urinárias, os tumores da bexiga, os cálcu-
los na bexiga e as doenças da próstata,
no caso dos homens, que também se
podem manifestar do mesmo modo. Por
isso, o seu médico irá recomendar a rea-
lização de alguns exames (por exemplo,
exames à urina e ecografias) para ver se
são essas doenças que estão a provocar
esses sintomas. Como facilmente se com-
preende, nestes casos é preciso tratar em
primeiro lugar estas doenças.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico,
melhores serão os resultados dos trata-
mentos. O tratamento da Bexiga Hipe-
ractiva assenta, essencialmente, em medi-
camentos que relaxam o músculo da bexi-
ga (fármacos anticolinérgicos), para atra-
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A cirurgia da próstata
doente deve ser escla-
recido e preparado para
esta possibilidade e
deve compreender,
aquando da proposta
da intervenção, que pelo menos tempo-
rariamente a incontinência pode ensom-
brar a sua qualidade de vida.
A bexiga armazena urina com o auxílio
de um sistema grosseiramente parecido
com uma válvula, que abre apenas quan-
do recebe a autorização de um centro de
controlo no cérebro. A próstata, um órgão
que envolve os primeiros centímetros da
uretra, está intimamente relacionada com
esta “comporta”, contribuindo para o seu
O
A perda da capacidade de controlar voluntariamente o esvazia-mento da bexiga acontece com uma relativa frequência em homenssubmetidos a cirurgia para tratamento de doenças da próstata. Aincontinência associada a esforços, tosse e riso é mesmo, no sexomasculino, uma consequência quase exclusiva, de alguma forma,de cirurgia da próstata.
«A recuperação
ocorre habitualmente
de forma espontânea
nos primeiros meses
numa grande maioria
de casos: até 80%
de continência
aos três meses»
Pedro MonteiroAssistente Hospitalar de UrologiaCentro Hospitalar Lisboa Ocidental(Hosp.Egas Moniz)
encerramento até à fase de esvaziamento.
A remoção de toda ou parte da próstata alte-
ra este complexo mecanismo e ainda pode
interferir na estabilidade da bexiga: após a
cirurgia é frequente os doentes apresenta-
rem algumas dificuldades com a continên-
cia, sendo certo que nas mãos de cirurgiões
experimentados este risco é menor (2-4%
de incontinência após prostatectomia radi-
cal). A recuperação ocorre habitualmente
de forma espontânea nos primeiros meses
numa grande maioria de casos (até 80% de
continência aos três meses) e algumas
modificações do quotidiano podem facili-
tar essa evolução.
O reforço dos músculos do pavimento
pélvico é uma das medidas mais recomen-
dadas para acelerar a recuperação da con-
tinência, e consegue-se com a realização
de um conjunto de exercícios que treinam
os músculos auxiliares do encerramento da
uretra. Estes exercícios são ensinados ao
doente e podem ser amplificados com sis-
temas de estimulação eléctrica (biofeed-
back). O recurso a medicamentos pode ser
necessário e o grupo dos anticolinérgicos
permite aumentar a capacidade da bexiga
e diminuir a frequência das micções.
Perante a necessidade de opções mais
agressivas, existem diversas alternativas
cirúrgicas, desde a injecção de colagéneo
ou substâncias inertes em redor da uretra,
até à implantação de um esfíncter artificial
comandável pelo doente, passando pela
colocação de fitas sintéticas que suspen-
dem e comprimem a uretra.
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Técnicas de reabilitação
s técnicas de reabili-
tação na prevenção e
tratamento da incon-
tinência urinária têm
como base as con-
tracções perineais, que
podem ser geradas voluntariamente sob
instrução verbal, contra resistência por tra-
balho manual ou monitorizadas por equi-
pamentos que permitem consciencializar
a forma e qualidade das mesmas – bio
feedback ou ainda por electroestimulação.
EXERCÍCIOS MUSCULARES
Os exercícios musculares de contracção
do perineo podem ser feitos quer sob ins-
trução verbal, ou por instrução verbal com
controlo palpatório da constrição vaginal.
São necessárias três fases de exercício
muscular: a tomada de consciência da
contracção; o aumento de intensidade da
contracção e a integração da actividade
destes músculos na vida quotidiana.
BIO FEEDBACK
Técnica que tem por base um conceito
cibernético de Wiener em que o sistema
é controlado pelo facto de conhecer os
resultados das suas acções. O Bio feed-
back (retro-alimentação), permite a toma-
da de consciência da intensidade e da for-
ma da contracção perineal por visuali-
zação num ecrã de um gráfico que repro-
duz as contracções que a doente faz, ten-
do uma sonda intra vaginal ou intra rectal.
Esta técnica implica o uso de um equipa-
mento electrónico.
ESTIMULAÇÃO ELÉCTRICA
Permite a contracção dos músculos peri-
A
A incontinência urinária, que é traduzida pela perda de urina através da uretra num determinadomomento, não socialmente correcto, gera um comportamento adaptado. Tendo presente a im-portância do pavimento pélvico constituído pelos músculos, pelas faixas envolventes e ligamen-tos de suporte dos órgãos pélvicos, e tendo em conta o sinergismo entre eles, compreende-se aimportância das terapêuticas fisiatras. Estas visam o reforço muscular do pavimento pélvico e otreino de reflexos de activação do tónus muscular.
«O uso de técnicas compor-
tamentais e de reabilitação
do pavimento pélvico, com
uma selecção correcta dos
doentes, tem uma taxa de
resultados subjectivos de 70
a 80% e de 20% de curas»
Vaz Santos – Chefe de Serviço de Urologia – Centro Hospitalar de Lisboa ZonaCentral (Hospital São José/Desterro)
neais de uma forma involuntária e permi-
te tomar a consciência dos mesmos. Des-
te modo os doentes incapazes de realizar
a contracção por instrução verbal, reali-
zam-na de uma forma involuntária e, ao
reconhecerem-na, poderão de futuro rea-
lizá-la de uma forma voluntária.
Basicamente, a reeducação perineal
tem como objectivos a prevenção da hipo-
tonia pavimento pélvico, o tratamento da
incontinência urinária, o tratamento da dis-
função sexual e o tratamento da incon-
tinência anal.
Em conclusão, o uso de técnicas com-
portamentais e de reabilitação do pavi-
mento pélvico, com uma selecção correc-
ta dos doentes, tem uma taxa de resulta-
dos subjectivos de 70 a 80% e de 20% de
curas. Embora exista alguma disparidade
de resultados, segundo diferentes auto-
res, este tipo de terapêutica pode melho-
rar ou curar, sem a morbilidade da cirur-
gia, mesmo que seja de uma forma, por
vezes, temporária.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
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O idoso
idade avançada pode
acompanhar-se por
doenças crónicas e o
número de pessoas ins-
titucionalizadas no fim
da vida está a aumentar.
Num estudo realizado em Inglaterra, a pro-
babilidade de um indivíduo com mais de
65 anos vir a necessitar de internamento
em lares de terceira idade é de 43%. Estes
dados são importantes, não só porque os
residentes nestas instituições são o gru-
po com a maior taxa de incontinência na
população, mas porque a existência de
incontinência urinária torna o idoso com
maior risco de ser institucionalizado.
A incontinência urinária, para além do
impacto directo que causa na qualidade de
vida, predispõe a dermatoses genitais, úlce-
ras de pressão, infecções do tracto uriná-
rio, quedas e fracturas. De notar que as que-
das são bastante frequentes e associadas
a grande morbilidade nos idosos e entre 20
a 50 % destas ocorrem no caminho para a
casa de banho. A incontinência está tam-
bém associada a vergonha, estigmatização,
isolamento e depressão. E embora os
pacientes, os familiares e por vezes os pro-
fissionais de saúde tenham tendência a
negligenciar a incontinência, ou a conside-
rá-la como parte normal do envelhecimen-
to, a incontinência nunca é normal.
O aparelho urinário muda com a idade,
mesmo na ausência de doença. Estas alte-
rações nem sempre são só por si causa
de incontinência, mas predispõem a incon-
tinência. De facto, para além dos defeitos
da musculatura pélvica, a bexiga com a
idade diminui a sua capacidade, a sua
elasticidade e tem frequentemente con-
A
A continência é a capacidade de urinar em circunstâncias socialmente e higienicamente aceitá-veis. É um mecanismo complexo que depende da integridade anatómica e funcional de vários sis-temas fisiológicos que são habitualmente alvo de doença em pessoas idosas.
Miguel Silva RamosServiço de Urologia,Hospital Geral de Santo António
tracções involuntárias. O que faz com que
tenham uma vontade súbita de urinar, que
muitas vezes é impossível de suster.
Em qualquer idade, a continência
depende não só da integridade do apa-
relho urinário baixo, mas também de uma
adequada função cognitiva, mobilidade,
motivação e destreza manual. No idoso a
incontinência está frequentemente asso-
ciada a problemas fora do aparelho uriná-
rio (alterações da mobilidade, doenças
neurológicas, fármacos, infecções, etc.),
sendo muito importante identificá-los, pois
estes podem ser defeitos temporários e
curáveis. Para além disso, nos últimos
anos têm aparecido novos medicamen-
tos e múltiplas técnicas menos invasivas
para o tratamento da incontinência.
A idade, só por si, não é contra-indi-
cação para tratamento da incontinência.
No entanto, neste grupo etário a incon-
tinência é multifactorial, necessitando por-
tanto de uma abordagem multifactorial,
persistente, optimista e criativa. Assim, a
incontinência é habitualmente tratável e
frequentemente curável, mesmo nos indi-
víduos mais enfraquecidos.
«No idoso a incontinência
está frequentemente
associada a problemas
fora do aparelho urinário
(alterações da mobilidade,
doenças neurológicas, etc.)
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cial
DOSSIER ESPECIAL SAÚDE é uma edição do Departamento de Publicações Especiais da Global Notícias Publicações SA Editor Silva Pires Redacção Raquel Botelho I Publicidade – Director José de Sousa Coordenação Paulo Brunheim
Ficha técnica
Enurese
os cinco anos de idade,
cerca de 7% dos rapa-
zes e 3% das meninas
têm enurese nocturna e,
aos 10 anos, 3% e 2%
respectivamente. Trata-
se de uma situação que atinge transver-
salmente todas as classes sociais, com
considerável impacto emocional e psico-
lógico nas crianças e suas famílias.
A idade considerada adequada para as
crianças terem uma capacidade de con-
trolo sobre a sua bexiga é muito variável,
mas é consensual considerar a existência
de enurese nocturna quando uma criança
de cinco / seis anos de idade continua a
“molhar a cama” mais de duas vezes num
mês. A enurese nocturna é considerada
primária quando a criança nunca contro-
lou as micções durante o sono e secun-
dária se houver um controlo de pelo
menos seis meses, após o que a criança
volta a “molhar a cama”.
Classicamente, têm-se valorizado na
génese da enurese secundária factores
emocionais, causados por mudanças
súbitas no mundo da criança: o nasci-
mento de um irmão, a entrada na escola
ou o afastamento dos pais. Dada a sua
importância, deve ser referido que a enu-
rese nocturna secundária pode também
estar associada a violência física e a abu-
sos sexuais.
Estas situações são, de facto, impor-
tantíssimas e necessitam de abordagens
hipóteses de ser enuréticos e esta per-
centagem sobe para 75% se ambos os
progenitores tiverem tido este problema.
A enurese nocturna é uma das situações
clínicas cujo tratamento tem registado
maior evolução. Hoje a primeira e maior
recomendação que se dá, a quem tem de
lidar com o problema, é: paciência, com-
preensão e…mais paciência.
É uma questão muitas vezes dramáti-
ca para crianças que se vêem limitadas na
possibilidade de socialização, na idade em
que desejam e necessitam ganhar auto-
nomia, dormindo em casa de amigos, sain-
do para acampar, para férias, etc.
Para o sucesso de qualquer abordagem
terapêutica a adesão da criança e da famí-
lia é essencial. Por isso, importa, em pri-
meiro lugar, criar uma forte motivação para
a solução que for proposta e usar, sem-
pre, o reforço positivo, estimulando, moti-
vando e manifestando compreensão.
Existem dois grandes grupos de abor-
dagens terapêuticas da enurese noctur-
na: tratamentos não farmacológicos e tra-
tamentos farmacológicos. Ambos devem
ser precedidos de medidas gerais que, por
vezes, são suficientes para a resolução do
problema. Estas passam por reduzir a
ingestão de líquidos a partir da hora do
lanche; resolver a obstipação, quando ela
existe; elogiar os sucessos obtidos, mas,
serenamente, levar a criança a ter res-
ponsabilidades na limpeza da roupa e da
cama quando a molha.
A
Este termo, em rigor, significa micção involuntária. A International Children's Continence Societydefine Enurese como a perda involuntária de urina que ocorre apenas durante o sono. Na criança,e desde a segunda metade do século XX, o termo Enurese tem-se referido apenas à Enurese Noc-turna em crianças acima dos cinco / seis anos de idade.
«É uma questão muitas
vezes dramática
para crianças que se vêem
limitadas na possibilidade
de socialização,
na idade em que desejam
e necessitam ganhar
autonomia, dormindo
em casa de amigos,
saindo para acampar,
para férias, etc.»
Paulo VascoChefe de Serviço Director do Serviço de Urologia no Centro Hospitalar Médio Tejo
específicas. Não nos devem, porém, fazer
esquecer outras situações que podem levar
uma criança que já deixou de “molhar a
cama” a voltar a fazê-lo e que podem ir des-
de patologias importantes como a diabe-
tes ou doenças neurológicas, até situações
bem mais comuns como a obstipação.
A enurese primária representa, por outro
lado, mais de 90% dos quadros de enu-
rese. Nesta, sabe-se que existe, na maio-
ria dos casos, um traço familiar (genético),
já que os filhos de um pai ou mãe que
sofreram de enurese têm mais 45% de
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ASSOCIAÇÃOPORTUGUESADE UROLOGIA
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESADE NEUROUROLOGIAE UROGINECOLOGIA
PATROCÍNIOS:Associação Portuguesa de Urologia
Associação Portuguesa deNeuro-Urologia e Uro-Ginecologia
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Ordem dos Médicos
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Astellas Farma
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Johnson & Johnson Medical
Neofarmacêutica
OM Portuguesa
TENA
www.apurologia.pt
www.saudedamulher.com.pt
www.incontinencia.com.pt
Não é solução... A incontinência tem tratamento.
14 de Março de 2007
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