Loder, L - Saussure e a Sociologia Durkheimiana

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Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheimiana Letícia Ludwig Loder Valdir do Nascimento Flores RESUMO: Ce texte presente une comparaison entre deux ouvrages ƒonda- teurs, quant aux aspects de construction de la méthode et de l'objet: Les Rè- gles de la Méthode Sociologique de David Émile Durkheim et le Cours de Linguistique Générale de Ferdinand de Saussure. À partir de ce corpus épisté- mologique, on veutprésenter les arguments qui donnent support au statut de scientiƒícité et d'autonomie disciplinaire des sciences lzumaines de la fin du XIX“siècle et début du XXÊ PALAVRAS-CHAVE: Epistemologia da lingüística; Sociologia; Lingüística. INTRODUÇAO O final do século XIX e início do século XX foram marcados por um impulso das disciplinas das ciências humanas no sentido de reivindicar e sustentar seu estatuto de cientificidade, cada uma delas buscando definir seus territórios. Esse movimento, em que se encontravam também a socio- logia e a lingüística, “se traduziu, nas últimas décadas [do século XIX], em numerosos trabalhos de definição de objeto e método” (BOUQUET 2004, p. 46), e, a este respeito, certamente os nomes de Émile Durkheim e Ferdinand de Saussure se destacam com relação à preocupação em esclare- cer e explicitar os pressupostos epistemológicos das suas disciplinas. Saussure manifestava sua preocupação com este tema ao expor, em car- ta a um amigo, datada de 1894, que “estou aborrecido com tudo isso, e com ‹: Letícia Ludwig Loder é mestre em Lingüística Aplicada (PPG Letras/UFRGS). valdir do Nascimento Flores é professor de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da .Pesquisador do CNPq. Alegre, nfi 40/4!, janeiro-dezembro, 2006, p. 273-294 273

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Ferdinand de Saussure e a sociologiadurkheimiana

Letícia Ludwig LoderValdir do Nascimento Flores

RESUMO: Ce texte presente une comparaison entre deux ouvrages ƒonda-teurs, quant aux aspects de construction de la méthode et de l'objet: Les Rè-gles de la Méthode Sociologique de David Émile Durkheim et le Cours deLinguistique Générale de Ferdinand de Saussure. Àpartir de ce corpus épisté-mologique, on veutprésenter les arguments qui donnent support au statut descientiƒícité et d'autonomie disciplinaire des sciences lzumaines de la fin duXIX“siècle et début du XXÊ

PALAVRAS-CHAVE: Epistemologia da lingüística; Sociologia; Lingüística.

INTRODUÇAO

O final do século XIX e início do século XX foram marcados por umimpulso das disciplinas das ciências humanas no sentido de reivindicar esustentar seu estatuto de cientificidade, cada uma delas buscando definirseus territórios. Esse movimento, em que se encontravam também a socio-logia e a lingüística, “se traduziu, nas últimas décadas [do século XIX], emnumerosos trabalhos de definição de objeto e método” (BOUQUET 2004,p. 46), e, a este respeito, certamente os nomes de Émile Durkheim eFerdinand de Saussure se destacam com relação à preocupação em esclare-cer e explicitar os pressupostos epistemológicos das suas disciplinas.

Saussure manifestava sua preocupação com este tema ao expor, em car-ta a um amigo, datada de 1894, que “estou aborrecido com tudo isso, e com

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Letícia Ludwig Loder é mestre em Lingüística Aplicada (PPG Letras/UFRGS).valdir do Nascimento Flores é professor de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da

.Pesquisador do CNPq.

Alegre, nfi 40/4!, janeiro-dezembro, 2006, p. 273-294 273

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LODER, Leticia L. 8‹ FLORES,Valdir do Nascimento

- ` de as_ dez linhas sensatas a respeitoa dificuldade geral de escrever sequer . _ _ uanti_~ ' da vez mais consciente da imensa Clsuntos linguist1COS- (---l estou Ca . ele~ ' ' strar ao linguista o quedade de trabalho que seria necessaria para mo 1

z,râƒazz11â0'* (CULLER 1979, p. 9, gflfv 11° Oflsma >~Durkheim, POY seu Íum°> defendia que

. › - z - ma outra ciência constituia sociologia nao e, POIS, flneX° de nenhu _' ._ela mesma uma ciência distinta e autônoma (~--l T0daV¡a› “maia

d considerar se como definitivamente constituidaência não po 6 ' rd d ‹ de_~ ' 'do formar uma personai a e lnsenao quando tiver consegui

pendente (DURKHEIM 1984, P. 127).

- ~ * ' de de_ tag atentos a necessidaSaussure uanto Durkheim es ç ç _ _Assim, tant0, , .OS ešistemológicos de suas respectivas disciplinas e,esclarecer os principi . (Durkheim b1¡_putarefa cada um a sua maneira ›ao levarem a Cabø ess; M 'tddo Sociológico e Saussure nos seus cursos decando 0 seu As Regras 0 e _ _ = d L- üístiw Ge-. - " depois reunidos no Curso e :nghngulsnca geral' que serao, i ectivas áreasudança de rumos em suas resp ›ral) acabam por causar umarn .› ~ se co-~ ' ~ ue na consolidaçao do queocupando, assim, uma P°519a° de destaclnhece hoje por lingüisticaçe Por socioloííš reocupações São de natureza

Visto, então, que, emdlinhas glqízeiiãâbalhfz) será investigar, a partir dosSemelhante' O Obienvo O Pres ' ' ' d d utonomizi. entos de cientificida e e e 2discursos que sustentam os argum ~ Durkheim~ - - tos as reflexoes de Saussure ede suas disciplinas, em que a5P€C z d ,, ~ As Regras do Meto . ‹- mparaçao dos textos _se relacionam. O foco sera na co _ d L. ..l,$ma Gt,~ z - de Durkheim, E CW50 e mg"Sociologico (doravante Regfflíl, ~ teriais t ,Ique r.de Saussure, porque esses sao os maral (doravante Curso), 4 _ _ emos dos reg

' lícito e organizado os poS1C10namzem de modo mais exp çpectivos autores a este respeitoc-1 _ (mtos metodológicos devem melhm.

Considerado' esse oblfitivo, Í: šrela ão presumida entre Durkheim (_

precisadosl O pnmelro diz respel ue sê 0Ptou Pelo contraponto dessasSaussure' Em Outras palavras' Pordizer ao afirmar no Parágrafo anterior' z ue se uer ,autores? ou amda O q 'déiag de Durkheim e Saussure se relacionam?mo asi . _ ,que se quer ver co I _ _ .ler ue a Intenção C' ¿,

Em resposta a este primeiro ponto, p0d€ S6 d1_ (l _. ` ló ico os dois textos, circunscrcvvino corpus epistemo g ,partir de um peque _ ,~ do conhcti, ~ tituir diferentes camposa gênese de diferentes mpdoã de cons Os em uma direção. tanto Durkhcml

' ' o men , ' .menr‹›.ISS0 pode Sef1“S“*°a °*a . - ir zmizm ..~ ‹‹ ” tido que Michel Foucauo autores , no sen .quanto Saussure sa _ . .dade Durkhmm l.° dadores de discursivi .

este termo, qual Sela) O de Serem fun SITIO ÍEIUPO Em que Sun),Saussure, cada um a seu modo, fundam (ao me. ~ - “ ` cí io defllfllPara a sociologia e a ling1115U°a› fe5PeCt1Vamente° um Prm P É

Organon Porto Megmna 40/41,janeiro-dezembro,2006,p.27,s ¡.›I274 ”

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Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheimiana

pamento do discurso, unidade e origem de suas significações, como centrode sua coerência” (FOUCAULT 1971, p. 11). Assim, a relação que será pos-ta em destaque é a que circunscreve a posição de autoria que cada um ocu-pa relativamente a seu campo disciplinar.

O corpus, constituído que é pelas teorias subjacentes aos textos, não éimune às teorias que ajuda a constituir. Assim, em certa medida, fazer umaanálise epistemológica comparativa é colocar em contraponto heranças efiliações responsáveis por uma cartografia cujo impacto, talvez, ainda nãotenha sido devidamente avaliado.

O segundo ponto diz respeito à comparação anunciada entre As Regrasdo Método Sociológico e o Curso de Lingüística Geral. A comparação é aquitomada como um método que destaca diferenças e semelhanças entre duasou mais realidades. No caso específico do corpus em análise, tais diferen-ças/semelhanças são identificadas dentro do limite que a visadaepistemológica permite, que nada mais é que “a ordenação, classificação edistinção de conceitos” (MILNER 1987, p. 41).

À guisa de introdução, cabem ainda algumas informações gerais. Comose verá, explicita-se, ao longo do texto, o recurso à informação histórica,mesmo que resumidamente, tanto de caráter biográfico quanto bibliográ-fico' . Esse procedimento é bastante comum em trabalhos que têm corpusde natureza epistemológica e que se baseiam em métodos comparativos.Neste texto, essas informações cumprem uma função específica. De umlado, observar possíveis reflexos de questões levantadas por Durkheim além'da fronteira não só política, entre a França e a Suíça, mas também discipli-nar, entre a sociologia e a lingüística. De outro lado, esboçar certo modusoperandi das ciências humanas no final do século XIX e início do XX2.

' Isso se impõe uma vez que As Regras do Método Sociológico fora publicado em 1894 (segun-da edição em 1901), enquanto que o Curso de Lingüística Geral, de Saussure, só aparece em1916, depois da morte do próprio Saussure e na época em que Durkheim já se encontravaenfermo (faleceria no ano seguinte). Portanto, cronologicamente, o texto de Durkheim sur-giu publicado bem antes do de Saussure e, conforme Lukes (1973) destaca, “na virada doséculo, a idéia de sociologia [já] havia adquirido uma nova popularidade na Europa e nosEstados Unidos” (p. 392), passando a permear também outras áreas de estudo além da pró-pria sociologia.1 Em favor do que foi dito acima, vale citar Dosse (1993), quando afirina a propósito dasciências na virada do século passado:

Para Durkheim, (...), a sociedade constitui um todo irredutível à soma de suas par-tes. É nessa base que irá constituir-se a disciplina sociológica. O êxito crescente danoção de sistema, depois da de estrutura, encontra-se vinculado ao conjunto das mum-ções científicas das diversas disciplinas na virada do século, principalmente, à sua ca-pacidade para explicar a interdependência dos elementos constitutivos do seu objetopróprio (DOSSE 1993, p. 34) [grifo nosso].

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LODER Letícia L 8‹ FLORES,Valdir do Nascimento

balho pode-. - ~ d ue conduz o presente tra › IFeitas as Conslderaçoelí acercaãooäfral dirigida aos leitores: este texto e' da elaborar uma o servaça ' ~se ain z ' t da constituiçaonhecimen 0tem algum interesse no COendereçado a quem i

epistemológica do saber da linguistica. I _ ` À _ de re_usencia_ e uma critica contumal ã 8 _Em Flores (2006)› eflwntra S . pca para o autor, poucos sao os5 - 1' ' no campo da linguis i .

fi€X*1° elnstemo oglca ~ sistemas de Pensa'autoriza fundaram osdos a recolocar as q11€SÍ0€S quementoã . Diz ele:

- ' les vista d”olh0S~ ' dimento decorre da simp _A constataçao desse lmpe ' d^ ia em se aPli-. ' ' da área. Ha forte ten emtura especializada . d _pela litera _ _ f mento do Potenclal es

tribuir para o re ina _Cal' modelos* em con ' uco se diz sobre~ ~ ' ' desses modelos,P°rem* P0 _CUUVO e/°u exphcauvo etodológlcos.« - ~ ' stentam os aparatos mos conceitos primlUV05 que Su )., . . z heçzz (i=Loiu5s zooó, no i>f¢1°Ha, inclusive, quem nao os Con_ _ ^ 'a de refe-

rência a qualquer valor transcendenta, mor ,andiáa” dos métodos. ISSOmente do se curvar à “circulaÇa0 lnfimta e elffp em crise esta derivadacondul a uma Crise no camPO.de Êãtlidos da 'mguaga um saber-fazer inde-da crescente formalização da llngulstlca que mstaur

_ ar. . . ,Pendente de um Saber Pe”. ~ em feenâiâz deve permltlr algumsNesse sentido, a pesquisa Êígrlnolopia dahngüísücay tarefa complica-

orientação aos iniciantes em epis mgsempre convergentes. Resta ainda' ' eixos, 11€ . - .da. Pefmeada Por mumeros . .~ arcas do limite. z ~ ' ' istas e carre a ãS IU

um aviso: este texto e feito por d0lS llngll _ ge do alcance que essa condição de autoria impõe.

SOBRE ÉMILE DURKI-IEIM4

' - '" de Lorena, França.- ' ~ ' sceu em Epinal, na feglaoDavid Emile Durkheim na I _ . de renome M- ' familia de rabinos` 858. Foi criado em uma _ _ _ ç _ d Vem 15 de abril de 1 _ _ Decldlwse ¿ _×

deus tradicionais. ›-~ do dentro dos preceitos iu . , ~feglao e educa d -se ara Paris para HI. ~ ' tudos e mu OH Pde muito cedo, a seguir a vida de es Foi em seu período na instituição, qm.gressar na Ecole Normale Superieure.

^ ' do saber-pensar no i .un_ , - los de ermanencia g3 Talvez N. Chom5kY Sela um dos ulnmlosrišxemp ecenti Novos horizontes no estudo da lunzml_ _ em o isso o rpo da linguagem. Observe se, a ex P ›

~ ‹ 2006. 'em e da mente. Sao Paulo» UNESR _ ~ LPERT (1945) e LUKES (1973).%Esta seção foi escrita com base nas informaçoes de A

- - . b ,2ooó.p.1z'/\ 1""276 Or8anon,Porto Alegre, “Q 40/4l›Ja"€"° dezem ro

Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheimiana

reunia a elite intelectual da França e que exigia uma disciplina rigorosa deseus alunos, que Durldieim decidiu romper com o judaísmo e determi-nou-se a seguir a carreira acadêmica. Em 1882, tornou-se professor de Fi-losofia, dando aulas em liceus. Em 1883, definiu que o tema de sua tese dedoutoramento seriam as “relações entre a personalidade individual e a so-lidariedade social” (LUKES 1973, p. 66), no que, mais tarde, iria se tornar oseu Da Divisão do Trabalho Social.

Foi convidado a assumir o cargo de professor de ciência social e peda-gogia, na Faculdade de Letras de Bordeaux em 1887, mesmo ano em que secasou com Louise Dreyfus (com quem teve dois filhos). Durkheim era umexímio orador, cuja clareza e didática impressionavam não só a seus alu-nos, como também a seus colegas. Em Bordeaux, Durkheim deu cursossobre educação moral, solidariedade social e a divisão do trabalho, famíliae casamento, suicídio, psicologia, religião.

Em 1893, defendeu sua tese de doutoramento sobre a divisão do trabalhosocial na Sorbonne. Em 1894, publicou a primeira edição de As Regras doMétodo Sociológico, causando polêmica e ocasionando muitas críticas a res-peito de seu trabalho. Em 1896, assumiu a cátedra de sociologia criada espe-cialmente para ele, em Bordeaux. Em 1897, publicou o Suicídio. Em 1898, afim de promover aproximação entre as ciências sociais, fomentar o interessepela pesquisa social especializada e o espírito de cooperação científica siste-mática, fundou o periódico Année Sociologique com alguns colegas e pupilos.

Em 1902, foi convidado a lecionar na Sorbonne, em Paris. Em 1912,publicou As Formas Elementares da Vida Religiosa.

A partir de 1914, com a Primeira Guerra Mundial, se dedicou à tarefade defesa nacional (LUKES 1973, p. 548), através da elaboração de livretesa tim de promover a manutenção da moral nacional. Durante a Guerra,Durkheim manteve sua função como professor da universidade, embora jásem muito entusiasmo, porque muitos de seus alunos estavam sendo con-vocados para a frente de batalha, sendo que muitos efetivamente morre-ram. Esse foi 0 caso de seu estimado filho, André Durkheim. A notícia dofalecimento de seu filho chegou em abril de 1916, após o que Durkheimficou muito abatido e doente, embora continuasse suas atividades letivas.Faleceu em 15 de novembro de 1917.

Antes de sua morte, Durkheim pretendia ter publicado um volume reu-nindo seus estudos sobre a moral, que seria “a coroação de seu trabalho”(ALPERT 1945, p. 77), o que acabou não se concretizandos.

5 François Dosse dedica inúmeras passagens dos dois volumes de seu História do estrutumlis-mo (1993 e 1994) a Durkheim. Nelas, o autor registra que o termo estrutura “ainda ausenteem Hegel e pouco freqüente em Marx (...) é consagrado no final do século XIX por Durkheim”(1993, p. 15), em Les règles de la métliode sociologique. Além disso, Dosse dedica um capítulo

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LODER, Letícia L. 8‹ FLORES, Valdir do Nascimento

SOBRE FERDINAND DE SAUSSURE*

Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra, Suíça, em 26 de novem-bro de 1857. Foi criado em um ambiente familiar que fomentava a cultu-ra científica, tendo entre seus ascendentes, naturalistas, físicos e geógrafos.No desejo de perpetuar a tradição familiar, em 1875, Saussure ingressouna Universidade de Genebra, inscrevendo-se nos estudos clássicos e ten-do também freqüentado cursos de química e física. Em 1876, mudou-separa Leipzig. Lá, estudou sânscrito, iraniano, irlandês antigo, eslavo anti-go e lituano. Em 1879, aos vinte e dois anos de idade, publicou o seuEstudo sobre o primitivo sistema das vogais nas línguas indo-européias, quelhe conferiu, na época, grande notoriedade entre os lingüistas. Em 1880,defendeu sua tese de doutoramento intitulada O uso do genitivo absolutoern sânscrito, partindo, em seguida, para uma viagem de estudos a Lituaniae, no final desse mesmo ano, indo a Paris (onde permaneceu de 1880 a1890). Lá, na Êcole Pratique de Hauts Études, estudou com Michel Bréal,além de ministrar conferências sobre gramática comparada. Nesse perío-do, publicou importantes estudos em periódico da Sociedade Lingüísticade Paris e travou contato com vários estudiosos importantes, entre eles,Antoine Meillet, que era seu aluno e que viria a se tornar seu grande amigoe correspondente. Apesar de ter sido convidado a ficar em Paris, retornoua Genebra em 1891, assumindo a cátedra de história e comparação delínguas indo-européias. Desse momento em diante, Saussure cai num

'odo de desânimo deixando muitos escritos incompletos e passandoperi ,a ublicar cada vez menos. Em 1906, assume o encargo de ensinarPlingüística geral. Entretanto, mesmo antes desse período, as questões dalingüística geral já ocupavam sua atenção7 . Nos periodos de 1906-1907,

5.'

' teiro do segundo volume de seu História, intitulado O segundo alento dos durkheiinianoiiiPierre Bordieu, para situar a influência de Durkheim na sociologia de Bordieu.5 E sa se ão está baseada, em especial, em MOUNIN (1968 p. 10-17).5 Ç7 Em carta a Meillet (que inclui o trecho já citado na introdução), em 1894, Saussure escreve:

Mas estou aborrecido com tudo isso, e com a dificuldade geral de escrever sequerdez linhas sensatas a respeito de assuntos lingüísticos. (...) estou cada vez mais comciente da imensa quantidade de trabalho que seria necessário para mostrar ao lingüisi zio que ele estáƒazendo (...) Isso me levará, contra a minha vontade, a um livro no qualexplicarei sem entusiasmo nem paixão, porque não há um único termo usado em›lingüística que tenha qualquer significado para mim. So depois disso, confesso, si i‹ i' ` ' l-'licapaz de recomeçar meu trabalho a partir do ponto em que 0 interrompi (CULI. .1979, p. 9).

A assagem evidencia que não era o objetivo central de Saussure se debruçar sobre discussiw.Pepistemológicas de lingüística, mas que essa seria uma tarefa necessaria (talvez porque seuofício de professor de lingüística geral exigisse dele ter clareza destas questões, tomando, pi ›|tanto, para si a tarefa de organiza-las).

278 Organon, Porto Alegre, ng 40/41, janeiro-dezembro, 2006, p.27.l ."› I

Ferdinand - - . _de Saussure e a sociologia durkheimiana

1908-1909 e 1910-1911 m' 't ^ua. _ , inis ra tres cursos sobre esse tema, a partir dosq is seria elaborada sua obra póstuma Curso de Lin `marcaria definitivamente seu lugar na histó ` d giustzm Geral* quer . _m0demaS.Após adoentapse faleceu em 1913 ia as ciencias humanas

coivii>ARANDo TRA1ETÓR1As

Durkheim -gozou de rande rest' ' 'lh . g_ P _ lgl0 ainda em vida, tendo seus traba-OS garantido-lhe sucessivas os f' d .. _ _ _ P 19065 e destaque no meio acadêmico eprojeçao nacionaleinternacional (LUKES 1973 392 409 bsociologia durkheimiana se difundiu ainda d , pi id (iso re como a. uraneavi a eDurkh`sendo, hoje, enquadrado em eim)›re os autores clássicos da sociolo 'ia. Saupor seu turno, apesar da notoriedade que adquiriu em sua é g Ísure›lingüistas-com ' poca' en re Osparatistas uando d ' ~sistema de vogais do indo Êuro 8 a Pubhcaçao de seu trabalho sobre Ou _^ . . peu , entrou para a posteridade e tornou-sem marco nas ciencias da linguagem muito ma`s f C1. 1 Em un ão ' _tuma Curso de Lingüística Geral” Ç a Obra posPor outro lado com o assar do t ° ~ ›te ampliando O m/:mero dg Suas blemP0, Durkheim foi Progressivamen-u ic "

de acrescentar uest" ' P açoeãe* eventualmente' teve chame“El 0€S que julgava terem sido pouco esclar 'dentendidas pelo público em prefácio a edi - _ €Ci as ou malforam Os casos com Da Divisa d T bÇ<l3;S Seguintes de seus livros (como0 o ' ,Sociológico). Isso nos permite hoje terrau; 0_ 50c1al e As.Regras do Metodocurso intelectual e das questões a qne queri gnagelm mšls clara de seu Per'i ar re evo. auss _to, apesar de sua entrada bastante precoce na vida d~ Lffaentreãanaca emica na i gdemadura, quando d ' ' 'po eria ter incremen -du ão int 1 1 tado e aprofundado mais sua pro-

Ç e ectua, entrou em um período de silêncio quase b l ta so u o no

*Ver:SAUSSURE F Memoire surl ` ' '› - t ' ^ .Slatkine Reprints, Genéveyaris 2153/;4em€Prznizt'fdes vvyelles dans les laflgues indo-eur0Péennes

9 A0 que podemos chamar de Sa 5 ' d C - _mas do autor. É algo que) na faltazãgíngmiígzš5:16lãcrescentar outras publicações póstu-outms Saussmes. São el€s_ Os Escritos de Lin '_ , 4 e or, evocaremos pela designação de os

~ ' Geral (2004) - ' ~ 'Slmon Bouquet 6 Rudolf En , gwstzca organizados e editados porgler _ u ‹‹ . _estufa du hotel genebrino da famíëa edëešifãsqiuum ãonjuiito de manuscritos descobertos na

versitária de Genebra” (BOUQUET- ENGLERrš0:04ePoSiÊd0S na Blbhoteca Pública 6 Uni-por Iean Starobinski em As palavras sob as palávmy QP- l› e Os Anagfarnas - organizados(1974) * Publicados a partir de cadernos distribuídos Ê:inaÍgtmma'S de Ferdinand de Saussureteca da Universidade Pública de Gen b ' O1 os camas que se estão na Bibli°`. O ^ ~ ~ ,Amlgmmas _ pode, sem dúvida, ser eštšâdidšoäjunto das tres referencias - Curso, Escritos emo o sistema de pensamento de Saussum

Orga“°n*P°“° Alegffiflg 40/41,janeiro-dezembro 2006 p 773.294' " 279

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LODER, Letícia L. 8‹ FLORES,Valdir do Nascimento

que diz respeito a publicações. Especificamente com respeito a seus cursossobre lingüística geral, costumava destruir as anotações que fazia em pre-paração para suas aulas (SAUSSURE 2003, p. 1), e as que estavam disponí-

` eram muito fragmentadas para que, a partir delas, se pudesse comporveisum volume'°. Então, dois de seus discípulos (Charles Bally e AlbertSéchehaye, que, entretanto, não haviam freqüentado todos os cursos), noanseio de não ver perdidos os ensinamentos do mestre, organizaram e pu-l n-blicaram, em 1916, o volume Curso de Lingüística Geral fundamenta mete a artir das anotações de aula de outros alunos. Uma vez que, entre ou-Ptras coisas, a“ordem de apresentação [dos temas no livro] não é provavel-mente a que Saussure teria escolhido (CULLER 1979, p. 10), o grande lega-do que temos de Saussure não é diretamente de sua própria pena e, portan-to, ficamos com poucos subsídios para acompanhar o desenvolvimento desuas idéias tal como ele o intentou. Apesar das múltiplas críticas que o livrorecebeu (principalmente de que os editores buscaram dar forma definitivaa pensamentos de Saussure que estavam em aberto, em processo de elabo-f .ração (vide MOUNIN 1968, p. 28) e (BOUQUET 2004, p. 13)), oi esse o

` ' ' ` ' “ C tal como foitexto ue efetivamente teve seu lugar na historia, o urso,C1criado por Bally e Séchehaye, é a fonte da influência e da reputaçao deSaussure” (CULLER 1979, p. 10) " .

Diferentemente de Durkheim, que, com seu Regras, pretendia “caracte-d f` ' o método [a ser aplicado] ao estudo dos fatos sociais”, querizar e e inir

editava ele ser “mais preciso, adaptado de maneira mais exata à nature'/,iiacrarticular dos fenômenos sociais” (DURKHEIM 1984, p. XXXV-XXXVI ),Pmétodo esse que o sociólogo deveria seguir a fim de que suas descobertasfossem cientificamente abalizadas, as reflexões sobre lingüística geral di-Saussure (segundo a exegese feita por Bouquet) atendiam a dois propósi

'° Dizem Bally e Sechehaye no prefácio à primeira edição do Curso:' ito cortesmi-iil‹‹Após a morte do mestre, esperavamos encontrar-lhe nos manuscr s,postos a nossa disposição por Mme de Saussure, a imagem fiel ou pelo menos sutii 1entemente fiel de suas geniais lições; entrevíamos a possibilidade de uma publiczii,.\z›fundada num simples arranjo de anotações pessoais de Ferdinand Saussure, conil›iii.idas com as notas dos estudantes. Grande foi a nossa decepção; não encontramos ii.i‹l.iou quase nada que correspondesse aos cadernos dos discípulos (...). Essa verit`|t~.ii,.iz›nos decepcionou tanto mais quanto obrigações profissionais nos haviam inrpiwliiluuase completamente de nos aproveitarmos de seus derradeiros ensinamentos, qmIClassinalam, na carreira de Ferdinand Saussure, uma etapa tão brilhante quanto iii¡u‹¬ ii

` ` ' ' ' le lles ( _ 1-2)i' longínqua, em que tinha aparecido a Memoiie sur s voya p . ‹ilia“ Calvet, de modo mais enfático, expressa o mesmo pensamento quando diz que“os i- iu* ` u ara a osteridadc." ( |'›//res ƒabricaram uma 'imagem de marca saussuriana que passo p pp. 23, grifo nosso)

280 Organon, Porto Alegre, nfi 40/4l,janeiro-dezembro, 2006, p. .*/\ ,"l I

Ferdinand de S ' - . .aussure e a sociologia dur1<he¡mmm

'EOS' projetar os desenv `' olvimentos futuros d '^ ' ' ~ f ~Saussure, deveria estar integrada a uma .ia c.1el.1Cla,hngu1SU°a (que› Parabatizada de semi ' Clencla mexlsteme em sua éP°Ca010813, que se ocu aria d “ ~ ›. _ O 'sem da Vlda Social» (SAUSSURE 2503 24€SÍi1do da vida dos signos nolingüísticos, mas também os do alfabet pd )) lddumdo nao só Os signosbólicos, dos sina. . . O e Sur 05-mudos, dos ritos sim-is militares etc ) e or an'. « izarbertas lingüísticas de sua época traçanäo O grande volume de desco-› uma epistemolo ia d ' 'comparada (que reclamava , g a gramaticauma sintese “ne ' ' -mente [seus] princípios e métodos» (BOUQ¿ÊfÊ¡12f¿a Para definir sensata-Saussure não estive O4' P' 65» Mesm0 que55€ Pf0gand0 propriamente u ' '- . m metodo únicoguldo pelos linguistas sua ~ ~ a ser se'. * S Pfeocupaçoes epistemolo ` fi 'nas discussões ~ glcas cam evldentesque P1'0P00 Para as uestões e ~ -curso de seu trabalhou Cl nfrentadas pelo linguista no

EÍ5, assim um b› Teve panorama contrast . .dos diferentes focos desses dois d ivo dos percursos academicos epensa ores contemporâneos.

SAUSSURE E DURKHEIM FRENTE A FRENTE;

A proximidade geo 'gfafiCâ (Fran aeS ' - , .(como se argumentará a seguir) entie Satlilslšiêiizçtenlšpoliäill e eplistemologicaculações sobre o fato de um con e ur elm evou 3 “P0-hecer o outro M '“Existiu algum contato e con . - Ounin levanta a questão:h ' _entre os home eclmentf) dueto entre as °bfa5 011 1nC1L1SiveE is ns [Saussure 6 DUf1<h@1m1?” (MOUNIN 1968 p 17 is)m ora não se possa ter certeza d f › ` _ 'bem evidente entre os dois teria Êiscloatãsliilfaâšce que um ek? de ligaçãoAntoine Meillet. Por um lado Meillet e t gulsta-comparatista francêstante participação no periódico Année fuââvâ Sediado na França, teve bas-tendo contribuído em oito do y a O e Orgamlado por Durkheim_ s doze volumes (LUKES idisso mais tarde estabelec ' 1973' P' 65/5)'Além' › eu um importante elo de li a ã -uma vez que o lingüista era o enç d ~8 Ç 0 com Durkheim,filho de Émile, para ser «O lingüšíšešâcioõñaa formaçao deAndré Durkheim,

/ ›› _ O t ' 'pe do Amiee. (ALPERT 1945, p_ 92) g que anta falta fazia na equi-Por outro lado Meillet hav` 'ia d” 1 51 0 aluno de Saussure quando de seu

'Z Sobre Durkheim f ‹ ~Rousseau, Marx, DuerlÊli3isns:Ê:dLissLLi:rv‹:kš íuísrii víi sepmanifestarz “O que” na esteira dePar[1c_0nsciéncia um outro objetozcolocá-la,Poi'tanto ialâniio proíum realizar é desvendarPostçao com1Jai'ável àquela em que as ciências físic] .mm 'OS fenomenos humanosmumapodiam permitir ao conhecimento se exercer” (LÉVIa-SS"(i`llZ1./ziilllgšlíiilvaiiiiflišrâggitíqOmeme elas3, p. 292)

0f8anon,Porto Alegre,nfl 40/41, jaiieirodezembro 2006 p 273 294` ` zsi

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LODER,Leticia L. & FLORES,Va1dir do Nascimento

f ' ' trocaram corres-, ~ ' tornaram intim0S 211111805 6periodo em Paris, apos 0 C1t1€ É a vez que «Meillet de fato, se Cjedarava ex-,_ . -- ^ ›pondencias com frequencia., BIÍOUNIN 1968 P 18) através dele, Saussure

_ - ° 7 . aplicitamente durkhelilmiano t( d Steses durkhéimianas que circulavam desde

on ecimen o a .pode ter tonâadširkheim publicou Da divisão do trabalho social).

lsgäquan O 'stros sobre a vida íntima de Saussure, e, Portanto, a pos-á poucos regi _ 1 Durkheim É remota,. . . Saussure efetivamente E111sibilidade de confirmar se ~ E t etanto O que. das especulaçoes. n r ›' de abandonar o caI11P° . ,nos lmpedmdo ~ es eculatórios, € <lUe› se- eja apenas em term0S Pse pode dizer, m€Sm° que S _ kh . e Saussure certa-

. direto entre Dur eim ›t houve esse contatoefetivameläf t foi uma fonte propulsora importante.

mente Mell e b Câmara (1990) em seu História da lingüística, se, porComo em ra ' . - ' d rr-- ^ llet nos perio OS 21t nfluencia sobre Mei 1um lado Saussure Ílxeëçeratfor e gr Outro lado Meillet teria sido responszkteriores aos cursos e ene ra,P . , letivo da língua- _ re considera o aspecto co ~V€1Pe1ahgaçaO entrš O que S-aufísérrealidade social em sua interpretaçao daC0111 0 que Durkhelm nomela ^ ` “ t Saussure e, 1 a ao en resociedade. Aos olhos de lvlattclšso e(l1;mara a ig ÇDurkheim é realmente Meillet. iZ -

- ' tica deveria- vencido de ue a lingulsMeillet estava,dIealmeqte›_Íloi1i)ara ele O aämo ideal de lingüísticaser um ramo a socio 081 - * _ . t. O ebem_ ., f ' onhecimento lingu1S ICdevia ser um sociologo com solido ptreinado na técnica lingüística (CAMARA> 1990* P' 121)'

. ~ ' do para as análises. , das espeçulaçoes e partinAbandonando o territorio d- fr as 05-_ - 5 agora, a iscu i p. duçag deste trabalho, passamo , _

anunciadas na intro _ d D khelm e Saussum, . ~ tos dos discursos e ursiveis relaçoes e entrecruzamen

ENCONTROS E DEsENcoNTRosestarem em. , . , . aro ue naturalmente pOr

De inicio, e importante ter Cla ilientidade nem de Objetivos, dc- ' ' ' tes não a um .foco disciplinas diferen , khelm am H- de Saussure e Dur P, tre as propostas . ,metodos ou de objetos en p E uanto Durkhelm Gsm. - ' lggia respectivamente. nq _

lmgulstlca 6 para a 50610 , ~ feito” ara eXP1icar os, - do ver “relaçoes de causa e e Pem suas analises, busca” _ f madas em regras, - ~ - ue oderao ser trans Orfenomenos sociais, relaçoes 65135 C1 P , volmdfi Hd - 0 futuro (DURKHEIM 1984, p. XVII), Saussure esta I6 2~Ça° Para dá sua organização ni

língua se estrutura, C0m0 se ,compreender como a A ese na espécle hummm_' scar suas causas ou sua gen _ _tema (mas nao 3 bu . ° - distintos.- os diferentes com f0C0SSao, portanto, empreendiment ›

282 Organon, Porto A1e8re,n“ 40/41,janeiro-dezembro,20091127 ` M

Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheimiana

Apesar disso, estando ambos inseridos no já mencionado impulso porestabelecer as bases de cientificidade de suas disciplinas, é possível identifi-car pontos de aproximação entre os discursos epistemológicos de Saussuree de Durkheim, que se refletem na maneira como vêem 0 que é cientifica-mente legítimo para as áreas de estudo que estão tentando delimitar.

Uma primeira característica que se destaca na observação de ambos osdiscursos é a presença marcante de dicotomias. No caso de Durkheim,“subjacentes [a conceitos cruciais] estão algumas dicotomias bem marcadas(...) sobre as quais repousa seu pensamento” (LUKES 1973, p. 3). Entreessas dicotomias, estão sociologia/p5icologz'a“; normal/patológico"*; sagra-do/proƒanolf' . Tamanha é a relevância das dicotomias para Durkheim quealguns comentadores chegam a falar no “apreço de Durkheim pelodualismo” (STANNER apud LUKES 1973, p. 28). Para Saussure, por outrolado, as dicotomias também desempenham um papel importante, estandona base da definição de conceitos cardeais sobre os quais se assentam assuas reflexões, como, por exemplo, significante/significado, sincronia/diacronia, língua/fala, sintagma/paradigma. Entretanto, se, por um lado, asdicotomias de Durkheim podem ser entendidas como “oposições binárias”(LUKES 1973, p. 3, grifo nosso), em que os limites de cada um dos doiselementos são mutuamente excludenteslfi , em Saussure, nem sempre esse éo caso e “se pode pensar na (co)existência dos opostos” (FLORES 2003, p.45). Assim, pensando, por exemplo, na dicotomia significante/significado,ao mesmo tempo em que podem ser entendidas como entidades distin-tas, sua coexistência é o que da realidade ao signo lingüístico; é apenaspela união desses dois elementos que o elemento signo passa a existir.Portanto, as dicotomias sao certamente centrais nos discursosepistemológicos tanto de Saussure quanto de Durkheim, apesar de serem

'3 A psicologia é a “ciência do indivíduo mental”, dos “estados individuais da consciência”,enquanto a sociologia trata dos fatos “exteriores às consciências individuais consideradascomo tais” (DURKHEIM 1984, p. XXV-XXVI).'° “Qualquer sociedade real era bifurcada em (I) seu estado normal, idealmente integrado e(II) as condições patológicas que desviavam desse estado.” (LUKES 1973, p. 30).'S Como parte de sua sociologia da religião, Durkheim define que “coisas sagradas são sim-plesmente ideais coletivos que foram fixados em objetos materiais” e coisas profanas são“sensações que advém do mundo físico” relacionadas a “coisas vulgares que interessam ape-nas a nossas individualidades físicas” (DURKHEIM apud LUKES 1973, p. 25-26).”` Tome-se a dicotomia normal/patológica como exemplo; Durkheim afirma que “é precisoque, desde o início da pesquisa, seja possível classificar os fatos em normais ou anormais”(DURKHEIM 1984, p. 55) uma vez que “[a ciência] tem o estudo do tipo normal comoobjeto imediato” (DURKHEIM 1984, p. 64). Assim, é crucial “definir o estado normal, expli-cando-o e distinguindo-o de seu contrário” (DURKHEIM 1984, p. 64).

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i.oDER.Letiz¡zi i.. sz rLoREs,Valdif 4° N=*S¢Íme"'°

- dos contextos”.erentes em cada umexploradas de modos dicotomias uma delas em especial Parece se desta-Dentre essas varias › _° ~ ' dente entre os dois pensa-de aproximaçao muito evicar como um ponto ç- ' ' ` ' l t vo.

mentos: a dlcotqmla Hiiøfmduoaiëíiiítii Lukes (1973) “essa dicotomia centralPara Durkhelm' co orme , l de todo o sistema. _ _ _ lá de çerta forma, a pedra angu ar . _entre o social e o individua , _ _ _ a Soclologla da° ” _22) tendo implicaçoes na sude Pensamento de Durkheim ip , ' ° h ` ento e estando na~ ' ' da religião, sociologia do con ecim . _Ín°rahdade° Soclologla - f ' lência da sociologia.' ~ fato social, que e o ob]€Í0 Por exce ,base de sua definiçao do _ , , fu d dom orque edicotomia tambem e n 21 › PNo caso de Saussure, essa ' _ antes do pen_

' definir um dos conceitos marcum d05 Pontos de apoio para . d érito a outros con-' ~ lín ua (evidentemente, Sem emsamento saussuriano. a g _ . t ) Im Ortame- ' 't arzedade valor signo e c. . P , _datos fund;‹1enS1êÍffs[:iiSi,ecri)ãi¶o1OenLir19brle::nde nenf a<íV0§':5 Cine ge faça uma analise“tacar qu ' F -*cl Entretanto_ , - ' ' ” é esse o seu interesse .ocê ‹ ›5061010816” nn fato hngulsnco' na? ^ ' cto social e~ _ › ' da de referencias ao 35139 'd l n ua esta pontilha _sua definufmfnae se iigiteressante observar como se relacionam com as pro-portan 0, 0 Í ç , , de sua é Oca.

posições da Sociologia (durkhelm1ana)anoramai)le“miragens de toda a es-Buscando esclarecer um Poufüdígpda linguagem (BOUQUET 2004, p.f ' 7 u . z ›1pecie › em que se tençoâitralgb: formago pela linguagem e inclassificavel

69), uma vez <lued‹ëâU<Ê1%ET 2004 P 217) Saussure busca circunscrever(SAUSSURE apu . z - , i , t m ue ancora a sua_ z traietoria, um dos pon os e Cla noçao de lingua 6, 119553 _ . e na é Oca du. _ , › - to de fala (que so aparec Pdefinlçflfl 6 H °P°S1Ça° °°m ° °°“°e* . , i ex iiziizóz_ - d s entidades e brevemen e P `tercelro curso). ix relaçao entre edšazi linguagem menos a fala.” (SAUSSUR1... ‹‹ f ' a n

na asserçao A mgua e par - ' raciocínio o au-~ ° ' 1). Explicitando melhor o seu ›2003, p. 92, grifo no origina u _ O H~ ~ da linguagem C0mP Í * '' dizendo que o estudo ,tor explica essa relaçao ' , I, ue é soam. 1 tem por obieto a zngur1› <›1duas partes. uma, CSSBUCU1 › . .Portanto' ' ' ' )~ outra secundaria, tem. - ~ dente do individuo (... , › _em sua essencia e indepen . ls ~ 1 Vc .,. _ . ~ le dizer, a fala , inc usi ‹

' te individual da lingüaãenn Va _ _Por Obleto a par ' ' “ entre esses dois plalwh~ ' `fos meus). Essa distinçaofonaça0 (---), (P- 27* gn

E ~ - ' ' 'l`‹nli›'i, ._ exlstmdo em cada dicotomia.iv Em Saussure, é semPre Possivel ler a iâniaoldos 0Po:pâ Êgrdeal da epistemologia saussumm

_ ' va or conc05 comemos devem sei rimendos aoz el' ua em' A líníua éPflra nósa linguagem menos ri /ahi

Assim) Para a dicotomia imgua/fada hn 3 igšantí/sisnificzido há o signo: conquanto o sigiiílíz ml.,.92 ° paraa o Sign _ _ _ . _(SAUSSURE, 2003 P > _ d ams e negatwos, 51"; “rm_ _ - te, uramente zƒeren _o si ni :cante sejam considerados, cada qual fl PW P _ _ , _ Mncronm M _,E 3 . _ USSURE 2003 p. 140);paraadicotomia d1flC1'0Hlabinação é uH1fI1f0P05'¡`“;) (SA d íínguayde um ponto de vista pancrônico? Sem dúvízlu. í l

- _ ~ eráestu ara “ _ _- _¡¡,_Pancroma' mo se po ístein re ras obrevrvem a todos os acontei um 1 i_ ._ , - ' We 5Em linguistica, como no jogo de xadrez, ex v / t ma há o sistema.(sAUssURE, 2003, P. 112) Para 2 4° Pafadlgma Sm ag

ci . I ' i200(› -'il/` HH

284 0r8anon,Porto Alegrem- 40/4l›l3nen° dezembro 1 P

Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheimiana

segue na mesma linha de raciocínio da afirmação de Durkheim de que “osestados da consciência coletiva são de natureza diferente dos estados da cons-ciência individual” (DURKHEIM, 1984, p. XXVI). E nesse sentido, então,que Saussure coloca que, no estudo da linguagem, “podemos distinguir (...)lingüística da língua e lingüística da fala” (BOUQUET 2004, p. 217).

Dado, então, que a língua está do lado social da dicotomia, Saussureafirma que “em nenhum momento (...) a língua [existe] fora do fato soci-al” (p. 92). A menção a fato social (que aparece algumas vezes ao longo dotexto do Curso) nos suscita a lembrança de Durkheim, para quem o fatosocial é “o domínio próprio da sociologia” (DURKHEIM 1984, p. 3, grifonosso), competindo legitimamente a ela e a nenhum outro ramo do co-nhecimento. Para ele, “crenças, tendências, práticas do grupo tomadascoletivamente (...) constituem os fatos sociais” (DURKHEIM 1984, p. 6).Definindo de maneira sintética, essa noção envolve “toda a maneira de agir(...) suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior (...) que egeral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existênciaprópria, independente das manifestações individuais que possa ter”(DURKHEIM 1984, p. 11). Embora o próprio Durkheim assuma que essa“não constitui a única definição possível” (1984, p. XXIX) do objeto depesquisa por excelência pertinente à sociologia, Lukes (1973, p. 11) identi-fica que essa conceituação envolve três critérios definidores: a)exterioridade'9; b) coercitividadew; e c) generalidade-e-independênciaz1 _

1* Como bem pontuou Bouquet (2004, p. 275), nos escritos de Saussure, a definição da enti-dade fala varia entre dois sentidos heterogêneos; ora é entendida como produto meramentefonatório, fato fonológico, ora designa a execução do sistema lingüístico, sendo assim umfato sintático, sem que haja, em nenhum momento, uma distinção clara entre essas duasacepções. Apesar do fato de que Saussure aponte que “no domínio da sintaxe, fato social e fatoindividual (...) se misturam um pouco, chegam a se misturar mais ou menos”, ele destaca queé “unicamente sobre essa fronteira [a da sintaxe] que podemos criticar uma separação entre alíngua e a fala” (BOUQUET 2004, p. 274, grifo nosso), sustentando que “o mecanismo indivi-dual [a fala] (...) não se deve misturar, no estudo, com o produto geral [a língua] que está àparte do próprio produto” (BOUQUET 2004, p. 217). Essas passagens revelam, portanto,que, se a dicotomia pode causar confusão quando vista sob certos pontos de vista - sintáticos,por exemplo -, permanece sendo produtiva para distinguir objetos diferentes dentro do "todoglobal formado pela linguagemf que são pertinentes a ciências distintas (“E preciso ter umalingüística da língua e uma lingüística da fala” (BOUQUET 2004, p. 217)), apresentadas porSaussure como domínios “complementares” (BOUQUET 2004, p. 210).9 “(...) maneiras de agir (...) que apresentam a propriedade marcante de existir fora das cons-ciências individuais” (DURKHEIM 1984, p. 2).2° “o fato social é reconhecível pelo poder de coerção externa que exerce ou é suscetível deexercer sobre os indivíduos” (1984, p. 8).2' “(...) podemos defini-lo [o fato social] também pela difusão que apresenta no interior dogrupo (...) que existe independentemente das formas individuais que toma ao se difundir”(1984, p. s).

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LODER, Letícia L. 8‹ FLORES,Valdir do Nascimento

Embora Saussure não faça referência direta a Durkheim em nenhummomento sua definição de língua parece se ancorar nos critérios de7

exterioridade e generalidade-e-independência quando afirma que a língua“é um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos per-tencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtual-mente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjuntode indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massaela existe de modo completo” (SAUSSURE 2003, p. 21)” e que “é misteruma massa falante para que exista a língua” (p. 92, grifo no original). Seestá depositada em “todos os indivíduos”, é porque é geral; se “não estácom leta em nenhum [cérebro]”, é porque é independente de cada um de-Ples; e, se “só na massa existe de modo completo” e se “é mister uma massafalante para que exista”, é porque é exterior a cada indivíduo. O caráter de/ (C /

coercitividade da língua fica evidente quando se afirma que a lingua e oproduto que o indivíduo registra passivamente” (p. 22), ou seja, que seimpõe externamente sobre ele (posição mantida em fragmento apresenta-. . . D] ado por Bouquet como “último texto manuscrito conhecido [de Saussurerespeito de lingüística geral”, datado de 1912, em que a língua é menciona-d como um “depósito passivo” (BOUQUET 2004, p. 219).a

Há quem tenha visto em Saussure uma correspondência exata à noçãodurkheimiana de fato social: “ Se vê, em suma, que a língua de Saussure (...)corresponde exatamente ao fato social de Durkheim. (...) No fundo, línguae fato social não são senão uma mesma coisa, já que a primeira nao e senaouma espécie de réplica, de ilustração do segundo.” (DOROSZEWSKI 1958,p. 72). No entanto, caracterizá-los como “a mesma coisa” e como “réplica. . t

do outro” me parece uma posição um tanto extremista porque, en rcumutras coisas, ignora que tanto língua quanto fato social são objetos dcoes uisa diferentes, que se enquadram em disciplinas distintas, cujos focosP Cl

de pesquisa são distintos (Saussure busca a organização interna da língua c

12 Embora a redação desse fragmento no texto do Curso esteja mais sintética, é possível acoin' B et:panhar o mesmo raciocínio nas anotações de Constantin, apresentadas por ouqu

Separando-se assim a língua da faculdade da linguagem, vemos que se pode dâu .ilíngua o nome defprodutd; é um produto social. (...) Pode-se representar esse produto de maneira muito exata - e teremos por assim dizer materialmente a linguatomando o que está virtualmente no cérebro de uma soma de individuos, n1L's|u‹›em estado de sono, que pertençam a uma mesma comunidade. Pode-se dizer qm-em cada uma dessas cabeças se encontra todo o produto a que chamamos líiijziiiiPode-se dizer que o objeto a ser estudado é o tesouro de cada um depositado munosso cérebro. Sem dúvida, esse tesouro, se o tomarmos de cada individuo, não ‹~-.I .trá perfeitamente completo em parte alguma (BOUQUET 2004, p. 125, n. 45).

Organon, Porto Alegre, ns 40/41 ,janeiro-dezembro, 2006, p.2'/ \ ."II286

Ferdinand d r - . _6 Saussure e a sociologia durklieimiana

Durkheim explica " ~çoes, rela oes d ' A . .Assim como se apreseníou __: â2_1g1cs:Se_efeit0, para fenomenos sociais).Saussum aqui também no Caso de hng sa_q geral sobre as dicotomias em

- ~ ' U3 3 21, É possível ver não s 'oposzçao entre essas noções mas també O uma2 , › m um reconhecimento de ~sao necessariamente excludentes Por um que mo- lado afala aras ' 'quanto manifestação individual carece l' ,P e consmulr en-, da existência de 1' =‹ ›em cada indivíduo uma faculd d .uma mgua: halinguagem ar____C___m____3 Essa facÍ__âacäqe(P‹;demos denominar faculdade de

A ' Seria materialmente' 'exerce-la sem uma outra coisa ' lmposslvel_ que e dada de fora ao indivíd - 1' 'preciso que o conjunto de seus semelha uo' a mgua' Entes lhe dê o me' 'çhamamos de1ínguaz,(BOUQUE 10 para isso queT2004 p 125 'f ~ ~lado a língua de l l ,gn O no Ongmab' Por Outro1 Pcnde da fala, porque “é a fala f - ,27)_ Exphcitando melhor ess _ _ que az evoluir a lingua» (p_e posicionamento Saus ~ z. ,fala que se acha o , sure nos dll que e nagerme de tod ' ~ . ,a princípio, por um certo nún2ii:â1_Êͧ1f;Í:_ÇÂ3€S- cada uma delas e lançada,›› .¡~. *L (10

(...) a forma, freqüentemente repetida e aceita pã;_Í13)t€S deÃzrëtrír em uso.um fato de língua” ( mum a e t°m3'3el_ . p.l 15) Portanto a lín ua ar 1 'indivíduos usando al ` ' l g ” P a evo um deP€fld€ degum item inovador que - - , .

~ › POY Sua repetiçao sera _porado ao sistema da língua Por esta raz" “ ' ' , mcor- . ' 210, e preciso (...) lan asobre O jogo da hn . . , ç r um olharguagem no individuo ( ) o meca ` ' ' '- . . dividu l "pode delxar de repercuur no fina_ de _ nismo in a nao, uma mane (1

produto geral [a língua]” (BOUQUET 2004 p 2171šaÃ)S: e Outras' sobre Ohá uma interde ^ ' ' ` ' 1m› Para aUSSurependencia entre os planos individual ' yletivo nessenquanto, para Durkheim “as duas e C0 e caso,_. › ordens de f tfrequentemente em estado de dissociação” (DURKHÊIÊ/f lS;8ÊpreÊÊn}šamentendido Saussure ' P' ` em_ › permanece com o olhar s b .dicotomia mas sem es o re a parte social da

. ' ClU€C€T que esse enfoque será a “partida” para melhor 1 ›› .z penas O POHÍO deJU gar os outros el ~ ›,(BOUQUET 2004* P' 218› n- 38) certamente inceltriieldtos' di' imguagemA constatação do imbric , m O al a a a'Í ,emPecilho a estabelecer qualílltitrnsípílrlzirâ língua e ƒala‹:lO10Ca_Se como um_ çao estanque e efinitiva tnoçoes. Embora tal aspecto " ` ' - en re estasja tivesse s d 1

d° t“°eif° “““°› como “fliuestâo âifileif ‹ieaÍÊÍ›i:ÍÊ'1i(1;roSfJÊÊii11ÊfaO longo272) (0 que evidencia a nat ' 2004' P'ureza inacabada dessa fl "Saussure) otexto do Carsoa re exao por parte dei presenta esse dilema como res l 'daponta Bouquet 2004 __ 0 vi o (conforme

_ › O d * ..z .edlfício Saussuríano» (BOUQ_)_ET<32LÊ)0e_1_npo2p;uga?É8‹ša linguistica da fala do› - › H- , assim entrando para a

ZSA -qui, eiitendemos a faculdade de lín 'guagem artzcul d ^ - ,a a como fazendo referencia a fala, PQI.QUE 'Erata-se de uma faculdade articulada.

0rgan°“'P°rt° Ale8f€›11940/4l,janeiro-dezembro 2006 p 273 294` ` 287

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Lousa Letícia L. s‹ si0RES.Va1‹1ir d° N2S¢¡'“€“*°

.. 'lti las críticas.. temente, alvo de mu P _dade e sendo, eonsequen . (1 _postefl _ re i noram em suas isEvidentemente, nem Durkheim nem Saussu g ,. . - › ' brigou a ter. . ~ ' co individual e isso os o

cussöes, a existencia do pl2ln0 Pslqul °̀cologia tem dentro d0Sque lidar, de alguma forma, com o papel que a psi ' " u Da_ , . - ' ' " tr ando. Durkheim, Ja em sePnn¢ii>1°S @i>1St@m°1<>s1¢°S que est” at. << ~ deve apresentar a Vida_ . z Soma! afirmava que nao se _ _Dwisao do Trabalho › _ d. .d als 015 ao com. ' do das naturezas in ivi u › P >“mal como um Simples resumir m óafliueia” (DURi<riEiM 1995, P. sõi),, . ~ su a .A _trario, sao antes estas que Ye . d ' m consciencia- ' tituem, a qulfe- ' lidades particulares se cons _isto 6, 85 Persona . busca por explica-. ' ' ociedade. Portanto na _de si apenas na coletividade, na s S_co_Og_a (Se_a enëendida como eXPhCa_- ^ aÇoes Para os fenomenosdsoclalâ, ÍIÊS _nd_v_dua_S ou em termøs de fatores, de esta os men açao em termos . ._ . - ortamento social, . z ~ ' os ue influiriam no C0mPQrganico-psiquicos, hereditari , C1_ . , ~ . 18)) não contempla os fatos cruCiaíSdos individuos (vide LUKES 1973, P . -_ _ A . , constitui al o diferen-porque “o todo não e identico a soma de suas partes, g. tam as partes de que

' ' des divergem daquelas que aprêsente e cujas proprieda . <‹ ' dêz, ^ .89).Porisso, flfiíausa determmameécom 0510 (DURi<HEiM izs4,r>P ciais anteriores e não entreum fato social deve ser buscada entre os fatos so › 'to__ _ _ . . . ,, DURKHEIM 1984, p. 96), mui05 estados de cqnscldncií mdnlíizií“1i:lsa<;êes estreitas” entre a vida coleüvaemboraDurkheim a ml a que ‹‹ 50 de sua carreira,_ _ . . Comg lembra Lukes, no cur _e a vida individual (p. 96)- _ _ _ f to de ue as mah-- _ da vez mais insistente no a Cl61€ iDUfkhe1ml tomou se Ca ' ' i ualmente men-

' logia e pela Psleologla eram g . ,›dades estudadas pela socio leis diferentes.. diferentes e governadas pOr .tais embora de naturezas(L1iKES 1973, p. 16), de modo que‹‹t0<1a5 as vezes que um fenômeno sociali f ' - tar certo_ . eno si uico pode se 65esta explicado diretamente P°f um fenom P q › . )_

~ ~ f 3* DURi<HE1M,1984›i>~91›sf1f° meude que a exphfaçdo Êêiilsssaure é segundo Bouquet, dê, 210 mesmo temp”]á a posiçao 6 › - - tor marca :I. ~ ' lo ia. Por um lado, 0 auaproximar e afastar linguistica 6 P51e° g _. . (10 ue “nenhum psi'. - olo ia consideran 9linguistica como separada da Pele g °- « z considerá-' usao a lin ua ou mesmo aoCólogo moderno ou antigo, ao fazer al 8 ›_ . to, teve, nem por um instante,la como um veiculo essencial (10 Pensamen OU UET 2004 P. 170)-. ,. ' ” (SAUSSURE apud B Q _ ' __alguma ideia de suas leis _ _ te não podflll“ dos da sicologia existenSaussure pontuavfl que 05 resulta P. . - -› f ' ” BOUQUET 2004, p. 179)am ser de nenhuma utilidade para a linguistica (- - ctos fundamvu_ , m o ne li enciavam os aspeporque os psicologos de seu te P g g

. - › ^ ' ' 'dual uma e outra estil-, ' deriva da vida 1nCl1V1 ›Z* A cita ão cornP1cta ei «Se 8 vida coleuve nao _ ~ ` lim IÇ ~ ' rimeira pode, pelo menos,- _ da nao ex lique a p ›em relações estreitas, mesmo que 2 Sffgfln Piàizzaiiie z e›<i›1izzÇâ<›.” (DURKHEIM 1984. p. 96)-

' ' -dezembro,2006,P~27* "`“0rganon,Porto Alegre, H* 40/41›1a“e“°288

Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheímiana

tais da língua (aspectos estes que fazem dela um objeto semiológico, verabaixo). Nesse sentido, “o estudo da língua feito por outros que nãolingüistas nao ataca o assunto por seus lados essenciais” (BOUQUET 2004,p. 175, grifo nosso), posição muito semelhante à de Durkheim quandodiz que “uma explicação puramente psicológica dos fatos sociais deixa-ria, pois, escapar tudo o que eles têm de específico, isto é, de social.”(DURKHEIM 1984, p. 93, grifo nosso).

Por outro lado, entretanto, é bom lembrar que Saussure, além de umaepistemologia da gramática comparada, propunha também umaepistemologia programática da lingüística, destacando que os desenvolvi-mentos da ciência da linguagem deveriam ter por fundamento uma “ciên-cia dos signos” (a semiologia) isto é, um estudo mais geral dos sistemas designos (entre os quais, estaria a língua). A lingüística, portanto, seria parteda semiologia, uma vez que “adotar o ponto de Vista semiológico (...) per-mite determinar a natureza da linguagem e da língua” (BOUQUET 2004,p. 159), isto é, estudar sistemas de signos em geral traz uma nova luz para oestudo do sistema estritamente lingüístico. A semiologia, por seu turno,era concebida como uma parte da psicologia. Isso porque seus objetos (ossignos) são entendidos como “corpos psicológicos' que se movem numuniverso de “forças psicológicas” (BOUQUET 2004, p. 169), “forças” essasque atuam sobre as duas partes de que se compõem os signos (significantee significado), que, por sua vez, tem um caráter “psíquico” (BOUQUET2004, p. 94) também” . Assim, a lingüística, enquanto parte da semiologia,passa a ser reintegrada à psicologia (bem entendida aqui como uma psico-logia futura, que contemple a língua de uma nova forma em Vez de prosse-guir na linha dos “psicólogos modernos e antigos” criticados por Saussure).Nesse termos, “a ciência dos lingüistas, não sendo nada mais do quesemiológica, é por isso completamente compreendida de antemão na psi-cologia” (BOUQUET 2004, p. 168, grifo no original). Entretanto, apesar dedestacar que o fato lingüístico é de natureza psíquica, Saussure reconheceque este objeto possui particularidades que não partilha com outros siste-mas de signos. Assim, apenas a psicologia não será capaz subsidiar umaexploração da língua em todas as suas especificidades. Portanto, “no planodas propriedades específicas [à língua], é a independência disciplinar queSaussure enfatiza” (BOUQUET 2004, p. 174), e, desse modo, é natural quehaja “necessidade de noções que a psicologia geral não fornece, mesmocoletiva” (BOUQUET 2004, p. 173 , n. 61). Por isso, “caberá ao lingüistafazer da lingüística uma ciência semiológica distinguindo-a de outras ci-

” Aqui não parece haver diferença entre as noções de “psicológico” e“psíquico” para Saussure.

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LODER Leticia L 8< FLORES,Valdir do N2\SCÍmeUÍ°

ç _ , _ _, UET z0o4,p. i7s,n_ói)~ ~ ,ências semiol0g1C215 (BOUQ ~ e ha relaÇ0e5 PTO'_ klieim reconhecem Clu

Assim tanto Saussure quanto Dur .. ' bO _› ~ lidar e a psicologia. Em_ - - - o uerendo consoXimas entre as disciplinas que esta (-1« ` lização da psicologiadiferentes quanto a l0Cfira adotem posturas um p0UC0 › ~ ' ' ' devem- lieaçoes sociologicafi' ' ara Durkheim as exPdentro de suas discussoes (p >_ _ _ _ › Saussure, a lingüística~ lca oes sicologicaã fl, Paraser independentes das exp 1 Ç P_ - ‹ - bos destacam que Seus, _ . ' miolo ca futura) am _ ,esta insenda numa Pslcologla se gl ,g N , ' lo ia (de época) POY 51 50 Pode'

focos de atençao estao Para alem do que a PSICO g -- ' ' lina. As-limites dessa disciP_ ~ olam ortanto OSna proporcionar e que extrap › P * - rte para` _ . _ m argumento f0_ - - ~ sicolo ia toma se maiS Usim, essa distinçao frente a P g ' de uma sociologia_ . - ~ do estabelecimentodade e a razao de Sersustentar a cientifici '^ ' s humanas._ __, _ no anorama das cienciae de uma linguistica sob novas bases P _ dto 0 e_ sçuiso de Saussure quafl

Ainda, é interessante notar que tanto o di _ _bietos_ _ . - fi rau de realidade de SEUS 0Durkheim explicitamum 6165610 Por 3 “nar O g. das meras abstraçõeS-_ _ ~ rele ados ao campode pesquisa, impedindo Quetselëgômeííos Sociais São coisas e devem ser tra-

Durkheim advoga que Os_ ,, .C `sSo,D\1T1<h@ím estavatados como coisas (DURKHEIM1984”P'24) Oml ' ' '- ' da sociologia iiao deveriaob eto de pesquisaprocurando estabelecer que o .l r ~ ' ' os pró-fenomenos sociais, maS 51m- f' fazem a respeito dos _ser as ideias que se ' › ~ la-, ~ _ delas (noçoes formu. _ ~ dados a observaça0› 215 1rios fenomenos tais comoP ' Ódicos da ciência com base em nossas ex-das antes e fora dos preceitos met 'zz e [passar] a cons-_ ~ r o lu ar dos fatoSperiências no mundo) 1130 devem toma g Crucialmente, 05 falo*_ . _ z ~^ ~ ” URKHEIM i9s4,p.26)- _ _ ,mulramatena (la Clencla (pas são ao contrário das idéias, exteriores aossociais, na qualidade de C015 › = ~ ' de_ ~ bservaçao, tendo carater, _ , ' " retamente dados a Oindividuos e, por 1SS0› 5210 dl _ . -_ ' 'fica._ _ - ‹ ela investigaçao cientirealidade e S€l'1d0 lnspeclonavels P z, f há um objeto de natu

tua ue na lingua,Saussure, por seu turno, Pon q _ _ _ _ , _ 77 .” cologicol 6 filll*- nte es iritual [isto e, PS1 ,reza concreta ainda que Purame P_ › " “ bstraçÕeS, POY mi"-`*_ ~ oem a lin ual WO Sao a“estes signoS l<Íl0S qua” se comp g_ ,› _ 4› 'f nossos)-C°mlS$“'espirituais que seiam (ÊOUQUET 20O4°P 9 gnos ' “ \tudar sem abrir mao t ‹›o ob eto ue quer es _5 sure reafirma a realidade d ) Qaus _ - f ' sea não há contrzuli1 d de sicologica (011 ,J ›fato de que trata-se de uma rea 1 a P_ _ E o que atesta a paz*' ao mesmo tempo)-çao em ser concreto e psicol0g1C0 _ , _ concreto, o objeto. _ _, mo tem o psicologico esagem a segmr' A0 mes P

ir _ '

' b'eto natural, a uma to/*H_ -» ' " essamedidaaumo)linguístico e assimilavel n _ _A'nda, Saussure “mlneste mundo” (BOUQUET 2004, p. 222, grifo nosso) 1 ' ' dos ti';\‹,‹›'~' uma conce ça0 fl P“°“verte os alunos contra os perigos de P_ - ' l.i~ diz ele (~-) uma abm'- › . iice ao ertenceria› ›erais da lin ua auma talco PÇ Pg 8 .P /_ W 004, .125,grifo meu).No1ein -.iuem baseada na ideia (BOUQUET 2 P - ' ` l.Ilii'›8 " d kheimiana› de Ver 0*_ - ~ once a0 U1'aqui, as aproX1mflÇ°@5 com a C pç _ À ` ~ lvl <` "_ _ des que tem realidai_ › “ ” ou se a como entidalinguisticos como coisas ( J ›

~ ' -d br‹›,zoo‹z.|».1/1 ""Organonvpmto Aleg¡e,n94()/41,}811€11'0 EZETT1

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Ferdinand de Saussure e a sociologia durkheimiana

perigo iminente de conceber o objeto a partir de idéias preconcebidas, ante-riores a ciencia. Assim, no intuito de garantir a cientificidade de sua ráticP a›“é preciso, então, que o sociólogo [e também o lingüista] (...) proíba resolu-tamente a si próprio o emprego de conceitos formados exteriormente à ciên-cia e para fins que nada têm de científico” (DURKHEIM 1984, p. 28), isto é,“é preciso afastar sistematicamente todas as prenoções” (1984, p. 27).

Em lugar de se ancorar em idéias preconcebidas, o método que olingüista deve seguir na busca pelos “traços gerais da língua” será, segundoS I _, z - , ú Vaussure, a observaçao da diversidade de linguas existente; “pela observa-ção dessas línguas, [0 lingüista] poderá extrair traços gerais, ele reterá tudoo que parece essencial e universal, para deixar de lado 0 particular e o aci-dental (...) Na língua, nós resumimos o que podemos observar nas diferenteslínguas” (BOUQUET 2004, p. 120). Assim também pensavaDurkheim a res-peito dos fenômenos sociais: “quando determinados caracteres são encon-trados de maneira idêntica e sem nenhuma exceção em todos os fenômenosd .e uma certa ordem, podemos estar seguros de que se ligam estreitamente ànatureza destes últimos e deles são solidários” (DURKHEIM 1984, p. 37).

Por fim, Saussure dizia que “querer estudar a linguagem sem se dar aotrabalho de estudar as diversas manifestações que evidentemente são asli I « . .iiiguas e uma empreitada absolutamente vã e quimérica” (BOUQUET 2004,p. 124), ou seja, o estudo das línguas é o ponto de partida. Com isso, Saussured ~ 1 / o 4 /estaca que nao e possivel atingir a lingua sem passar pelas línguas, porque“ ` d da coisa a a [ou seja, a realidade que se permite observar] não é apenas alíngua, mas as línguas. E, no início, o lingüista está na impossibilidade deestudar outras coisas além da diversidade das línguas. Ele deve, primeira-mente, estudar as línguas, o máximo possível de línguas (___). E assim queprocedemos.” (BOUQUET 2004, p. 125- 126). No mesmo sentido, Durkheimindicava que, a fim de apreender os caracteres mais profundos e essenciaisd f _ _ _ _ _ _os atos sociais, o ponto de partida seria a investigação de grupos de fenó-menos reunidos com base em caracteres externos comuns, dados à obser-vação do sociólogo; querer alcançar os caracteres essenciais antes de proce-der à investigação científica resultaria no equívoco”.

1° A citação completa é:No momento em que a pesquisa começa, quando os fatos não foram ainda subme-tidos a nenhuma elaboração, os únicos de seus caracteres que podem ser atin 'dosgisão os que se mostram assaz exteriores para se tornarem imediatamente visíveis. Osque estao mais profundamente situados são, sem dúvida, mais essenciais; seu valorexplicativo é mais elevado, mas ainda são desconhecidos nessa fase da ciência, e não

dpo em ser apreendidos antecipadamente senão substituindo-se à realidade algumaconcepção do espírito [isto é, alguma prenoçãol (DURKHEIM 1984, p. 30).

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ODER Letícia L 8: FLORES Valdir do NascimefimL . - '- ~ b`etos distintos,. ~ logia tratem d€0 J- linguistica e 3 50010Assim, embora 3 . ~ ^ ' 1 afirmar a existencia rea ,

, ' em comum em rea -ha uma preocupa<;a0 pçoes- ' de ambas e de afastar conce

tangibilidade dos ob)etos de interesseapriorísticas do discurso cientifico.

CONCLUSÃO

" m ue se iniciou esse trabalho, Parece PosswelRetomando 3 questao Cor (les em varios P1afi0S,€11Íf€ 05 discursos de. f ~ ' or an '_dllef que ha relaçoes 1-mpg ambios conforme destacamos em nossa ana5a“S5ureedeDurkhelm' m l im ,ortante (entre as quais elegemos alise, as dicotomlas texlltlgapezira discussão mais detida), ha uma preow-. - - ~ f ivo - - - '_dlcowmla individuo/C0 6 sicologia e uma Pfe°°l1P39a° em rewmdlpaçäo em delimitar-se frente a P t_ Os objetos de pesquisa. Evidente-' 5 res ec iv ., ,car um grau de realdlade ão 'as iinportantes, especialmente, como Ja st.f ' iver enci _ z ~ _.mente, ha taníbedn e sftratam de disciplinas diferentes, C0m PÍOPOSIKPdiSS€, em funçao e qu cíficosz - ' es 6 - . . . .metodolog1C0$ dlversos 6 . P na relação entre os Pøslclonamentob dl

Há, na verdade, um vai-e-vemlações com 3 Psicglogia se assemelham.' - 3 suas re , ,~Saussure e Durkheim, of . 8 ue ha uma oposi

~ ' ~ ra convergem no entendimento Qora se diferenciam, 0 I _ ra divergem Daí se possa dizer que, ao con_ - ~ f nvo o - , .çao entre mdmduo e C0 e d ›l rava um durkheimiangfl ), Saussure ora .׋_ › 3 -irâiio de ivieiiiei (que Sa 8° - ' ` de Durkheim' ' tos epistem0l0g1C05- fasta dos posicionameflaproxima, Ora Se 3Para a sociologia nascente' 1- - um tanto suPerfiCía1 Considlwl

Entretanto, Parece ser uma avallaäccblogia e a sociologia” (BOUQUNque “a menção conjunta, nas aulas, 21 Pera reocupação de Saussure dc “fin

2004,19. 16? se justlficiltlívlšiolšrldldfiaidlilido eítabelecer entre a semiologiâi ‹‹ .iavizar” a re ação que e , ‹‹ ^ ' ”) Se é verdade, 60m” ll' "'í. › ' arater olemico -psicologia (que poderia ter c P 2 'lise do fuiiciimzi~ e a fazer uma ana- ' Saussure nao Se PYOPO i . i' .H .idlsse aclma' que `f t na afirmaçao de flu* l '. z O ueñcamanieso ~ ,_mento soam da hníla ( ql' gua e um fato social ou nao e indifr ir mi .1 ” de sa er se a in . ~ ' mir ilfnos, zi questao 4 169)) isso nao o imi

Bou uet (200 › P- ° . . _conforme destacada Pot Clbjeto que tem realidade S0¢1z1(incoip‹›|.mlíngua e um O . -reconhecer que a ‹ ~ 1¿;_1ç';\‹› ‹|H@, definiçao e delimil recorrentemente nado esse elemento socia

7 . › ‹ li llf . ‹ “ nsere exat1m‹n¡‹ IM '- ' lusive que “o caráter social da linguagem Se! ‹zv Mallet afirmou inc 04, p_ 168, n. 37)›. ,,› MEILLET apud BOUQUET 20

nição proposta PQ; Durkheim l. . › «xl Ml/41, janeiro-dezembio. ¡°“"' I'Organon, PMO Alegfei “Q 40

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propõe para esse objetozg) e de dialogar com as concepções sociológicasfrancesas efervescentes na sua época. Como pontua Culler, “embora a in-fluência de Durkheim sobre Saussure tenha sido freqüentemente insinua-d . . . .a, muito mais importante que quaisquer possíveis empréstimos superfi-ciais sao as afinidades entre os projetos fundamentais [desses pensadores]e, em particular, as configurações epistemológicas das disci lin fup as que n-daram” (CULLER 1979, p. 67). Concordando com Culler buscamos ex, pore discutir algumas dessas afinidades ao longo do presente trabalho, argu-mentando mais em favor de pontos de contato do que de respostas conclu-sivas a respeito de possíveis influências

Com isso, enfocamos Saussure não apenas como um intelectual dedi-cado a pensar o estatuto autônomo de uma ciência lingüística, mas tam-b ' `em como um homem do seu tempo, sintonizado com as discussõese istemol' ' f 'p ogicas e ervescentes naquele momento de emancipação de diver-sas áreas, compartilhando com pensadores contemporâneos seus(Durkheim entre eles), além do ambiente acadêmico, concepções sobre ci-ência e sobre o fazer científico. Ver Saussure sob essa perspectiva é apreciarseu legado intelectual para além de noções fundantes como língua/fala esignificante/significado, e esperamos ter apontado nessa direção a partir dob b 'reve es oço comparativo que apresentamos neste trabalho.

diretas entre os dois pensadores.

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¡“ Em nota a respeito do segundo curso, Riedlinger apontaSeja qual for exatamente o círculo a traçar em tomo da língua, é evidente que temosdiante de nós uma ação social do homem bastante especifica para constituir umadisciplina. Todos esses fatos constituirão o objeto de uma disciplina, de um ramodas ciências que deriva da psicologia e da sociologia (BOUQUET 2004, p. 168).

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