Cris e Ted 2

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7/29/2019 Cris e Ted 2 http://slidepdf.com/reader/full/cris-e-ted-2 1/304 Cris & Ted Nos Anos da Faculdade 2 Como Quiseres, Senhor Robin Jones Gunn

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Cris & Ted

Nos Anos da Faculdade 2

Como Quiseres, Senhor

Robin Jones Gunn

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Título original: As You WishTradução de Myrian Talitha Lins

Editora Betânia, 2005

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SEMEADORES DA PALAVRA e-books evangélicos

Para Ross, meu marido.

Fiz um “pedido”, e você apareceu.

Para meu filho Ross e minha filha Rachel.

Nós dois, juntos, fizemos um pedido, e eles apareceram.

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- É, Ted, disse Cris, você não consegue mesmo disfarçar. ‘Tá com algum segredo!

A garota soltou a mão do namorado e parou. Os dois estavam caminhando pelo campus.

- Quem disse que estou com algum segredo? indagou ele.

O rapaz tinha no rosto um sorriso franco, estampando na face duas covinhas fundas.

Para Cris Miller, isso era um sinal certo de que havia algo no ar.

- ‘Tá “escrito” no seu rosto. Agora só falta você me dar os detalhes; verbalmente, de

 preferência.

- Na hora em que estivermos comendo eu te conto, respondeu Ted, fazendo um sinal

 para que ela o seguisse.

Cris continuou parada no lugar, os braços cruzados.

- E onde vamos comer? perguntou. A cantina só vai começar a funcionar a partir de

sexta-feira.

- É, eu sei. Venha comigo. Fiz reserva pra nós num lugarzinho tranquilo, bem afastado

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de tudo. Vamos.

A garota ergueu as sobrancelhas, ainda meio desconfiada.

- Fez reserva?

 Nesse instante, o vento soprou forte. Era a costumeira ventania de setembro que sempre

 batia naquela região desértica do sul da Califórnia. Jogou o longo cabelo de Cris no rosto

dela, cobrindo-o como se fosse um véu. A moça passou a mão na boca, removendo as pontas

dele, notando que, mais uma vez, Ted a estava olhando “daquele jeito”.

Fazia menos de uma semana que ela chegara da Suíça, onde estivera estudando e

trabalhando. Nesses poucos dias, o rapaz já a fitara “daquele jeito” pelo menos umas seis

vezes, talvez sete. Em seus olhos azul-acinzentados, parecia haver uma luzinha, como se

houvesse ali uma minúscula vela. Cris tinha a sensação de que ele queria que ela se

aproximasse mais e “fizesse um pedido”, antes que a chamazinha se apagasse. Contudo todas

as vezes que a jovem via aquela expressão no olhar dele, virava-se para outro lado. Dessa vez,

 porém, ela ficou parada.

 Ele está querendo que eu lhe diga que o amo, pensou.

Vendo que Cris não dizia nada, Ted estendeu o braço para ela e, com aquele seu jeitão

tranquilo, disse:

- Bom, na verdade, eu fiz uma reserva à minha maneira. Vamos lá. Você vai ver.

Em resposta, Cris passou o braço pela cintura dele. Ted colocou o dele em volta do

ombro da moça, puxando-a para mais junto de si. E lado a lado eles foram caminhando,

atravessando o campus da Universidade Rancho Corona, em passadas uniformes.

 Afinal, o que há comigo? ia pensando Cris. Tenho certeza de que amo o Ted. Então por 

que é tão difícil essas palavrinhas saírem do meu coração e me virem aos lábios?

Chegaram à pracinha que havia bem no centro do campus. O Sol estava se escondendo

atrás de um aglomerado de palmeiras, as folhas dançando ao vento com aquele seu ruído

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típico. Alguns raios da luz ambarina coavam por entre as folhas, iluminando o cabelo de Ted,

 bem louro e curto.

- Vamos aqui, disse o rapaz, conduzindo Cris para junto da imensa fonte que havia no

meio daquele espaço aberto.

Como as aulas só iriam começar na semana seguinte, ainda não havia muitos alunos no

campus. Então os dois estavam com a pracinha toda para eles.

- Quer sentar aqui, ou num daqueles bancos? perguntou ele.

-aqui ‘tá ótimo, replicou Cris.

A jovem sentou-se na ampla beirada da fonte e cruzou as pernas.

- E a reserva que você fez?

-ainda ‘tá cedo, explicou Ted, e em seguida continuou: esta fonte não te lembra aquela

que vimos nas férias?

- Qual? Uma das dezenas que havia em Salzburgo e de que Katie gostou tanto?

- Não, respondeu ele. Estava me referindo àquela a que fomos em Roma. Ou foi em

Milão? Não lembro mais.

Cris sorriu.

- Quando fecho os olhos, comentou ela, este lugar aqui me lembra é a estação de trem

de Castedefels.

- Na Espanha? interveio Ted. Mas naquela estaçãozinha “derrubada” não havia

nenhuma fonte... Aquilo ali era feio demais!

- É, eu sei. Mas feche os olhos. Fique escutando. É o ruído das folhas das palmeiras. É

isso que me lembra aquela estação. Esse farfalhar...

Cris olhou para o rapaz que fechou os olhos e ergueu o rosto para o alto, pondo-se a

escutar.

- Isso me lembra o Havaí, disse ele, abrindo os olhos e fitando-a.

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Aquele ruído dava a Cris a impressão de que as árvores estavam batendo palmas. Agora,

 porém, conseguia ouvir também os sons do Havaí, como o Ted.

- É, tem razão. Lembra uma fileira de havaianas dançando, com seus saiotes de palha.

- Havaianas?

- É. Dançando a hula. Aquelas jovens altas e magrinhas...

Ted riu.

- É... bem altas e magrinhas.

 Nesse momento, soprou uma brisa leve, atirando neles espirros de água da fonte. Cris

inclinou a cabeça e fitou-o.

- Então, vai ou não vai me dizer qual é o segredo que ‘tá escondendo? Ou será que vou

ter de esperar até a hora de comer?

- Ah, é. Meu grande segredo... O que é mesmo que eu ia contar pra você? falou

 pensativo, e após uma curta pausa, deu de ombros e concluiu: Acho que esqueci.

- Esqueceu nada, disse Cris, agarrando-o pelos ombros e ameaçando atirá-lo dentro da

água.

Ele também pôs as mãos nos ombros dela.

- Se eu cair lá, você cai junto, ameaçou.

Os dois ficaram rindo e brigando de mentirinha por alguns instantes. Afinal, Ted, que

era surfista e bem mais forte que ela, conseguiu dominá-la. Ele endireitou o corpo e, com a

mão esquerda, pegou um pouco de água para jogar nela.

- Ei! protestou Cris, molhando-o levemente. Não comece porque depois você não vai

dar conta de acabar.

- Ah, você acha que não dou conta de uma guerra de água? indagou ele pegando mais

um pouco. Então olha só!

Em seguida, ele atirou várias mãozadas seguidas na moça. As risadas dele pareciam

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dançar ao redor de Cris, “montadas” nas gotículas de água. Ela encheu bem a mão.

- O.k. ‘tá bom, falou Ted, rindo e tossindo. Você venceu. Eu me rendo.

Cris piscou para deixar cair algumas gotas de água que lhe estavam nos cílios. Em

seguida, passou a mão no rosto e no queixo para limpá-los.

- Consegui a vaga, informou Ted, sem mais nem menos.

Passou o braço no rosto, enxugando-o com a manga da camiseta.

- Que vaga?

- Na Igreja de Riverview Heights. Fui li agora à tarde e me contrataram para trabalhar 

como líder dos jovens. Esse era meu grande segredo.

- ‘Tá brincando! exclamou ela. Você não disse que eles queriam alguém que já tivesse

se formado?

- Foi o que pensei, explicou o rapaz. Mas ontem à noite eles tiveram a última reunião

 para decidir. Então resolveram me contratar.

- Que beleza! disse ela. Mas isso é ótimo, Ted!

- Disseram que gostaram do fato de eu poder dirigir o louvor e ainda fazer os estudos

 bíblicos, continuou ele enquanto esticava as pernas, e acrescentou: E eu lhes falei sobre você.

Perguntaram se toparia ensinar a classe de escola dominical das adolescentes.

- E o que respondeu?

- Eu disse que sim.

- Que eu pegaria a classe?

- É. Expliquei que naquela viagem missionária que fizemos, alguns anos atrás, você foi

considerada a melhor professora do grupo da Espanha. Contei também que trabalhou num

orfanato, no ano passado, na Suíça. Eles estão ansiosos para vê-la.

- Mas, Ted, você já lhes disse que eu iria lecionar na escola dominical?

O rapaz se virou totalmente para ela, procurando examinar a expressão de seu rosto.

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- Você já deu aula na escola dominical, comentou.

- É, mas para os pequeninos.

- Ah... mas também já foi monitora num acampamento, nas férias, uns anos atrás.

- Sim, mas com pré-adolescentes.

- E nunca lecionou para adolescentes? indagou ele.

- Não, nunca.

- Ah, mas você vai gostar dessas meninas, e elas vão amá-la!

- Ted!!

- O quê, Cris?

- Por que não me perguntou antes? Quero dizer, e se eu não quiser dar aula para

adolescentes?

- E por que não iria querer?

- Espere aí. Não estou dizendo que quero ou não quero. O que desejo que você entenda

é que deveria ter me perguntado antes de dizer que eu iria assumir esse compromisso. ‘Tá me

 parecendo que eles o contrataram porque perceberam que iriam ficar com três obreiros,

 pagando um só - um líder de jovens, um dirigente de louvor e, de graça, a namorada que iria

lecionar na escola dominical.

Ted endireitou-se, tendo no rosto uma expressão inquisitiva.

- E você acha que uma professora de escola dominical também deve receber? É isso?

Você também quer ganhar um salário?

- Não, claro que não. Ó Ted, você nem escutou o que estou dizendo. Eu só quero...

 parece que... bom...

- O quê?

- Você devia ter me dado algum tempo para pensar, antes de ir assumindo um

compromisso em meu nome.

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- Ah... disse o rapaz, fazendo que “Sim” com a cabeça, num movimento lento. Tem

razão. Desculpe-me! Falei em seu nome, em vez de ter deixado que você tomasse a decisão.

 Não devia ter feito isso.

Cris se remexeu, meio incomodada.

- É. Obviamente não estou querendo dizer que não posso pensar na hipótese de lecionar 

ou em pelo menos dar uma ajuda numa classe.

Aí foi a vez de Ted se mostrar irritado.

- Você quer dizer que vai lecionar ou não?

- Não sei. Dê-me algum tempo para pensar, o.k.?

- ‘Tá bom. Leve o tempo de que precisar. Você sempre teve muito problema com essa

questão de tomar decisão, não é? disse o rapaz, mais fazendo uma afirmação do que

 perguntando.

Cris detestava ter de reconhecer o fato, mas o que ele dissera era verdade. Mesmo

assim, a sensação que teve foi de um tapa no rosto.

- Ted, principiou ela em tom firme, procurando coordenar bem as idéias para se

defender, acho que...

Antes que ela pudesse concluir, o rapaz a interrompeu:

- Ei, lá vem nosso jantar!

Cris levantou os olhos na direção do estacionamento, e viu um jovem caminhando para

eles, vestido com uma roupa típica de entregador de pizza, tendo na mão uma caixa.

- Você que é Ted Spencer? indagou ele quando chegou mais perto.

- É; sou eu. Chegou bem na hora. Obrigado.

Ted pagou o rapaz e pegou a pizza.

- Boa noite! disse o entregador e saiu correndo de volta para o carro.

- Foi isso que quis dizer quando falou que tinha feito reserva? indagou Cris. O

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lugarzinho tranquilo e afastado é aqui?

Ted deu um sorriso.

- Legal, né? Só nós dois... uma noite linda... um ambiente perfeito. Não é exatamente a

ilha de Capri, mas temos aí as dançarinas de hula - as folhas das palmeiras - para alegrar 

nosso jantar.

Cris ficou olhando para ele. Não sabia se ficava alegre ou irritada.

- Pedi a pizza gigante, continuou o rapaz, abrindo a caixa. Ih, parece que exageraram na

cebola e no pimentão. O que você não gostar, pode tirar e colocar no meu pedaço. Você quer 

orar, ou oro eu?

- É melhor você, replicou a moça.

Estava se esforçando para disfarçar seus sentimentos. Ainda se sentia um pouco

magoada por ele haver mencionado o fato dela ter dificuldade de tomar decisões. Apesar de

seus esforços, a sensação de mal-estar ainda parecia suspensa no ar, como uma sombra. E

 permaneceu ali durante todo o tempo em que ficaram juntos. Ela comeu só duas fatias,

ouvindo em silêncio o namorado que dava mais detalhes sobre o trabalho que conseguira.

Só quando voltavam para o dormitório, caminhando de mãos dadas, foi que ela disse:

- Desculpe-me por ter ficado tão irritada com o negócio da escola dominical.

- Tem nada não, replicou Ted. Na sexta-feira, eu vou vir pra cá definitivamente, e aí a

gente vai poder conversar um pouco mais.

- ‘Tá bom, disse Cris. Assim que você chegar, me liga, ‘tá? Se quiser, eu e a Katie

 podemos ajudá-lo.

Chegando ao dormitório das moças, o Sophia Hall, ele parou e se inclinou para ela e

deu-lhe um leve beijo. Se estava chateado ou meio decepcionado com ela, não deixou

transparecer nem no beijo, nem no que disse a seguir.

- Então a gente se vê na sexta.

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Cris chegou ao quarto e viu que a porta estava destrancada. Katie, sua colega ruivinha,

sua melhor amiga, estava ali. Achava-se em cima de uma cadeira, meio desequilibrada,

tentando enfiar uma pequena caixa de som na prateleira mais alta da estante de livros.

- Ah, que bom que voltou! exclamou ela, dando um tapinha de leve na ponta da caixa,

ordenando-lhe que ficasse ali. Aonde vocês foram jantar?

- Ele fez reserva num lugar tranquilo, bem afastado de tudo, respondeu Cris jogando-se

na cama.

- Você ‘tá falando do Ted? Do seu Ted Spencer?

- É, replicou Cris. Na verdade, ele foi bastante criativo. Simplesmente pediu uma pizza

e mandou que a entregassem perto da fonte, na praça central do campus. Você acredita nisso?

- Que romântico!

- É, teria sido muito romântico, se eu não fosse tão cabeça dura!

- Cabeça dura? Você? perguntou Katie, descendo da cadeira, mas ainda de olho na caixa

de som, como se continuasse a ordenar-lhe que ficasse quieta no lugar.

- É, eu mesma. Afinal, o que é que há de errado comigo?

- Sobre qual de seus erros você quer conversar? indagou a colega, sentando-se ao pé da

cama de Cris.

Ela estava sempre disposta a fazer uma avaliação dos outros.

- Ah, pode esquecer que fiz essa pergunta, interpôs Cris.

- Não; vamos lá. Me dá uma dica, insistiu Katie, os olhos verdes examinando

atentamente o rosto da amiga. Por que o Ted veio até aqui hoje? Deixe-me adivinhar. Ele fez

essa viagem de uma hora e meia, de Newport Beach para cá, só porque estava com muita

saudade de você?

- Não exatamente.

Cris explicou para a colega que o namorado arranjara um emprego como líder de jovens

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na Igreja de Riverview Heights. Contou inclusive sobre o convite para ela lecionar para uma

classe de garotas adolescentes e o comentário que ele fizera sobre sua dificuldade para tomar 

decisões.

- Ah, isso é verdade, e você sabe muito bem, ajuntou Katie. Quero dizer, você até já

melhorou bastante sobre essa questão e algumas outras. Mas acho que não deveria ter ficado

chateada com o Ted por ele haver feito esse comentário. Foi apenas uma observação, e não

uma crítica.

- É, mas estou chateada. Estou com vontade de chorar até cansar.

- Ah, provavelmente é porque ainda ‘tá sentindo o efeito da viagem. Você passou um

ano na Suíça, Cris. Chegou de lá há poucos dias e seu organismo ainda não se ajustou à

mudança de fuso horário. Então ‘tá precisando de um tempo pra descansar. Aliás, foi por isso

que resolvemos vir para o campus antes de começarem as aulas, lembra? Você mesma disse

que precisava de um tempo para se ajustar a todas essas mudanças.

- Arrrr! fez Cris, pegando um travesseiro e colocando-o sobre a cabeça. Detesto

mudanças!

- Ah, agora estamos começando a nos entender! comentou Katie, tirando o travesseiro

da mão dela e usando-o como encosto. Não se esqueça de que a flexibilidade é um sinal de

equilíbrio mental.

- Ah, por favor, reclamou a outra, me devolve o travesseiro.

- Só se me prometer que vai se esforçar pra melhorar sua atitude com relação a esse

emprego do Ted. Você sabe muito bem que era isso que ele queria. Seu namorado é

 perfeitamente talhado para essa tarefa.

- Sei que é.

- E é um emprego de verdade, insistiu Katie, devolvendo o travesseiro para a amiga. É

uma carreira; um ministério; um serviço permanente. Não é como os trabalhos que ele teve

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nesses últimos anos, todos temporários.

Cris se ajeitou melhor na cama, para ficar mais confortável. Sabia que Katie iria

“despejar” uma porção de conselhos nela. Não adiantaria resistir. E, embora não quisesse

reconhecer, no fundo, ela queria mesmo ouvir o que a amiga tinha a lhe dizer.

- É isso aí, Cris, continuou a outra. Agora vocês estão na “reta final”. Talvez até

terminem os estudos neste ano.

- É, mas só se eu conseguir resolver no que vou me especializar, interveio Cris com um

suspiro.

- Mas você vai resolver, amiga. Quando é sua entrevista com seu orientador?

- Sexta-feira.

- Ah, então vai dar certo, disse Katie. Faz o seguinte: dorme o dia inteiro amanhã, pra

solucionar esse problema de fuso horário. Na quinta-feira, você dá um jeito de procurar um

trabalho, e na sexta, decide quais as matérias que vai fazer e em que vai se especializar.

Quando Ted chegar, na sexta à tarde, você já estará com tudo em ordem.

- Bem que eu gostaria, comentou Cris, mas não é tão fácil assim, Katie.

- Mas também não é tão complicado como você ‘tá dando a entender, replicou a outra.

Quero dizer, acho que Deus ‘tá fazendo tudo isso, essas “coisas de Deus”, na hora certa, para

que vocês se casem e continuem a vida juntos, não é isso?

- Ei, Katie, você ‘tá tirando conclusões apressadas!

- Conclusões apressadas? Moi?

 Nesse instante, alguém deu uma batida rápida na porta. Katie ergueu-se de um salto e

foi abri-la. Era uma jovem com uma expressão de felicidade no rosto. Os cabelos louros, bem

encaracolados, caíam-lhe pelos ombros como cascata.

- Ei! Por onde você andou, Senhorita Felicidade?

Era Selena Jensen, uma garota alegre, de espírito livre, que cursava o primeiro ano da

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faculdade. Ela deu um abraço apertado em Katie e depois foi em direção a Cris e abraçou-a

também. Dois anos antes, as três haviam participado de uma viagem missionária à Europa, e

tinham ficado no mesmo quarto, na hospedaria. Embora Katie e Cris fossem um pouco mais

velhas que ela, haviam se tornado muito amigas.

- Estava na capela, explicou a recém-chegada, girando o corpo com um movimento

rápido.

Ela foi em direção à almofada tipo pufe de Katie e caiu sentada sobre ela.

- Ah, estou achando que se encontrou com o Paul, comentou Katie, puxando uma

cadeira para se sentar. E o que aconteceu? Deu pra conversarem?

- Deu. Agora, tudo ‘tá maravilhoso! comentou Selena, brincando com o longo brinco de

 prata que pendia de sua orelha esquerda.

- Então, me dê detalhes, por favor, tornou Katie. E não omita nenhum!

- Bom, principiou Selena, vocês sabem como a situação estava péssima, algumas horas

atrás, né?

- Mais ou menos, disse Katie, respondendo pelas duas.

- Pois agora ‘tá tudo certinho. Nós conversamos lá na igreja, oramos, e agora parece que

vamos recomeçar um novo relacionamento. Agora temos o mesmo pensamento e as mesmas

expectativas. ‘Tá tudo certo. Não iremos depressa demais, nem muito devagar, mas no ritmo

apropriado.

Cris deu um sorriso e pensou:

Um tempo atrás, pensei o mesmo com relação ao Ted. Embora na época eu não tivesse

 gostado muito daquelas pausas - quando nosso namoro estava em compasso de espera, para

definirmos bem “quem” éramos e o que queríamos - elas foram muito proveitosas.

Trouxeram muito conforto e nos ajudaram a tomar as decisões. Então, por que será que

estou tão nervosa com as resoluções que terei de assumir daqui pra frente? Queria saber por 

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que sinto isso.

Selena arrastou o pufe para mais perto da cama de Cris e se remexeu nele para se

acomodar melhor.

- E depois de Paul ter passado um ano fora, na Escócia, agora ele se acha à uma hora de

distância daqui. E nós estamos com o mesmo pensamento a respeito do nosso relacionamento.

Finalmente! Não estou mais com expectativas falsas. Não entendo como fui complicar tudo

daquela maneira!

- Escutou isso? indagou Katie para Cris, dirigindo-lhe um olhar maternal. Por que você

fica querendo complicar sua vida com o Ted, se tudo já ‘tá se ajeitando naturalmente?

- E você ouviu o que Selena disse sobre expectativas falsas? retrucou Cris.

 No rosto de Selena surgiu uma expressão de preocupação.

- Não há nenhum problema entre você e o Ted, há? indagou.

- Ela ‘tá com medo do futuro, explicou Katie, respondendo pela amiga.

- Não estou, não, rebateu Cris prontamente. Só não me sinto preparada para conversar 

sobre casamento.

- E quem quer falar sobre casamento? quis saber Selena.

Katie ergueu a mão.

- Eu, disse ela.

Selena arregalou os olhos.

- Você? E com quem ‘tá querendo se casar?

A jovem soltou uma risada.

- Não é sobre o meu casamento que quero conversar, explicou. Estava falando era sobre

Ted e Cris. Era disso que estávamos conversando pouco antes de você chegar. Obviamente,

isso é o próximo passo para os dois, e a Cris ‘tá com medo de tomar essa decisão tão

importante.

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- Não foi isso que eu disse, Katie, e você sabe muito bem.

- ‘Tá bom; então o que foi que você disse?

Cris deu um suspiro. Na verdade, não estava muito a fim de discutir aquela questão com

as duas naquele momento. Por outro lado, sabia que, quando estava na Suíça, tinha desejado

muito essa intimidade com essas boas amigas. Aliás, até escrevera em seu diário um

comentário sobre como estava desejando chegar à Universidade Rancho Corona, para poder 

se abrir com Katie e ouvir os conselhos de sua colega. E agora ainda tinha a Selena também.

Era mais uma benção.

- O.k., a questão toda é a seguinte. Escutem bem, vocês duas. Prometo que depois vou

ouvir o que tiverem a me dizer. Mas primeiro me deixem falar o que estou pensando.

Katie e Selena inclinaram-se para ela, olhando-a com expressão franca e amável.

- O que eu sei, com certeza, é que amo o Ted. Isso eu sei.

- Mas não disse pra ele, interveio Katie.

- Eu pedi pra me deixarem falar tudo primeiro.

- Opa! fez Katie, tapando a boca. Desculpe! Continue.

- Sei que amo o Ted, e é verdade que ainda não consegui dizer isso pra ele. Sei que ele

me ama. Já me falou dezenas de vezes, depois daquela primeira vez que disse, lá na Suíça. O

 problema é que, pra mim, falar com o Ted que o amo é algo muito sério. É quase como

 prometer que vou assumir um compromisso com ele. Pra sempre!

- E você não se sente preparada pra lhe dizer isso? deduziu Katie.

Cris olhou para suas mãos. O brilho da lâmpada do quarto refletiu-se num cantinho do

 bracelete de ouro que estava usando. Era uma pulseira que o namorado lhe dera, alguns anos

atrás, prometendo-lhe que sempre seriam amigos, não importava o que acontecesse. Passou o

dedo de leve sobre as palavras “Para Sempre”, que estavam gravadas na jóia.

- Você acha que isso é sério demais? indagou Selena. Acha que assim que disser para o

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Ted que o ama ele ira dizer: “Então vamos nos casar”?

- Talvez. Não sei.

- Ah, ele não vai lhe pedir em casamento imediatamente, não, interpôs Katie.

- E se pedir? tornou Selena. Por que você não quer se casar com ele? Você não achava

que o namoro de vocês era pra acabar em casamento mesmo?

- Sim e não. Há momentos em que penso que gostaria de me casar com ele ali, naquela

mesma hora, sem parar pra pensar e sem ter arrependimento algum. Mas depois, em outros

instantes, olho pra ele e penso: “Quem é esse cara?” Tem tanta coisa que não sei a respeito

dele...

- E daí? continuou Selena. Procure passar algum tempo com ele pra conhecê-lo melhor.

É isso que eu e o Paul vamos fazer. E é claro que não estamos pensando em casamento.

 Nenhum de nós. Vamos ser só amigos e procurar conhecer melhor um ao outro, sem nenhuma

 preocupação em passar a namorar.

- ‘Tá certo, interveio Katie. Mas a Cris e o Ted já tiveram essa fase... o quê? Nos

últimos cinco anos?

Cris fez que sim.

- Já ‘tá na hora de tomarem algumas decisões a respeito do relacionamento deles. Sinto

muito, Cris, mas tenho de dizer isso. O Ted tem razão. Você não gosta mesmo de tomar 

decisões.

Cris não se sentiu agredida ao ouvir a amiga dizer isso, da forma como se sentira antes.

Aliás, nem teve dificuldade para concordar com ela. E fez que “Sim” com um lento

movimento de cabeça. Contudo percebia que havia mais alguma coisa por trás de sua

incerteza com relação ao namorado. Sentia que estava quase definindo bem o que era essa

importante questão.

Katie virou-se para Selena e continuou sua análise de Cris, como se esta não estivesse

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 presente ali.

- Cris gosta de tudo bem planejado, numa ordem lógica. “Primeiro, vem o amor; depois,

o casamento, depois o filho, no carrinho de bebe...”

Selena deu uma risadinha.

- Mas assim é melhor, comentou.

- Ah, como seria bom se existisse um guia turístico pra nos orientar em nossos

relacionamentos! exclamou Katie. Quando estávamos passeando na Europa com a Cris, eu e o

Ted descobrimos que o melhor jeito de viajar é fazer um planejamento e arranjar um bom

guia turístico. Se não for assim, a gente perde muita coisa.

- Ah, então agora você ‘tá reconhecendo publicamente que é muito bom fazer o

 planejamento antes, interveio Cris.

- Eu já tinha lhe dito isso lá na Europa, retrucou Katie em voz alta.

- É, interveio Selena, mas não sei se no amor a gente sempre pode planejar e agir com

lógica.

- É verdade, concordou Katie. Ninguém pode garantir nada com relação ao futuro.

Temos de agir com base naquilo que sabemos, naquele momento, e deixar que Deus cuide dos

resultados.

- Não sei se concordo bem com isso, interpôs Cris. Creio que somos responsáveis por 

nossos atos o tempo todo, inclusive pelas consequências deles.

- Sim, disse Selena num tom firme, mas tem de haver equilíbrio, pois não somos nós

que estamos no controle de nossa vida; é Deus quem está.

- E por isso não precisamos ter medo do futuro, acrescentou Katie.

- E como diz aquele versículo de Provérbios 31, continuou Selena. Lá diz assim: “A

força e a honra são os seus vestidos, e alegra-se com o dia futuro”, como diz essa nova versão

da Bíblia.

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- Ah, decorei esse texto ontem à noite, interveio Katie. Só que na minha versão diz “... e

ri-se do dia futuro”.

Cris se recostou mais, estampando no rosto uma expressão séria. A idéia importante que

estava se formando em sua mente agora chegara “à tona”, deixando-a triste.

- Que é que você ‘tá pensando? quis saber Katie. Seu rosto ficou sombrio, carregado...

- Vocês duas podem pensar em rir e se alegrar com o futuro, como diz a segunda parte

do verso. Mas estou pensando na primeira, “a força e a honra...”. A possibilidade de assumir 

um compromisso com o Ted é uma decisão muito séria. Se nos casarmos, ficaremos juntos

 pelo resto da vida. Só quero mostrar pra ele que estou preparada para assumir esse

compromisso quando estiver mesmo.

- Mas você já sabe que o ama, relembrou-lhe Katie.

- É, creio que sei.

Katie pegou o próprio cabelo com ambas as mãos e puxou-o, como se fosse arrancá-lo.

- Você acabou de dizer agora há pouco que sabe que o ama! reclamou.

- Eu sei, mas procure entender o que estou dizendo...

- Eu entendo, interpôs Selena. Já entendi, ou pelo menos acho que compreendi. Você ‘tá

dizendo que sabe que ama o Ted, mas não tem certeza se esse amor é profundo, se é

suficientemente forte para lhe dar condições de assumir essa união com ele pelo resto da vida.

- Exatamente, replicou Cris.

Katie abaixou a cabeça e cobriu o rosto com as mãos, parecendo refletir sobre o que a

amiga dissera.

Cris percebeu que Selena resumira muito bem o pensamento que ela estivera querendo

expressar. Com isso, suas idéias ficaram bem claras.

- É isso! repetiu. É exatamente isso que venho tentando descobrir, disse a jovem,

inclinando-se para a frente e fazendo uma pausa à espera de que Katie voltasse sua atenção

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 para ela. Quero que as duas me digam a verdade. Por favor, me dêem sua opinião sincera.

Selena e Katie ficaram paradas, aguardando o que ela iria dizer.

- Vocês acham que é possível uma pessoa chegar à conclusão de que ama realmente

alguém, mas não se casar com ele?

Por uns instantes, houve no quarto um silêncio profundo em que as três amigas ficaram

a se entreolhar.

- É, disse Katie com expressão grave.

Era a primeira vez que ela tinha uma atitude séria naquela noite.

- É possível, sim, continuou, compreender que amamos alguém profundamente, e ainda

assim acabar não passando o resto da vida com ele.

Selena fez um aceno de cabeça, concordando.

- Também acho, disse.

Cris sentiu que lágrimas lhe vinham aos olhos, embaçando-lhe a vista.

- Também penso isso, comentou em voz baixa. É disso que estou com medo.

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Cris ficou acordada até às 2:00h da madrugada, conversando com as amigas. Quando

Katie acordou, já era quase meio-dia. Chamou a colega e lhe disse que iria à cidade para

comer algo. Cris replicou-lhe que fosse, sem esperá-la. Em seguida, fez algo que nunca

imaginaria que pudesse fazer: dormiu o resto do dia e a noite toda.

 Na quinta-feira de manhã, ela acordou com uma forte dor de cabeça. Katie já havia

saído, deixando-lhe um sanduíche e um bilhete, dizendo que fora fazer compras com Selena.

Comeu o lanche que a amiga lhe deixara e depois foi tomar um banho quente, que não ajudou

muito. Então voltou para a cama e caiu num sono profundo, dormindo o dia todo.

Quando despertou, já começava a entardecer. Agora se sentia bem melhor. Fazia umas

 boas semanas – talvez alguns meses que não se via assim. Parecia que atingira o auge do

cansaço e ainda o ultrapassara.

Mal acabara de se levantar e estava espreguiçando, quando Katie chegou. Trazia um

 pacotinho de lanche.

- Ei, pessoal! gritou a recém-chegada. Ela ‘tá viva! ‘Tá respirando! Será que ‘tá com

fome?

- Morrendo de fome! disse Cris. Muito obrigada! E obrigada também pelo sanduíche

que deixou pra mim de manhã.

- De nada! Agora você deve estar se sentindo melhor, né?

- Estou. Estou normal. Não, estou melhor que normal.

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- É bom saber disso. Eu estava começando a me preocupar com você.

Cris enfiou a mão no pacotinho de lanche e tirou um sanduíche de peito de peru. Fechou

os olhos e fez uma rápida oração, agradecendo o alimento, e se pôs a comer.

- É, você ‘tá com aparência melhor mesmo, comentou Katie. Acho que aquelas semanas

que trabalhou a mais no orfanato acabaram com você.

Cris reconheceu que a amiga tinha razão. O ano que passara na Suíça fora muito bom

em diversos aspectos. Contudo tivera uma vida muito agitada lá, trabalhando quase sem parar.

Fora muito desgastante, física e emocionalmente. Além de estudar uma parte do dia, fazendo

todas as matérias do curso, dedicava-se às crianças do orfanato, dando-lhes mais de trinta

horas por semana.

- É, eu sei, concordou ela, sentando-se na cama, as pernas cruzadas à moda oriental.

Você ‘tá certa com relação ao meu trabalho no orfanato. Morria de pena daquelas crianças.

 Nos últimos dias que passei lá, eu me sentia totalmente esgotada.

- Agora reconhece que foi bom ter ficado até o fim do semestre? indagou Katie.

- Como assim?

- Quando eu e o Ted estivemos lá em junho, você teve aquele entendimento de que não

tinha condições de assumir um compromisso a longo prazo numa situação de crise. Lembra?

Aquelas coisas que você falou quando estávamos em Amsterdã... Disse que ia mudar de

curso, mas achava que deveria ficar na Suíça pra terminar o semestre. Acha que foi bom ter 

ficado?

Cris fez que sim com um aceno de cabeça, pois estava de boca cheia.

- É; percebi que você sentia que tinha de manter a palavra dada ao pessoal do orfanato e

seu compromisso com a Universidade de Basiléia, comentou Katie. Nunca lhe disse isso, mas

senti uma grande admiração por você, por haver tomado essa decisão.

- Obrigada!

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- Fiquei pensando muito naquilo que conversamos ontem à noite. Sabe de uma coisa,

Cris? Você me ajuda muito. Você me faz refletir nas situações, em vez de agir 

impulsivamente. Eu e a Selena estávamos falando de como temos esse problema de ser 

espontânea demais.

- É por isso que as duas me ajudam também, interpôs Cris. Algumas vezes, eu também

 preciso de vocês, pra que me ajudem a ficar mais descontraída. Eu queria ter saído com vocês

 para fazer compras. Faz mais de um ano que não vou a um shopping.

- Pois eu acho que o sono foi mais importante pra você, disse Katie. Com toda

sinceridade, agora ‘tá com uma aparência bem melhor.

- Estou me sentindo melhor também com relação a tudo o mais. Aquela conversa com

você e a Selena foi ótima. Creio que o melhor que tenho a fazer agora é viver um dia de cada

vez, da maneira como eles vierem. E devo tomar cada decisão quando estiver na hora dela.

- Esse negócio de decidir sobre a classe de escola dominical foi seu último catálogo

telefônico, não foi? indagou Katie.

- Meu último catálogo telefônico? Como assim?

- Isso é a nova teoria que estou criando, explicou a outra. Lembra que lhe contei que um

dos trabalhos mais interessantes que tive nas férias foi entregar catálogo nas casas?

Cris fez que sim.

- Pois é. E logo no primeiro dia, percebi que conseguia carregar só oito catálogos de

cada vez. Se pegasse mais um, deixava cair todos eles.

Cris ainda não conseguia entender o que ela queria dizer.

- E quando o Ted veio lhe perguntar sobre dar aula na escola dominical, você já estava

“carregando” um bocado de pesos. Pense só. Estava com o cansaço da viagem. Teria de

decidir sobre sua especialização. Havia a preocupação de arranjar um emprego. Estava

 preocupada com o fato de não conseguir assumir um compromisso com o Ted para o resto da

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vida. E aí – pá! - vem a questão da classe. Foi o último catálogo telefônico.

- Ah, igual a gota de água que faz o balde derramar, comentou Cris.

- Isso mesmo. Só que o que você estava carregando não eram simples gotas de água. Era

mais como um catálogo pesado. Uns dois deles dá pra carregar de uma vez. Mas quando a

gente chega ao limite, tem a sensação de que vai deixar tudo cair.

Cris recostou-se na cama. Percebeu que estava respirando mais tranqüilamente. Fazia

tempos que não se sentia assim.

- Você disse exatamente o que eu estava sentindo, comentou.

Katie sorriu, muito satisfeita consigo mesma.

- E não precisa pagar nada pela “consulta”, disse. Aquele dia que fomos à drugstore e

você quase chorou porque não sabia que marca de sabão iria comprar, achei que iria ter um

colapso. Que bom que ‘tá dizendo que vai tomar cada decisão separadamente, uma de cada

vez.

- E você?

- Que é que tem eu?

Katie se levantara, ligara o som e pegara uma tirinha de goma de mascar de uma

caixinha que estava em sua estante.

- Você não tinha uma entrevista com o orientador hoje? perguntou Cris. Ou foi adiada?

- Não. Eu e o pessoal aí fomos à cidade pra tomar o café da manhã, e depois fui pra

entrevista às 10:00h. Selena também tinha uma entrevista com o consultor de finanças, e

depois fomos fazer compras.

- Afinal, você mudou alguma matéria?

- Não; vou continuar mesmo fazendo Botânica. Disse ao orientador que meu projeto de

vida é criar chás de ervas, e ele quase caiu na gargalhada.

- Você não lhe falou sobre seu canteiro de ervas e das experiências que fez no semestre

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 passado?

- Ainda não. Só vou falar quando uma das minhas experiências der certo.

Cris sorriu. Recordou-se de que a amiga lhe enviara um e-mail, narrando um fato

hilariante. Ela cultivara algumas ervas e fizera uma mistura delas e preparara um chá. Era sua

 primeira tentativa nesse sentido. O resultado foi que dois dos cinco colegas da turma de

Química tinham apresentado alergias na pele. Os outros três queixaram-se de dores no

estômago. Ao que parecia, Katie fora a única da turma que não tivera nenhuma reação.

- Ah, disse Katie, hoje de manhã, quando você estava aí “morta para o mundo”, sua tia

ligou. Queria vir pegá-la pra almoçar. Eu lhe disse que você não poderia sair.

- Oh, Katie, isso foi muito legal. E falou a verdade. Muito obrigada.

- É, mas talvez não me agradeça quando ouvir o resto. Ela disse que virá aqui amanhã,

 por volta do meio-dia, pra apanhá-la pra irem almoçar. E falou que se você tiver outro

compromisso é bom desmarcar, porque essa é a única hora que ela poderá vir.

- Ah... e ela disse o que queria?

- E ela diz? indagou Katie, rindo. Quero dizer, ela precisa de alguma razão forte pra

interferir em sua vida e começar a mandar e desmandar?

- Talvez ela esteja aborrecida de eu não ter telefonado pra ela depois que cheguei. No

sábado, eu perguntei a minha mãe por Bob e Marta e ela me disse que a última vez que os viu

ou conversou com eles foi no 4 de julho.

- Isso é meio estranho, né?

Cris deu de ombros.

- Minha mãe e Marta não são lá muito unidas. São as irmãs mais desligadas que

conheço.

- Não há duvida de que são o oposto uma da outra, comentou Katie.

- Sabe? Um dos melhores aspectos desse tempo que passei na Suíça foi saber que minha

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tia se achava a quilômetros e quilômetros longe de mim, e não a uma hora e meia de carro.

- Você gostaria que eu almoçasse com vocês amanhã? indagou Katie.

- Claro! Você pode?

- Lógico! Almoço de graça! Por que eu não iria lhe dar meu apoio moral?

Cris ficou a pensar por uns instantes, e em seguida comentou:

- Não é que eu fique inibida com minha tia, né?

- Ah, não! Disse Katie com um sorriso malicioso. Jamais...

- É porque, se você também for, quebra um pouco a tensão. Você sabe o que quero

dizer, não? Quero que você vá porque assim fica mais divertido.

- É; sou eu mesma! Sempre muito divertida!

Katie atirou o saquinho vazio na cesta de lixo e errou. Então levantou-se, pegou-o e

 jogou-o dentro dela.

- Vou lá para o campo de beisebol, anunciou. Quer ir comigo?

- Campo de beisebol? repetiu Cris, pensando que era muito estranho sua amiga querer ir 

ali.

Em seguida, porém, lembrou-se de algo.

- Ainda está à procura do “número dezesseis”?

- Número “quatorze”, corrigiu Katie. É, estou sim. Acho que não seria nada mal dar 

uma chegada no lugar onde o conheci, em junho.

- Como era o nome dele mesmo?

- Mark.

- Mark de quê?

- Só sei o primeiro nome. Já lhe disse que ainda não descobri o sobrenome dele. É

apenas Mark, “número quatorze”, o melhor jogador de beisebol da Rancho Corona.

- Sabe o que mais? principiou Cris, vestindo uma calça jeans e uma camiseta. Não

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entendo como você ainda não utilizou sua extraordinária habilidade “detetivesca” para

encontrar o cara.

A outra abanou a cabeça, fazendo seu cabelo ruivo girar de um lado para o outro, num

 jeito que era sua marca registrada.

- Não. Estou resolvida a deixar que Deus cuide da minha vida sentimental que, aliás,

nem existe ainda. Se ele quiser colocar alguém no meu caminho, irá fazê-lo na hora dele e da

maneira que desejar. É verdade que, desde que conheci o Mark, cento e quatro dias atrás,

tenho pensado muito nele.

- Cento e quatro dias, hein?!

- É, mas não vou fazer nada pra provocar um relacionamento, disse Katie.

A jovem pegou um velho boné de beisebol e o enfiou na cabeça, cobrindo o sedoso

cabelo e ajeitando as mechas laterais atrás das orelhas.

- Entretanto, interpôs Cris, mesmo assim, acha que não faz mal dar uma passada no

lugar certo, na hora certa, dando uma mãozinha pra Deus, lá no departamento da soberania

dele...

- Exatamente.

Cris calçou as sandálias e disse:

- Estou pronta. Vamos nos colocar à disposição de Deus!

- Ei! reclamou Katie, fechando a porta depois que saíram. Não zombe dos meus

métodos! Estou apenas fazendo uma tentativa!

- É! ‘Tá só fazendo uma tentativa! replicou Cris, disfarçando uma risadinha.

- Não converso mais com você, Cris.

E as duas saíram do dormitório feminino, onde ficavam as estudantes do último ano, e

se dirigiram para o centro do campus, ainda sorrindo. Cris sentia-se aliviada ao ver que seu

relacionamento com Katie voltara a ser como antes. Sua depressão decorrente dos efeitos da

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viagem não provocara nenhuma crise seria entre elas. Isso era algo que ela apreciava muito

em Ted e Katie. Ele, com seu jeitão calmo e tranquilo, e a amiga, com sua personalidade

alegre, respeitavam suas mudanças de humor, não deixando que elas alterassem o

relacionamento deles.

As duas foram caminhando, vendo vários caminhões parados junto à porta de entrada

dos dormitórios. Dezenas de alunos estavam chegando à escola e descarregando seus poucos

 pertences. Cris ficou satisfeita de ter vindo mais cedo, com tempo de sobra para se ajustar e

recuperar o sono perdido. Se tivesse ficado em casa, em Escondido, provavelmente não

 poderia ter descansado como precisava.

Fora seu pai quem tivera a idéia de ela ir logo para a faculdade. Ele disse que só poderia

levá-la lá assim que chegasse de Basiléia, ou então no sábado à tarde. Na segunda opção, ela

não teria tempo suficiente para descansar e se acomodar, antes de as aulas iniciarem. Além

disso, eles tinham a esperança de que, vindo mais cedo, ela tivesse a oportunidade de arranjar 

um trabalho ali. Sentia-se um pouco incomodada de não haver feito nada nesse sentido ainda.

Aliás, isso era um dos “catálogos” que ela estava carregando.

- Eu amo este tempo! exclamou Katie.

Evidentemente, ela se esquecera de que acabara de dizer que não iria mais conversar 

com Cris.

- Gosto quando ainda ‘tá fazendo calor, mas sopra essa brisa, mesmo depois que o Sol

se põe, continuou ela. Parece um verão indiano. Talvez eu invente um chá e coloque o nome

de “Verão Indiano”. Que Tal?

- Gostei, replicou Cris. Também gosto desta época do ano. Este calor seco e com vento

me faz pensar em novidades, em um recomeço. É que na ocasião em que nos mudamos pra

Escondido o tempo estava mais ou menos assim. Foi quando a gente se conheceu, lembra? Foi

naquela vez, quando estávamos no segundo ano, que dormimos todas na casa de uma colega.

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E as duas foram atravessando o campus, em direção ao salão de reunião dos estudantes.

Ali ela apontou a placa para a colega. O prédio era bem amplo. Nele havia o centro estudantil,

a “Selva”, as caixas postais dos alunos e, no andar superior, uma enorme sala de estar. Assim

que entraram na sala, Cris observou que havia muitos estudantes. Era a primeira vez que via

tanta gente ali, desde que chegara na escola, uma semana atrás. Agora aquele lugar estava

começando a parecer uma universidade. Antes lembrava mais uma “cidade fantasma”. A

cantina local iria começar a funcionar nesse dia. Isso significava que ela iria economizar seu

escasso dinheirinho, que estava gastando com as refeições.

Desceram para a lanchonete e entraram na fila - que aliás não era muito longa - para

 pedir algo.

- Agora é minha vez de pagar, disse Cris.

- Eu trouxe dinheiro, replicou Katie.

- Mas você me levou dois sanduíches.

- Pra falar a verdade, eu paguei com um daqueles cupons de promoção, em que se

compra um e leva dois. Peguei esse cupom naquele posto de gasolina que fica no pé do morro.

Eu abasteci lá outro dia.

A Universidade Rancho Corona ficava situada num planalto e, para ir à cidade, os

alunos tinham de descer o morro. Cris tinha certeza de que Katie devia conhecer todos os

 postos da região. É que a amiga gostava muito de seu novo carrinho, um veículo de cor 

amarelo berrante, um “fora de série”, parecido com um “bugue”. E Katie apreciava estar com

o tanque sempre cheio e as vidraças, bem lavadinhas.

- O.k., disse Cris, agora estamos quites. E não se esqueça de agradecer ao seu carro por 

mim.

Katie apontou para uma mesinha, cujos ocupantes tinham acabado de sair.

- Pega aquela mesa ali pra nós, sugeriu ela. O que você vai querer tomar?

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- Limonada.

- Limonada?

- É, limonada. Não quero bebida quente agora. O que desejo nesse momento é a nossa

velha e simples limonada.

- ‘Tá bom, limonada, repetiu Katie.

E se dirigiu para o fim da fila dos sucos, enquanto Cris se instalava na mesa indicada,

que ficava junto a uma janela lateral. Correu os olhos pelo salão e se deu conta de que não

conhecia nenhum dos presentes. Sentia-se meio estranha, recomeçando os numa outra escola.

Estava bem feliz pelo fato de Katie estar estudando ali, e também Selena e Ted.

Os amigos da gente fazem uma diferença tremenda em nossa vida! pensou.

Lembrou-se das colegas de quarto na escola da Suíça, ambas alemãs. Eram muito legais,

mas Cris não conseguia acompanhá-las em suas atividades sociais. Então, na maior parte de

seus momentos de folga, ficava no dormitório mesmo. Aliás, até gostava de estar a sós depois

do trabalho no orfanato, onde se via sempre cercada pela algazarra das crianças. Agora,

 porém, que se achava de volta à Califórnia, desejava muito viver uma situação diferente nessa

faculdade. Queria passar muito tempo na companhia dos amigos mais chegados.

 Isso pode ter sido um dos motivos por que tive aquela reação contrária, quando Ted me

 falou sobre lecionar na escola dominical. Talvez esteja com medo de ter de dedicar meus

momentos de folga a essas alunas, se assumir esse compromisso. Ah, não estou a fim disso,

não. Preciso passar mais tempo com minhas amigas.

 Nesse momento, Cris voltou sua atenção para um rapaz alto e magro que entrava na

“Selva”. Experimentou uma agradável sensação calorosa.

 Mark Kingsley! Olha só! Mamãe tinha razão! Puxa, você ficou tão alto, não?

 Não havia dúvida de que aquele rapaz era um conhecido de infância, de sua terra,

Wisconsin. Recordou-se de que, quando ainda estava na escola fundamental, tivera uma

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“paixonite” infantil por ele.

O rapaz, que usava um boné de beisebol, correu os olhos castanhos pelo recinto. A

última vez que Cris o vira fora três anos atrás, quando tinham ido àquele estado para a

comemoração das bodas de ouro de seus avós. Manteve os olhos fixo nele, na expectativa de

ver se ele a reconheceria.

Mark passou o olhar por ela uma vez. Em seguida, olhou-a de novo, deu um sorriso e

veio em sua direção, a passos largos. Cris sentiu um “alvoroço” na boca do estômago e soltou

uma risadinha alegre. O colega chegou e cumprimentou-a com um abraço meio desajeitado.

Ela sentiu o ombro forte dele comprimindo sua orelha, e notou que o cheiro dele era de quem

estava meio suado.

- Oh, então você ‘tá aqui! exclamou Mark, sorrindo e sentando-se numa mesinha

 próxima.

- É, estou, repetiu ela. E você também. Como estão as coisas pra você?

- Tudo ótimo! Acabei de chegar. Estava viajando desde às 5:00h da madrugada. Ah,

Cris, que bom vê-la! Sua mãe lhe disse que liguei segunda-feira?

- Não; estou aqui a semana toda. E não conversei com ela nem uma vez. Está com

fome?

A jovem se deu conta de que estava falando igual a sua mãe. Aquela era a conversa

típica a que estava acostumada desde pequena, quando morava numa fazendinha de gado

leiteiro. Sempre que os homens da casa chegam do trabalho no campo, a mulher pergunta se

querem comer algo.

- Não, replicou ele. Já lanchei. Estou procurando meu colega de quarto. Ele disse que

estaria me esperando aqui. Ele ‘tá com nossa chave. Mas não o vejo em parte alguma. É o

Peter Santos, o mesmo cara que dividiu o quarto comigo no ano passado. Conhece?

- Não, mas minha colega deve conhecer. Parece que ela conhece todo mundo nesta

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escola.

Cris se virou para a fila e viu que Katie já chegara na frente e estava pagando a compra.

Mark espiou para fora e se inclinou para a frente, aproximando-se mais da jovem, buscando

um ângulo de visão maior.

- Ah! Lá está ele, disse o rapaz. Ei, Peter! gritou, batendo de leve na vidraça.

O outro virou-se e lhe fez um gesto, chamando-o para fora

- Eu já devia saber que ele estaria falando ao celular, comentou Mark. Conversa nele o

tempo todo. Devia colocar uma armação para fixá-lo na cabeça.

Cris desviou os olhos da janela e voltou a fitar o amigo. Ele também a olhava fixamente.

- Eu queria ficar mais tempo aqui, comentou o jovem com uma expressão sincera, mas

deixei o carro num lugar de estacionamento proibido.

Ele se ergueu e pôs a mão no braço da amiga, dando-lhe um aperto de leve.

- Que tal se a gente tomar o café da manhã junto, amanhã? sugeriu ele. Temos um

 bocado de assunto pra por em dia...

- Claro! replicou Cris, mas logo em seguida se lembrou de algo. Não! Espere. Já tenho

um compromisso pra amanhã cedo.

- E o almoço? indagou ele.

- Tia Marta virá me pegar para almoçarmos.

- E então, que tal jantar? Às 6:00h? Vamos nos encontrar na cantina.

- ‘Tá ótimo, concordou Cris. Encontro com você lá.

Mark fez uma pausa e depois disse:

- Foi muito bom vê-la, Cris!

- E eu digo o mesmo! falou a jovem.

- Então amanhã às 6:00h... repetiu o rapaz.

- Às 6:00h.

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Mark saiu caminhando pela lanchonete lotada, acenando para várias pessoas, dirigindo-

se para a porta.

 Mark Kingsley! Quem iria pensar que um dia iríamos acabar estudando na mesma

 faculdade!

Cris ainda estava sorrindo no momento em que Katie chegou à mesa.

- Acabo de ver um cara que é da minha cidade, disse Cris. E você não vai acreditar, mas

eu era “apaixonada” por ele quando menina.

Katie colocou o copo de limonada em frente da amiga. E, ignorando o que ela acabara

de dizer, comentou:

- Você não vai acreditar no que acabei de fazer. Mas pode me agradecer.

- Ah, obrigada pelo refresco, disse Cris.

- Não; não é pelo refresco, retrucou Katie. Pode me agradecer porque acabo de arranjar 

um emprego pra você aqui no campus.

- Onde?

- Primeiro me agradeça.

- Obrigada, Katie.

- De nada.

Katie se sentou e tomou um demorado gole de seu café com leite, que estava fumegante.

Cris esperou um pouco, mas vendo que a amiga não dava logo os detalhes, sua expressão de

expectativa logo se transformou em irritação.

- Ah, você quer saber onde é... É na livraria, disse finalmente. Lá na fila, eu estava

conversando com umas pessoas e um rapaz me deu a dica. Disse que tinha pensado em

trabalhar na livraria, como fizera no semestre passado. Mas agora arranjou um serviço lá na

cidade, com um salário melhor. Eles ainda não estão anunciando a vaga na livraria, porque só

amanhã, às 9:00h, é que esse moço vai lá avisar que não continuará no trabalho. Então, se

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você for lá às 9:05h, aposto que eles vão contratá-la na hora.

- Mas não sei se até essa hora já terminei a entrevista com meu orientador.

- ‘Tá bom. Então vá lá às 9:30h. Sabe o que mais? Vou pedir ao colega pra deixar pra ir 

lá só depois das 10:00h pra dar o aviso de que vai sair. Assim você terá tempo de folga pra

chegar lá. Ele disse que se você quisesse ele a recomendaria para o lugar dele.

Cris hesitou ligeiramente.

- O.k., disse afinal, acho que dá. Como é o nome dele?

- Não sei, respondeu Katie. Ele ‘tá ali. É aquele de camisa verde, que ‘tá conversando

com o Wesley. Você conhece o Wesley, não? É o irmão da Selena.

Antes que Cris respondesse, Katie se levantou e foi andando rapidamente em direção

aos dois, para falar de novo com o rapaz. Em dado momento, ela se virou para trás e apontou

 para a amiga. Cris fez um aceno com a mão para se identificar. Pensou em ir até lá para

conversar também, mas teve receio de que alguém pegasse a mesa delas.

Katie retornou, estampando no rosto um ar de satisfação.

- Foi até fácil, explicou. Então, às l0:00h, ou melhor, 10:05h. Você vai ter de chegar lá e

 procurar uma mulher chamada Donna. Aja como se soubesse perfeitamente o que está

fazendo e ele vão lhe dar a vaga.

- Oh, Katie, interveio Cris, você sabe que não precisava fazer nada disso, né?

A jovem não entendia bem por que estava resistindo levemente à possibilidade de pegar 

esse serviço, já que parecia o ideal para ela. Talvez fosse porque não gostava quando alguém

achava que ela era meio parada e não conseguia resolver os próprios problemas, ou tomar as

 próprias decisões. Então essa pessoa passava na frente dela e tomava providências em seu

lugar.

- Acho até que foi “coisa de Deus”, disse Katie em tom alegre. Sabe que há muito

 poucas vagas de trabalho aqui no campus, né?

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- É só que não quero trabalhar muitas horas, comentou Cris. Este ano, pretendo ter um

 pouco mais de folga para gozar melhor da companhia de amigos e colegas.

- Então, explique isso pra Donna, quando for lá conversar. Ela é muito legal. Eu até

gostaria de trabalhar com ela. Além disso, todo mundo vai à livraria. Assim você terá os

contatos sociais no próprio trabalho. Vai dar tudo certo.

Cris se pôs a bebericar a limonada.

- Você tem certeza de que não quer tentar ficar com essa vaga? indagou.

Katie deu um sorriso.

- Ah, eu ainda tenho algum dinheiro na poupança, que dá até janeiro. Só depois disso é

que vou começar a procurar trabalho, isto é, pedir a Deus um milagre. Enquanto isso, vou só

curtir esse período em que posso ficar de folga, o que é raro, e gozar mais da companhia do

 pessoal, com uma vida social bem intensa.

- Com isso, estou até começando a me sentir uma coitada. E ainda nem consegui o

trabalho...

Katie parecia não ter escutado o comentário da colega. Estava olhando para fora, a

atenção voltada para algo que ocorria lá. Cris também se virou para lá e viu cerca de uns vinte

alunos no pátio, em volta das mesinhas que havia ali. Do lugar em que se encontrava, não viu

nem Peter nem Mark no meio do grupo. Não conhecia nenhum dos outros estudantes ali

reunidos. Notou que muitos estavam rindo e se abraçando, ou acenando para alguns que se

aproximavam. Deduziu que deviam estar chegando nessa hora.

- Espere aí, disse Katie. Acho que chegou o meu número!

- Chegou seu número?

- É o “número quatorze”, gritou a colega, já correndo para ir se reunir aos estudantes

que estavam lá fora, no pátio.

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3

Já era bem tarde da noite quando Katie chegou ao quarto. Cris estava deitada.

- ‘Tá dormindo? indagou a colega.

Cris virou-se na cama e se esforçou para abrir os olhos. A lâmpada suave, que deixara

acesa na mesinha da outra, agora parecia clara demais.

- Ah, desculpe, Cris! Comecei a conversar com uma porção de gente e quando voltei à

mesa você já tinha vindo embora. Deixei você lá sozinha um tempão. Me perdoa!

- Tudo bem! replicou a outra. Percebi que estava muito alegre lá, pondo o “papo” em

dia. Vim embora porque queria ligar para o Ted, mas não muito tarde. Devia ter te avisado

que estava vindo para o quarto.

- O tempo passou depressa demais! explicou Katie.

- Não “esquente”. A gente também não pode ficar pedindo desculpa uma à outra todas

as vezes que ocorrer algo assim, comentou Cris, erguendo-se um pouco.

Apoiou-se nos cotovelos e passou a mão no pescoço, que estava meio dolorido.

- Você já tem muitos amigos aqui, continuou. Não posso querer que fique me esperando

ou que me leve a todo lugar que for.

- Tem razão, concordou Katie, tirando o sapato e acendendo a luz do quarto.

Cris piscou, incomodada com a claridade súbita.

- Foi bom você ter dito isso, prosseguiu a outra, pegando um baldezinho com seus

artigos de higiene pessoal.

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Ela tivera a inteligente idéia de colocar o xampu, o sabonete e a pasta de dentes na

vasilha, e fizera uns buracos no fundo dela para utilizá-la debaixo do chuveiro.

- É bom a gente ficar sempre bem livre, com um relacionamento bem franco, disse.

- Sempre, repetiu Cris, percebendo que despertara totalmente. Agora me conte sobre o

Mark, o “número quatorze”. Ele ficou feliz de revê-la?

- Não era ele, não. Bom, pelo menos quando cheguei lá fora, ele não estava mais ali, se

é que estivera antes.

Katie abriu a gaveta da cômoda e pegou um short de flanela e uma camiseta.

- Nem tenho certeza se ele vai voltar pra estudar este ano! Vou tomar um banho rápido,

explicou. Tinha uns caras que estavam brincando lá, e acabei com as costas cheias de creme

de barbear. Tchau! Volto já!

Katie saiu rapidamente porta afora e não ouviu a colega dizer:

- Será que da pra você apagar a...

Esforçando-se para levantar e colocando os pés no chão frio, Cris foi apagar a luz.

- Tenho de lembrar de comprar um tapete, resmungou, e caiu na cama de novo.

Sabia que, se começassem a conversar quando a colega voltasse do banho, iriam ficar 

falando durante horas e horas. Queria ficar com o sono em dia, enquanto pudesse, então fez

força para voltar a dormir, antes que Katie retornasse.

O primeiro som que escutou depois disso foi o enervante toque da campainha do

despertador. Era um barulho meio estridente, mas Cris preferia assim. Se acordasse com

música ou com um ruído mais suave, poderia voltar a dormir, sem querer.

- O que é isso? gritou Katie do seu canto.

- Sou eu! disse Cris em voz baixa. Pode continuar dormindo. Tenho de levantar cedo

 por causa da entrevista.

- Hummm... resmungou Katie, virando-se para o canto.

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Caminhando de leve, Cris foi até a janela e puxou a cortina um pouquinho. Seria outro

dia claro e ensolarado. Daria para usar a saia e a blusa que escolhera na noite anterior. Era a

melhor roupa informal que tinha e parecia a escolha acertada para a entrevista na livraria, que

acreditava que teria, após a conversa com o orientador.

Procurando não fazer barulho, colocou a cadeira perto da janela, pegou a Bíblia e seu

diário e se sentou. A luz do Sol batia diretamente nas páginas abertas do livro em seu colo.

Fez uma oração e, em seguida, pôs-se a ler, a partir do lugar onde parara dias antes. Ela

 planejara ler todo o Novo Testamento durante as férias, mas chegara só até ao primeiro

capítulo do Evangelho de João.

Seus olhos caíram no versículo 12. Sublinhou-o e o releu em voz sussurrada: “Mas, a

todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que

creram em seu nome”. A seguir, fez uma anotação em seu diário.

 Deus me concedeu o direito de me tornar sua filha, porque o recebi em meu coração e

na minha vida, e cri em seu nome. Então Deus me “adotou” como filha.

Cris mordeu a ponta da caneta ao se lembrar das crianças do orfanato de Basiléia, que

viera a amar muito. Aqueles pequeninos estavam sempre esperando que aparecesse alguém

que lhes desse o direito de se tornarem filhos adotivos. O mero fato de se recordar deles,

daqueles rostinhos ansiosos, lhe trouxe lágrimas aos olhos. Tinha pensado em ler até o fim do

capítulo, mas parou ali e se pôs a orar pelos órfãos, citando o nome de cada um. O Sol que

entrava pela janela começou a queimar seu braço. Lembrou-se de que precisava sair. Se

ficasse, poderia passar a manhã toda orando, dominada por uma nuvem de melancolia.

Fechou a Bíblia e disse a si mesma que precisava seguir com a vida e assim tirou

aquelas crianças do pensamento. Silenciosamente, saiu para tomar banho.

A entrevista com o orientador transcorreu muito bem. Seu histórico escolar já havia

chegado de Basiléia. Com os cursos que fizera ali, obtivera até mais créditos do que pensara.

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Se fosse se especializar na área pedagógica, agora só precisaria fazer as disciplinas didáticas.

Entretanto disse ao orientador que havia mudado de idéia. Não queria mais essa área.

- Estou pensando em fazer Ciências Humanas, disse-lhe, ou talvez Literatura Inglesa.

- Pois não, comentou ele, fazendo uma anotação a lápis na pasta dela.

Cris tentou, despistadamente, ver o que ele escrevera ali.

- Acho que estou mais interessada mesmo é em Literatura, continuou.

- Vai dar para você fazer qualquer uma das duas, informou ele, pois as disciplinas que já

fez lhe dão uma boa base para isso. Eu estava fazendo a soma de seus créditos aqui, e vi que

se quiser fazer Literatura Inglesa, poderá terminar em junho do ano que vem. Neste semestre,

 poderá fazer três unidades, e no próximo, deverá fazer a carga completa: dezesseis unidades.

- ‘Tá bom, replicou ela.

Logo em seguida, porém, arrependeu-se de haver concordado prontamente. Em

Basiléia, havia estudado demais, e depois de terminado o ano lá, tinha pensado em “pegar 

leve” nesse semestre. E queria isso inclusive com relação ao trabalho que, aliás, ainda não

tinha. O primeiro assunto de sua lista de prioridades agora era a vida social.

- Será que posso dar uma estudada nisso tudo e voltar aqui pra decidir no início da

 próxima semana? perguntou ela.

- Claro, mas, quanto mais cedo, melhor. Hoje à tarde, às 4:00h, tenho um horário vago.

Se a essa altura já tiver resolvido e quiser vir, tudo bem. Pode levar o catálogo. Marque nele

as disciplinas que você ainda precisa fazer. É bom já estar chegando a reta final, não é?

concluiu ele com um sorriso animador.

Cris fez que sim. Pouco depois saía da sala dele, lutando contra uma sensação de pânico

que a atormentava. Dias atrás, Katie fizera o mesmo tipo de comentário com relação a ela e

Ted. Mencionara algo no sentido de que os dois se achavam na reta final do seu

relacionamento. Era como se eles estivessem se preparando para entrar no corredor central da

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igreja, para se casarem. A palavra do orientador lembrou a Cris que ela se achava na reta final

também dos estudos. Muito em breve estaria entrando no corredor central do salão nobre da

escola, para a cerimônia de formatura. O fato, porém, era que, naquele momento, não se sentia

 preparada para nenhum dos dois eventos.

Chegou à livraria exatamente às 10:10h. Sua entrevista ali já foi menos estressante e

ajudou-a a voltar o pensamento para o presente.

Assim que entrou na loja, lotada naquele momento, perguntou por Donna. Ouvindo sua

indagação, uma mulher, usando um blazer amarelo, veio de uma saleta dos fundos e indagou:

- Você é a Cris?

- Sou.

- Ótimo, entre aqui, por favor.

Donna era uma mulher de bela aparência, a pele de tom caramelo. Seu cabelo castanho-

alourado estava preso atrás da cabeça com dois palitos chineses. Sobre sua mesa, havia um

 bulezinho azul de chás e uma xícara de porcelana.

- Sente-se, disse ela, indicando uma cadeira.

 No chão, ao lado da mesa, viam-se várias caixas de livros, ainda fechadas.

- Sei que está meio cheio aqui, prosseguiu ela, e vai ficar assim até a gente guardar esses

livros didáticos na estante, na semana que vem. Aceita um pouco de chá? Acho que ainda está

quente.

Colocou a mão de leve no lado do bule.

- Não, obrigada, replicou Cris, pensando em como faria para alcançar a última caixa da

 pilha sem muito esforço.

Donna sentou-se e sorriu para a jovem. As duas travaram um curto diálogo informal, e

em seguida a primeira indagou:

- Quantas horas por semana você gostaria de trabalhar?

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- Umas quinze horas. Talvez menos. Acabei de ficar sabendo que terei de fazer mais

uma disciplina neste semestre.

- Olha, nas duas primeiras semanas poderei ter serviço para quinze horas. Depois,

 porém, vão ser mais ou menos dez ou doze horas. ‘Tá bom assim?

- ‘Tá. Assim ‘tá ótimo, acho.

- Preciso de um xerox do seu horário de aulas, e já quero avisar que não temos mais

vagas para os finais de semana. Então seu trabalho será de segunda a sexta. ‘Tá certo?

- ‘Tá perfeito; obrigada! replicou Cris, sorrindo para Donna.

Ela havia pensado que a entrevista seria mais complicada do que estava sendo. Donna

era uma pessoa muito direta no modo de tratar com ela, mas ao mesmo tempo muito

agradável.

- Não, eu e que agradeço. Uns minutos atrás eu já estava achando que iria ter de passar a

semana toda procurando alguém para trabalhar aqui. Mas você veio muito bem recomendada.

Cris achou meio curioso pensar que um rapaz que ela nem conhecia a havia

recomendado, só porque Katie lhe falara sobra ela na noite anterior. Isso deveria ser um dos

 benefícios de se estudar numa universidade cristã de pequeno porte. Numa comunidade assim,

o fator confiança pesava bastante.

Em menos de vinte minutos, ela preencheu a papelada que Donna lhe apresentara. E

quando esta lhe ofereceu chá novamente, resolveu aceitar. Tinha sabor de pêssego e era bem

revigorante.

- Na segunda-feira, quando você vier para começar, eu lhe dou os outros detalhes do

trabalho, informou Donna. Alguma pergunta?

- Creio que não.

- Então, até segunda, disse a outra com um sorriso.

Cris saiu da livraria e dirigiu-se para o dormitório, impressionada de ver como tinha

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sido fácil. Ainda faltava uma hora para Tia Marta vir buscá-la para o almoço. Nesse intervalo,

queria ligar para os pais e contar-lhes a respeito do trabalho.

Como já havia imaginado, a mãe ficou bastante aliviada com a notícia.

- Seu pai vai gostar de ouvir isso, querida. Ontem à noite mesmo, ele estava indagando

se você já havia arranjado alguma vaga.

- A senhora sabe que a Tia Marta vai vir aqui pra me levar pra almoçar? indagou Cris.

- Ah, vai? Muito legal da parte dela.

- A senhora acha que ela ficou aborrecida por eu não ter ido visitá-la nem ter ligado pra

lá, depois que cheguei da Suíça?

- Não sei.

- Ah, e eu pedi a Katie pra ir almoçar conosco, para o caso de eu precisar de um apoio

moral.

- Como vocês duas estão se dando? quis saber a mãe de Cris.

- Muito bem, como sempre. Aliás, foi ela que me ajudou a arranjar esse trabalho.

- É? E não foi ela também que a ajudou a arranjar aquele serviço no pet shop?

- É mesmo! Foi sim. Que bom que a senhora se lembrou disso. Tenho de agradecer a ela

duas vezes. Se não fosse por ela, será que eu encontraria emprego?

Mamãe deu uma risadinha.

- Você daria um jeito, disse ela. Quem consegue passar um ano estudando na Suíça,

consegue qualquer coisa.

Cris tinha pensado em comentar com a mãe que ainda não decidira a respeito do curso

que iria fazer. Contudo, ao ouvi-la fazer aqueles elogios, dizendo que ela era capaz de dirigir 

 bem a própria vida, desistiu de tocar no assunto. Assim que já tivesse com essa questão

resolvida, ligaria para casa. Desse modo, seria mais fácil. Ouvindo aquele comentário da mãe,

ela se sentiu uma pessoa competente e realizada.

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- É alongamento. Não ficou lindo?

- Lindo, repetiu Cris mecanicamente, num tom que mais parecia pergunta do que

afirmação.

- As duas levaram um susto, né? continuou Marta. É minha nova personalidade. Nova

mesmo. Estou renovada em todos os aspectos do meu ser. Finalmente consegui entrar em

harmonia com minha aura artística.

As jovens se entreolharam. Se Cris não soubesse que sua tia era uma pessoa muito séria

e equilibrada, iria pensar que ela estava fazendo uma brincadeira com elas. A voz era de

Marta, sim. As mãos, de dedos longos e finos, também. E nesse instante, ela pegou a sobrinha

 pelo cotovelo e empurrou-a para que já fossem sair.

- Tia, eu... e... ahn... convidei Katie pra ir conosco, disse Cris procurando soltar o braço

das mãos de Marta.

- Oh, foi muita bondade sua! exclamou a mulher, e em seguida virou-se para a outra.

Katie, querida, sinto muito, mas hoje quero sair sozinha com Cris, ‘tá bem?

- Sem problema! replicou Katie, dando a impressão de que queria mesmo desistir do

 passeio.

Cris dirigiu-lhe um olhar significativo, agradecendo sua compreensão, e em seguida

acompanhou a tia. Em meio ao ar quente da tarde, dirigiram-se para o Lexus de cor prateada

que se achava parado em frente ao dormitório. Meio entorpecida, Cris abriu a porta do lado do

 passageiro, entrou e se acomodou no assento forrado em couro. A sensação que tinha era de

que estava sendo sequestrada por um alienígena. Virou-se para dar mais uma olhada em sua

tia. Sentiu o impulso de agarrar aquela mulher, dar-lhe um safanão e gritar:

“Não sei quem você é, nem o que fez com minha tia, mas traga-a de volta aqui agora!”

Logo em seguida, porém, lembrou-se de como a tia era antes de ter econtrado sua “aura

artística”, e mudou de idéia. Por alguns instantes, ficou sem saber qual das duas

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“personalidades” de Marta era a pior.

Tudo isso é muito estranho! O que estou fazendo aqui? O que minha tia ‘tá querendo?

 Devia ter dado uma desculpa qualquer, dizendo que não poderia ir, ou pelo menos ter 

insistido em que almoçássemos aqui no campus mesmo. Assim, se ela quisesse me obrigar a

 fazer um ritual qualquer, uma “dança da chuva”, por exemplo, eu teria gente conhecida ao

meu redor.

- Onde é que vamos, Tia Marta? indagou Cris, quando já desciam morro abaixo.

- Queria levá-la à “Colônia”, em Palm Desert, mas hoje não é dia de cerâmica. E prefiro

ir com você lá nesse dia. Então vamos apenas almoçar juntas, só as duas. Quero que me conte

tudo sobre seus estudos na Suíça. E, ademais, tenho certeza de que você também quer saber 

sobre as mudanças que ocorreram em minha vida.

Cris sugeriu que fossem ao Taco Bell.* Ficava bem perto, e muitos dos alunos da escola

iam comer ali. Nesse lugar, iria se sentir mais segura. Contudo, ao que parecia, a “aura” de

Marta não estava muito a fim de comida mexicana. Então acabaram indo para um tranquilo

restaurante japonês. Tiveram de tirar os sapatos para entrar e sentaram-se no chão, junto às

mesinha baixas, típicas. Marta fez o pedido pelas duas e depois virou-se para a sobrinha.

- Agora me conte tudo sobre esse ano que passou na Suíça.

- Foi um ano ótimo, principiou a jovem.

 Nesse momento, um mosquito passou voando por elas, zumbindo forte. Marta deu um

tapa nele, com uma raiva que assustou Cris.

- Bicho sujo! disse a mulher em voz alta. E num restaurante! Eu achava que os donos

deste lugar cuidavam bem dele, para não haver tal imundície!

Era a primeira vez que a “velha” Marta se manifestava na presença de Cris. Contudo,

imediatamente, a tia voltou sua atenção para a jovem de novo.* Taco Bell - uma rede de lanchonetes que serve comida mexicana, principalmente “tacos”, um tipo de

sanduíche. (N. da T.)

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- Mas você estava dizendo...

- O ano que passei na Suíça foi ótimo! repetiu Cris. Tenho até de lhe agradecer, tia, pelo

que a senhora fez para que eu fosse estudar lá.

- Não! Não precisa me agradecer!

- Houve algumas dificuldades, mas valeu muito a pena.

- Que bom! disse Marta com firmeza, como se estivesse batendo um prego numa tábua.

Agora, talvez você esteja sem entender as mudanças que tive, né?

 Puxa, mas o que falei sobre um ano foi bem resumido!

- Cristina, continuou a tia, eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer, mas o fato é

que fiquei sabendo que tenho alma de artista. Tudo começou quando conheci o Cheyenne

numa exposição de arte em Laguna. Ele me convidou para assistir às suas aulas de cerâmica.

Fui e tive a maior surpresa. Descobri que tenho muito talento para essa atividade. Então o

Cheyenne me levou para a “Colônia”.

- Tia Marta, interveio Cris, ‘tá parecendo que a senhora foi atraída para um tipo de seita,

ou algo assim.

- Seita? Que é isso? Lá não tem nada de religião. É apenas um grupo de artistas. São

espíritos afins, que se expressam criando arte e beleza. Minha filha, eu não quero saber de

religião. Desde que seu tio teve aquela experiência de novo nascimento no ano passado, ele

ficou impossível. Agora ele tem uma amante, sabia? Ele me abandonou por causa dela.

Cris ficou profundamente chocada e não escondeu seu espanto. Sabia que o Tio Bob

havia se convertido ao cristianismo de forma radical, já que antes era agnóstico confesso. Será

que ele iria abandonar o Senhor Jesus tão depressa assim e ter um caso com outra mulher?

Como é que ele fora fazer uma coisa dessas?

- Não fique tão abalada, Cristina. Estou me referindo à igreja. A amante do Bob é a

igreja. Ele vive indo à igreja e fala dela o tempo todo. Nós dois não temos mais quase nada

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em comum. Ultimamente, ele até tenta me convencer a abandonar a “Colônia”, e eu procuro

fazer com que ele deixe a igreja. Mas parece que chegamos a um impasse.

A garçonete japonesa chegou e ajoelhou-se junto à mesa delas. Era uma mulher 

 pequenina, usando um quimono. Fez uma inclinação de cabeça e serviu-lhes uma sopa, em

tigelas de cerâmica. Disse-lhes que não a tomassem com colher, mas que a bebessem,

segurando a vasilha com ambas as mãos.

Cris fez uma pausa e orou em voz baixa, agradecendo o alimento. Queria ter coragem

de fazê-lo de forma audível, na presença da tia, como já fizera anteriormente. Hoje, porém, as

 palavras ficaram como que “paradas” na garganta. E o caldo quente, de certa forma, as

empurraram mais para baixo, para o fundo de seu ser. Se aquilo tudo não a estivesse deixando

tão preocupada, iria achar a dramática transformação de sua ti até hilariante.

- No dia em que você for comigo lá, no dia da cerâmica, continuou Marta, quero que

convide o Ted. E pode chamar a Katie também, se quiser. Ah, e pode levar aquela sua amiga

do cabelo encaracolado. Como é mesmo o nome dela? Siena?

- Selena.

- Ah, é, Selena. Pode chamá-la também. Aí vou lhes mostrar todos os artigos de

cerâmica que já fiz. Cristina, isso está libertando meu ser interior. Espere só até você ver em

exposição os objetos que criei. Vai ficar toda feliz!

- Tia Marta, eu...

Cris ficou a procurar as palavras certas para dizer à tia que não precisava ver suas obras

em cerâmica para ficar feliz com ela. Também não queria que esta simplesmente achasse que

 poderia “raptá-la” de novo, e ainda mais que nessa segunda vez, estaria envolvendo seus

amigos.

- Não precisa... Quero dizer, eu acho...

 Não estava conseguindo encontrar os termos adequados

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 Nesse momento, a garçonete voltou com uma bandeja para recolher as tigelas de sopa.

Depois colocou diante de cada uma um prato com sushi, peixe cru e umas tigelinhas de

molho. Na mesma hora, Cris perdeu a vontade de comer. Quase “devolvia” a sopa que

acabara de comer.

Marta continuou a falar, como se a sobrinha não tivesse dito nada.

- Bom, agora vou lhe contar algo, mas quero que me prometa que não vai falar pra

ninguém. Pra ninguém mesmo. Nem para o Ted, nem pra sua mãe. Pra ninguém.

Cris achou que já chegava de situações falsas, mas estava se sentindo tão incomodada

que a única maneira de acabar logo com aquilo era concordar com a tia. Então acenou que sim

num movimento lento, aceitando o que ela dizia.

- Não; quero que prometa em viva voz, insistiu Marta. Diga que promete que não vai

contar a ninguém.

Cris hesitou. Para ela, uma promessa era algo muito sério. Fora por isso que continuara

no orfanato até o fim, mesmo sabendo que seria estressante para ela. Assumira o

compromisso de ficar um certo período de tempo, e ficara. A seu ver, prometer era como fazer 

um voto diante de Deus. E a Bíblia deixa bem claro que, sempre que fazemos um voto para o

Senhor ou para outra pessoa, ele fica atento. E espera que o cumpramos

Cris tinha a sensação de que a sopa estava “rodando” em seu estômago. O cheiro do

sushi lhe dava ânsias de terminar logo aquele almoço. Então, afastando o prato com o

alimento e acenando que sim, disse:

- Prometo, Tia Marta. Não vou contar pra ninguém.

Aceitando a resposta sincera da sobrinha, a mulher se endireitou, deu um suspiro fundo

e prosseguiu:

- Bom, então você ‘tá prometendo não contar nada pra ninguém, principalmente para o

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seu tio Bob. Ele ainda não sabe o que vou lhe dizer.

Aqui ela fez uma pausa. Parecia estar esperando que Cris indagasse:

“Não sabe o quê?”

Contudo a jovem não queria dar a Marta a satisfação de lhe implorar que contasse o

segredo.

- Você é a primeira pessoa a quem falo sobre isso, disse a tia, parecendo estar 

“saboreando” aquele momento, tanto quanto Cris o estava detestando.

- É por isso que tem de guardar segredo. É que tomei uma decisão importantíssima. O

Cheyenne está fundando uma outra “Colônia” em Santa Fé. O local ficou à disposição deles

em janeiro.

Cris não entendia por que isso era uma notícia tão importante. Marta inclinou-se para a

frente, chegando mais perto dela.

- Vou para lá com ele, revelou. Vou me mudar para Santa Fé.

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4

- Espere aí, disse Ted. Deixe-me entender isso direito.

Era noite, e ele, Cris e Katie achavam-se sentados à mesa de uma pequena pizzaria na

cidade. O rapaz havia chegado ao campus uma hora depois que Cris retornara do almoço com

sua tia. Ela e Katie o tinham ajudado a levar seus pertences para o dormitório. Em seguida, ele

as convidara para irem comer uma pizza com ele. Então os três se acomodaram na kombi de

Ted, a “Kombinada”, e agora estavam ali.

- Você ‘tá dizendo que Marta estava de peruca? indagou ele recostando-se mais no

 banco e girando o copo de refrigerante, fazendo rodar o gelo dentro dele.

- Não, com alongamento, corrigiu Katie. Com umas mechas bem longas, de um cabelo

escuro que não combinava nada com ela.

- E levou-a pra almoçar num restaurante japonês?

Cris fez que sim.

- Eu queria que a Katie fosse também, mas...

- Mas minha aura não se achava bem em harmonia com a Lua, concluiu a colega. Ou

algo parecido.

- E sobre o que vocês conversaram? quis saber o rapaz.

- Ah, sobre a vida dela. Tia Marta disse que ‘tá encontrando sue verdadeiro ser através

da cerâmica. ‘Tá criando objetos de cerâmica.

- É; eu vi algumas das coisas que ela fez, na casa dela, informou Ted. O trabalho dela é

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muito bom.

- É mesmo? indagou Cris.

Ted acenou que sim.

- Ela disse algo sobre o Bob?

- Não muito.

Cris gostaria de não ter prometido à tia guardar segredo sobre o fato de que esta iria se

mudar para Santa Fé. No momento em que perguntara à tia se aquilo significava que iria se

separar do marido, ela respondera: “Ah, isso ainda vamos ver!”

- O que será que seu tio ‘tá achando dessa transformação toda? comentou Katie.

Outra vez, Cris sentiu vontade de poder revelar o segredo. Assim os três poderiam

conversar sobre o assunto. Contudo sabia que promessa era promessa. A única razão pela qual

 poderia revelar um segredo ou quebrar um compromisso desse tipo era se o envolvido

corresse algum risco grave. Se a revelação pudesse impedir esse perigo, então iria se abrir. E

era verdade que Bob certamente sofreria muito se Marta se separasse dele. Contudo, se Cris

contasse o que sabia, isso não iria poupá-lo do sofrimento. Talvez até fizesse com que a

mulher resolvesse deixá-lo mais rápido.

A jovem se sentia fortemente incomodada. Sua consciência mão lhe permitiria contar o

que sabia, ainda que fosse para pedir que orassem pelo problema. A única solução era ela orar 

sozinha, o que, aliás, já estava fazendo havia várias horas.

- Cris, o que você acha que ‘tá acontecendo com sua tia? perguntou Katie.

Ela não respondeu.

- Nunca vi uma pessoa passar por uma mudança igual a essa, continuou Katie, abanando

a cabeça e olhando para o Ted. Quero dizer, ela foi de um extremo a outro, não foi? Você

 precisava vê-la, Ted. Sem maquiagem e com aquele cabelo postiço. Você nem a reconheceria.

- Ela fez algum comentário sobre o fato de que o Bob ‘tá mais ativo na igreja? quis

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saber o rapaz.

Cris fez que sim.

- Ela não ‘tá gostando de vê-lo tão envolvido na igreja, agora que ele é crente, explicou

a jovem. Disse que a igreja é “amante” dele, já que ele prefere ir lá a ficar com ela.

- Essa foi mal! exclamou Katie, catando um pedaço de linguiça na pizza. Que injustiça!

Quero dizer, sei que a Bíblia diz que a igreja é a “Noiva de Cristo”. É uma grosseria total

chamá-la de “amante”! Como que a Marta pode ser tão cega? A melhor coisa que poderia ter 

acontecido ao seu tio foi justamente ele se converter!

-É; eu sei, concordou Cris. Depois que o Tio Bob recebeu Jesus como Salvador, virou

outra pessoa.

- É, ajuntou Katie, e parece que sua tia também ‘tá tentando se tornar outra pessoa. O

 problema é que, sem Deus, isso é impossível.

Cris se lembrou do versículo que lera pela manhã e citou-o para os dois, em suas

 próprias palavras.

- Só aqueles que recebem a Jesus e crêem no seu nome têm o direito de se tornarem

filhos de Deus.

Ted que estava acostumado a citar trechos da Bíblia e a fazer comentários apropriados

em momentos como esse, olhou para a jovem com uma expressão de agradável surpresa.

- Li isso hoje de manhã, explicou ela. É no capítulo 1 do Evangelho de João.

- Como foi que você conseguiu ler a Bíblia de manhã? indagou Katie. Tinha uma

entrevista cedo. Não sei como conseguiu. Eu dormi até às 11:00h. Então não me pergunte

nada sobre minha hora silenciosa. Não fiz hoje. E é horrível uma pessoa que estuda numa

escola evangélica confessar isso.

- ‘Tá ótimo você ser sincera assim, Katie, comentou Ted. Continue desse jeito. O ruim é

quando a pessoa finge, tentando enganar Deus e os outros.

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- Já lhe contei o que minha colega de quarto fez no ano passado? perguntou Katie. Ela

era engraçada demais. Ela arranjou um cartaz com o termo “Palavra”, e pregou-o com fita

adesiva ao pé da cama. Depois saiu dizendo pra todo mundo que passara várias horas na

“Palavra”, naquela noite.

Ted deu um sorriso.

- Não é desse tipo de sinceridade que estou falando, disse ele.

- Não entendi, interpôs Cris.

Katie girou os olhos para o alto.

- Ela disse que passou horas na “Palavra”, porque pregou um papel escrito “Palavra” na

cama dela.

- É; sei, mas...

- Isso é uma linguagem típica de escola evangélica, explicou a colega. Você vai ouvir 

muito por aqui. Quando alguém se refere à sua hora silenciosa, diz que estava “na Palavra”,

isto é, estudando a Palavra de Deus.

- Ah...

- Acho que lá em Basiléia não havia muito esse tipo de conversa, né? comentou Katie.

- Não, replicou Cris simplesmente. Aliás, eu até ficava admirada quando encontrava

algum colega crente e a gente podia ir à igreja juntos. Vocês não imaginam como eu estava

ansiosa para estar aqui com vocês, colegas!

De repente, ela se lembrou do outro colega com quem deveria ter se encontrado para

 jantar, às 6:00h: Mark Kingsley.

- Que horas são? perguntou.

Ted virou-se para olhar para o relógio da parede.

- Sete e meia, respondeu. Você precisa ir embora?

Cris remexeu-se, abaixando o corpo na cadeira.

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- Não, replicou laconicamente.

Compreendeu que não daria para explicar que combinara de jantar com outro rapaz,

sabendo que Ted iria chegar ao campus naquele dia. Seria meio complicado.

 Puxa, como é que fui esquecer? Será que me esqueci de propósito?

Tinha impressão de que ainda não falara com Ted sobre o Mark. E no momento também

não estava com muita vontade de dar essa explicação. Assim que chegasse ao quarto, iria ligar 

 para o Mark. Ele compreenderia.

Passava um pouco das 9:00h, quando conseguiu telefonar para o rapaz, mas ele não se

encontrava em seu quarto. Alguém a chamou para assistir a um filme, junto com as colegas,

mas não quis ir. Estava com muito sono. Elas iriam vê-lo na sala de estar, que havia no centro

do corredor. Era uma saleta bastante confortável, que as alunas das turmas mais adiantadas

 podiam frequentar. Tinham permissão para receber visitas ali somente em certos dias

específicos. Então as garotas às vezes andavam por lá bem à vontade, até de camisola ou

 pijama.

Cris dormiu profundamente e acordou no outro dia sentido-se bem descansada. Aí

lembrou-se da Tia Marta e de que precisava ligar para o Mark e pedir-lhe desculpas por não

ter ido jantar com ele.

Saiu do quarto silenciosamente, deixando Katie a dormir. Seu propósito era ir até a

igrejinha, para fazer seu devocional. No caminho, passou pela cantina, para ver se o Mark não

estava ali tomando o café da manhã. Pegou uma bandeja e entrou na fila. Serviu-se de um

 bolinho muffin, um iogurte e um suco de laranja da máquina automática. Correu os olhos pelo

aposento. Havia alguns estudantes por ali, mas o Mark não estava. Aí lembrou-se de que, num

sábado de manhã, só os alunos que tinham de trabalhar iriam se levantar cedo, para pegar 

serviço.

Cris se sentou a uma mesinha afastada, e recordou-se da sensação agradável que

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experimentara quando vira o Mark entrar na “Selva”.

 Por que será que senti aquilo? Será que, depois de tantos anos, eu ainda tenha uma

certa atração por ele? É; agora estou na faculdade. Não sou mais uma menininha de quinta

 série. Como é que ainda sinto aquelas emoções que tinha no pátio do recreio da Escola

George Washington?

Lentamente ia comendo o muffin e tomando o iogurte, mantendo os olhos fixos na

 porta, para ver se aparecia algum conhecido. O Ted, provavelmente, iria dormir até mais

tarde. Os dois não haviam planejado nada para esse sábado. Ele apenas dissera que, à tarde,

iria dar uma chegada na Igreja de Riverview Heights e preparar a aula de escola dominical

 para o domingo. E Cris concordara em ir com ele. Contudo, até a hora de saírem, ela não tinha

mais nada para fazer. Não iria a lugar nenhum, nem precisaria se encontrar com ninguém. Era

uma situação muito estranha, bem diferente das que vivera no ano anterior.

Recordou-se de como passava as manhãs de sábado em Basiléia, o que lhe deu uma

doce saudade e uma sensação de perda. Ali costumava fazer uma caminhada até sua

confeitaria predileta, para tomar café, comendo um pastel folhado fresquinho. Era o memento

que “tirava” para pensar um pouco.

- Tem alguém sentado aqui? indagou uma garota que se aproximara.

- Não, replicou Cris, afastando a bandeja e sentindo-se alegre por ter uma companhia.

Entretanto, antes que a outra colocasse seu alimento na mesa, alguém a chamou do

outro lado do salão. A jovem deu um suspiro de alívio e saiu apressadamente para se sentar 

 junto com as amigas, sem dizer nada a Cris. Esta seguiu-a com o olhar e viu-a abraçar as

colegas alegremente. E o grupo - eram quatro meninas - ficou ali a conversar e a rir 

alegremente. Parecia que eram calouras.

Cris pensou em como será que se sentiria se tivesse ido estudar fora no seu primeiro ano

de faculdade, em vez de ter frequentado uma escola da sua própria cidade. Não lamentava a

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ela me faz ver a situação por um ângulo novo. É do que preciso neste momento.

Cris se levantou e saiu da igreja, mas em vez de seguir pela campina, pegou o caminho

que ia dar no campo de beisebol. Quando se aproximava, notou que havia dois rapazes

 parados no centro, na base do arremessador. Um deles era o Mark. Sentiu o coração dar uma

 batida mais rápida.

 É agora, pensou.  Está na hora de pôr meus sentimentos à prova. Se existe entre nós

algo que podemos cultivar, essa é a hora.

Parou junto à arquibancada. Mark avistou-a e veio em sua direção, numa corrida lenta.

- Ei! principiou ele. Errei...

- Me desculpe... disse ela.

Os dois se puseram a rir, por haverem começado a falar ao mesmo tempo.

- Me desculpe, repetiu Cris. Ontem à tarde, fui à cidade com o Ted e a Katie, e não

voltei a tempo.

- E eu achei que fora eu quem errara a hora, explicou Mark. Atrasei-me vinte minutos, e

 pensei que você tinha desistido de esperar e ido embora.

- Não, não. Sinto muito.

Cris ficou a analisar os próprios sentimentos. Estava bastante calma, o que até a

espantava. As sensações iniciais haviam desaparecido.

- Quer jogar um pouco conosco? indagou o rapaz, atirando a bola para o alto e dando

um sorriso, fixando nela os olhos por baixo da aba do boné.

O outro rapaz aproximou-se e Cris o reconheceu. Era Wesley, irmão de Selena.

- A Selena e a colega de quarto dela, a Vicki, disse o recém-chegado, tinham combinado

de encontrar conosco aqui, mas não vieram. O Mark acha que elas devem ter dormido até

mais tarde. Eu já acho que minha irmã se esqueceu.

- Vai querer? insistiu Mark. Nós até deixaremos que você comece rebatendo.

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direitinho, mandando-a longe. Teve uma agradável sensação de vitória e largou o bastão no

chão e correu para a primeira base. Contudo Wesley conseguiu agarrá-la, correu em sua

direção e “queimou-a” com a bola.

- Da próxima vez, disse, ponha mais força muscular na rebatida, disse, procurando

orientá-la, assim conseguirá um giro melhor. E não se limite a mover os braços, mas

movimente os ombros também.

A jovem nem escutou direito o que ele dissera. Estava se sentindo eufórica, só de ter 

conseguido acertar na bola e estar ali jogando com os dois rapazes.

Ei! gritou alguém na beirada do campo. Que idéia foi essa de começar antes de nós

chegarmos?

Era Selena, irmã de Wesley.

Estava usando um uniforme próprio de jogador de beisebol e um boné apropriado. A

garota conseguira ajuntar bem seu cabelo louro, que era “rebelde” e encaracolado, amarrando-

o num rabo-de-cavalo. Em seguida, passara-o pela abertura que havia na parte de trás do

 boné. Caminhando em direção ao centro do campo, ela parecia realmente preparada para um

 jogo sério. Estava acompanhada de mais cinco colegas, todas calouras, que apresentou a Cris.

Uma delas era Vicki, uma linda jovem morena, de pele impecável. Ao que parecia, elas já

conheciam o Wesley, mas não, o Mark.

Após as apresentações, todos se engajaram num jogo que levaram muito a sério. Vários

outros estudantes se aproximaram e entraram na partida, que acabou durando a manhã toda.

 No fim, Cris teve chances de ficar com o bastão quatro vezes e, ao todo, conseguiu rebater 

três bolas, tendo errado uma. No restante do tempo, ela jogou no “campo”, isto é, na posição

de pegar as bolas rebatidas.

A jovem riu o tempo todo. Estava amando aquela experiência. Era a sensação agradável

da brisa cálida batendo no rosto. Eram as alegres gozações com os amigos e o modo como o

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Mark ria para ela. Era disso que sentira mais falta no ano anterior, quando estudara na Suíça.

 Não podia negar que as viagens de trem pela Europa e os deliciosos pastéis folhados das

confeitarias eram ótimos. Entretanto isso aqui era como estar em casa.

Houve um momento, no meio do jogo, em que Mark estava arremessando, e ela olhou

 para ele e resolveu fazer uma análise de suas emoções. Não sentiu nenhum “alvoroço” na

 boca do estômago, nem anseios maravilhosos.

 Ah, nem sei por que deixei minha imaginação vaguear no café da manhã. Afinal, o

 Mark Kingsley é apenas o Mar Kingsley. Sempre será meu amor infantil - nada mais e nada

menos.

 Na última rodada do jogo, Vicki conseguiu dar uma rebatida muito boa na bola.

Contudo Cris deu uma corrida forte e pegou-a. Atirou-a para Wesley que foi na direção de

Vicki e a “queimou”, antes que chegasse à segunda base. Com isso, Cri e seu time foram os

vencedores, e todos se puseram a comemorar aos gritos.

Contudo o outro time não deixou a comemoração ir muito longe. Selena logo propôs a

Mark que fizessem uma “melhor de três”. Wesley aceitou o desafio e disse que, no dia

seguinte, às 4:00h da tarde, estariam ali no campo para enfrentar Selena e seu time de

“perdedores”.

Em seguida, eles se dirigiram para a cantina, todos rindo e conversando, como se já se

conhecessem havia muitos anos. Mark aproximou-se de Cris e pôs-se a caminhar ao seu lado.

- Sabe o que foi que passou pela mente quando a vi jogando no “campo”?

- Espere aí! Deixe-me adivinhar! Que eu tinha razão quando falei que não sou boa pra

 pegar a bola?

Mark deu uma risada.

- Não! Você pegou muito bem. Aliás, foi aquela sua joga com Wesley que nos deu a

vitória.

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- É, disse Cris, sorrindo feliz. Acho que foi mesmo!

Mark ficou sério e continuou.

- O que passou por minha mente, Cris, foi a idéia de que vocês não deviam ter se

mudado para a Califórnia. Queria que a gente tivesse sido criado junto, lá em Wisconsin. Que

será que poderia ter acontecido?

Impensadamente, ela respondeu:

- Também tenho pensado algo parecido.

- Tem?

Percebendo que não que se traíra devido à sua sinceridade, a jovem acrescentou

 prontamente:

- Quero dizer, acho que Brightwater é uma ótima cidade para se viver. Teria sido ótimo

fazer o curso médio com a mesma turma com que comecei os estudos.

- É, concordo, disse Mark. Teria sido muito bom se você tivesse feito o curso médio

conosco.

Sem saber bem o que responder, Cris apenas deu um sorriso e fez um aceno afirmativo.

Entrando na cantina, ela logo avistou Ted sentado a uma mesa próxima. Com um

movimento de cabeça, ele chamou Cris e o resto da turma para se sentar junto dele. Assim que

a moça bateu os olhos nele, experimentou uma firme certeza.

 Ah, esse é o homem que amo!

Como que querendo testar a reação que acabara de ter, virou-se e olhou para Mark, que

 já estava na fila do “bandejão”. Não havia nem termo de comparação entre os dois. No

mesmo instante, todos os pensamentos que tivera a respeito de Mark e que começavam com

“Será que...” se dissiparam. Não sabia bem por quê, mas agora nada daquilo importava mais.

Seguindo a fila, virou-se e olhou para Ted que se achava do outro lado do salão. Ele a

fitava novamente “daquele jeito”. Embora estivessem a dez metros de distância um do outro,

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em meio ao burburinho da cantina, no momento em que seus olhos se encontraram, Cris teve

a sensação de que o resto do mundo desaparecera. Parecia que os dois se achavam dentro de

uma imensa bolha que os transportara para um lugar encantado. Ali seu coração não batia

descompassado, mas tinha um ritmo firme e seguro.

 Estamos numa maratona, não é, Ted? Nossa corrida não é aquela disparada rápida

dos cem metros rasos, é? Você me ama de todo o coração. Vejo isso em seu rosto. E eu

também o amo. Sei que sim.

Cris se achava atrás do Mark na fila para pegar sanduíches. Sentia-se muito satisfeita ao

 perceber que suas emoções agora estavam bem definidas. Se ela tivesse ficado morando em

Wisconsin, talvez ela e Mark tivessem tido a chance de desenvolver um relacionamento

diferente.

 Mas não fiquei em Wisconsin. Mudei pra cá. Depois conheci o Ted e é com ele que

quero ter um relacionamento e assumir um compromisso. Acho que Deus não joga a gente de

um lado para o outro, como meus pensamentos sobre o Mark estavam hoje de manhã. E não

 preciso ficar fantasiando e tendo essas idéias tipo “Será que...” Só preciso mesmo é

 perguntar a Deus: “Qual o próximo passo que tenho de dar?”

 No momento em que Mark e Cris saíram do balcão dos sanduíches e já iam seguir em

direção à mesa do Ted, Katie apareceu à frente deles. Como dormira até mais tarde, estava

cheia de energia e logo os saudou de forma entusiástica.

- Oi! Ah, então foi você mesmo que vi entrando aqui!

A princípio, Cris pensou que a amiga se dirigia a ela. Pouco depois, porém, percebeu

que ela estava olhando para o rapaz. Então começou a fazer a apresentação.

- Katie, este aqui é o...

- Mark, disse a outra. É, eu sei. Como vai, Mark?

Foi então que Cris fez a associação dos nomes, e quase deixou cair sua bandeja.

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 jovens ali, dando sua ajuda em algumas excursões que tinham feito.

- Quem organizou tudo foi um casal, explicou Mark, mas eles se mudaram daqui em

 junho. Foi por isso que a liderança da igreja resolveu contratar um obreiro pago. Atualmente o

número de adolescentes que frequentam é pequeno, mas há muitos outros jovens nas

redondezas que poderiam ir também.

- E’ por que não vão? indagou Cris.

- Porque na igreja não há um trabalho maior pra eles. Só tem a classe de escola

dominical. Esse casal que dirigia parecia não gostar muito dos jovens. Ficavam “pregando” o

tempo todo. Eles não tinham uma hora de louvor, nem momentos de comunhão informal, com

oportunidades de desenvolver relacionamentos.

Cris percebeu que Ted estava gostando muito de receber toda essa informação sobre o

grupo de jovens.

- Amanhã cedo você pretende começar com um período de louvor, né? indagou Cris.

- Estou pensando nisso, sim, replicou Ted.

Entraram no estacionamento da igreja, onde Ted parou. Mark os levou até a sala onde

os jovens costumavam ter sua reunião.

- Já tem alguém pra ajudá-lo nos cânticos? perguntou ele ao colega.

- Ainda não tenho nenhum voluntário, explicou o outro, dando um sorriso e virando-se

 para Cris. A não ser que um de vocês queira vir pra cantar comigo.

Cris gostava de cantar, mas nunca participara de um grupo de louvor. Sabia que não

tinha voz de solista, mas se estivesse ao lado de alguém que cantasse bem alto, conseguia

acompanhá-lo sem problema.

- Eu posso ajudar, disse ela meio hesitante.

Ted fitou-a sorridente, os olhos brilhantes. Ela entendeu que havia conquistado a

admiração dele.

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Ted se remexeu no banco, virando-se totalmente para ela.

- O que foi que ele quis dizer quando falou que você tinha de ir jantar com ele?

Cris ficou a pensar se deveria lhe contar da sua pequena incursão na esfera do “Será

que...” Deveria revelar-lhe que havia criado umas fantasias sobre o que teria acontecido se

tivesse saído com Mark? Não; agora nada daquilo tinha muito significado para ela, então

resolveu não dizer nada.

- Eu ia me encontrar com ele na cantina ontem à noite, explicou, mas acabei

esquecendo. Foi por isso que lhe perguntei as horas, quando estávamos na pizzaria com a

Katie.

 Nesse momento, ocorreu-lhe que embora os devaneios passageiros que tivera com Mark 

fossem um caso encerrado para ela agora, não sabia se o mesmo acontecia com ele. É verdade

que isso se dera muito tempo atrás, e o interesse que tinham tido um pelo outro não dera em

nada. Contudo talvez ele quisesse terminar a conversa que começara com ela porque também

estivera na esfera do “Será que...” Ou quem sabe ainda estava...

Será que fiz ou disse algo que o levou a pensar que eu estava interessada nele? Não

tive essa intenção. Ele sabe que eu e Ted estamos namorando, não sabe?

Aqui ela se deu conta de que ela e Ted não haviam agido como namorados. Se o Ted

 pensara que o Mark era um amigo de Selena que ela acabara de conhecer, este também

 poderia ter pensado o mesmo acerca de seu namorado.

Estava ficando muito quente dentro da kombi ali parada. Cris se sentia incomodada. Ted

abriu a porta do lado dele.

- Vamos caminhar um pouco? indagou, num tom que era mais afirmativo que

interrogativo.

- Vamos.

Cris ficou satisfeita de sair do carro quente e desconfortável. Uma semana antes, ela

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havia reclamado com Ted que o banco do veículo, no seu lado, estava bem estragado. O

 banco achava-se gasto e as molas do assento, à mostra. O rapaz colocara um pedaço de

 papelão e o cobrira com uma velha toalha de praia. Na hora em que Cris deslizou para sair,

tudo aquilo veio junto.

Ted pegou sua mão e os dois saíram andando num passeiozinho de cimento que

circundava toda a pracinha. O playground estava cheio de crianças, balançando na gangorra,

subindo descendo nos aparelhos e brincando na caixa de areia. Toda faziam uma grande

algazarra. Cris e Ted foram se afastando do barulho.

- Eu queria conversar com você sobre algo que falou quando estávamos lá na igreja,

 principiou o rapaz. Você disse que eu me sinto “em casa” nesse tipo de trabalho. Acho que

tem razão. Mas pra mim é muito difícil enxergar isso. Sabe por quê? Eu nunca soube o que é

“sentir-se perfeitamente em casa”, a não ser agora, com você, Kilikina.

Sempre que Ted a tratava pelo nome havaiano, Cris tinha a sensação de que seu coração

se derretia dentro dela. E essa vez não foi exceção.

- Também me sinto “em casa” com você, Ted, replicou ela.

- É mesmo? indagou o rapaz.

- É. Sinto sim.

Cris procurou afastar do pensamento as indagações que tinha acerca de Mark e

concentrar-se apenas em Ted. Se tivesse dado alguma impressão errada para o colega, iria

conversar com ele depois e esclarecer tudo. Nesse momento, era ali mesmo que queria estar.

E era com Ted que desejava conversar.

- A questão, continuou ele, é que não sei exatamente como é uma família normal. Tenho

alguma idéia sobre o que quero para a minha família e sobre o que considero vida normal.

Mas nunca tive isso. Tive muito poucos exemplos pra observar. Quando recebi Jesus como

meu Salvador, a igreja se tornou muito importante pra mim. Deve ser por isso que me sinto

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“em casa”, como diz você, no ministério com jovens. Foi na igreja, e principalmente nos

grupos de jovens, que vi os exemplos positivos de como se deve viver.

- Então sua infância foi muito triste? quis saber Cris.

- Por que pergunta isso?

- Ah, muitas vezes eu já quis lhe perguntar, mas tinha a impressão de que você não

gostava de conversar sobre essa parte de sua vida, explicou ela. Gostaria de saber mais sobre

você, principalmente de sua infância.

- Você sabe que meus pais usavam drogas quando se conheceram, né? disse Ted.

Cris ficou sem saber se aquilo era uma piada, e esperou que ele explicasse melhor. Ele

 puxou-a em direção ao interior da pracinha, onde havia duas árvores velhas. Ele se sentou no

chão e apoiou as costas no tronco de uma delas e a garota se acomodou ao seu lado, de frente

 para ele.

- Eles usavam drogas mesmo. Nunca lhe contei isso, mas, quando se casaram, minha

mãe já estava grávida.

- Estava? indagou Cris num tom de espanto, mas em seguida se arrependeu de ter tido

tal reação.

- E tinha só dezessete anos.

Foi então que Cris compreendeu por que Ted se interessara tanto pelo caso de Acessa,

uma jovem que era amiga deles. Alguns anos atrás, a moça engravidara, decidira não abortar,

mas dar a criança para adoção. Na ocasião, Cris achara muito estranho o rapaz se envolver 

tanto no caso e ficar todo entusiasmado pela resolução da outra. Agora tudo ficava bem claro.

Ele também fora uma criança gerada dessa forma: mãe solteira e adolescente. Sentiu um

arrepio na espinha.

 E se a mãe dele tivesse achado que a criança seria um incômodo muito grande pra ela!

 E se, vinte e três anos atrás, ela tivesse pensado que o que havia em seu ventre era apenas

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uma “massa de tecido humano”? E se...

Aqui ela deteve o fluxo de seus pensamentos. Estava respirando pesadamente e quase

chorando. Contudo não queria que o namorado soubesse o que lhe passava pela mente.

Depois dos devaneios que tivera com Mark pela manhã, aprendera que não adiantava nada

ficar muito tempo imaginando “E se...”

 A verdade é que a mãe do Ted decidira não interromper a vida do filho, e o deu à luz.

 Algum dia, ainda vou agradecer a ela por isso. E se nunca te agradeci, Pai, agradeço- te

agora.

- Depois eles se casaram porque, creio eu, queriam fazer o que era certo, continuou Ted.

Depois que nasci, eles tentaram endireitar a vida. Uma vez minha mãe me disse que, quando

descobriu que estava grávida, prometeu a si mesma que nunca mais iria usar drogas. E não

usou mesmo. Meu pai demorou um pouco mais pra largar tudo. Quando eu era pequeno... sei

lá... com uns três anos... certo dia, eles tiveram uma discussão por algum motivo e meu pai,

que estava drogado, fez algo que agrediu muito a minha mãe.

- Oh, Ted, que coisa horrível! exclamou Cris.

Ela estendeu o braço e pegou a mão dele, dando-lhe um aperto de leve. As lágrimas que

ela estivera segurando, agora lhe escorriam livremente pelo rosto.

Ted olhou-a com uma expressão interrogativa.

- Tem certeza de que quer que eu lhe conte tudo isso? perguntou.

- Quero, claro, replicou Cris, piscando os olhos para afastar as lágrimas e fitando-o com

um ar sério. Eu só não imaginava que a situação toda tinha sido tão horrível. Estava me

lembrando daquela noite, em Newport Beach, quando estávamos conversando na praia e você

 brigou com o Sam, porque ele estava muito drogado. Agora entendo por que você ficou tão

transtornado com aquilo.

Ted baixou os olhos em direção às mãos deles.

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- Talvez você nem creia nisso, mas ainda sinto saudade dele, disse, passando o polegar 

de leve sobre o bracelete de Cris, com a gravação “Para Sempre”.

- É porque você ama seus amigos, Ted. Para sempre!

 Nesse momento, um avião passou bem lá no alto, deixando um rastro que mais parecia

um risco de giz no céu azul.

- Tem certeza de que quer continuar conversando sobre isso? insistiu ele.

- Tenho.

- O que mais quer saber?

- O que aconteceu quando seu pai agrediu sua mãe? perguntou ela em voz suave.

- Naquele dia, ela o largou. Não sei se ele chegou a bater nela. Ela não me contou o que

aconteceu, e nunca perguntei a meu pai. Sei que ele nunca me bateu. E nunca foi dado a

violência ou algo assim. Então não sei. Pode ser que eles só tenham discutido. Às vezes, as

coisas que alguém diz podem nos machucar muito, deixando-nos magoados pelo resto da

vida. Mas seja o que foi que aconteceu, minha mãe se separou dele e me levou com ela. Então

ficamos vagando, sem moradia certa, durante algum tempo, mais ou menos fugindo do meu

 pai.

- Será que é por isso que você gosta tanto de ficar viajando? comentou Cris, tentando ao

máximo ter uma atitude bem positiva.

- Sei lá. Pode ser. Depois disso, não tenho muita certeza de como foi que as coisas

entraram nos eixos. Meu pai largou as drogas, e eles voltaram a ficar juntos por algum tempo,

mas não deu certo. Tentaram “remendar” o relacionamento deles, mas ele já estava tão

atrapalhado que acabou se desfazendo mesmo. Afinal eles se divorciaram e isso foi apenas a

oficialização da situação que estavam vivendo. Acho que o casamento deles nunca teve muita

chance de sobreviver. Desde o começo foi todo cheio de problemas.

- Foi aí que você e seu pai se mudaram pra Maui? indagou Cris. Você estava com uns

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e aniversários. Se nós acabarmos nos casando... e aqui ele fez uma pausa, parecendo estar 

 pensando se deveria continuar a dizer o que começara. Não; não estou pressupondo nada,

hein? Só quero dizer que tudo que se relaciona com as festas de fim de ano vão ter de ficar 

 por conta de você ou da pessoa com quem eu me casar. Quero dizer, posso até ajudar. Mas

como não tive nada dessas tradições em minha casa, vou ter de aprender tudo do começo.

- Ah, mas não tem muito mistério, não, comentou Cris, sentindo uma onda de

compaixão por ele. Você já esteve na minha casa nesses festejos e em aniversários. A gente

comemora do jeito que quiser comemorar. Do modo que quiser.

- É exatamente isso que quero dizer, disse Ted, soltando a mão dela para afastar um

mosquitinho que estava no próprio rosto. Eu quero muito, quero que os aniversários sejam

muito importantes. Pra mim, eles nunca foram. Então, se um dia eu tiver filhos, quero que eles

sintam que são as crianças mais legais do mundo, todos os anos, no dia do seu aniversário.

- Também acho isso muito importante, interpôs Cris.

Ted arrancou uma folhinha de grama, girou-a entre os dedos por uns instantes e depois

soltou-a no chão.

- Uma vez, disse ele em voz meio abafada, quando eu estava morando com minha mãe,

ela esqueceu meu aniversário. Foi quando fiz cinco anos. Lembro bem disso, porque eu estava

na escolinha, e morávamos num apartamento em Phoenix, acho. Ou pode ter sido em

Flagstaff. Bom, não importa. Lembro que um colega de trabalho dela convidou-a pra ir jantar 

com ele justamente no dia do meu aniversário.

- E ela foi?

Ted acenou afirmativamente.

- Minha mãe, na verdade, é uma pessoa maravilhosa. Só que ela ficou muito empolgada

com as atenções dele, né? Então esqueceu que era meu aniversário. Ela preparou um

sanduíche de creme de amendoim pra eu lanchar de noite e disse que fosse me deitar às 8:30h.

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- E o que você fez?

Ted deu de ombros, como se o ocorrido fosse algo insignificante.

- Comi o sanduíche e na hora que fui dormir peguei meu revólver de brinquedo e pus

debaixo da coberta, caso entrasse um ladrão ali. Não me lembro se deitei às 8:30h ou não.

- Ted, disse Cris com lágrimas a lhe embaçar a visão, não consigo nem imaginar como

deve ter sido sua vida!

O rapaz se remexeu no lugar, meio incomodado.

- É... disse, é claro que não sofri violência, nem ficava largado, nem trancado num

quartinho, nem fui obrigado a comer terra, como se ouve por aí.

E ele deu uma risada nervosa, como se estivesse tentando fazer uma piada.

- De certa forma, foi, comentou Cris.

- Mas não quero ver minha vida desse modo, insistiu ele. Sei que meus pais me

amavam, os dois. Eles me quiseram, não foi? Poderiam ter tentado se livrar de mim antes de

eu nascer ou mesmo depois, mas não o fizeram. Sempre me deram tudo de que precisava.

Acho que eles simplesmente não sabiam amar num nível mais profundo. Não sabiam nem

amar um ao outro. Ou talvez soubessem, mas do jeito que alguém sabe amar aos dezoito anos.

Quero dizer, quando penso nisso, lembro que, quando fiz cinco anos, minha mãe tinha só

vinte e três. Cris, daqui a alguns meses vou fazer vinte e três. Não consigo imaginar como me

sentiria se tivesse um filho com cinco anos.

Cris experimentou uma sensação estranha. A calorosa compaixão que sentira por Ted

uns instantes atrás estava se desvanecendo. No lugar dela, estava aparecendo uma espécie de

tristeza e cansaço, a mesma emoção que tivera no orfanato, no ano anterior, e que a deixava

tão esgotada. Sentia tristeza por Ted e, no entanto, sabia que não poderia fazer nada para

modificar fatos da infância dele. Parecia-lhe que naquele momento estava conhecendo outro

rapaz, uma pessoa muito diferente do surfista de olhos azuis por quem se interessara. Essa

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versão adulta do Ted era bem mais complexa do que ela achara que seria.

- Estou assustando-a, não? indagou ele.

- Não. Bom, talvez um pouco. Mas creio que ‘tá sendo bom. Quero mesmo saber tudo

isso sobre sua vida, Ted. Desejo que me conte, abertamente, qualquer fato que quiser me

revelar. Creio que estou é um pouco espantada de não saber nada disso, apesar de nos

conhecermos há tanto tempo e sermos tão chegados um ao outro. Bom, pelo menos eu achei

que éramos chegados.

O rapaz aproximou-se mais e passou o braço em volta ombro dela, puxando-a para si.

- Nós somos chegados, Kilikina. Eu me sinto mais unido a você do que a qualquer outra

 pessoa. Talvez seja por isso que nunca lhe contei essa minha história. Não quis contar, com

receio de que se afastasse de mim. É que você é uma pessoa tão sensível que não queria fazê-

la sofrer.

- Mas me contando isso você não me faz sofrer, replicou Cris. E estou muito alegre que

tenha se aberto comigo. Quero saber tudo.

- O caso é que você gostaria de “arrumar” minha vida, mas não vai poder voltar no

 passado e consertar tudo que houve de errado em minha infância, vai?

Cris ergueu a cabeça, afastando-a do ombro dele e fitou-o.

- Como foi que você percebeu que era isso que eu estava pensando?

Ted passou as costas da mão de leve no rosto dela.

- Conheço seu coração, Kilikina, respondeu. Conheço bem seu coração. É por isso que

sabia o que estava pensando.

- É... creio que conhece mesmo, disse ela.

Em seguida, encostou a cabeça no peito dele e continuou:

- Eu também quero conhecer o seu.

E quase concluiu: “Porque te amo”, mas não o fez. Ainda não conseguia dizer essas

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- Muito mal, respondeu Cris.

- Eu também, disse Ted. Minha sensação era de que alguém estava me atacando. E não

conseguia entender o que se passava, mas afinal compreendi que precisava orar. É que hoje

nós estamos entrando na linha de frente, batalhando pra Deus, e o inimigo não quer isso.

- Oh, comigo aconteceu o mesmo, explicou Cris. Assim que orei consegui dormir.

Sentiu-se mais calma, ao saber que tinham sido as forças do mal que haviam tentado

impedi-la de servir a Deus, junto com o Ted, nesse dia.

- É... interpôs Mark, e parece que precisamos orar agora também.

 No momento em que ele pronunciou a palavra “orar”, o motor do carro deu uma

“engasgada”, o veículo balançou com um solavanco e parou bem no meio da estrada.

- Ligue o pisca-alerta! sugeriu Mark, já abrindo a porta de seu lado, saltando do carro e

fazendo sinal ao veículo que vinha atrás para se desviar.

- Não ‘tá funcionando, informou Ted, saindo também. Apagou tudo. Cris, sente-se ao

volante e vá guiando o carro pra entrarmos naquele estacionamento ali.

- Ali onde tem aquelas lojinhas? indagou ela.

Contudo Ted não a escutara. Já estava atrás da kombi, preparando-se para empurrá-la e

gritando para ela colocar a embreagem no ponto morto e soltar o freio. A jovem dirigira o

velho veículo poucas vezes e se sentia meio tensa por estar ao volante, num momento como

aquele.

Cris foi fazendo o que ele dizia, e o carro “andou”, graças ao “muque” dos dois rapazes.

Teriam de rodar uns duzentos metros até o estacionamento que Ted indicara, e a moça se pôs

a morder o lábio inferior, nervosamente. Girando o volante cautelosamente, entrou numa

vaga. Nela, havia uma placa dizendo: “Somente carros compactos”. Entretanto, num domingo

de manhã, num estacionamento vazio, o fato de a “Kombinada” não ser um compacto

certamente não faria muita diferença.

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- Engate a primeira, gritou Ted, aproximando-se da janela do lado do motorista. E puxe

o freio de mão.

Ela fez o que ele dizia. Foi nesse momento que se deu conta de que seu lábio inferior 

latejava de tanto que o mordera. E até já começava a inchar um pouco.

- O que a gente vai fazer agora? indagou Cris. Vamos procurar um telefone e ligar pra

uma oficina ou algo assim?

- Creio que não dá tempo, comentou Mark.

Ted dera a volta para o outro lado e abrira a porta lateral. Estava pegando o violão e a

Bíblia.

- Acho melhor irmos a pé, disse. Daqui até a igreja é mais ou menos um quilômetro e

meio.

Cris pegou sua Bíblia e pendurou a bolsa no ombro. Por sua mente passaram algumas

soluções meio impraticáveis, como chamar um táxi ou pedir carona na estrada. Contudo não

chegou a mencionar nenhuma. E os três saíram andando apressadamente rua abaixo.

- Provavelmente é o alternador, disse Mark a certa altura.

Cris pensou que poderia ser um milhão de outros fatores, pois a “Kombinada” já estava

 bem velha, e volta e meia tinha umas “crises”.

- Se você quiser, Ted, continuou o outro, depois do culto posso vir aqui com minha

camionete e dar uma olhada nela.

- Claro, replicou ele.

Ted estava caminhando mais depressa que os dois. Parecia que sua mente não estava no

carro, mas no que iriam fazer na igreja. Cris se acostumara a fazer caminhadas, quando estava

em Basiléia. Então não teve dificuldade para apressar o passo e se emparelhar com o

namorado.

- Sabe o que mais? principiou ela. Nós nem chegamos a orar. O Mark já ia orar quando

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a “Kombinada” parou.

- É mesmo, replicou Ted.

Parecia que ele estivera meio “distante” e “voltara ao presente” quando ouviu o

comentário de Cris. Então, sem diminuir o passo, começou a orar.

- Pai, olhe para nós aqui. Sei que tú estás no controle de todos os detalhes da nossa vida.

Esse problema não te pegou de surpresa, como aconteceu conosco. Tú tens um plano nisso

tudo. Confio em ti e naquilo que vieres a fazer. Contudo precisamos que o Senhor nos mostre

isso claramente pois, no momento, para ser sincero, não estou entendendo nada.

 Nesse instante, chegaram a um cruzamento. O sinal para pedestres estava fechado, e

eles pararam para esperar que abrisse. Ted passou o violão para a outra mão. Cris limpou o

suor que lhe escorria pela testa. O dia já começava a esquentar. Naquela hora,o vento típico da

região não estava soprando, e a atmosfera parecia pesada.

- Senhor, disse Cris, retomando a oração onde Ted parara, nós nos posicionamos,

 juntos, em tua Palavra, contra os desígnios do inimigo. Creio que ele está tentando colocar 

obstáculos à nossa frente. Mas hoje é teu dia, e nós somos teus filhos. Então, Senhor, endireita

nosso caminho.

O sinal abriu. Eles começaram a atravessar, mas um dos carros parados no semáforo

 buzinou. Cris achou que era alguém debochando dos três “cantadores” que, evidentemente,

estavam a caminho da igreja com sua roupa domingueira e portando Bíblias.

- Querem uma carona? gritou o motorista do veículo, que abaixara o vidro da janela.

- É a Donna, disse logo Cris. A minha chefe lá na livraria.

 No mesmo instante, os três se acomodaram no banco de trás. Donna apresentou seu

esposo e partiram, chegando à igreja poucos minutos antes do início dos trabalhos. Acabaram

descobrindo que o marido de Donna era um dos professores da Universidade Rancho Corona

e também um dos líderes dessa igreja. Na semana anterior, quando Ted estivera em contato

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com os dirigentes, ele estava fora, por isso não o conhecera. Então perguntou se o rapaz

 poderia ficar após o culto para conversarem. Os três agradeceram muito pela carona e saíram

correndo para a sala dos adolescentes.

Ali chegando, viram que havia dois garotos junto à porta, do lado de fora. Mark parou e

se pôs a conversar com eles. Os rapazes davam a impressão de que não tinham o menor 

interesse em estar ali, mas assim que avistaram o Mark se animaram um pouco. Logo depois,

chegaram três garotas. Cris tratou de “engolir” sua timidez e imitar o Mark. Apresentou-se às

meninas ‘ se pôs a conversar com elas.

Ted começou a preparar o equipamento. No fundo da sala havia um computador bem

sofisticado. Ele introduziu um disquete no aparelho, projetando na parede a letra do primeiro

cântico. Em seguida, chamou os outros para entrarem.

Assim, durante cerca de quinze minutos, os três jovens e os cinco alunos da classe

ficaram a cantar corinhos acompanhado pelo violão de Ted. Como havia pouca gente, Cris

 preferiu fica sentada ali, em vez de ir para a frente ao lado do namorado. Contudo cantava em

voz bem forte - mais forte do que a do outros - e com bastante convicção.

Ainda no meio do período de louvor, mais duas garotas entraram, mas se sentaram no

fundo da sala e ficaram cochichando uma com a outra, em vez de cantar. Aquilo deixou Cris

incomodada. Sabia o quanto era bom participar do louvor junto com outras pessoas. Ela

 própria tivera essa experiência quando adolescente. Como poderia mostrar para aquelas

meninas que se tratava de um momento muito santo e importante para todos e que elas

deveriam se juntar a eles?

Terminado o período de cânticos, Ted pediu que fizesse um círculo com as cadeiras.

 Nenhum dos alunos parecia muito interessado, mas atenderam ao pedido dele. Em seguida, o

rapaz se apresentou, e pediu que todos, um a um, fizessem o mesmo e dissessem algo a seu

respeito.

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Cris não gostou muito do jeito como fizeram isso. É que ela e Mark foram os que mais

falaram, e disseram que tinham sido amigos de infância. E pelo modo como o rapaz falou

quase deu a impressão de que os dois eram namorados e estavam ali par dar uma ajuda ao seu

amigo Ted.

 Preciso ter uma conversa com o Mark. E quanto mais cedo, melhor.

Ted abriu a Bíblia no livro de João e leu o versículo que Cris havia mencionado para ele

uns dias atrás. Era sobre o fato de que quem crê em Jesus e o recebe, passa a ter o direito de se

tornar filho de Deus. Em seguida, fez um estudo simples, ma com palavras francas e bem

diretas.

Encerrada a reunião, os jovens saíram. Cris ficou a examinar detidamente o rosto de

Ted. Ele ainda mantinha seu sorriso tranquilo, mas a mensagem que ela via em seus olhos era

outra. O coração dele estava muito triste. Não fora aquilo que ele esperara. Ela percebia isso

claramente.

- Correu tudo bem, disse para ele, dando-lhe um leve aperto no braço. Hoje foi o

 primeiro dia. Eles agora vão analisar tudo pra ver se gostam de você, se podem confiar em

você e se sentem seguros na sua companhia pra voltar no domingo que vem.

Ted concordou com um aceno de cabeça, mas Cris percebeu que o coração dele ainda

estava pesado. Durante todo o tempo do culto que se seguiu, ela sentiu que ele continuava

com o pensamento na classe. Sabia que estava analisando cada detalhe da reunião, avaliando,

reestruturando e planejando tudo.

Ela gostou do culto, do pastor e da maneira como ele pregou. Após o encerramento,

comentou com Mark:

- Esta igreja me lembra a nossa lá de Brightwater.

- É, replicou o rapaz. Foi por isso que resolvi trabalhar aqui no ano passado.

Duas senhoras idosas se aproximaram e cumprimentaram o Mark. Este lhes apresentou

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- E foi.

Quando conversei com ele ontem na hora do almoço, não me lembrava que ele era o

cara de quem a Paula tinha me falado, explicou o rapaz. Eu sabia que você tinha tido um

namorado e que já havia um bom tempo que namoravam. Mas achei que ele tinha ido embora.

Pensei que havia se mandado para Fiji, ou algo assim, para passar o resto da vida lá.

- É. Daquela última vez que te vi, o Ted estava fora mesmo. Estava na Espanha.

- Mas agora já voltou em definitivo, comentou Mark.

- Já. E eu já voltei da Suíça e estamos namorando, estamos juntos mesmo.

- Bom, Cris, você escolheu um cara legal, disse o rapaz.

E ao dizer aquilo, ele tinha uma expressão franca e sincera que lhe lembrava seu pai.

 Nesse instante, ela se recordou de algo que ouvira de seus avós, muitos anos atrás. Ela lhes

 perguntara como eles tinham reconhecido que um era a pessoa certa para o outro. E o avô lhe

respondera:

“A melhor maneira de se saber isso é examinar a vida um do outro. É ver se os dois

 são do mesmo lugar. Assim será mais fácil superarem os momentos difíceis.”

Contudo sua avó discordara dessa opinião. Disse que tudo era uma questão de decisão e

em seguida mencionara algo que deixava Cris muito incomodada.

“Quando encontrar a pessoa certa, você saberá.”

A jovem deu uma espiada para o lado de Mark.

 Ainda não tenho certeza se o Ted é a pessoa certa pra mim, pensou. Mas de uma coisa

não tenho a menor dúvida: o Mark não é.

E só de saber algo com certeza, ela já se sentiu bem.

- Sabe o que mais? principiou o rapaz, empurrando a bandeja para um lado e

continuando a fitar Cris com um ar bem sincero. Vou ser bem franco e lhe dizer algo muito

sério. Espero que não se incomode com isso.

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Deitou-se na cama, e pensou em anotar esses pensamentos no seu diário. Era sempre

muito bom quando escrevia o que lhe ia no coração e mais tarde o relia. Dessa vez, porém,

não faria isso. Não queria correr o risco de alguém achar seu diário e ler tais pensamentos.

Olhou para o pôster que estava na parede. Era uma foto de uma ponte que havia perto da

cidade de Hana, em Maui, no Havaí. O Ted saltara daquela ponte sobre uma laguna profunda.

Cris passara nela, dirigindo um jipe, pouco tempo depois que fizera dezesseis anos. Era a

 ponte “deles”. Agora se encontravam diante de outra “ponte”. Sabia que seu namorado estava

 preparado para “saltar” dela, isto é, para dar outro passo no relacionamento deles e assumir 

um compromisso sério. Ela porém, ainda estava “passando” por essa decisão, o que levaria

um pouco mais de tempo do que saltar direto nela. Ted até que estava sendo bastante paciente.

Cris se sentia como se estivesse “amarrada”, sem condições de avançar.

- Nós não temos garantia nenhuma, temos? indagou em voz alta para Deus. Os pais de

Ted não tiveram, e parece que Bob Marta também não terão. Então, como posso ter certeza de

que se eu casar ainda tão jovem meu casamento vai durar pelo resto da vida?

 Nesse momento, a porta do quarto se abriu e entrou uma ruivinha. Cris ficou a olhar 

fixamente para ela. Quase não parecia com a Katie que ela conhecia. A colega cortara o

cabelo bem curto. Estava todo repicado, caindo-lhe pela testa e na base da cabeça. A jovem

estava completamente diferente, com uma nova aparência, bem mais sofisticada e feminina.

- Cortou o cabelo! exclamou Cris, examinando-o por diversos ângulos. Gostei muito!

Quando foi que resolveu cortar?!

- Hoje de tarde, explicou a outra, jogando algumas sacolas de compras sobre a cama e

tirando o sapato.

- Puxa, mas você ‘tá toda diferente!

- Era isso mesmo que eu queria, resmungou Katie.

- Ei, tudo bem aí?

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guarda-roupa da Selena. Fui ao quarto dela ontem à noite e vi. Ela e a Vicki têm as roupas

mais legais desta escola.

Cris também gostava do jeito de vestir da Selena. Essa jovem era bastante original e não

imitava ninguém. Suas roupas eram diferentes das de todo mundo. E não se importava se elas

estavam na moda ou não. Ela criava sua própria moda. Na primeira vez que Cris vira Selena,

esta estava calçada com umas botas de cowboy que tinham sido do pai dela.

- Ela só compra roupas nos brechós, não é? indagou Cris.

Katie fez que sim.

Ela estava me contando sobre uns brechós que tem lá em Portland, onde ela mora. Só de

ouvir, tive vontade de ir lá fazer umas compras.

- Você comprou essas aí foi num brechó?

- Não, e acabei pagando muito por elas. Mas eu precisava tomar alguma providência.

Amanhã é o primeiro dia de aula e este ano quero me apresentar melhor do que em qualquer 

outro ano da minha vida. Preciso começar de novo.

Cris dobrou a saia nova da amiga e colocou-a no pé da cama.

- Katie, principiou ela, eu queria conversar com você sobre um assunto de que talvez

você não queira falar. Posso?

- Eu tenho outra escolha?

- Não.

- Então fale. Pode “despejar”. Estou sempre lhe dando minhas opiniões pessoais sobre

tudo e você ouve com paciência. É justo que agora você também dê as suas.

- Lembra que você me falou sobre aquele negócio de carregar muitos “catálogos

telefônicos” e acabar deixando todos eles caírem? Bom, eu acho que, nestes anos todos, você

vem carregando todas as mágoas que teve no relacionamento com rapazes. ‘Tá segurando isso

como se fosse uma pilha de listas telefônicas. É por isso que sempre que tem uma decepção,

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como teve ontem com o Mark, que não se lembrou de você, fica se sentindo profundamente

magoada.

Ela não pensara dizer tudo isso para a amiga; não havia pensado no que iria lhe dizer.

Então as palavras simplesmente foram saindo.

- Achei que ontem você ficou muito sentida com o Mark, continuou. Mas também

aquilo lhe recordou as desilusões que teve com o Rick, Michael, com o Leo e com todos os

outros caras que lhe deram o fora.

A expressão de Katie era dura, como de quem não cede.

- Então, prosseguiu Cris, você não sente apenas a mágoa de uma negativa, mas de todas

as que já recebeu.

Aqui houve um profundo silêncio no quarto, e Cris se indagou por que estava dizendo

tudo aquilo à sua melhor amiga. Passaram-se alguns minutos, e afinal Katie se endireitou e,

com a voz meio áspera, perguntou:

- E o que você acha que devo fazer?

Cris pensou em lhe dizer que não pretendera lhe falar sobre esse problema e, portanto,

não tinha uma solução para ele. Então deu a única resposta que lhe veio à mente.

- Você não precisa mudar nada exteriormente, explicou. Precisa mudar por dentro. Acho

que tem de perdoar, Katie. Tem de tomar a decisão de perdoar e começar tudo de novo.

Por uns instantes, ela teve a impressão de que a amiga iria gritar com ela ou lhe atirar 

algo. Contudo o que ela fez foi replicar com um tom de resmungo:

- Você tem razão. E detesto quando você tem razão.

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Katie se remexeu na cama, acomodando-se melhor.

- Por que tem tanta certeza de que não perdoei aos rapazes que me magoaram? indagou

com um tom meio seco.

- Bom... principiou Cris.

- Deixe-me dizer-lhe algo, interpôs a outra, levantando-se e dando um chute em sua saia

cáqui. Seria muito bom se pelo menos um daqueles safados reconhecesse que foi cruel,

insensível e mal-educado comigo. Sei que é pedir muito, mas tenho certeza de que assim

ficaria bem fácil perdoar-lhes.

- Mas, e se nenhum deles vier lhe pedir perdão? insistiu Cris. Vai passar o resto da vida

carregando todos esses “catálogos”, todo esse sofrimento?

- Não, replicou Katie. Assim que eu encontrar o meu “príncipe encantado” isso vai

 passar.

- Katie!

- O quê?

Cris hesitou por uns instantes, sem saber se deveria dizer ou não o que pensara. No fim,

 porém, compreendeu que não poderia deixar de falar.

- O que vai acontecer na primeira vez em que o “príncipe encantado” a decepcionar?

Quero dizer, mesmo que se case com esse homem, ele não é perfeito. Vai haver um dia em

que ele será cruel, insensível e mal-educado com você. E aí? Em vez de sentir apenas a dor 

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desse gesto dele, você vai querer sentir o peso de todos os outros “catálogos”?

- Não sei. Não estou a fim de conversar sobre isso, Cris. Quero sair e respirar um pouco.

Cris deu uma espiada rápida para o relógio. Faltavam alguns minutos para às 4:00h.

- Quer ir jogar beisebol? indagou.

Katie olhou-a diretamente.

- Por quê? Você vai?

- Não. Você não quer ficar no meu lugar no time do Wesley? Às 4:00h eles vão jogar 

contra o time da Selena.

Katie abriu uma gaveta da cômoda e correu as mãos dentro dela. Pegou um boné e uma

luva de beisebol. Em seguida, calçou o tênis e foi saindo, dizendo apenas:

- Vou dar uma saída!

Cris se sentou, sentindo o quarto muito vazio.

 Por que fui dizer tudo aquilo pra ela? Não precisava ter dito tudo hoje! E não era só eu

que poderia ter dito essas verdades pra ela!

Resolveu que não iria jantar. Tomou um banho de chuveiro bem demorado,

aproveitando para lavar a cabeça e depilar as pernas. Depois ligou para o Ted. Como ninguém

atendeu, ela deixou um recado na secretária, sugerindo-lhe que os dois se encontrassem no dia

seguinte na cantina, para tomarem juntos o café da manhã.

Pegou sua roupa suja e dirigiu-se para a lavanderia, que ficava no fim do corredor.

Enquanto esperava que uma das máquinas ficasse disponível, foi para uma saleta ao lado,

onde algumas colegas estavam assistindo ao filme Princesa. Já o vira, pouco antes de viajar 

 para a Suíça. Katie o havia locado e o levara à sua para verem na última noite em que

estariam juntas antes da sua partida. Ao final, Katie comentara que nunca iria confiar num

rapaz que vivesse dizendo: “Como você quiser!”, satisfazendo todos os caprichos dela.

Preferia um que tivesse mais personalidade e lhe dissesse:

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 pensara que iria passar o mesmo ali, já que estava “em casa” e junto com os amigos queridos.

Ficou a debater consigo mesma se deveria ligar para o quarto de Selena ou iria lá para

acertar tudo com Katie. Suas emoções já estavam à flor da pele e ainda por cima tinha de

tomar essas decisões. Isso a deixou exausta. Concluiu que era melhor não tentar nenhum gesto

heróico nessa noite. Iria dormir, pensar no problema, orar sobre ele e decidir se poderia ter 

uma conversa com Katie pela manhã.

 Na manhã seguinte, assim que chegou à cantina, às 7:30h, viu Ted a esperá-la e ficou

muito alegre. Ele a recebeu com um beijo na testa.

- Liguei pra você ontem à noite, mas ninguém atendeu, disse o rapaz.

- Ah, e eu não verifiquei a secretária, replicou Cris. Provavelmente você ligou na hora

em que eu estava na lavanderia e fiquei assistindo a um filme.

Os dois entraram na fila do bandejão e foram adiantando-se bem devagar. Cris não

estava com fome, mas mesmo assim forçou-se a pegar algo para comer. Sabia que precisava

se alimentar, já que não comera nada na noite anterior.

Ted conduziu-a para uma mesinha perto da janela. Nela havia duas cadeiras e ele as

virou para ficarem olhando lá para fora, de costas para os outros estudantes.

- Conseguimos consertar a “Kombinada”, explicou ele, depois que os dois oraram.

- Ótimo! exclamou Cris.

- É, disse o rapaz, graças ao Mark. Ele tem muita habilidade pra mexer com carros. Ah,

ele concordou em me ajudar a organizar a viagem missionária para o México.

- Que viagem missionária?

- Oh, ainda não lhe contei, né? Ontem, durante o almoço com a liderança da igreja, eu

mencionei pra eles que gostaria de fazer uma viagem ao México com alguns jovens. E eles

concordaram. Estou pensando em ir no feriado de Ação de Graças. Você quer ir também?

concluiu ele, dando uma mordida num pãozinho.

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- Ah, não! Então ele e a Katie ainda não se entenderam. Eu tinha esperança de que eles

 pudessem recomeçar o relacionamento ontem.

Ted deu um sorriso bastante significativo. Era impossível não perceber.

- O que foi? indagou Cris. Qual é a graça?

- Você, replicou ele. Lá está você outra vez com aquela sua mania de “vamos salvar o

mundo”.

A jovem largou o garfo no prato.

- E o que você quer dizer com isso?

Ted colocou a mão sobre a dela.

- Não fique nervosa, não, continuou ele, ainda rindo. Fica muito bonitinha quando está

assim.

- Bonitinha! disse Cris, sentindo o rosto avermelhar-se.

Ted continuou a fitá-la com um jeito alegre.

- É... bonitinha. Parece que você não tem muitos problemas seus pra resolver e então

fica querendo solucionar os do mundo todo. Sempre percebo quando ‘tá preocupada com a

destruição da camada de ozônio. Você fica com essa ruguinha torta na testa, bem aqui, disse

ele passando o dedo de leve na testa dela e rindo.

Para surpresa de Cris, ela também começou a rir.

- Puxa, mas estou tão mal assim?

- Não, você ‘tá interessada, replicou Ted. Isso não é errado, desde que não leve esse seu

impulso ao extremo, claro. Aliás, essa é uma das muitas qualidades suas que admiro.

Ouvindo a voz calma do rapaz e seu cuidado carinhoso, Cris sentiu que se tranquilizava.

Começou a ter mais apetite e pegou três pedaços de linguiça do prato dele. Afinal ele

reclamou:

- Ei, vá lá e pegue mais pra você!

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que sua colega de quarto provavelmente dissera à outra e às suas amigas que Cris era

insensível.

Assim que a aula terminou, ela deu uma corrida rápida ao prédio da administração para

marcar uma entrevista com seu orientador. O primeiro horário vago dele seria no dia seguinte,

às 10:00h. Marcou então para essa hora, decidida a resolver qual seria sua especialização e a

organizar todo o seu horário de classe antes do final da semana.

Dirigiu-se para a livraria, e chegou ali no exato momento e que Donna ia entrar na loja

carregando uma caixa. Cris adiantou-se e abriu a porta para ela.

- Obrigada, Cris, disse a outra. Você chegou cedo. Que bom! Já lhe mostrei como marca

o ponto no computador ao pegar serviço?

- Não.

- É, achei mesmo que não tinha mostrado. Vamos lá. Vou ajudá-la a fazer isso.

Donna dirigiu-se ao fundo da loja, e Cris acompanhou-a. Ali ela ensinou-a a “entrar” no

seu cartão de ponto e digitar sua senha. Automaticamente o aparelho fazia o resto. Ao lado

dele, estavam caixas de livros didáticos, e sobre elas, um etiquetador. Logo Cris se recordou

do tempo em que trabalhara numa pet shop em Escondido. Só que, ali, ela passava horas

marcando preços em comida para peixes e brinquedos de borracha para gatos que tinham

cheiro de pneu velho. O cheiro de tinta e de papel que vinha daqueles livros era bem melhor.

- Estas três caixas aqui, continuou Donna, contém o mesmo livro. Então, primeiro, você

vai marcar estes, e depois aquelas quatro caixas ali, cujo preço é $15,95. Já trabalhou com um

etiquetador?

Cris fez que sim e lhe falou sobre a loja de animais onde estivera.

- ‘Tá bom. Assim que terminar, avise-me e vou lhe explicar sobre a caixa registradora.

A jovem ficou satisfeita ao ver que seu serviço inicial seria algo bem simples. Gostava

de se sentir produtiva e de avaliar o andamento das tarefas. Quando terminou, foi para o caixa,

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Cris e Ted passaram o resto do dia juntos. Primeiro foram cada um ao seu quarto para

guardar os pesados livros. Depois jantaram na cantina e, em seguida, o rapaz foi levar a

namorada até a sala de aula. Às 9:00h, ao fim do período, ele já se achava ali, a postos, para

acompanhá-la. Como já haviam combinado antes, foram à biblioteca para ver o horário de

aulas dela. Sentaram-se bem juntinhos num sofá, no saguão da biblioteca, e foram lendo o

nome das disciplinas e a hora das aulas de cada uma. Cris foi anotando tudo num bloco e se

sentiu bem. Mais relaxada quando viu tudo no papel. Agora podia planejar suas atividades e

ver o que poderia fazer.

Ted terminou a leitura de todas as disciplinas necessárias para ela se especializar em

Literatura Inglesa e disse:

- Então é isso. Agora quer ver as matérias de Ciências Humanas também?

Cris fez uma continha num canto da folha.

- Não, replicou. Estou cada vez mais convencida de que quero mesmo fazer Literatura.

Combina mais comigo. É mais específica do que Humanas. É como você falou hoje de

manhã. Eu já tenho essa tendência de querer “salvar o mundo”. Se fizer Humanas, vou ficar 

ainda mais envolvida nessa direção. Pra mim seria o mesmo que voltar para aquele orfanato

de Basiléia.

Assim que Cris estava com tudo ali, na ponta do lápis, ficou a olhar para o papel. Agora

só precisaria fazer todas aquelas matérias para tirar seu diploma de bacharel em Literatura

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Inglesa. Parecia que não era muita coisa. E agora pelo menos já tinha uma orientação clara a

seguir.

- Creio que Literatura é um bom curso pra você, comentou Ted examinando os cálculos

que ela fizera, principalmente se pretende um dia ter uma livraria. Isso aí é a soma total dos

créditos? Será que dá pra fazer tudo em dois semestres?

Cris acenou que sim.

- Foi o que o orientador me disse, replicou. Mas eu quer ver por mim mesma. Então,

 posso terminar em maio do ano que vem.

 Nesse momento, Ted deu um suspiro fundo. Parecia ter mergulhado de cabeça num

 ponto bem profundo de seu ser. Cris tinha certeza de que, quando voltasse à tona, traria na

mão algum “tesouro” encontrado ali. E depois de dois minutos de meditação, ele voltou de

seu devaneio. E com outro demorado suspiro, disse:

- O.k.,

O.k.? É só isso que tem a dizer? O.k.? Aonde é que você foi? O que foi que viu lá, nesse

lugar profundo?

Ela compreendeu que Ted não iria dizer nada. E também ele não tinha motivos para

dizer. Ela ainda não lhe dera a esperada “senha”, pela qual ele abriria o “cofre” do coração

dela, para guardar nele os tesouros que tinha para lhe dar. Contudo sabia bem o que ele estava

 pensando, pois em sua cabeça passavam as mesmas idéias.

 Aí poderemos nos casar, não é, Ted? E a Katie não estava tirando conclusões

apressadas, como achei que estivesse; certo? Estamos mesmo na reta final. Só falta eu dar 

minha palavra. Tenho de resolver. Mas antes preciso ter certeza de tudo, e você compreende

isso, não compreende?

- Então, agora ‘tá tudo pronto pra entrevista com o orientador amanhã? indagou Ted.

-‘Tá.

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- Sou eu quem precisa pedir perdão, disse. Fui muito insensível, Katie. Me desculpe. Eu

devia ter ido ao quarto da Selena ontem pra gente acertar aquele desentendimento.

- Não, eu precisava de tempo pra pensar naquilo tudo. Demorei um pouco pra enxergar 

que você tinha razão. Preciso mesmo começar a perdoar aos outros, e perdoar totalmente.

Havia até resolvido que hoje à tarde iria principiar esse processo perdoando ao Rick. Escolhi

o Rick porque foi ele o que mais me magoou. Então, depois do jantar, fui lá na igrejinha e

orei. Aí chegou isso, explicou ela apontando para a carta que estava na mão de Cris. Ela

acabou de me derrubar. Quero dizer, o Rick Doyle ‘tá me pedindo perdão. Então, que é que

estou fazendo ao evitar me encontrar com você? Nós duas formamos uma boa dupla, Cris.

Esperamos tanto tempo pra sermos colegas de quarto, e logo na primeira semana em que

estamos juntas, eu crio essa confusão toda...

- Você não criou confusão nenhuma, Katie, interpôs Cris. Apenas ficou um pouco fora

de si, foi só isso. Sempre que nós nos irritarmos uma com a outra, vamos conversar e acertar a

questão. Seja qual for o motivo.

- Você ‘tá certa, concordou Katie.

Em seguida, levantou-se e pegou a carta. Dobrou-a e guardou-a dentro da Bíblia.

- Você foi verificar sua caixa de correspondência hoje? Indagou.

- Não; por quê?

- Será que o Rick não escreveu pra você também?

- Pra mim?

- É; pra você. Quando vocês estavam namorando, ele também não a tratou com muita

dignidade.

- Ah, mas eu e ele já resolvemos tudo naquela época mesmo, explicou Cris. Acho que

ele não tem motivo algum pra me pedir perdão. Quando estávamos juntos, não agi com muita

sensibilidade pra com ele, não. Às vezes tenho a tendência de ficar muito tensa com respeito a

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tudo, e só enxergo os fatos pelo meu ponto de vista.

Katie deu um sorriso bastante significativo.

- Na verdade, disse, pensando bem, todos nós somos basicamente egocêntricos. É por 

isso que precisamos de um Salvador. O professor Mitchell já disse isso na classe de Antigo

Testamento? Ele vivia repetindo essa frase no ano passado. Quando estávamos estudando

sobre aqueles personagens do Antigo Testamento que cometeram tantos erros, ele sempre

dizia: “Mais uma vez estamos vendo que é por isso que todos precisamos de um Salvador”

Cris sorriu. Pensou em Rick e se recordou do versículo de João que diz que aqueles que

crêem em Cristo e o recebem conquistam o direito de se tornarem filhos adotivos de Deus.

 Agora o Rick se tornou de fato filho de Deus.

- Você ‘tá pensando no Rick, não ‘tá?

- Como foi que adivinhou?

- Também estava pensando. Agora, ele, que era “posudo”, é um salvo de verdade.

- Onde arranjou essa palavra? O que é “posudo”? Ouvi o Ted falando isso na mensagem

 para os jovens, na igreja.

- É... estou vendo que você ficou muito tempo fora daqui, comentou Katie. A primeira

vez que ouvi essa palavra foi em relação ao surfe. O “posudo” é uma pessoa que age como se

soubesse surfar, mas nunca sobe na prancha. Sabe como é? Ele põe adesivos sobre surfe no

carro. Veste camisetas com frases sobre ele. Conversa sobre a altura das ondas que viram na

semana passada, mas nunca surfam. Apenas querem que todo mundo pense que eles praticam

o esporte.

- E você acha que o Rick era assim? Quando a gente estava na escola, ele era um crente

“posudo”?

- Sei lá. Só Deus é que pode julgar; nós, não. Eu apenas estou admirada de que ele tenha

acertado tudo e que tenha escrito pra mim.

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- Amanhã de manhã eu leio.

Cris acabou não lendo. Só foi se lembrar das cartas na sexta-feira, após a primeira

semana de aulas. Quando as duas estavam verificando a caixa de correspondência, ela se

recordou e perguntou à amiga se ela já as havia remetido.

- Mandei só a do Rick.

As duas saíram do centro estudantil e foram caminhando em direção à cantina.

- Mamãe me deu o endereço dos pais dele e enviei pra lá. As outras não vou precisar 

mandar pois acabaram sendo uma carta apenas, uma carta bem comprida que escrevi pra

Deus, pedindo-lhe que me perdoasse por não ter perdoado àqueles caras. Guardei dentro da

Bíblia. E no verso delas, copiei alguns versículos que me falaram muito ao coração. Um deles

é aquilo que Jesus disse quando estava na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que

fazem”. Esse texto me ajudou muito porque compreendi que a maioria das pessoas que nos

magoam nem sabe o que ‘tá fazendo.

Cris já ia fazer um comentário sobre o que ela acabara de dizer quando avistaram Mark 

que vinha correndo em direção a elas. Ela sorriu para ele e disse:

- Oi, Mark! Sumiu hein?! Por onde andou durante a semana? Agora é a primeira vez

que te vejo!

- Oi, Cris! replicou ele com os olhos fixos em Katie. Wesley acabou de me dizer que

você é que é a Katie. É mesmo?

A jovem fitou-o com um sorriso bonito, cheio de charme. Não era uma expressão típica

da Katie, mas combinava com sua nova imagem, mais feminina e sofisticada.

- Depende, respondeu. Deve haver mais de uma Katie na escola. Qual das Katies você

está procurando?

- Bom, não sei o sobrenome dela, explicou o rapaz dando uma olhada para Cris e depois

 para a outra.

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- Ah, é? continuou a jovem, “curtindo” aquele momento máximo. E o que você sabe a

respeito dela?

- Estou procurando uma Katie que participou do jogo de beisebol domingo à tarde no

time que jogou contra o do Wesley.

- Ah, então sou eu.

- Ótimo, prosseguiu o rapaz. O negócio é o seguinte. Wesley me disse que você ia ficar 

no lugar da Cris naquele jogo, mas acabou entrando no time da Selena e praticamente sozinha

ganhou do nosso grupo.

Cris não sabia de nada disso.

- Estamos tentando marcar uma revanche pra este final de semana, explicou Mark. Uma

melhor de três. Selena falou que você vai jogar no time dela. Eu vou participar desse jogo. Se

você puder ficar do nosso lado, nós ganhamos deles facilmente. Como é que eu posso

convencê-la a jogar comigo e o Wesley?

Katie deu uma olhadela rápida para a amiga e em seguida voltou para o rapaz os olhos

verdes muito expressivos.

- Depende, falou. Quanto vai me pagar?

Cris teve vontade de cair na risada, mas se conteve ao ver a expressão de Mark.

- Quanto você quer? indagou ele num tom hesitante.

Katie deu uma gargalhada. Cris conhecia bem aquele jeito de rir. Era o riso mais alegre

de sua amiga. Era o mesmo que ela soltara nas férias anteriores, em Copenhague, quando as

duas tinham saído à procurar a estátua da Pequena Sereia. Ela rira daquela forma também

numa outra ocasião. Estava trabalhando como auxiliar de Papai Noel, e usava uma orelha

 pontuda. Em dado instante, Rick apareceu e elas foram se esconder dele, mas a “orelha”

ficava caindo.

- Estou brincando, explicou. Mas o Ted me disse que você é ótimo pra consertar um

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Volkswagen. O meu Buguinho ‘tá com um problema. O painel não ‘tá acendendo. Se

consertar pra mim, talvez eu possa jogar com você e o Wesley.

- O que é que é Buguinho? indagou Mark.

- Meu carro. É um bugue, mas a mecânica dele é da Volks.

- Ah, aquele amarelinho? perguntou o rapaz. Ele é seu? Qualquer dia desses dou uma

olhada nele. Onde arranjou aquilo?

- Um dos meus irmãos trabalha numa oficina de lanternagem.

- Esse tipo de carro é raríssimo em Wisconsin, sabia? Um amigo meu achou um na

Internet, e queria comprá-lo, mas estava no México.

- O meu está lá no estacionamento lateral. Quer ir lá vê-lo depois do jantar?

Cris girou os olhos para o alto e fechou a boca com força para não rir com a faceirice de

sua amiga e o entusiasmo de Mark. Pelo visto, os dois finalmente haviam se “encontrado”.

- Eu vou lá pra cantina, interpôs Cris. A fila já deve estar começando a ficar bem longa.

- Então acho melhor nós esperarmos, disse Mark, dirigindo-se a Katie. Quero dizer,

esperar pra jantar depois. Quer me mostrar seu carro agora?

Katie saiu andando com ele. Em dado momento, deu uma viradinha para trás e Cris

notou que em seu rosto havia uma expressão de felicidade.

Cris abanou a cabeça, rindo de sua amiga “maluquinha”. Mark não dera nenhuma

indicação de que se lembrava de que Cris lhe apresentara Katie uma semana atrás, dizendo-

lhe que era sua colega de quarto. É verdade que a amiga estava um pouco diferente, com o

cabelo cortado e tudo o mais. Estava até usando a saia “indiana”, mais feminina, e uma

 blusinha muito bonita, pela segunda vez naquela semana. Evidentemente, para o rapaz, essa

era a primeira vez que ele via Katie.

 É um novo começo pra minha querida amiga. Estou gostando muito disso. E agora não

há mais os “catálogos” do rancor pra ela carregar!

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Cris foi direto ao balcão de saladas e se pôs a preparar um imenso prato. Colocou nele

alface, brócolis, cenoura, queijo picado e passas. Tudo “regado” com um molho picante.

Quando estava na Europa, sentira muita falta da grande variedade de verduras frescas que se

comia na Califórnia. Avistou Ted na mesa ao canto da janela, que passara a ser exclusiva

deles e foi para lá. Antes mesmo de se sentar, foi logo dizendo:

- Até que enfim, aconteceu!

- O quê?

- O Mark “descobriu” a Katie, e eu não tive nada a ver com isso.

Em seguida, deu todos os detalhes para o rapaz. Ele também pareceu ficar encantado

com o fato, tanto quanto Cris ficara. Ted enfiou o garfo no seu prato de alface com ervilhas e

depois misturou ali um pouco de purê de batata. Na garfada seguinte, pegou uns pedaços de

frango e passou numa vasilhinha com molho de mostarda com mel.

- Puxa, você gosta de muita variedade, não? comentou Cris.

- Por que diz isso?

- Fiquei a semana toda observando como comia. Você come um pouquinho de tudo até

acabar.

- E daí?

- Nunca tinha notado isso antes, explicou a jovem, sorrindo. Estou descobrindo uma

 porção de fatos a seu respeito e estou gostando. Antes a gente nunca tinha passado tanto

tempo junto.

Ted pegou mais um pouco do purê e passou no molho. Cris comeu mais de sua salada.

Pensou se o namorado havia reparado que ela comia um tipo de alimento de cada vez, e só

depois pegava o outro tipo.

- Isso a incomoda, eu ficar pulando de um alimento pra outro, no prato? indagou ele.

- Não, não. De jeito nenhum. Só mencionei porque nunca havia observado isso antes.

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 perfeito para um dia de outono, e ela estava seguindo para a praia com Ted e seus amigos.

O grupo era constituído de cinco carros. Selena e Vicki, sua colega de quarto, iam com

Katie no Buguinho. Ted ia em sua kombi, seguido por Mark, que vinha em sua camionete,

levando Peter, seu colega de quarto. Na “Kombinada”, estavam Ted, Cris e mais quatro

rapazes. Em cima do carro, levavam também três pranchas de surfe. Wesley ia sozinho pois

 precisaria voltar mais cedo. Paul, que era “apenas um bom amigo” de Selena, iria encontrar-se

com eles lá, já que se achava em sua casa, em San Diego.

Ted ia à frente do comboio, seguindo pela Rodovia Ortega. Todas as janelas do carro

estavam abertas, e o rádio, ligado no último volume. Era uma estação que só tocava música

gospel, e que, segundo ele dissera a Cris, era a única que ouvia ultimamente. Cris dobrara sua

toalha de praia e a colocara sobre o banco para amenizar um pouco a aspereza das molas

estragadas. Assim a viagem, que duraria cerca de uma hora, seria mais confortável.

Estacionaram todos próximos uns dos outros e viram que Paul já os aguardava ali. Cris

ficou a observar para ver como ele e Selena se cumprimentariam. Espantou-se ao ver que se

olhavam de um modo bem natural. Paul era apenas “um dos amigos”. Aí, porém, se lembrou

de como ela também agia de maneira bem natural nos primeiros anos de seu relacionamento

com Ted. E fora melhor assim. Dessa forma, a amizade deles pudera se desenvolver em meio

aos altos e baixos que aconteceriam depois.

Todos se encaminharam para a praia com os braços cheios de pertences. Cris ia andando

ao lado do namorado.

- Nós temos algumas recordações desta praia, não temos? disse ela.

Ted fez que sim.

- Uma vez nós terminamos o namoro aqui, bem na hora do pôr-do-sol, comentou ele.

Há quantos anos foi isso? Três? Ou foi há dois anos? Foi um dos piores dias da minha vida.

- Da minha também, concordou a jovem. E a pior parte pra mim foi que voltamos pra

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emprestar sua prancha, Ted?

- Pegue, disse o rapaz, quase jogando a prancha na jovem.

- Desculpe de novo, continuou ela, mas só mais um detalhe. Cris, você trouxe protetor 

solar?

Cris empurrou a sacola para a colega.

- Obrigada. Vou pegar sua toalha de praia também, disse Katie. Vou pôr ali, perto da

minha. Quando você quiser, pode vir pegá-la.

E com isso, Katie foi saindo de mansinho, deixando os dois perto da barraca do salva-

vidas, ambos com as mãos na cintura.

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- Cris, disse Ted com uma leve irritação na voz, você não ‘tá entendendo nada do que

estou querendo dizer. Eu creio que foi Deus quem a inspirou pra que terminasse comigo. Isso

fez com que eu desse prosseguimento à realização dos meus sonhos. E não me arrependo de

nada. Aquele período que passei na Espanha mudou minha vida. E você nem sabia que eu

estava lá. Isso foi uma confirmação pra mim, e eu precisava dela.

Apesar das palavras dele, Cris continuava irada. Só conseguia pensar no quanto havia

chorado por causa do Ted, na saudade que sentira dele, sem saber onde ele estava e por que

não lhe escrevia. E ademais não enxergava nenhuma mudança importante em sua vida pelo

fato de os dois terem terminado o namoro.

- Que confirmação? indagou por fim.

Ted olhou para o mar e soltou um suspiro profundo. Em seguida, voltou a fitar Cris.

- A confirmação de que não era pra eu ser missionário de tempo integral em alguma ilha

tropical, como sempre achei que seria.

A jovem se acalmou um pouquinho. Ted já havia conversado com ela sobre isso algum

tempo atrás. Ele dissera que só de alguém saber que há uma vaga num campo missionário,

isso não significa que ele está sendo chamado para trabalhar ali. O mero fato de se ver uma

oportunidade de trabalho no exterior não implica que Deus o está chamando para ir para lá.

- Quando estava ali na Espanha, descobri que tenho muita facilidade para trabalhar com

adolescentes, ensinando e dirigindo o louvor. Se não tivesse ido lá, talvez não teria enxergado

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isso. Foi por esse motivo que resolvi mudar minha especialização e estudar Teologia,

 pensando na hipótese de ser ministro de jovens.

Cris cruzou os braços e olhou para o chão. Seu tênis estava cheio de areia. Nesse

momento, pensou que teria sido melhor se o tivesse tirado ou tivesse vindo de sandália.

Lembrava-se de que, em Basiléia, usara umas sandálias velhas nos poucos dias de verão que

 passara ali. Contudo deixara-as por lá mesmo, quando voltara.

- É; acho que eu também não teria ido pra Suíça, disse ela lentamente. Depois que você

foi pra Espanha, comecei a pensar no que eu queria pra minha vida. Nem sabia se iria fazer 

um curso superior. E agora, aqui estou eu, já me vendo estudando pra me formar em

Literatura.

- Sabe o que mais? principiou Ted, relaxando um pouco e aproximando-se de Cris. Se

fossemos só nós que tivéssemos de determinar nosso destino, teríamos razões pra ficar 

aborrecidos com as decisões erradas que tomássemos. Mas Deus também se acha muito

envolvido nisso tudo. Tanto eu como você já entregamos nossa vida a Cristo e demos a ele o

controle da nossa existência.

- É, mas de vez em quando tento pegar de volta esse controle, interpôs Cris, afastando

uma mecha de cabelo do rosto.

Ergueu os olhos para o namorado. Este tinha uma expressão de ternura.

- Então, a única coisa que podemos fazer agora, prosseguiu o rapaz, é olhar só daqui

 para a frente. Não podemos alterar o passado.

- É, concordou Cris. Eu sei. Em vez de ficar perguntando “E se...?”, temos de passar a

dizer: “Qual é o próximo passo?”

Ted acenou que sim.

- E agora quero ser bem sincero. Parece que só eu tenho uma compreensão bem clara do

que devemos fazer a seguir. Você ainda tem algumas dúvidas, hesitações ou algo assim.

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Ted fez um aceno com jeito brincalhão, sorriu e acenou de novo.

- Tivemos nossa primeira discussão em público, disse ele, e praticamente fomos

ovacionados.

Cris também dirigiu um sorriso para a “platéia” e depois voltou a olhar para o

namorado.

- Acho que as palmas foram pra nossa decisão de nos beijar e nos reconciliar, em vez de

 brigarmos de fato, disse.

- Concordo plenamente, ajuntou Ted que, em seguida, ergueu os olhos para o céu e

continuou: Que bom, Senhor! Nem sempre entendo teus planos, nem sempre concordo com

teus métodos, mas gosto muito quando nos das surpresas agradáveis.

Cris já estava acostumada a ver o rapaz começar a orar nos momentos mais inusitados.

Eles se entreolharam e sorriram.

- E agora? indagou o rapaz. Já ‘tá querendo cair na água?

- Claro, replicou ela.

Com isso, Ted, num movimento rápido, pegou-a no colo e saiu correndo em direção ao

mar. Cris se pôs a gritar.

- Espere, espere! berrava ela. Vou entrar sozinha! Não quero molhar esta camiseta!

Ted não deu ouvidos aos seus gritos. Ela não conseguiu se soltar, e daí a pouco os dois

estavam na água. E parecia que aquele era o sinal que toda a turma estava esperando. Num

segundo, todos os outros correram para o mar e começar a atirar água uns nos outros, rindo

como loucos.

Cris observou que Mark estava se divertindo bastante com a brincadeira e que sua

 principal “vítima” era Katie. Nesse momento, Cris sentiu um pedaço de alga marinha flutuar 

 perto dela. Pegou-o e atirou-o na praia. Detestava a sensação grudenta daquela planta, com

seus tentáculos “de borracha”.

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repetiu a mesma oração na língua havaiana que recitara uns dias atrás.

- Você ia me dizer o que significa isso, comentou a jovem.

- Vamos nos encontrar na praça da fonte, antes de você pegar serviço, replicou ele. Aí

vou lhe contar a história toda.

Entretanto, quando chegaram ao lugar marcado, ele estava tão cheio de gente que foram

 procurar outro ponto para se sentarem. Acabaram indo para o saguão do Dischner Hall, o

 prédio de estudos musicais, onde se acomodaram num sofá. Dali escutavam os sons de um

 piano que alguém tocava entusiasticamente numa das saletas de estudo.

- Acho que nunca lhe contei muito do que se passou conosco quando moramos no

Havaí, né? disse Ted.

Cris concentrou-se no que o rapaz estava lhe dizendo. Tinha impressão de que essa

conversa iria ser uma das mais importantes que teriam. Provavelmente seria tão significativa

quanto a que tinham tido naquela praça, uns dias antes.

- Já lhe contei que no Havaí morávamos com uma jovem chamada Kapiolani, que era

namorada do meu pai?

Cris abanou a cabeça, negando.

- Ela era de lá daquele lugar. Meu pai gostava muito dela. Eu a chamava de Lani. Era

uma pessoa extraordinária. Eu sentia mais liberdade com ela do que com minha mãe. Ela

costumava fazer spam * e arroz com molho de teriyaki pra mim e meu amigo Kimo, quando

ele ia à nossa casa. Era o prato predileto dele.

Cris fez uma caretinha.

- Spam com arroz?

- É. Uma hora dessas, você precisa experimentar. A primeira vez que ela fez foi um dia

* Spam - um prato feito com carne bem picadinha. (N. da T.)•

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estavam tendo.

- Sei, replicou ela, com um meio sorriso. Já vi sua prancha.

- Ganhei da Lani, no meu aniversário de dez anos.

Agora Cris entendia por que ela estava tão “surrada”. Antes, porém, que fizesse um

comentário nesse sentido, Ted concluiu o que começara a dizer.

- Dois meses depois, ela morreu. Tinha câncer no ovário. Após isso, ficamos no Havaí

 pouco tempo. Meu pai não suportou o sofrimento. Foi aí que nos mudamos pra Newport

Beach. E, pelo menos até onde sei, ele nunca mais se apaixonou por ninguém. E também

nunca mais voltou lá.

- Mas você, já, disse ela.

Ted fitou-a, sorrindo carinhosamente.

- Já, repetiu ele.

E aqui ele se inclinou para mais perto dela, e cochichou ao seu ouvido:

- Eu já me apaixonei.

A jovem sentiu o rosto começar a queimar.

- Eu quis dizer que você já voltou ao Havaí.

- Isso também, concordou ele.

Ted recostou-se no sofá e apoiou os cotovelos no encosto dele. Estendeu as pernas para

a frente, cruzando os pés à altura dos tornozelos.

- Acho que, para me curar dessas feridas do passado, tenho de voltar lá e recordar tudo.

Já o meu pai parece que resolve essas questões tocando a vida pra frente. Creio que é por isso

que nunca conversa comigo sobre esses fatos. Ele não gosta de discutir esses assuntos. E é

claro que não falo com minha mãe sobre eles também. Aliás, com relação a esses

acontecimentos, ela só sabe que moramos em Maui durante algum tempo.

Cris pegou a mão do namorado.

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 procurar um serviço. Sabe se ainda tem alguma vaga na livraria?

- Acho que não, mas vou perguntar.

- Obrigada, disse Selena.

Depois, inclinando-se mais para Cris e abaixando a voz, continuou:

- Ah, eu queria lhe dizer uma coisa. Fiquei muito alegre de que você e Katie acertaram

tudo. Naquele dia que ela foi para o meu quarto muito aborrecida, comecei até a ficar 

 preocupada. Ela não me disse qual tinha sido o problema, mas saquei que tinha acontecido

algo entre vocês duas. Eu costumava me chatear muito com minha irmã, quando a gente

estava junta.

Cris ficou bastante admirada. Então Katie não comentara com ninguém a respeito da

discussão que tinham tido. Isso era um ponto a seu favor. Cris sentiu ainda mais admiração

 pela colega.

- Você e a Katie são exemplos pra mim, continuou Selena. Aliás, acho que você já sabe

disso, né? Vocês são o que considero grandes “MDD”.

- “MDD”? Quis saber Cris.

- É... “mulheres de Deus”, explicou Selena. “MDD”. Vocês se interessam de fato pelos

outros. Não sei se já lhes agradeci por terem sido tão legais comigo, naquela ocasião em que

nos conhecemos, na Inglaterra. As duas me trataram de igual para igual, embora eu fosse mais

nova. Vocês me acolheram bem, de forma que me senti encaixada no grupo. Nunca vou me

esquecer disso.

Cris sorriu para a garota, que também lhe retribuiu o sorriso. Selena tinha uma

expressão tão simples e límpida no olhar!

 Nesse momento, Ronny e sua banda foram para a frente e ele pediu aos estudantes que

se levantassem, para iniciar a reunião. Cantaram três cânticos seguidos, a voz de todos os

alunos permeando o ambiente. Cris estava gostando demais do louvor. Fechou os olhos e

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- Você ‘tá me pedindo pra preparar o menu e a lista do que vamos comprar?

- Ei, eu vou ajudá-la! retorquiu ele. Já temos um item da lista, ervilhas. E ervilha

combina com tudo. Que mais você acha que devemos pôr nela?

Se o Ted não fosse uma pessoa tão adorável, Cris teria dado um tapa nele.

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com a salada. Agora é com o sorvete.

Seu tom não era de quem estava aborrecido. Pelo contrário, dava a impressão de estar 

até meio orgulhoso pelo fato de ela observar esses aspectos da vida dele.

- Não, mas já que estamos conversando sobre esses detalhes específicos que não

conheço bem, quero mencionar outro fato. Você disse que tem uma poupança e ‘tá fazendo

investimentos.

- É; tenho procurado deixar um saldo menor em minha com corrente, e pôr tudo na

 poupança.

Cris não tinha muita certeza se entendera exatamente o que ele quisera dizer. Alguns

dias antes, estivera pensando sobre aquela sua dificuldade para falar de um compromisso sério

com o namorado. Achava que, se ele entendesse que ela estava preparada para dar o passo

seguinte em seu relacionamento, iria querer conversar especificamente sobre o futuro dos

dois. E caso eles resolvessem se casar assim que se formassem, onde arranjariam o dinheiro?

Se o Ted estivesse fazendo planos para o futuro da mesma forma que se preparava para

o acampamento, eles estariam “perdidos”. Naquela hora, compreendeu por que ela,

intuitivamente, evitara dar o passo de assumir um compromisso. Se aceitasse plenamente a

idéia de se casarem e logo depois percebesse que teriam de esperar mais cinco anos para o

Ted ter os meios necessários para isso, e até para comprar o anel de noivado, ficaria muito

frustrada.

- Como é que você, depois de pagar a escola e tudo o mais, ainda tem dinheiro pra pôr 

numa poupança? indagou ela, falando cautelosamente.

- Meu pai ‘tá pagando a faculdade pra mim.

Cris abaixou a mão com que segurava a pazinha.

- Não sabia disso, comentou. Então, por que no ano passado você trabalhou feito um

louco em dois empregos?

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- Estou me preparando para o futuro.

- ‘Tá? perguntou Cris, sentindo suas esperanças se renovarem.

- Claro.

A jovem pôs um pouco de sorvete na língua e deixou-o derreter ali. Começou a pensar 

se essa não seria uma área em que o namorado iria surpreendê-la, por estar cuidando de todos

os detalhes. Ela já havia ficado espantada com ele algumas vezes ao constatar que ele possuía

uma clara percepção das realidades da vida.

- O que você acha? indagou ele. Vamos lá comprar o fogareiro?

- Creio que sim, replicou ela. Mas precisamos ver se lá na igreja eles não têm algumas

coisas que podemos pegar emprestado.

- Já verifiquei, disse Ted. Não têm fogareiro. Podemos pegar na cozinha todas as

 panelas, pratos e talheres. E depois temos de lavar tudo e devolver em perfeitas condições.

Mas eles não têm fogareiro.

 Nesse momento, Cris notou uma porção de gente caminhando em direção à sorveteria.

Evidentemente o filme havia terminado. Achou que certamente alguns alunos da escola

estariam entre os que saíram do cinema, e tinha razão. Pouco depois, viu Katie e Mark 

aproximando-se.

- Oi! disse Ted, cumprimentando-os. Tudo bom com vocês?

- Foi o pior filme que já vi, disse Katie, num rompante.

Mark deu uma risadinha.

- O que foi que assistiram? quis saber Cris.

- Era algo sobre beisebol, informou Mark.

- ‘Tá vendo? Nem lembramos o nome dele, comentou Katie. Foi o Wesley que sugeriu,

hoje à tarde, que viéssemos vê-lo. Ele mesmo acabou não vindo. Na hora, achamos que talvez

fosse uma boa idéia, mas o filme é péssimo.

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 Não comprou nada, mas dava a impressão de estar tendo a maior satisfação só de imaginar o

que faria com aqueles objetos, se algum dia os comprasse.

Cris se separou dele e foi procurar um pequeno tapete para seu quarto. Achou dois e foi

mostrá-los a Katie.

- Quer levar um destes? perguntou à amiga.

- Não, disse a outra, já gastei demais com este negócio aqui.

E assim dizendo, mostrou a Cris três jogos de fronhas, ainda na embalagem.

- Sabe que isso deve ser muito velho? indagou esta.

- Sei, explicou Katie. Mas não são engraçadinhas? São peças de colecionador. Olhe.

Ursinho Pooh, Minnie do Mickey e a Pequena Sereia, o que eu mais gosto.

- Mas essa aí não parece nada com a estátua que vimos em Copenhague, comentou Cris

rindo.

- É quase do mesmo tamanho, replicou a jovem. Agora, sempre que eu quiser, posso

dormir e ter maravilhosos sonhos com Lille Havfrue.

- É, mas tem de lavar antes, informou a outra.

- Sim, Senhorita Limpeza. Vou comprar isso aqui também, continuou Katie, mostrando

um aquário de peixinho dourado, que o Mark estava segurando para ela. Custa só 25 centavos.

- Pra que você quer isso? indagou Cris.

- Ué, pra pôr um peixe, claro. Precisamos de um bichinho no quarto.

Cris já ia protestar, mas viu Ted caminhando pelo setor do encanamento.

- Ó gente, acho que vocês podem ir pra fila, disse ela. Vou ver se busco o Ted pra irmos

embora.

Felizmente, foram poucas as torneiras e vedações que empolgaram o rapaz, então sua

 passagem pelo setor foi rápida.

- Você ‘tá curtindo muito tudo isto aqui, não? indagou-lhe Cris, quando os dois já se

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- Ué! E o Rudy? indagou Cris.

Quando voltavam do “Galpão”, no sábado anterior, Katie havia comprado um peixinho.

Ela lhe dera o nome de “Rudy” e o instalara em seu aquário de vinte e cinco centavos,

novinho em folha. Todos os dias ela conversava com ele e lhe dava comida. Acabou dando

comida demais.

- Hoje cedo ele foi para o céu dos peixes, explicou Katie. Agora é o Chester que quer 

morar conosco.

- Então é melhor você levá-lo logo para aquele aquário, interpôs Cris. Parece que ele ‘tá

se afogando nesse saco plástico.

- Afogando!!! exclamou a outra rindo. Muito engraçado!

- ‘Tá bom! Então ‘tá sufocando.

- Já estou indo para o quarto. Só queria saber a que horas vocês vão comprar a comida

 para o acampamento. Eu posso levá-la, se quiser.

- O Ted ‘tá com a lista, replicou Cris, e já foi fazer as compras.

- Você deixou que ele fosse comprar tudo sozinho? Indagou Katie.

- É na mercearia, Katie, não no brechó. Acho que ele vai comprar tudo direitinho sem

mim.

Katie fitou-a com uma expressão de dúvida.

- Você acha mesmo?

- Acho.

- É... fez a outra, virando-se para sair, o amor “embaça” mesmo o raciocínio das

 pessoas. Então já vou embora com o Chester. Mas acho bom você dar uma conferida na

capacidade de seu namorado pra fazer compras, antes que seja tarde demais.

 Não demorou muito para Cris ver algo que justificava plenamente a advertência de

Katie. Na sexta-feira à noite, a turma toda foi para a área de camping do deserto “Joshua

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Ted estava ajudando Cris cobrir as caixas de alimento com lonas, para não se encherem

de areia e protegê-las dos insetos típicos do deserto. Foi aí que avistou os dois jovens tentando

sair da barraca. Imediatamente ele jogou o foco de sua lanterna de mão neles e os garotos

voltaram para dentro.

Cris teve muita dificuldade para pegar no sono. Não que estivesse com frio, não. Vestira

várias peças de roupa para se aquecer. Além disso, trouxera um colchonete inflável e pusera o

seu saco de dormir sobre ele. Contudo ficou atenta, para ver se escutava alguém abrindo o

fecho de zíper da barraca e pensando se o Ted teria de ficar a noite toda de guarda.

O Sol, ao nascer, tirou todo mundo da cama, pois as barracas logo ficaram muito

quentes. Cris, que não conhecia bem o deserto, ficou admirada ao perceber como se avistava

até bem longe, quando se estendia o olhar pela superfície dele. E virando-se em várias

direções, não se via nada. Vez por outra, encontrava apenas um cactus, parecendo congelado

no tempo. Lembrava um caixa de banco do velho Oeste, levantando os braços como se

estivesse sendo assaltado.

O dia esquentou rapidamente e a jovem sentiu a pele ressequida e como que “esticada”.

Agora de manhã, não estava ventando, e ela logo sentiu calor. Foi tirando os agasalhos e

terminou de camiseta e short.

- Estou admirada com você, disse Katie no momento em que guardavam o alimento,

após terem tornado o café da manhã.

- Admirada do quê? perguntou Cris.

- De como você ‘tá feliz e do quanto é organizada, explicou a outra. Isto aqui ‘tá muito

melhor do que o acampamento que fizemos nas férias passadas.

- Ah, você falou a palavra certa, interpôs Ted, pegando seu violão na camionete de

Mark. Organizada. Cris gosta de se preparar bem pra tudo.

- É, disse Katie, e você precisa aprender com ela. Cadê a coberta que prometeu?

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- O Mark ‘tá fazendo uma de lona, atrás da barraca maior, explicou o rapaz. Vamos nos

reunir lá pra cantar e fazer o devocional matutino. Depois daremos um passeio de bugue, nas

dunas.

Cris terminou a arrumação que estava fazendo e foi para perto dos outros. A parte de

que ela mais gostava num acampamento era justamente os cânticos em grupo. Contudo o

 período de louvor acabou sendo muito curto. É que estava muito quente, e eram poucos os

 jovens que cantavam.

Ted foi para a frente, abriu a Bíblia e se pôs a dar uma palavra. Cris deu uma olhada a

sua volta. Notou que poucos dos jovens prestavam atenção, na maioria meninas.

 Essa meninada nem se dá conta de que o Ted é um presente de Deus pra eles. Ele

realmente gosta muito desses garotos. Se quiserem, ele vai ser amigo deles pelo resto da

vida. E isso que ele ‘tá dizendo aí é uma grande verdade. Eles precisam confiar em Deus com

relação a todos os aspectos de sua vida. Por que não estão “bebendo” as palavras dele?

 Para alguns, isso pode ser uma questão de vida ou morte!

Resolveu orar. Ultimamente vinha orando bastante. Desde aquele domingo em que a

Kombinada havia estragado quando já iam para a igreja, ela entendera que estavam numa

 batalha contra inimigos invisíveis. Travavam uma guerra para conquistar a alma daqueles

 jovens. Em dado momento, sentiu o Sol bater forte em seu ombro direito. O braço já estava

ardendo. Remexeu-se e virou para outro lado, deixando que o Sol lhe batesse nas costas. E

continuou orando pelo namorado.

- Vou concluir com um pensamento, disse Ted. Nenhum de nós sabe quando nossa vida

terminar e iremos nos apresentar diante do Deus todo-poderoso. A Bíblia diz que estar ausente

no corpo é estar na presença do Senhor. Não na presença de São Pedro, num portão dourado,

nem diante de um tabelião, sentado a uma mesa, como a gente vê na televisão. Não. Vamos

estar diante do Senhor.

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Cris correu os olhos pelos presentes e se pôs a orar por cada um dos alunos da classe,

embora não lembrasse o nome de todos.

- O Senhor Jesus vai estender a mão para nós, e veremos as cicatrizes dos cravos, que

ainda estão nela, apesar de já terem se passado dois mil anos que ele morreu por nós. E ele vai

nos dizer:

“Entre, amigo! Eu já estava esperando-o. Agora que está em minha casa, poderemos

continuar aquele relacionamento que começamos quando você ainda se encontrava na Terra.”

- Ou então ele dirá:

“Eu o chamei para vir a mim, mas você passou a vida toda me rejeitando. Agora é tarde

demais. Como não me quis, passou a eternidade longe de mim.”

Cris notou que o grupo ficara muito silencioso. Todos tinham os olhos fixos em Ted.

- Será que vai ser preciso acontecer algo pra você receber a Cristo? Não espere muito,

não. Ninguém sabe quando vai morrer. E assim que esta vida acabar, começará a outra. Ou

 passaremos a eternidade com Jesus no céu, ou longe dele, isto é, no lugar que Deus preparou

 para os demônios, os anjos caídos que o abandonaram.

Aqui Ted fez uma pausa, e depois continuou:

- Para onde você vai? O céu existe mesmo, de verdade. E o inferno, também.

Os dois garotos que já haviam causado problemas antes deram uma risadinha curta, de

deboche. Todos os outros, porém, ficaram em silêncio. Ted encerrou a reunião orando.

Contudo, ao final da prece, em vez de dizer “Amém”, falou algo que Cris nunca ouvira antes.

- Como quiseres, Senhor! disse ele.

Os presentes ficaram uns instantes sem saber que ele havia encerrado a oração.

Assim que os jovens perceberam que o cultinho estava terminado, correram para os

veículos que Ted arranjara para o passeio, e passaram o resto do dia se “divertindo a valer”,

como disse Katie. Cada hora era um que pegava um dos carros e saía rodando pela planura do

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deserto.

Cris permaneceu no acampamento. Quando já ia dar meio-dia, chamou duas garotas que

estavam ali para ajudá-la a preparar sanduíches de manteiga de amendoim com geléia de uva.

Assim, quando alguém quisesse comer, após os passeios pela areia, a comida estaria pronta.

Contudo, como estivesse fazendo muito calor, e o ar, muito seco, em poucos minutos, o

 pão foi ficando ressequido, parecendo torradas. A jovem resolveu ir guardando os sanduíches

em sacos plásticos, à medida que os iam fazendo. Isso contribuiu para amenizar o problema.

A sorte era que Ted comprara tanto pão e tanto creme de amendoim que, se aqueles

sanduíches ficassem imprestáveis e tivessem de jogá-los fora, teriam como preparar outros.

 Ninguém iria precisar passar fome.

Por volta de 4:00h da tarde, o vento recomeçou e o calor diminuiu ligeiramente. Pouco

depois, Ted chegou ao acampamento em um dos veículos e disse que teria de levar um galão

de gasolina para Katie. Ela estava parada com o “Buguinho”, por falta de combustível.

- Quer ir comigo? perguntou à namorada.

- Quero, replicou ela.

 Nesse momento, recordou-se de uma ocasião em que ela e Ted tinham saído com Tia

Marta para dar um passeio de barco e a gasolina acabara. A sorte foi que uma jovem muito

 bonita, pilotando um jet-ski, passara por eles e os acudira. Lembrou-se de que teve vontade de

estar no jet-ski, e não ali naquele barco, com a tia, que se mostrava bastante irritada.

Foi então que se pôs a pensar em como estariam seus tios. Imediatamente procurou

afastar o pensamento do problema deles. Entretanto, pouco depois, a lembrança voltou,

dando-lhe uma desagradável sensação de peso interior. Como não poderia conversar com

ninguém sobre a decisão que Marta tomara, precisava falar com a própria, o mais depressa

 possível. Resolveu que iria ligar para ela assim que chegasse de volta à escola. O que diria

 para a tia era outra questão. O que faria primeiro seria levantar o assunto novamente.

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- Dê um jeito pra Cris dirigir esse bugue aí.

- Quer pegar o carro? perguntou Ted para a namorada.

- Não, obrigada!

- Tem certeza?

A expressão dele era típica de Ted. Estava parado, as sobrancelhas ligeiramente

arqueadas e uma covinha na face direita. Cris se viu inundada por lembranças de outros

momentos em que ele a fitara daquela maneira. Em todos eles, ela se dispusera a fazer o que

ele estava querendo ensinar-lhe, desde surfar com um body-board até tentar o esqui aquático.

A única vez em que ele a olhara daquele jeito e ela se recusara fora nas últimas férias, quando

a chamara para ir “aos confins da Terra”, ao Círculo Ártico. Então ele pegara um trem e fora

sozinho, enquanto ela e Katie viajavam para Copenhague. Depois disso, arrependera-se

inúmeras vezes, pois perdera a chance de ver um urso polar, ao lado de Ted.

- Sabe o que mais? disse de repente. Por que não? Me mostre como se faz.

 Não entendia por que o coração batia com tanta força. Confiava em Ted o suficiente

 para correr riscos com ele. E nesse momento sentia-se preparada para o que desse e viesse.

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11

Ted deu uma corridinha curta em direção ao banco do carona e colocou o cinto de

segurança, e Cris se acomodou no assento do motorista. Ele lhe explicou rapidamente a

 posição das marchas e lhe mostrou o pedal da embreagem. Katie já partira no seu Buguinho e

à volta deles tudo era silêncio. Então Cris girou a chave para ligar o barulhento motor do

veículo. Nas três primeiras tentativas, ela deixou que ele “morresse”. Ted pacientemente lhe

ensinou como deveria fazer. Na quarta vez, o carro arrancou e lá se foram eles, sacolejando

em direção ao acampamento.

- Ótimo! gritou Ted. Agora passe a marcha!

Cris mudou a marcha, acelerou e mudou de novo. Apertou mais o acelerador e

experimentou uma eufórica sensação de prazer brotar no fundo de seu ser. Soltou uma risada

de satisfação, como que extravasando o sentimento que lhe vinha da alma. E eles continuaram

sacolejando pelas lombadas das dunas, cortando o Deserto de Mojave. A última vez que Cris

 pegara um volante com Ted ao seu lado fora no Havaí, quando passaram pela ponte de Hana.

- Que delícia! gritou ela, aumentando a velocidade do veículo e se sentindo mais segura

na direção.

Deu uma espiada no namorado. O sorriso dele ia de orelha a orelha. Parecia que estava

rindo, mas não dava para escutar nada.

Cris resolveu voltar ao acampamento por outro caminho, criando sua própria rota e

dando muitas voltas. A certa altura, um dos rapazes do grupo deles ultrapassou-a em um

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 bugue de um passageiro só. Mark vinha logo atrás dele em outro. Cris começou a acenar para

eles, mas assim que tirou a mão do volante, bateu em uma lombada e o carro morreu. Outra

vez, o silêncio os envolveu. Cris virou-se para Ted, que ainda estava sorrindo. Então ela

também caiu na risada. Tombou a cabeça para trás e, sem querer, bateu numa barra de ferro.

- Ai! gritou, passando a mão no lugar dolorido e tentando reprimir as lágrimas que lhe

tinham vindo aos olhos.

- Machucou? indagou Ted num tom carinhoso.

- Bati a cabeça na barra, explicou ela, rindo da sua falta de jeito.

O rapaz inclinou-se para ela e acariciou de leve o local dolorido.

- Ai!

- Quer continuar dirigindo? perguntou ele.

- Talvez seja melhor você pegar o carro, no caso de eu ter tido um traumatismo com

efeito retardado, disse.

Ted fitou-a meio na dúvida. A jovem riu de novo e explicou:

- Estou brincando.

Sorriu para o namorado e deu com os olhos azuis dele, que naquele momento tinham

uma expressão muito intensa. Mais uma vez, ele a fitava “daquele jeito”.

 Numa fração de segundo, um pensamento lhe passou pela mente, como que

“queimando” seu consciente.

 É ele! pensou quase de respiração suspensa. Ted, você é o homem da minha vida.

Sua sensação era de que o mundo parara de girar e ela e Ted eram os únicos dois seres

na face da Terra.

Você é a pessoa certa pra mim. E eu sou a certa pra você, não sou? É isso mesmo!

 Minha avó tinha razão! Agora eu sei. Sei com certeza!

Ted saiu do carro para trocar de lugar com ela. Cris também se levantou. Tinha a

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impressão de que tudo estava acontecendo em câmara lenta. Os dois “trombaram” atrás do

carro. O rapaz pôs as duas mãos nos ombros dela e lhe deu um beijo rápido no rosto. Depois

saiu correndo para se sentar ao volante.

Cris permaneceu parada ali. Tinha consciência de que acontecera algo muito estranho e

maravilhoso em seu coração. Nunca pensara que isso iria suceder agora, num lugar como

aquele. Contudo compreendeu que era o misterioso “evento” que ela tanto esperara. Tinha de

dizer a Ted que estava apaixonada por ele. Não; tinha de falar mais que isso. Precisava

confessar-lhe que o amava, que o queria de verdade. Tinha de dizer-lhe que, com muita

alegria, ela assumiria o compromisso de amá-lo pelo resto da vida. E não importava onde

morassem, nem o que fizessem, nem que rumo a vida deles tomasse. Nesse momento, Cris

tinha a certeza - absoluta certeza - sem a menor sombra de dúvida, que desejava ser a esposa

de Ted, sua amiga, companheira e a mãe de seus filhos, enquanto vivessem.

Sentia o coração latejando-lhe na garganta e ficou a olhar para o rapaz que agora estava

colocando o cinto de segurança. Ele estava de costas para ela, mas a jovem não queria esperar 

nem mais um minuto para fazer sua declaração, para revelar seu compromisso com ele.

- Ted! gritou.

 Nesse instante, ele girou a chave na ignição e o barulhento ronco do motor não permitiu

que ele escutasse a voz dela.

- Eu te amo! disse Cris, gritando.

Ted não ouviu. Cris sorriu.

Que ironia! pensou, dando a volta para ir se sentar no banco do carona.

Ela acomodou-se e colocou o cinto. Ted engatou a primeira.

 Ah, agora eu já tenho certeza e isso basta. Vou esperar um lugar mais romântico, uma

hora mais propícia para contar pra ele. E quando eu lhe disser isso, ele vai me escutar bem,

não só com os ouvidos, mas também com o coração.

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E partiram deserto afora, com o motor roncando feito um leão.

Cris procurou ficar bem atenta para sentir quando teria a segunda oportunidade de fazer 

sua declaração para o Ted. Quando estava preparando o lanche da noite, deixou a imaginação

correr solta, analisando todas as situações em que poderia dar-lhe a notícia. Em dado instante,

ocorreu-lhe a maluca idéia de escrever a frase em toalhas de papel, usando molho de

mostarda. Depois penduraria as folhas nos cabides e poria dentro da Kombinada. É, mas aí

outras pessoas poderiam ver sua mensagem, e aquilo era algo entre ela e o namorado apenas.

À noite, ficou ainda um bom tempo acordada na barraca. Ocorreu-lhe que o mais

importante seria dizer-lhe tudo de viva voz. Queria que ele ouvisse suas palavras, e não que as

lesse.

 No domingo de manhã, a temperatura estava mais fresca. Uma leve camada de nuvens

surgira no céu, mais parecendo um mosquiteiro, como os que as pessoas utilizavam sobre a

cama nos países tropicais. Cris não teve vontade de se levantar. Estava cansada, sentindo-se

como uma assistente de um safári, confortavelmente deitada sob o mosquiteiro. Seus

músculos estavam doloridos e sentia-se esgotada. Sua vontade era entrar debaixo de um

chuveiro morno para se refazer lentamente.

E ela teve o “chuveiro”, sim, mas não morno. Foi uma chuva que desceu em grandes

gotas, quando o grupo estava reunido para o cultinho matutino. Contudo foi muito rápida.

Logo em seguida, o Sol apareceu e secou tudo quase que imediatamente. Cris olhou para seus

 braços. Era como se o objetivo da chuva tivesse sido apenas transformar em lama a poeira que

estava em sua pele. Depois, vinha o Sol e “grudava” a lama nela.

Quando chegou a hora de partir, não foi preciso insistir com ninguém para desarmar as

 barracas e fazer a limpeza do local. Em dado momento, Cris estava tentando arrancar duas

estacas, mas elas estavam bem firmes. Mark aproximou-se.

- Deixe-me tentar, ofereceu o rapaz.

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Com um puxão forte, ele conseguiu removê-las.

- Obrigada, disse Cris. Parece que com a chuva a terra vira uma cola. Pode tentar 

arrancar aquela estaca ali também?

Mark conseguiu retirar a outra também. Depois voltou e se aproximou mais da jovem,

olhando para os lados para ver se havia alguém por perto que pudesse escutá-los.

- Queria conversar com você um minuto, posso?

-Claro, replicou Cris, continuando a desarmar a barraca.

- Vem cá, disse o rapaz, caminhando em direção à sua caminhonete. Sei que o que vou

dizer, prosseguiu ele, falando em voz baixa, parece coisa de criança. Mas preciso lhe

 perguntar algo. Você acha que a Katie, é... está interessada em mim?

Cris se sentiu meio sem jeito de conversar com ele sobre essa questão.

- Acho que você deve conversar sobre isso e com ela, replicou. Quero dizer, eu tive a

impressão de que vocês dois estavam ficando muito chegados. Têm andado muito juntos.

A verdade era que ela não sabia responder, mas não queria dizer isso ao rapaz. Mark 

fitou-a diretamente nos olhos, franzindo um pouco as sobrancelhas.

- Parece que nós estamos namorando? indagou. Por que eu não quis dar essa impressão

nem pra ela, nem pra ninguém.

Cris sentiu pena de sua melhor amiga. Será que Mark lhe havia dado esperanças? Será

que Katie estava achando que o relacionamento dos dois era mais sério do que era na

verdade?

- Só sei que você e ela precisam arranjar uma hora e um lugar adequado para falarem

em particular sobre tudo isso, repetiu Cris, tocando de leve no braço do rapaz.

 Nesse momento, uma das meninas da turma, não percebendo que os dois estavam tendo

uma conversa pessoal, aproximou-se e pediu ao Mark que fosse ajudá-la em sua barraca. Cris

deu uma espiada para o centro do acampamento e notou que Katie os observava.

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- Obrigado pelo conselho, disse o rapaz, colocando a mão no ombro dela. Obrigado

mesmo, Cris.

Mais tarde, quando o grupo já se encontrava de volta à igreja e todos descarregavam os

carros, Katie chegou para Cris e perguntou:

- O que foi que você e o Mark tanto conversavam hoje à tarde?

Cris sentiu que alguém poderia escutar sua conversa e respondeu:

- Depois eu te conto.

Quando chegaram ao dormitório já eram quase 11:30h. Cris estava exausta. Pegou o

xampu e o sabonete para se entregar ao prazer do banho tão ansiosamente esperado. Antes de

sair do quarto, porém, ouviu Katie murmurar:

- Oh, Chester, coitadinho Olhe, Cris, o Chester também está de barriga pra cima!

- Será que você não pôs comida demais pra ele?

- Não; não creio que tenha posto demais. Talvez o aquário tenha apanhado muita luz do

Sol. ‘Tá na direção da janela. Aliás, a água ‘tá bem morna.

Ela retirou o peixinho morto do recipiente e foi acompanhando Cris ao setor dos

 banheiros para realizar o que chamou de “sepultamento no mar”.

- Amanhã vou comprar dois peixinhos dourados, informou Katie. Acho que Chester 

morreu de solidão, já que nós passamos todo o final de semana fora.

- Você vai acabar gastando muito dinheiro nisso, Katie, comentou Cris. E se comprar 

mais de dois, acho melhor arranjar um aquário maior. Essa “tigelinha” aí ‘tá pequena.

- E é agora que você me diz isso?

Em seguida, ela pôs a mão sobre o coração e fez um minuto de silêncio. Depois atirou

Chester no vaso sanitário, para que ele fosse morar na grande “lagoa dos peixinhos dourados

do além”.

Cris abanou a cabeça e entrou num dos chuveiros. A água morna estava simplesmente

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maravilhosa.

Katie continuou parada do lado de fora.

- E aí, vai me dizer o que foi que o Mark lhe disse hoje de tarde? indagou. Ou será que

isso também terei de tentar adivinhar por eliminação?

Cris fora tomar banho ali na esperança de gozar uns cinco minutos de silêncio e

 privacidade. Queria continuar “sonhando” com Ted. Contudo sabia que a amiga não a

deixaria em paz enquanto não respondesse a todas as suas perguntas.

- Acho que vou aproveitar e tomar banho também, disse Katie.

Pela direção da voz, Cris deduziu que ela se achava no chuveiro ao lado do seu.

- Me empresta seu xampu? pediu Katie, falando bem alto por causa do barulho dos dois

chuveiros. Você tem sabonete aí?

Cris lhe passou esses objetos e terminou o banho logo, mais rápido do que havia

 planejado.

- Já estou indo para o quarto, informou a amiga.

- Então não dorme, não, falou a outra. Daqui a pouco chego lá

Vestindo seu pijama predileto, Cris escovou o cabelo e o secou. Katie chegou e também

se preparou para se deitar. Todavia, por causa do barulho do secador, não puderam conversar 

logo. Então Cris já estava na cama quando finalmente passou à colega a informação que ela

queria.

- Nós conversamos sobre você, disse.

- Sobre mim? E o que foi que ele falou?

- Eu disse que era pra ele conversar com você.

- E o que ele respondeu?

Cris fez uma pausa, depois indagou.

- Katie, você gosta muito do Mark?

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A outra franziu um pouco o rosto.

- Não, replicou lentamente. E... depois daquela cena dramática que fiz quando o revi,

você nem vai acreditar nisso. Mas agora que já pude conhecê-lo melhor, acho que não temos

nada em comum.

- Acha mesmo? disse Cris, que não esperava tal resposta.

- É. Eu sei, eu sei. Estava muito entusiasmada com ele. Mas me enganei. Foi meu maior 

engano na vida. Ele é um cara sensacional, mas apenas um bom amigo. Não sinto mais nada

 por ele.

Passou uma toalha no cabelo, embaralhando-o um pouco e deixando que ele caísse bem

à vontade.

- Acho que eu estava gostando era da imagem dele, sabe? continuou ela. Gostava

daquele jeitão de rapaz amigo, vizinho do bairro, que dá sensação de segurança pra gente, que

aprecia beisebol e torta de maçã e acabaria me amando.

E aqui ela se aproximou da cama de Cris e se sentou.

- Então pode me revelar que ele não ‘tá interessado em mim, disse.

- Mark Kingsley não ‘tá interessado em você, disse a outra, destacando cada palavra.

Katie fez um movimento brusco, endireitando-se, e olhou-a com uma expressão de

quem está magoada.

- Não ‘tá?

Cris se arrependeu de ter dado a notícia de forma tão direta. Lentamente abanou a

cabeça.

- Sinto muito, disse, mas ele falou que ‘tá interessado em você apenas como amiga.

- Por que você fica se desculpando por algo que não é culpa sua? comentou Katie. Aliás,

isso foi até muito bom. Estava com medo de que ele me pedisse pra passar mais tempo ao

lado dele, e já estava pensando num jeito de recusar sem magoá-lo.

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- É, então foi bom, concordou Cris. Os dois podem continuar sendo amigos, e nós três

 poderemos ir ajudando o Ted no grupo de jovens. Assim você e o Mark não precisarão passar 

 por aquela fase de indagação: “Será que estamos namorando?”

Aqui a jovem sentiu que a questão estava bem esclarecida e puxou as cobertas e se

cobriu. Katie, porém, não queria deixar o assunto morrer ali.

- E quanto a você?

- Quanto a mim, o quê?

- O que ‘tá acontecendo entre você e o Ted?

- Estamos apaixonados, disse ela em tom alegre. Agora estou totalmente convicta. Eu o

amo e disse isso pra ele.

- Disse? indagou Katie, arregalando os olhos.

- Mas ele não escutou, por causa do barulho do motor do bugue, informou Cris, dando

uma risadinha baixa. É eu mesma, né?

- Então ele ainda não sabe, concluiu Katie.

- Ainda não.

- Como é que você pode fazer isso com o coitado? perguntou Katie. Vai telefonar pra

ele agora e lhe dizer que o ama. Ele já esperou muito.

- Não! Já é tarde da noite! protestou a outra. E não quero lhe falar isso por telefone.

Quero contar pessoalmente, pra que ele saiba que estou sendo sincera.

- Ei, ‘tá parecendo uma poesia do John Donne! *

Katie levantou-se de um salto e foi até a escrivaninha. Pegou um livro de literatura que

estivera lendo antes de saírem para o acampamento.

- Você já leu esse capítulo sobre ele?

* John Donne, poeta e orador sacro inglês, que viveu no final do século XVI e início do XVII. (N. da T.)•

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- Já.

Cris e Katie estudaram Literatura Inglesa no mesmo período.

- E já viu este poema aqui? Escute só. O título dele é The Good Morrow (O bom

amanhã)

 Meu rosto se reflete em teus olhos, o teu, nos meus também.

 E um coração realmente sincero se expressa no rosto.

 E que hemisférios melhores que estes poderíamos ter,

Sem um Norte tão distante e um Oeste de ocaso?

Katie ergueu os olhos do livro com uma expressão radiante.

- Que romântico! exclamou.

Cris gostava muito de poesia e geralmente era ela que mostrava alguma preciosidade

 poética para a amiga. Contudo, nesse caso, não tinha muita certeza do que o poeta estava

querendo dizer.

- Aqui é você e o Ted, continuou Katie. Vocês são os corações realmente sinceros. Com

suas diferenças, vocês se encaixam bem; completam um ao outro perfeitamente.

Cris sorriu. Tinha o coração cheio de gozo. Nesse momento, mais uma vez reconhecia

que o que sentia era amor, um amor do tipo que dura para sempre e sempre.

- Então me faz um favor, disse ainda Katie. Se não quer telefonar para o Ted agora,

ligue pra ele amanhã de manhã, o.k.?

- Vou me encontrar com ele no café da manhã, replicou a outra.

- Então conte pra ele durante o café. Acho que o Ted não vai se importar muito com o

cenário quando “o rosto dele se reflete em teus olhos, e o teu, nos dele”. Não precisa esperar 

uma ocasião bem romântica, com o Sol brilhando e os passarinhos cantando, e tudo o mais.

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Só tem de dizer ao Ted que o ama.

E aqui ela apontou para o título da poesia de Donne.

- Diga-lhe no “bom amanhã”, concluiu com um brilho especial no olhar.

 Na segunda-feira, Cris esperou o namorado na mesa que sempre ocupavam na cantina.

Contudo ele não apareceu, e ela deduziu que ele havia perdido a hora por ter dormido demais

devido ao cansaço do final de semana. Ela própria gostaria de ter feito o mesmo, mas não

 poderia, pois tinha a primeira aula nesse dia.

Dirigiu-se para a sala apressadamente para não chegar atrasada. Quando se acomodou

em sua carteira, o professor, o Sr. Mitchell, estava falando sobre bênçãos. Ele lera

Deuteronômio 28.2. Cris abriu a Bíblia nesse texto e o sublinhou. “Se ouvires, a voz do

Senhor, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos.”

Quero ouvir-te sempre, Senhor, orou ela silenciosamente. Quero escutar tua voz com

clareza. Desejo sempre fazer o que tú me ordenas.

Assim que terminou de orar, sentiu um impulso bem claro, mas não muito forte, de ir 

 procurar o Ted e lhe dizer o que desejava, dar-lhe seu coração, sua bênção. Contudo,

calculando que havia condições de esperar até o fim da aula, continuou sentada. Afinal, estava

 pagando pelo curso. Naquele momento a achava-se ali. Não deveria sair.

Estou sendo sincera, Senhor. Não faz sentido eu achar que queres que eu mate aula pra

ir atrás do Ted e dizer-lhe que o amo.

Procurou reprimir aquela “voz” interior, e continuou sentada. Entretanto, quanto mais a

reprimia, mais forte seu coração batia. Sua impressão era de que ele batia tão alto que os

colegas que se achavam mais próximos dela certamente deveriam estar escutando. Recordou-

se de que, umas semanas antes, Selena havia dito que o amor nem sempre é algo planejado e

segue uma lógica.

Então, levada por um impulso que era mais intenso que sua lógica, Cris acabou pegando

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a mochila e saindo rapidamente da sala. Assim que se viu fora do prédio, sentiu que conseguia

respirar calmamente.

 E agora, Pai? O que faço a seguir?

De repente, sentiu-se meio tola. A declaração que queria fazer para o Ted poderia

esperar até de tarde. Estava perdendo uma matéria muito importante. Ademais, não sabia onde

o namorado se encontrava nesse momento. Se ele não estivesse no quarto, dormindo, poderia

até nem achá-lo, ainda que percorresse o campus todinho.

- Isto é uma loucura!

Foi caminhando apressadamente até o dormitório dos homens, o West Hall. Lá

chegando, ligou para o quarto do Ted. Como já esperava, a ligação caiu na secretária

eletrônica. Talvez ele ainda estivesse dormindo, ou poderia ser também que estivesse na

cantina, ou na biblioteca, ou em diversos outros lugares.

Andando pesadamente de volta ao prédio onde aconteciam as aulas, ela se deu conta de

que faltavam apenas vinte minutos para o início da segunda aula. Ted sabia que à tarde ela

estaria trabalhando na livraria e provavelmente iria procurá-la ali. Poderiam ficar perto da

estante dos livros usados de Teologia, pois era o ponto mais agradável da loja. Ali, ela o

olharia diretamente nos olhos e, em voz bem sussurrada, faria a declaração que estava em sua

alma. E suas palavras iriam descer até o fundo do coração dele. Iria até aquele lugar mais

 profundo, onde ele mergulhava para pegar seus tesouros. Só de pensar no romantismo que

cercaria aquele momento, um sorriso lhe veio aos lábios.

 Nesse momento, passava pela “Selva” e resolveu dar uma entrada, só para ver se o Ted

não estaria ali. Não estava, mas ela viu um outro casal num dos compartimentos, sentados

 juntinhos, estudando.

O impulso de procurar seu amado continuava forte, mas resistiu a ele. O mais sensato a

fazer agora era ir verificar sua caixa de correspondência e depois ir assistir à outra aula.

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Entretanto o coração não parava de bater com força. Apressando o passo, atravessou o centro

estudantil e foi à cantina. Também ali ele não estava.

Verificou todos os lugares a que eles geralmente iam para conversar: o saguão do prédio

de música, a biblioteca, a igrejinha. Agora já estava atrasada para a segunda aula, mas não se

importava.

Andando o mais rápido que podia, foi para o West Hall e, chegando ao saguão, ligou de

novo para o quarto dele. Novamente a ligação caiu na secretária, mas dessa vez ela deixou um

recado. “Ted, preciso vê-lo imediatamente. Onde você está?” Voltando apressada para o

centro estudantil, andou pelo prédio duas vezes, de um lado a outro, olhando bem para o rosto

de todos que encontrava, ansiando para que Ted estivesse ali. Não estava. Por fim, dirigiu-se

 para a praça central e se sentou na beirada da fonte.

Onde é que ele ‘tá? Onde é que pode estar?

Tirou os sapatos e enfiou a ponta do pé na água. Sem saber bem por quê, lembrou-se de

um trecho do livro de Cântico dos Cânticos que lera alguns meses atrás, quando ainda estava

em Basiléia e Ted viera embora para a Califórnia. É um livro curto, localizado bem no centro

da Bíblia. Nele havia uma frase que era repetida três ou quatro vezes. Cris a havia sublinhado.

Dizia: “Não acordeis nem desperteis o amor, até que este o queira”.

Esse verso acabou se tornando um conselho que ela dava a si mesma sempre que

 pensava no namorado. Os dois se achavam tão distantes um do outro que seria inútil acordar 

ou despertar os profundos sentimentos que havia em seu coração. Não adiantaria nada ficar 

 pensando neles, pois nada poderia fazer. Estava aceitando tudo da forma como vinha. Enviava

e-mails para o rapaz e orava por ele todos os dias. Agora sentia que, durante esse último mês

que tinham estado juntos, também conseguiu controlar bem seus sentimentos, deixando que

seu relacionamento com Ted fosse se desenvolvendo de forma calma e natural. Entretanto,

nesse momento, parecia que o amor se remexera e acordara de fato dentro dela. Não estava

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nem podendo raciocinar direito.

Será que Deus teve de me bater na cabeça, quando bati na barra, pra despertar meus

verdadeiros sentimentos pelo Ted?

Cris ficou a agitar a água com os pés. Sentia-se como a mulher de Cântico dos Cânticos,

que andou por vários lugares da cidade, procurando seu amado, mas não conseguiu encontrá-

lo, Lembrava-se de que ela dizia para suas amigas, as filhas de Jerusalém, “desfaleço de

amor”.

 Acho que não estou “desfalecendo”, mas alguma coisa estou sentindo. E não sei que

 sensação é esta.

Pôs a mão na altura do estômago e tirou os pés da água, deixando que se secassem ao

vento. Sentia-se doer por dentro.

Ted, onde é que você está?

 Nesse momento, Mark e alguns colegas estavam passando pela praça gritaram para ela,

cumprimentando-a.

- Mark, disse ela em voz alta, você viu o Ted?

O rapaz afastou-se dos outros e veio em direção à fonte.

- Desde ontem que não o vejo, replicou ele. Parece que hoje cedo ele ia devolver as

 barracas pra pessoa com quem ele pegou emprestado.

- Ah, fez Cris, sentindo que se acalmava. Então ‘tá certo. Obrigada, Mark.

- Algum problema com você? indagou ele, sentando-se ao lado dela. Parece um pouco

tensa.

- Não; é que eu estava procurando o Ted. Preciso conversar com ele.

- É; parece que tem muita gente procurando alguém, continuou o rapaz. Pensei muito

naquilo que você me falou no acampamento ontem. Você tem razão. Preciso conversar com a

Katie antes que comece a surgir algum mal-entendido entre nós.

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Cris já ia responder algo para o colega, dizendo-lhe que não precisava se preocupar,

contudo parou. É que viu Katie chegando no seu Buguinho e parando num lugar onde não

havia permissão para estacionar e saindo do carro.

- Tenho a impressão de que vai poder conversar logo, disse, fazendo um aceno para

chamar a atenção da colega.

Assim que a outra se aproximou dos dois, pôs-se a correr.

- É minha imaginação, ou ela ‘tá com cara de quem vai “matar” alguém? indagou Mark.

Cris se levantou imediatamente. Nunca vira a amiga com aquela expressão.

- O que houve? gritou para ela.

Katie chegou perto de Cris e segurou-a pelos ombros. Seu rosto estava pálido e

escorrendo suor.

- O que houve? perguntou Mark que também chegara mais perto.

Katie estava ofegante.

- A Kombinada, disse meio sem ar. Houve um acidente. Vamos lá!

Em seguida, ela pegou Cris pelo braço e as duas foram correndo em direção ao carro.

Mark vinha logo atrás, e os três entraram apressadamente no veículo.

- Que tipo de acidente, Katie? perguntou Mark em tom firme. O que foi que você viu?

- Só vi os homens colocando o Ted numa ambulância.

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12

Cris e Mark ficaram bombardeando Katie com perguntas. Gritaram com ela para que

fosse mais devagar, no momento em que pegavam o trevo de acesso à via expressa. Ela

respondeu que não sabia muito mais do que o que já lhes dissera. Ela tinha ido à floricultura

 para comprar mais fertilizante para suas plantas, e estava retornando para a escola. Quando

 pegou a pista da direita para sair da rodovia e entrar na estrada em direção à Rancho Corona,

viu um veículo parecido com a Kombinada. Estava todo amassado. No momento em que

 passou perto dele, avistou o pessoal do resgate levando alguém para a ambulância.

- Ele estava se mexendo? indagou Cris, os dedos apertando o banco do carro.

- Não deu pra ver. Só vi que era uma pessoa loura na maca, explicou Katie começando a

chorar. Vou direto para o hospital.

Entraram na via expressa, e Cris sentiu o coração bater com força. Quase

mecanicamente disse:

- Fique calma, Katie. Talvez não fosse Ted. Pode ser que fosse outra kombi, parecida

com a dele. Talvez...

Foi então que avistou, no outro lado da estrada, um caminhão reboque puxando um

veículo todo amassado. Imediatamente reconheceu a Kombinada.

- Katie! gritou, tapando a boca aterrorizada. Olhe ali!

- Procure ficar bem calma, disse Mark com firmeza, enquanto Katie segurava o volante

com força. O hospital fica a uns cinco quilômetros.

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- Oh, que carro mais idiota! gritou Cris. Por que o Ted já não deu um fim nesse lixo há

mais tempo?

Fechou os olhos, tentando respirar fundo.

- Vamos orar, gente, ordenou Katie. Orem aí!

Mark logo se pôs a orar em voz alta. Cris sentia-se trêmula. Agarrou o assento do carro

e o apertou com as duas mãos, usando toda a sua força. Pareceu-lhe que o pavor que sentia

começou a se desvanecer um pouco. Afinal, Katie entrou numa vaga próxima à porta da

entrada do setor de pronto-atendimento. Cris estava com todo o corpo tremendo. Desceu do

veículo de um salto, e correu em direção ao guichê de informações, junto com os dois colegas.

Katie foi a primeira a falar, articulando-se até com clareza. Indagou se Ted Spencer dera

entrada ali, por causa de um acidente de carro.

A atendente foi verificar. Cris e Katie se abraçaram tremendo.

- Está, disse a mulher assim que voltou e entrou atrás do balcão. Ted Spencer está sendo

atendido aqui.

- E ele está...? principiou Cris.

 Não conseguiu terminar a pergunta. Sentiu que poderia desmaiar.

- Como ele está? perguntou Katie, mantendo o braço firme em torno da amiga.

- Não sei dizer, replicou a atendente, sentando-se e entregando uma prancheta a Cris.

Quer assinar aqui, por favor? Vou ver se um médico pode vir conversar com vocês o mais

rápido possível. Mas vão ter de aguardar ali.

Cris já assistira muitos filmes sobre hospitais. E no estado de perturbação em que se

encontrava, tinha achado que poderia entrar no quarto, como a câmera do filme entrava e dava

um close no paciente. Queria saber logo como ele estava. Desejava ajudá-los a salvar a vida

do seu namorado.

- Vem cá, gente, disse Mark. Vamos esperar aqui.

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E foi encaminhando as duas jovens para a sala de espera. Os três se sentaram num sofá

que havia no canto, e permaneceram em silêncio.

Cris fechou os olhos e por sua mente passou a imagem da Kombinada toda danificada.

Sentiu a cabeça latejar. O teto do carro estava todo amassado, os lados, afundados, e com os

vidros todos quebrados.

Ó Senhor, não o leve para o céu, não, meu Deus. Ainda não! Por favor! Espere

 primeiro que eu possa lhe dizer que o amo. Ele ainda não me ouviu dizer isso. Deixe pelo

menos eu lhe fazer essa confissão!

Lágrimas e mais lágrimas lhe escorriam dos olhos. Sentia-se sufocar pelo choro. Katie

abraçou-a e se pôs a murmurar:

- Aguente firme! Continue orando! Continue orando!

E afinal as duas conseguiram se acalmar. Foi então que Cris notou, pela primeira vez,

que havia outras pessoas na sala. Teve vergonha ao notar que eles a estavam observando.

Mark caminhara até a porta e se pusera a andar de um lado para outro, para ver se o médico já

vinha. Cris virou-se e olhou para fora, para o estacionamento, sem dizer nada. Orando em

silêncio, procurou fazer petições mais bem coordenadas. Deus estava com ela. Tinha certeza

disso. Tinha consciência de uma paz divina a acalmá-la.

- Devíamos ligar para o pai dele, disse por fim.

Sabia o número do telefone dele de cor. Levantou-se para procurar um telefone público.

 Ninguém a acompanhou, e ela achou melhor assim. Não sabia bem por quê, mas entendia que,

se estivesse sozinha, iria sentir-se mais forte. Enquanto caminhava em direção ao aparelho,

tinha a sensação de que Jesus estava a seu lado.

A ligação caiu na secretária e, em tom bem calmo, Cris deixou o recado para o pai de

Ted, informando-o do ocorrido. Sua mão tremia tanto e sua voz estava bem falha. Não sabia

se conseguira dizer tudo corretamente. De todo modo, o pai de Ted ficara sabendo onde se

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encontravam.

Em seguida, ligou para seus pais. Sua mãe atendeu. Assim que escutou a voz dela,

começou a chorar de novo. Mark viera atrás dela, no setor dos telefones. Colocou a mão de

leve sobre seu ombro e disse em voz baixa:

- Quer que eu fale com ela?

A jovem fez que sim. As lágrimas estavam lhe embaçando a fala. Então Mark pegou o

telefone e explicou para a mãe dela que eles estavam no hospital, aguardando o médico que

iria dar-lhes informações sobre o Ted. Cris escutou a voz aflita de sua mãe indagar ao rapaz:

- E o Ted está vivo?

 Nesse instante, pela primeira vez, a jovem permitiu que em sua mente entrasse a idéia

de que o namorado poderia estar morto. Encostou-se na parede e ficou pesadamente apoiada

nela.

- Ainda não sabemos, ouviu o colega responder para sua mãe, e em seguida, dizer: É,

acho que seria bom se vocês pudessem vir.

Depois deu o nome do hospital e desligou.

- Mais alguém pra telefonarmos? perguntou o rapaz.

- Tio Bob, replicou Cris num fio de voz. Creio que ele gostaria de estar aqui.

A jovem discou o número do telefone do tio e deixou que Mark lhe desse todas as

informações.

- Quer voltar pra sala de espera? indagou ele por fim.

Cris não chegou a responder pois nesse momento viu um médico com seu jaleco branco

vindo na direção deles. Correu ao encontro do doutor e perguntou-lhe se estivera cuidando de

Ted. O médico quis saber se eles eram amigos ou parentes.

- Amigos, disseram Cris e Mark a uma voz.

- E já ligamos para o pai dele, informou a jovem. Ele não estava em casa, mas deixamos

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um recado pra que ele venha ao hospital.

- Está bem, replicou o doutor olhando para Mark e em seguida para Cris. Posso dizer-

lhes o seguinte: ele está vivo, mas isso é um milagre.

Cris pegou a mão do amigo e apertou-a com toda a força.

- Os socorristas disseram, prosseguiu o médico, que nunca viram ninguém sair vivo de

um acidente como aquele. Ao que parece, a kombi capotou três vezes. Eles disseram que o

teto, a frente e a porta do lado do motorista estavam totalmente amassados.

- É verdade, interpôs Cris nervosamente. Eu vi o carro. Mas como está o Ted?

O médico olhou para a jovem, fitando-a por sobre os óculos.

- Já o levamos para o bloco cirúrgico, no andar de cima. Acho que vai demorar algumas

horas para podermos dar um relatório completo. Nesse meio tempo, se vocês ou alguém que

conhecem puderem doar sangue, será bom. Parece que ele vai precisar muito. E assim que

tivermos mais informações sobre o estado dele, passaremos a vocês.

- Obrigada, disse Cris.

 Nesse instante, ela percebeu que estivera segurando a mão do amigo com muita força e

a soltou.

- É melhor irmos contar pra Katie, falou.

 Nas duas horas e meia seguintes, Cris teve a sensação de que se achava envolta numa

 bruma. Conversando com a enfermeira, descobriu que o sangue do namorado era do tipo A.

Cris e Mark tinham o mesmo tipo. Katie ligou para uma porção de alunos da universidade.

Vinte minutos depois, Selena e Wesley chegavam com mais oito estudantes.

Todos fizeram doação de sangue e depois foram para a sala de espera fazer companhia a

Cris. Muitos faziam perguntas e apresentavam especulações em torno do acidente. Cris

começou a ficar irritada. Nenhum deles dispunha de informações suficientes para criarem

tantas soluções assim. Entendia que eles queriam ajudar, mas não podiam. Então ficou alegre

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quando viu chegarem seus pais com David, seu irmão de treze anos. Os três pareciam bastante

 preocupados. A jovem abraçou-os e quando o pai a segurou, pôs-se a chorar no ombro dele.

Chegaram mais dois alunos da Rancho Corona. Nesse momento, Cris começou a tremer 

de frio, por causa do ar-condicionado do aposento.

- Cris, vamos lá fora um pouquinho? pediu-lhe David.

O garoto estivera esperando de pé, num canto, sem falar nada, apenas escutando o que

os outros conversavam sobre a pouca informação de que dispunham. A jovem gostou da idéia

de sair. Seria bom para se aquecer um pouco. Então saiu com o irmão, gozando o ar cálido

daquela tarde de outono.

- Cris, estou morrendo de medo! disse o garoto.

David tinha quase um metro e setenta de altura, apenas uns três centímetros menor que a

irmã. Tinha mãos e pés muito grandes e um cabelo ruivo bem cheio, como o do pai deles, e

usava óculos. Naquele momento estava muito constrangido, limpando as lágrimas que lhe

tinham vindo aos olhos e que, lá dentro, ele conseguira reprimir.

- Eu também, disse a jovem, passando o braço nos ombro do irmão.

Durante o ano em que Cris estivera estudando fora, ela se comunicara com o irmão

apenas o necessário. Os dois não eram muito chegados, devido à grande diferença de idade

entre eles. Nesse instante, porém, sentiu-se mais ligada a ele do que sentira antes.

David gostava muito do Ted, desde que o conhecera, fazia cinco anos. Muitas vezes,

quando o rapaz ia à casa deles, acabava passando, em companhia do garoto, o mesmo tempo

que passava com a namorada. Em alguns momentos, Cris achava que Ted seria um bom irmão

 para David, melhor até do que ela própria.

- Acha que o Ted vai se salvar?

- Não sei, replicou Cris ainda abraçada com o irmão. Estou orando o tempo todo. Você

sabe que o médico falou que é um milagre ele estar vivo.

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- Mas se ele morrer, vai para o céu, continuou o garoto.

Era uma afirmação, e não uma pergunta. Parecia até o próprio Ted falando.

- Vai.

- Sei disso porque ele me falou. E muitas vezes ele me disse que eu precisava entregar 

minha vida para Deus para eu ir para o céu quando morrer. Eu também quero ir, pois assim a

gente estará junto. Ted falou que podemos construir uma rampa de skate lá, se é que ainda não

tem uma.

Cris engoliu em seco e fez uma oração silenciosa.

 Ainda não, Senhor! Por favor! Não leve o Ted, não, Pai! Deixe primeiro que ele faça

umas rampas de skate aqui. Deixe que ele continue falando a garotos como o meu irmão que

eles precisam acertar a vida contigo.

- Mas eu ainda não entreguei, prosseguiu David, afastando-se da irmã e fitando-a.

 Nunca orei pra entregar minha vida a Jesus.

Cris tinha quatorze anos quando compreendeu que só pelo fato de ter sido criada na

igreja com sua família, isso não significava que era crente. Agora, nesse momento, dava-se

conta de que seu irmão tinha quase a mesma idade de quando ela entendera isso.

- E você quer fazer essa decisão agora? indagou a ele.

O garoto fez que sim.

- Quero, disse. Quero fazer uma oração agora. Você pode me ajudar?

A jovem sentiu a garganta se apertar e lágrimas lhe virem aos olhos.

- Claro, replicou com voz embargada.

- Como é que eu falo?

- Fale o que vier ao seu coração, explicou. Deus sabe o que você está pensando, David.

Sabe que ‘tá tomando a decisão de crer nele. Então diga-lhe exatamente isso e receba o dom

do perdão e da vida eterna.

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Em seguida, ela fechou os olhos e abaixou a cabeça. David expressou umas quatro ou

cinco frases bem diretas, afirmando que cria que Jesus era o único Filho de Deus e pedindo ao

Senhor que perdoasse seus pecados e assumisse o controle de sua vida. Quando encerrou,

disse:

- Que assim seja!

Então Cris compreendeu que o irmão já tinha ouvido o Ted orar mais de uma vez. Abriu

os olhos e respirou fundo.

- Você acaba de ser adotado na família de Deus, disse com um sorriso nos lábios tensos,

apesar dos abalos que sofrera nas últimas horas. Estou muito feliz por você, David. O Ted

também vai ficar muito alegre.

E com isso, as lágrimas voltaram a lhe escorrer pelo rosto.

- Quero contar pra ele que finalmente fiz isso, disse David com um aceno de cabeça.

- Vamos lá. Talvez eles deixem que a gente entre lá pra vê-lo.

Cris passou o braço em volta do irmão e os dois retornaram juntos para a sala de espera.

Ela se sentia meio atordoada e ao mesmo tempo encantada pelo que acabara de acontecer.

- Alguma novidade? indagou Cris.

A mãe abanou a cabeça.

- Seu pai foi lá doar sangue, para o caso de eles precisarem de mais, informou ela.

- Também quero doar, disse David.

A mãe olhou-o espantada.

- Você ainda é novo, filho, disse. Não pode doar, nem mesmo se déssemos

consentimento. Precisa ter mais de dezoito anos.

O garoto fez uma expressão de decepção.

- Mas acho que seu pai pode estar precisando de um pouco de apoio moral, continuou

ela. Vamos ver onde é que ele está.

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Depois que a mãe e o irmão de Cris saíram, esta se lembrou do que acabara de

acontecer. Virou-se para Katie.

- Aquela hora que eu e meu irmão fomos lá fora, ele entregou a vida pra Jesus, disse

 para a amiga.

Sua voz não expressava nenhuma emoção, pois não tinha mais quase nenhuma para

demonstrar.

- Oh, que incrível! exclamou a colega, também num tom inexpressivo. Como foi?

- Faz muito tempo já que o Ted vem falando com ele sobre o Senhor. Acho que agora,

finalmente, o David quis tomar uma decisão firme. Gostaria de me sentir mais feliz do que

estou me sentindo.

 Nesse instante, entrou na sala um homem alto, de ombros largos, vestindo uma camisa

esporte típica dos havaianos. Era o pai de Ted. Ao lado dele, estava o Tio Bob. A jovem já

vira o pai do seu namorado apenas uma ou duas vezes, mas correu para ele e o abraçou, antes

de cumprimentar o tio.

- O que vocês estão sabendo? indagou Bob.

Tio Bob morava a alguns quarteirões da casa do pai de Ted e, ao que parecia, os dois

tinham vindo juntos.

Cris fez um resumo do que sabiam a respeito de Ted e no momento em que terminava, o

médico entrou na sala. Avistando a jovem, foi direto para ela.

- Este aqui é o pai do Ted, disse ela para o médico.

- Bryan, falou o pai, apresentando-se e estendendo a mão para o outro. Bryan Spencer.

Como está ele?

- Sou o Dr. Johannes, replicou o médico. Ele está saindo do bloco cirúrgico agora,

explicou. Tivemos muita sorte porque conseguimos identificar o local da hemorragia logo.

Ele sofreu uma perfuração do cólon. O cirurgião fez a sutura, e resolvemos remover também o

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apêndice dele que estava bastante inflamado. Isso pode ter sido causado pelo acidente ou não.

 No mais, tudo parece estar bem. Tivemos de dar alguns pontos na mão dele, e talvez ainda

 precisemos dar mais alguns, depois que extraírem o resto dos estilhaços de vidro.

- Ele vai ficar bom, não vai? indagou Katie num rompante.

- Bom, isso eu não posso garantir, replicou o Dr. Johannes. Ele perdeu muito sangue,

mas por incrível que pareça, não teve nenhuma fratura. Só amanhã de manhã é que poderemos

dar um diagnóstico mais preciso. E ele deve permanecer na sala de recuperação mais uma ou

duas horas.

- Será que posso ir vê-lo? indagou o pai do rapaz.

O médico examinou a prancheta que trazia consigo e acenou que sim.

- Pode. Ele ainda está sedado, então não vai ver que vocês entraram lá. Mas tudo bem.

Pode ir vê-lo. E só duas pessoas de cada vez, o.k.?

O Dr. Johannes virou-se para sair, mas depois voltou e olhou para o pai de Ted por 

sobre os óculos.

- O rosto dele está muito inchado por causa do impacto, explicou em voz baixa. Ele está

com um olho arroxeado e o cabelo dele está sujo de sangue, pois ainda não limparam. Estou

dizendo isso para que não pensem que ele está muito mal. Está melhor do que parece.

Bryan Spencer fez que sim e em seguida virou-se para Cris.

- Quer ir comigo? perguntou com uma expressão meio de dúvida.

A jovem ficou sem entender se ele a chamava porque não queria ir sozinho ou se porque

sabia que para ela também era muito importante ver o namorado imediatamente. Num gesto

instintivo, deu o braço para ele e os dois foram caminhando pelo corredor até o elevador. O

 braço de Bryan estava tremendo. Cris compreendeu que ambos precisavam da força um do

outro para encararem o que iriam ver.

A enfermeira de plantão na sala de recuperação conduziu-os até o leito onde Ted estava,

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coberto com um lençol branco. Os braços se achavam por cima do lençol, sendo que no

direito estavam conectados vários tubos. No alto, uma lâmpada fluorescente de luz fraca

iluminava o rosto do rapaz. Dava para ver bem o olho roxo e a boca inchada, bem como os

horríveis pontos na mão dele, como o Dr. Johannes havia dito. A cabeça estava coberta por 

uma touca de papel transparente, semelhante a uma touca de banho. Dava para ver as manchas

de sangue no cabelo. Vendo-o assim, Cris teve de fazer um enorme esforço para não chorar.

- Oi, filho! disse Bryan em tom grave. É seu pai.

A voz do homem tremia. Aproximou-se mais e tocou de leve no ombro esquerdo dele.

Parecia que era a única parte do corpo do rapaz que não estava suja de sangue, ou com pontos

ou com algum tubo.

- O médico disse que você ‘tá indo bem, filho. Descanse, viu?

Ted não respondeu.

- A Cris também ‘tá aqui. Ela quer falar com você.

Bryan deu um passo para trás e deixou que a jovem chegasse mais perto da cama. Ted

estava imóvel no leito. Ela só ouvia o bipe-bipe, o tiquetaque e o murmúrio suave das

máquinas. A luzinha fraca ficava rebrilhando no rosto dele. Cris teve vontade de pegar o rapaz

nos braços e carregá-lo. Sentiu-se dominada por um forte senso de compaixão, a ponto de não

ter mais lágrimas. Pegou a mão esquerda dele e ergueu-a devagar. Contou quatro lugares em

que havia pontos nela. A mão estava fria e pesada. Deu-lhe um leve aperto. O rapaz não teve a

menor reação.

- Ted, disse ela inclinando-se mais para ele, estou aqui com seu pai.

Em seguida, elevou um pouco mais a voz e continuou:

- Estamos todos orando por você. O médico disse que você ‘tá indo bem. Falou que

depois que dormir um pouco mais, saberão mais algumas coisas. Então não se preocupe em

conversar conosco. Continue dormindo, Ted.

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Pegou a mão pesada do namorado, levou-a aos lábios e beijou-a. Sua boca tocou a pele

entre os pontos escuros que tinham dado nela, depois de removerem os estilhaços de vidro do

 pára-brisa.

- Ted, quando você acordar, tenho muito pra te contar. Então durma bem, o.k.?

Beijou de novo a mão dele e voltou-se para o pai do rapaz que se achava atrás dela, com

os lábios tensos.

- Será que eu poderia ficar aqui com ele? indagou.

- Não conheço os regulamentos deste hospital, replicou o homem. Quer que eu vá

 perguntar?

A jovem fez que sim.

- Se o senhor precisar voltar pra casa hoje, posso ficar aqui com ele. Aliás, eu gostaria

de ficar, disse ela.

Bryan Spencer afastou-se silenciosamente, e foi para o outro lado do aposento. Cris

escutou-o conversar baixinho com a enfermeira. A mulher explicou que preferiam que

ninguém ficasse na sala de recuperação. A razão era que o espaço ali era muito pequeno e

vários pacientes passavam mal quando voltavam da anestesia. Disse ainda que eles estariam

melhor aguardando na sala de espera. Assim que Ted fosse transferido para um quarto,

alguém do hospital lhes comunicaria.

Cris deu um beijo carinhoso no rosto inchado do namorado e disse-lhe que o veria mais

tarde. Depois aproximou-se do pai de Ted e os dois voltaram juntos para a sala de espera. Ali

eles informaram os outros sobre o estado do rapaz. Assim que deram essas notícias, alguns

dos estudantes, inclusive Mark, resolveram ir embora. Recomendaram a Cris que continuasse

informando sobre as condições dele. Katie e o Tio Bob tinham ido comprar refrigerantes para

a turma. Assim, naquele momento, estavam ali apenas os pais dela, o pai de Ted e seu irmão.

- Ele ‘tá desacordado? perguntou o garoto, aproximando-se da irmã, enquanto o pai de

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Ted conversava com os pais dela.

- Creio que não, só anestesiado. Mas a anestesia deve acabar logo e acho que amanhã

cedo ele já poderá conversar com você.

- Você contou pra ele? continuou David. Contou o que fiz? Da nossa oração?

- Ainda não. Quer que eu lhe conte ou prefere você mesmo contar assim que ele

acordar?

- Papai disse que nós vamos embora agora, já que não podemos fazer nada aqui. Então

acho melhor você contar.

- ‘Tá bom, replicou Cris, sorrindo para o irmão. Eu conto pra ele. E David...

O garoto que já ia saindo parou, deixando que a irmã passasse os braços em seu ombro e

o abraçasse.

- Estou muito feliz com sua decisão, disse ela, dando-lhe um beijo no rosto.

Em seguida, falando perto de seu ouvido, prosseguiu:

- Hoje você tomou a decisão mais importante da sua vida. Estou muito alegre de ter 

 participado daquele momento.

David parecia meio sem jeito, com vontade de passar a mão no ponto do rosto onde a

irmã o beijara, mas estava se esforçando muito para manter uma atitude adulta nessa situação.

- Obrigado, disse meio desajeitado.

 Nesse instante, Cris compreendeu que cometera o maior erro de sua vida por não ter 

saído da sala de aula e ido à procura do namorado para lhe dizer que o amava. Por isso, virou-

se para o irmão e disse:

- David, gosto muito de você, meu irmão!

E tomou a decisão de nunca mais perder uma oportunidade de dizer aos seus entes

queridos o quanto os amava. E quando os pais estavam se despedindo para ir embora, ela

aproximou-se da mãe.

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- Mãe, eu te amo, disse, dando-lhe um beijo no rosto.

- Pai, eu te amo, repetiu, abraçando-o.

O pai retribuiu e deu-lhe um beijo no alto da cabeça.

- Ligue pra nós de manhã cedo, viu? recomendou ele Se você precisar de alguma coisa

ou houver alguma mudança no quadro, nós viremos imediatamente.

- ‘Tá bom. Obrigada, pai.

- Procure dormir, interpôs a mãe.

Pouco depois, Katie e o Tio Bob chegaram com várias latas de refrigerante.

- Cadê o pessoal? indagou Katie.

- Foram embora, explicou Cris. E você pode ir também, se quiser. Eu vou ficar.

- Ah, então fico com você.

- Você vai ficar, Bryan? indagou o Tio Bob ao pai de Ted.

Ele acenou que sim e pegou uma das latas de refrigerante que Katie colocara sobre a

mesinha de centro.

- Vou ficar pelo menos até ele voltar da anestesia, explicou o pai de Ted. Se você

 precisar ir embora, Bob, pode ir. Eu dou um jeito de ir pra casa depois.

- De maneira nenhuma, replicou Bob. Vou ficar. Quero ficar.

E com isso, passou o braço em torno do ombro de Cris e deu-lhe um abraço de lado.

- Nesses dias, quase não tenho tido chance de ver minha linda sobrinha aqui. Então vou

aproveitar esta oportunidade.

A jovem passou os dois braços pela cintura do seu carinhoso tio.

- Eu te amo, Tio Bob. Já lhe disse isso? Não sei se já. Então saiba que eu te amo!

Lágrimas brotaram nos olhos do tio.

- Também te amo, querida.

 Nesse momento, Cris sentiu que o tio ficou tenso, assim que ergueu os olhos. Ela

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acompanhou a direção do olhar dele e ouviu uma voz bastante conhecida. Aí compreendeu a

razão de ele ter ficado tenso.

- Mas eu sou parente dele, disse aquela voz com firmeza. Não sei por que não posso

visitar o Ted Spencer imediatamente.

 Ninguém tinha aquele timbre cortante na fala, a não ser a Tia Marta, principalmente

quando tentava ao máximo forçar para que se fizesse a sua vontade.

Tio Bob caminhou em direção ao balcão da recepção e Cris foi junto com ele, deixando

Katie a sós com o pai de Ted. Contudo os dois também foram logo atrás deles.

Cris sabia que já estava acostumada com sua exótica tia. Nem seu cabelo, nem as roupas

que usava a assustariam mais. Nem mesmo a mentira que acabara de dizer, afirmando ser 

 parente de Ted, foi uma surpresa para a jovem. Marta era uma pessoa que sempre conseguia o

que queria, ainda que tivesse de alterar qualquer regulamento. O que deixou Cris espantada

foi o homem que a acompanhava. Era alto, de pele acobreada e tinha longos cabelos brancos

esvoaçantes. Parecia uma espécie de autonomeado anjo da guarda de sua tia.

- Olá, Marta! disse Bob, parando a menos de um metro dela com uma atitude firme.

- Robert? disse ela, parecendo surpresa de ver o marido ali.

- Quem é esse cara? indagou Katie, num cochicho, aproximando-se de Cris.

A jovem sabia a resposta, mas ficou de boca fechada. Afinal, promessa era promessa.

Cabia à sua tia que, aliás, se mostrava bastante espantada, apresentar Cheyenne a todos.

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- Assim que ouvi o recado na secretária, vim para cá, explicou Marta.

Em seguida, com passos rápidos, aproximou-se do marido e cumprimentou-o beijando-

lhe o rosto. Na verdade, beijou mais o ar do que ele. Fez o mesmo com Cris e depois abraçou-

a.

- Como está o Ted? indagou. Ele vai ficar bom? Vim muito aflita no caminho todo.

- O médico disse que o quadro é estável, explicou o pai de Ted. Ah, continuou, eu sou o

 pai dele, Bryan Spencer. Acho que ainda não nos conhecemos.

- Satisfação, Marta, respondeu a tia de Cris. E como você se parece com seu filho!

Tenho muito prazer em conhecê-lo!

E com a mão esquerda, ela fez um gesto engraçado, batendo no ar, como se estivesse

querendo soltar dela algo.

Cris olhou para Cheyenne, que ficara uns passos atrás. Tinha estampado no rosto uma

expressão de quem não estava entendendo nada. Não compreendia por que Marta, com seu

 jeito pouco sutil, lhe fazia sinal para ir embora dali. Ao que parecia, naquele momento, a

“aura” dela não se achava em harmonia com mais ninguém naquele aposento.

- Oi! fez Katie para Cheyenne, de uma forma bem ostensiva, acenando para ele.

Ela sorria para o homem, dando a impressão de que ele lhe parecia meio acanhado e

sem jeito de se juntar ao grupo. E foi só o que bastou para ele se aproximar mais.

- Este aqui é meu professor de cerâmica, explicou prontamente a tia de Cris. Tive uma

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aula agora de tarde e como fiquei muito abalada com a notícia do acidente do Ted, o

Cheyenne gentilmente se ofereceu para me trazer até aqui.

Cheyenne virou-se para Bob e os dois se cumprimentaram formalmente, com um leve

aceno de cabeça, dando a impressão de que nunca tinham se visto antes.

- O Ted ainda ‘tá na sala de recuperação, explicou o Tio Bob, com um tom calmo e

comedido. Assim que pudermos ir vê-lo, eles irão nos informar. Mas pode ser que ainda

demore um pouco. Se você quiser ir pra casa, assim que soubermos mais alguma coisa, posso

ligar pra lá, passando-lhe as últimas informações.

- Vocês todos vão ficar por aqui? indagou Marta com a voz meio áspera.

- Vamos, disse Bob, ainda num tom de quem está se controlando.

Cris teve a impressão de que a coitada de sua tia não sabia o que fazer.

- Vocês já almoçaram? insistiu ela, continuando com o tom nervoso.

Cris teve vontade de rir. Essa era uma tática que ela conhecia bem. Era uma forma de

resolver problemas que sua mãe e Tia Marta utilizavam. Era um hábito que haviam trazido do

interior, onde moravam na infância. A própria Cris se pegara lançando mão dela um dia, na

“Selva”, quando Mark lhe dissera que acabava de chegar de Wisconsin. Sua primeira

 preocupação fora falar de comida com ele. Foi então que compreendeu que sua tia podia se

apresentar como uma sofisticada socialite, ou se voltar para a natureza (como começara a

fazer ultimamente) e fazer o papel de “compradora” oficial para todo mundo. Contudo a

verdade é que, no fundo, não passava de uma mulher do interior de Wisconsin. Sem saber 

 bem por quê, ao ter essa visão de sua tia, Cris se viu inundada por uma onda de compaixão

 por ela.

- Não, ainda não, disse Katie, respondendo pelos quatro. Uns minutos atrás, compramos

apenas uns refrigerantes ali na máquina. É que não queríamos ficar muito tempo afastados

deste lugar.

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- Então vou buscar algo para comerem, anunciou Marta. Alguém está fazendo algum

regime especial ou tem alergia a algum alimento?

Como ninguém respondesse, ela continuou:

- Ótimo. Então volto já.

Girando nos calcanhares, saiu. Cheyenne fez um aceno de cabeça, como que se

despedindo de Cris e dos outros. Em seguida, foi atrás de Marta, que caminhava balançando o

longo cabelo.

- Gente, vamos ligar para o laboratório, disse Katie em voz baixa, assim que os dois se

foram.

- Pra quê? quis saber Cris.

- Pra informar que a experiência deles fracassou. É a experiência de clonar um modelo

masculino para calendário. O exemplo mutante conseguiu fugir e ‘tá indo atrás de sua tia.

Cris teve vontade de rir do comentário da amiga, mas se conteve. Afinal, Marta era sua

tia e o marido dela achava-se perto. Ela já aprendera que assim que alguém começasse a tratar 

outrem com desrespeito, os outros logo adeririam à brincadeira e começariam a fazer o

mesmo. Era muito fácil assimilar tal atitude.

Os quatro voltaram para a sala de espera. Mais de uma hora depois, Cheyenne retornou

com várias embalagens de espaguete, que exalavam um cheiro delicioso.

- A Marta não está se sentindo muito bem, informou ele. Vou levá-la em casa.

 Nenhum deles se espantou com o fato. Comeram em silêncio. Cris não estava nem

tomando conhecimento do que comia.

- Vou dar uns telefonemas, disse Bryan.

- Vou lá fora respirar um pouco, informou Bob, depois que acabara de comer.

Cris e Katie ficaram sozinhas. Cris sentiu uma raiva surda começar a se formar em seu

coração. Fazia anos que ela e Ted rodavam para cima e para baixo naquela kombi velha e

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surrada. Era um milagre que os dois não tivessem sofrido um acidente e morrido. Nunca mais,

em sua vida, queria entrar em um carro velho.

- Seu carro tem airbag nos dois lados? perguntou de repente para Katie.

- Quê? indagou a outra.

- Não vou mais entrar no Buguinho com você não, disse.

- De que é que você está falando?

- O Ted poderia ter morrido. A kombi dele não tinha airbag.

Só agora era que o horrível acidente estava chegando ao seu consciente. Cris teve a

impressão de que ia vomitar.

- Mas não morreu, replicou Katie com firmeza. Cris, pense bem nisso. Deus salvou a

vida dele, pois ainda não terminou a obra que quer fazer no Ted. Ele tem um plano para o seu

namorado. Aliás, ele sempre tem um propósito em tudo. No fim, isso vai produzir algo de

 bom. Por favor, não venha me pôr medo agora. Você precisa ser forte.

As palavras firmes da outra foram como um balde de água fria nas emoções

tumultuadas de Cris.

- Você tem razão, disse. Deus está aqui. Ele está nisso tudo. Sei que está. Ele vai

realizar algo.

- Bom, bom, replicou Katie num tom de humor, que irritou um pouco a amiga. Olhe só

o que já aconteceu. Seu irmão se converteu.

Cris havia se esquecido disso. Mesmo assim, envolta em todo aquele sofrimento, não

achava que isso era razão suficiente para o Ted ter passado por experiência tão terrível.

- Cris, principiou Katie aproximando-se e pondo-se a massagear de leve o ombro da

amiga, vamos manter uma visão correta disso tudo. Estamos todos abalados, sim. É tudo

muito horrível. Mas Deus não está lá no céu, andando de um lado para o outro nervoso,

torcendo as mãos e dizendo: “Puxa! Como é que isso foi acontecer?” Não. Ele é Deus. Pode

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fazer o que quiser. E ao que parece, no presente momento, ele quer que o Ted continue

vivendo.

Cris sentiu as lágrimas escorrendo-lhe pelo rosto. Nem conseguia acreditar que ainda

havia algum líquido de resto em seu organismo.

- É, disse Katie, também vou lá fora respirar um pouco. Você poderia fazer um esforço

 pra dormir um pouquinho. Quando o Ted puder receber visitas, você vai precisar estar o mais

calma possível. Tente descansar, concluiu, dirigindo à amiga um sorriso leve.

Cris fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás. Deu um suspiro profundo. Sentiu

cheiro de desinfetante à base de amoníaco, misturado com o do molho da comida, que

cheirava a alho. Com o pé, empurrou para um lado as sacolas com as vasilhas de espaguete

que ainda estavam no chão e tentou concentrar-se para orar.

Sentiu-se inundada de paz. Chegou a pensar que se abrisse os olhos veria Jesus sentado

ao lado dela. E ele não estaria torcendo as mãos aflito. Katie tinha razão a respeito disso. Deus

estava no controle de tudo. Sabia que Jesus sentiria a dor que ela experimentava naquele

momento.

- Cris! falou o Tio Bob, cortando aquele seu instante de reflexão. Você ‘tá bem,

querida?

Ela abriu os olhos e fez que sim, procurando exercitar força interior.

- Estou bem, tio. E você?

- Tudo bem, respondeu ele, com um aceno de cabeça. Acho que não deve demorar 

muito pra eles nos deixarem entrar.

Cris fitou o tio detidamente.

- Como é que você está mesmo, tio? Quero dizer, com esse problema da Tia Marta, e

tudo o mais?

- Estou muito sentido de que você tenha sido obrigada a vê-la daquele jeito, com... com

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ele.

- Eu já sabia sobre o Cheyenne, explicou Cris. Naquele dia que ela foi me visitar, umas

semanas atrás, ela me contou sobre as cerâmicas e a comunidade, etc.

- Ela lhe falou que ‘tá pensando em ir pra Santa Fé com ele?

Cris acenou que sim, num gesto lento.

- Mas eu prometi a ela que não contaria nada pra ninguém. Agora eu gostaria de não ter 

 prometido. Sinto muito não ter ido lá pra conversar com você sobre essa questão.

- Não precisa se desculpar, não. Você não poderia ter feito nada, disse ele, sentando-se e

colocando os pés na mesinha de centro. Sua tia ‘tá fazendo a vontade dela. Você não

conseguiria mudar sua decisão.

Estava claro que Bob já tinha conhecimento do relacionamento de Marta com

Cheyenne. Cris ficou a se indagar se sua tia estava planejando fazer essa mudança em breve.

Em tom carinhoso, perguntou ao tio:

- O que você pretende fazer, tio?

- Um irmão lá da igreja me citou um versículo que se aplica à minha situação, replicou

ele. É 1 Corintios 7.15: “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos,

não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz”.

Cris achou que o tio estava recitando aquilo como um robô. Sentiu-se impelida a dizer 

algo.

- E você vai deixá-la ir embora assim?

- Não posso lutar contra isso, replicou ele, em voz embaçada.

- Pode, sim, tio.

A jovem não sabia de onde estava tirando forças para falar daquele jeito, nem de onde

vinham tais palavras. Em seu interior, parecia haver brotado uma nova fonte de emoções

relacionada com o problema do tio. Esta era bem distinta da força relacionada com Ted e que

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ela vinha esgotando havia já algumas horas. A primeira ainda estava repleta de idéias, e ela se

servia delas com toda a vontade.

- Você ainda pode lutar por ela, tio. Ore por ela. Ame-a. Não pode entregar os pontos

assim.

Os olhos dele se encheram de lágrimas. Cris achava que nunca tinha visto o tio chorar.

- Tio Bob, esse versículo pode se aplicar ao seu caso agora, no momento, mas existem

muitos outros textos sobre o amor e o casamento na Bíblia.

A jovem resolveu que iria continuar falando tudo que lhe vinha à mente, antes que essa

nova fonte de forças se esgotasse também.

- Nas aulas aqui na Rancho Corona, aprendi um fato muito importante. É perigoso pegar 

só um verso da Bíblia e montar nossa visão de um determinado assunto com base apenas nele.

Temos de estudar todos os textos relacionados com a questão, pra podermos entender o que

Deus quer nos revelar sobre ele.

Bob fitou-a pensativo e depois disse:

- Você tem razão. Eu desisti de sua tia sem lutar. Ia deixar que ela fosse embora para

aquela comunidade de artistas. Mas talvez isso não seja a vontade de Deus.

Cris se lembrou de que seu tio era crente havia pouco tempo. No desejo de fazer com

que toda a sua vida se tornasse um tranquilo reflexo do amor e da compaixão de Cristo, ele se

esquecera de que o Senhor também ficara irado. Jesus havia derrubado a mesa dos cambistas

no templo. Tinha chorado à vista de todos, quando seu amigo falecera. Havia mandado que o

morto saísse do túmulo e em outra ocasião ordenara ao vento e ao mar que se aquietassem.

Cris se recordou de todos esses exemplos relacionados com Jesus porque estivera lendo

o Novo Testamento para conhecer melhor o Salvador. Então comentou com o tio acerca

dessas verdades que lera nos Evangelhos e sugeriu-lhe que fizesse o mesmo.

- O que transforma nossa vida, tio, é a Palavra de Deus, explicou ela.

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Recordou-se de que ouvira isso numa das aulas, mas não se lembrava em qual.

Bob levou a mão à nuca e esfregou-a de leve. Fitou a sobrinha com uma expressão mais

leve.

- Sabe? Nunca li a Bíblia toda.

- São poucas as pessoas que já a leram, tio.

- Mas você ‘tá certa. Como posso dizer que sou discípulo de Cristo se nem ao menos li a

história da vida dele?

- Ele escreveu apenas um livro, a Bíblia, disse Cris. Então nós apenas temos de lê-la,

 procurando a solução para os problemas da vida.

- O que acontece, replicou Bob, é que acho que tenho me limitado a ouvir outros. Eles

estudam as Escrituras e me passam o que aprendem. Não é assim que ajo com meus

investimentos financeiros. Então, por que devo fazer isso na minha vida espiritual?

O Tio Bob se inclinou e deu-lhe um beijo no rosto.

- Senti muito a sua falta, Olhos Brilhantes, disse. Você sabe que sempre foi e é minha

sobrinha predileta.

- Hmmm, replicou ela sorrindo, mas sempre fui também sua única sobrinha.

- Um pequeno detalhe, um pequeno detalhe.

 Nesse momento, o pai de Ted entrou na sala.

- O médico disse que já podemos ir vê-lo. Está no quarto 302.

- Vou chamar a Katie e subiremos já, anunciou Cris.

O Tio Bob e Bryan subiram para o quarto. Alguns minutos depois, as duas jovens

também foram para lá. Quando Cris entrou, viu que Ted estava com os olhos abertos, mas

teve a impressão de que ele não a reconheceu.

Sentindo o coração bater forte, ela procurou reprimir as lágrimas de compaixão.

Aproximou-se do lado do leito e carinhosamente pegou a mão do rapaz.

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- Oi! disse ela.

Os olhos dele brilharam ligeiramente, mas foi o suficiente para ela perceber que ele a

reconhecera.

- Foarero, murmurou ele por entre os lábios inchados.

- O quê? indagou a jovem, chegando mais perto.

A aparência dele era horrível.

- Se estiver muito difícil falar, não se esforce, Ted, disse ela. Amanhã de manhã, depois

que já tiver dormido bem, você me fala.

- Nó foarero, repetiu ele.

- Foarero? perguntou Cris.

O rapaz fez um leve movimento, acenando que sim.

- Foarero... Ah, você quer dizer nosso fogareiro?

 Novamente Ted fez sinal afirmativo. Parecia que o gesto lhe causava dor. Katie

aproximou-se e deu a interpretação.

- Cris, ele ‘tá querendo dizer que ‘tá preocupado com o fogareiro. Devia estar na

Kombinada.

Cris virou-se para o namorado, dando um sorriso.

- Você ‘tá pensando no nosso fogareiro? Ó Ted, não se preocupe com isso. Podemos

comprar outro depois. O mais importante agora é você ficar bom.

O rapaz fechou os olhos. Cris olhou para a amiga com expressão de preocupação.

 Naquele momento, não sabia bem o que dizer nem o que fazer. O pai de Ted chegou mais

 perto da jovem.

- Nós vamos embora pra casa, disse, pra descansar algumas horas. Amanhã eu volto.

Cris sentiu o Ted apertar levemente sua mão.

- Eu não vou embora, não, Ted, disse. Vou ficar bem aqui.

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O rapaz soltou a pressão. Em seguida, caiu no sono, parecendo muito cansado.

- Tem certeza de que quer ficar a noite toda? indagou o Tio Bob.

Cris acenou que sim.

- Katie, disse ela, se quiser voltar pra escola, pode ir. Não me importo de ficar aqui

sozinha.

- Acho que vou mesmo, respondeu Katie. Amanhã cedo eu volto. Quer que eu lhe traga

algo?

- Não. Se lembrar de alguma coisa, ligo pra você.

Todos lhe deram um abraço de despedida, e a jovem ficou sozinha ao lado da cama.

 Num canto do quarto havia uma poltrona que ela arrastou para perto do leito. Movendo-se

 bem silenciosamente, abaixou a grade lateral, para que pudesse segurar a mão do namorado

com mais facilidade.

Cris se pôs a orar. Ouvia o ruído constante dos tiquetaques dos aparelhos, que pareciam

um eco de suas súplicas a Deus. Enquanto eles estivessem fazendo aquele rumor constante e

seguro, Ted estaria bem. Ele estava vivo. Olhou para um dos tubos que se achava conectado à

mão direita dele.

 Ele tem um pouco do meu sangue agora, pensou. O meu e o dos meus familiares, do pai

dele e dos nossos amigos. Ó Ted, outro dia você falou que sempre se sentira tão sozinho

 porque não teve irmãos. Agora, veja só! Você ‘tá cercado por uma família de irmãos em

Cristo e vivendo pelo sangue dessas pessoas. Nosso sangue ‘tá correndo em suas veias.

Passou um dedo de leve sobre o dorso da mão esquerda dele, acompanhando a linha da

veia. Examinou o local onde o médico tinha dado pontos. A cicatriz do corte ficaria na pele

 pelo resto da vida.

 Jesus também tem cicatrizes nas mãos. Foi isso que você falou na reunião dos jovens

no domingo passado. Quando chegarmos ao céu, Cristo vai estender os braços pra nós e aí 

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verem as cicatrizes.

Fechou os olhos e imaginou o Senhor de pé atrás dela. Uma das mãos, com a cicatriz,

estava pousada em seu ombro. Ela experimentara essa proximidade de Jesus poucas vezes na

vida. Agora ela lhe comunicava uma imensa paz. Segurando a mão de Ted, sentiu-se calma ao

imaginar a mão de Cristo em seu ombro.

- ‘Tá vendo o quanto estamos ligados, Ted? sussurrou. Deus ‘tá aqui. ‘Tá conosco nisso

tudo. Sinto sua presença de forma muito real agora. Katie tinha razão. Ele não ‘tá lá torcendo

as mãos, nervoso, perguntando como é que isso foi acontecer. Não. Ele ‘tá estendendo os

 braços pra nós, tocando-nos. ‘Tá nos aproximando mais um do outro e dele.

Desses pensamentos, ela passou a uma oração sussurrada. Era uma prece bem definida,

agradecendo ao Senhor por sua misericórdia, por ter poupado a vida de Ted. Em seguida,

entregou-lhe o futuro deles. E encerrou dizendo as palavras que seu namorado dissera no

acampamento:

- Como quiseres, Senhor!

De repente, Cris abriu os olhos. Acabara de ter entendimento a respeito de algo, e ficou

surpresa.

 Eu sempre quero estar no controle de tudo, e planejar e organizar o horário. Mas em

última análise, na verdade não sou eu que estou no comando da minha vida. É Deus!

Lembrou-se de que, quando Jesus estava na Terra, ele orara da seguinte maneira: “Não

se faça a minha vontade, e sim a tua”.

 Foi isso que o Ted quis dizer quando falou “Como quiseres, Senhor”. Seu pensamento

era: “Senhor, faze o que quiseres, e eu aceitarei”.

Era possível que ela w o Ted jamais viessem a saber por que aquele horrível acidente

ocorrera. Contudo, juntos, podiam dizer para Deus: “Como quiseres, Senhor. Faze o que

quiseres de nossa vida e nós aceitaremos tua vontade, mesmo que não a compreendamos”.

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 Nesse momento, desejou que o namorado estivesse acordado. Queria muito expor para

ele as idéias que lhe vinham ao pensamento. Entretanto ele estava dormindo, e dormindo

tranquilamente. Não poderia tirar dele essa bênção de que ele tanto precisava para se

recuperar. E a recuperação seria demorada. E durante várias horas, Cris ficou ali sentada, ao

lado do seu amado, totalmente desperta, sentindo-se como que “banhada” pela paz da

 presença de Cristo. A enfermeira de plantão entrou no quarto diversas vezes, para verificar 

como Ted estava passando. Ofereceu à jovem algo para comer ou beber. Contudo Cris

recusou. Não sentia necessidade de nada. Seu coração estava cheio; seu corpo, alimentado.

Em dado momento, no meio da noite, ela se levantou para se esticar um pouco.

Aparentemente, Ted percebeu que ela havia se movimentado e agitou-se também. Cris

colocou a mão fria em seu rosto inchado, procurando dar-lhe alguma sensação de alívio. A

respiração dele voltou ao ritmo normal. Cris passou o dedo de leve sobre o contorno dos

lábios dele. Depois acariciou seu queixo firme, bem delineado e ficou a olhá-lo, como que

guardando na memória os traços de seu rosto.

- Eu te amo! murmurou.

As palavras jorraram de seus lábios naturalmente, sem restrição alguma. Agora a estrada

que ia do coração de Cris para sua boca estava desimpedida. E essas três belas palavras

“rodavam” por ela sem nenhum obstáculo, e se derramavam sobre o rapaz que dormia.

Cris ficou a repeti-las em voz alta, dando risadinhas curtas.

- Eu te amo! Amo mesmo! De verdade! Sei que você não ‘tá me escutando, Ted, mas

não tem importância. Assim que você acordar, vou lhe dizer tudo isso de novo, com meu rosto

refletido em seus olhos, como diz aquela poesia que a Katie leu. Vou lhe dar o melhor 

 presente de todos os que já dei. Vou lhe dar provas da promessa que lhe fiz, da promessa que

 já lhe fiz em meu coração.

Respirou fundo, sorriu e disse em voz bem clara:

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- Bom, eu gostaria de mantê-lo aqui mais alguns dias, explicou o médico. E é claro que

você pode ficar também. Mas não é necessário.

Cris não estava bem certa se deveria permanecer ali ou não. Conversou sobre o assunto

com o pai de Ted e no fim resolveu que voltaria para a escola. Então inclinou-se sobre a

cama, beijou o namorado no rosto e em seguida sussurrou:

- Eu te amo! Durma bem! Durma profundamente e sonhe comigo.

Ted não respondeu. Aliás, ela nem esperava que ele o fizesse. Contudo estava ansiosa

 para que ele acordasse mesmo e abrisse os olhos, para que pudesse fitá-los demoradamente.

Aí então iria dizer-lhe de novo que o amava, e ele iria ouvi-la e compreender bem.

- Antes de ir pra escola, você gostaria de pararmos em algum lugar pra almoçar?

indagou o pai de Ted.

- Claro, replicou ela.

Como não convivera muito com o pai do seu namorado, achou bom aproveitar essa

chance de conhecê-lo melhor.

Quando já saíam pela porta automática, avistou Douglas e Trícia, dois amigos dela e de

Ted, que vinham chegando e a chamaram. Eles se aproximaram e a abraçaram. Sem saber por 

quê, Cris começou a chorar.

- ‘Tá tudo bem, explicou logo. O médico disse que ele vai sarar completamente.

Douglas deu outro de seus famosos abraços na jovem e disse:

- Katie ligou pra nós agora de manhã. Queria que ela tivesse ligado ontem à noite.

Teríamos vindo na mesma hora. Vocês sabem que podem sempre contar conosco, se

 precisarem de qualquer coisa, não é?

Ele se afastou um pouco de Cris e olhou-a com expressão de preocupação.

- Como é que você ‘tá?

- Estou bem, respondeu ela. Estou cansada, mas estou bem, replicou.

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- Não, Cris, disse ele, eu é que agradeço. Você é uma jovem excepcional! Tudo que o

Ted me falou a seu respeito é verdade.

Ele se inclinou para ela e deu-lhe um beijo vigoroso no rosto.

- Se precisar de mim pra qualquer coisa, pode me ligar.

- ‘Tá bom, replicou a jovem.

Então os três retornaram ao quarto do Ted. O rapaz estava dormindo, como seu pai

dissera. Assim que Trícia viu seu rosto inchado e arroxeado, começou a chorar,

silenciosamente. Douglas sugeriu que orassem, e eles o fizeram. Os três se deram as mãos,

Cris pegou a esquerda de Ted, e Douglas colocou a mão direita sobre o ombro do doente. Em

seguida, este orou e encerrou com “Amém”. Nesse momento, Cris sussurrou baixinho:

- Como quiseres, Senhor!

Gostava dessas palavras que representavam uma mensagem pessoal para Deus, uma

rendição de sua vontade ao Senhor.

E eles permaneceram alguns instantes ao lado do leito, conversando baixinho. Afinal,

uma enfermeira entrou e disse que precisava medir a temperatura do paciente e ajustar a

medicação dele.

- Vamos lá pra cantina? convidou Douglas. Acho que também quero comer algo.

- Eu queria que o Ted pelo menos soubesse que viemos aqui, comentou Trícia, olhando

 para o rapaz com ar de expectativa.

- Depois nós podemos voltar, disse Cris.

Chegando à cantina, sentaram-se numa mesa vazia e se puseram a conversar como

velhos conhecidos que eram. Aproveitaram para pôr em dia os acontecimentos mais recentes

da vida de cada um, fatos que haviam sucedido após o último encontro deles. Cris se pôs a

relatar o que descobrira havia pouco tempo, a respeito do namorado. Douglas e Trícia se

inclinaram para ela, ouvindo atentamente. Parecia que eles, como Ted, já esperavam, havia

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algum tempo, para escutar o que ela tinha a dizer.

- Eu amo o Ted, principiou Cris, dando de ombros, num gesto meio acanhado. Eu o

amo. Ainda não lhe disse isso. Ou melhor, ele ainda não me ouviu dizer isso. Mas hoje sei

com toda certeza que o amo.

Trícia deixou escapar uma risadinha gostosa. Douglas se recostou na cadeira com uma

expressão de satisfação.

- Já não era sem tempo! exclamou.

Cris fitou-o com ar zangado e disse:

- Eh! Muito obrigada! exclamou em tom irônico.

- Não, interpôs o rapaz. É que o Ted já tem certeza do amor dele por você há muito

tempo. E sei que ele nunca quis pressioná-la. Então agora isso vai ser ótimo. Vai mudar a vida

dele.

- Mudar a vida dele? perguntou Cris.

Douglas e Trícia se entreolharam com expressão significativa. Pareciam dar a entender 

que conheciam alguns fatos a respeito de Ted. E evidentemente tratava-se de coisas que Cris

ainda desconhecia.

- Devo perguntar o que os dois estão pensando? indagou ela. O jeito de vocês é de que

conseguem ler a mente um do outro.

- E conseguimos, responderam os dois em uníssono.

Os três caíram na risada. Trícia tirou os óculos e colocou-os na mesa, ao lado do

sanduíche de peru que comera pela metade.

- Você talvez já saiba disso, Cris, principiou ela, mas o Ted ‘tá apaixonado por você há

muito tempo.

Cris reconheceu que alimentara esperanças a esse respeito, mas devido à sua

insegurança, duvidara do amor dele inúmeras vezes.

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- Eu te amo, Ted!

O rapaz fez um movimento lento com a mão esquerda. Cris pensou que ele iria estendê-

la e tocar no rosto dela. Contudo ele passou os dedos pelo cobertor, como que afastando

algumas migalhas de algo. Seus olhos estavam arregalados; sua respiração, mais rápida.

Cris estendeu o braço e apertou a campainha para chamar a enfermeira.

- O que você tem, Ted? indagou ela.

- Elas são muitas, resmungou ele. Cuidado, elas estão chegando. São muitas!

A enfermeira entrou no quarto.

- Tem alguma coisa errada com ele, disse Cris.

- O que foi, Ted? indagou a mulher em voz bem alta.

Ele não respondeu, mas continuou a bater a mão no cobertor, como que para limpá-lo.

- Você ‘tá vendo algo? perguntou ela.

- Aranhas, murmurou ele. Muitas. E elas não querem ir embora.

Cris começou a sentir o coração batendo forte.

Será que o acidente afetou o cérebro dele? O que será que ‘tá acontecendo?

- ‘Tá bom, Ted, continuou a enfermeira, falando com firmeza. Vamos dar um jeito

nelas. Você está apenas tendo uma alucinação. Vamos mudar sua medicação imediatamente.

Ela examinou o frasco do soro e desligou-o, removendo-o do suporte de metal.

- O medicamento ‘tá provocando alucinações nele? indagou Cris.

- Está, explicou a mulher. Isso é relativamente comum. Podemos dar um outro remédio

que não vai causar esse efeito. Não se preocupe. Ele vai ficar bem.

Contudo ela se preocupou, sim. Permaneceu ao lado dele a tarde toda. O rapaz, porém,

dormiu profundamente e, ao que parecia, não teve mais “visões” de aranhas invisíveis. À

noite, Katie apareceu e insistiu com Cris para que voltasse para a escola, para que pudesse

dormir melhor.

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 para instalar o rapaz no veículo. Chegou até a dizer onde as flores deveriam ficar, na parte de

trás da perua. Fez questão de que Ted se sentasse no banco e frente, enquanto ela e Cris se

acomodavam atrás. A jovem nunca vira sua tia abrir mão do seu lugar ao lado do motorista

em favor de ninguém.

A viagem até Newport Beach durou uma hora e meia. Bob foi relatando como pensara

em comprar o carro mais adequado possível. Ele até pesquisara na Internet, para saber quais

eram os veículos mais seguros. Depois procurou se informar sobre o ano em que saíram as

melhores peruas da Volvo. Por fim, foi à procura de um que estivesse em boas condições e

com baixa quilometragem. Agora estava todo satisfeito com o belo carro que conseguira. Ted

e Cris iam intercalando com muitas palavras de apreço e agradecimento.

A jovem ficou muito feliz com a idéia de ter um carro. E gostou muito desse. Quando

era mais jovem, a mãe tinha um carrinho que ela também usava. Em Basiléia, ela não

 precisara de veículo. E no momento, da maneira como estavam suas economias, não seria tão

cedo que teria condições de comprar um. Deu um sorriso ao se lembrar de que, agora, ela e

Ted tinham dois objetos em comum: um carro e um fogareiro. Só faltava arranjarem um

cãozinho vira-lata e aí poderiam se casar e ir pela estrada afora, como se fossem ciganos

modernos.

Marta falara a verdade ao dizer que arrumara a saleta toda para acomodar o Ted. Ela

havia tirado o sofá de couro que estava lá e alugara um leito de hospital. Bem à frente dele,

estava um enorme televisor. Na mesinha de cabeceira, havia diversas fitas de vídeo, revistas e

 pacotes de salgadinhos e biscoitos à espera do rapaz. Ela comprara também várias camisetas e

shorts próprios para o surfe e os pusera, dobrados, ao pé da cama. Esta se achava muito bem

arrumada, com o virol dobrado da forma certa, como se faz nos hotéis.

Ted passou por tudo isso sem notar nada e logo foi se deitar. Poucos minutos depois,

estava dormindo. Cris deduziu que ainda não se achava completamente desperto.

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Cris caminhou até a cozinha e abriu a geladeira que estava sempre bem abastecida.

Pegou um pedaço de queijo e um vidro com suco de maçã. Viu o menu das refeições para o

final de semana, escrito num pedaço de papel com a letra do Tio Bob. Achava-se fixado à

 porta com um imã em formato de barco a vela. Para o jantar de sexta-feira, ele havia marcado

lazanha. Como Cris conhecia o tio e sabia do seu interesse por culinária, concluiu que ele

 provavelmente já preparara o prato que devia estar pronto para ir ao forno.

E acertou. Achou a forma com a lasanha na prateleira inferior. Deu uma espiada no

relógio. Eram quase 5:00h da tarde. Resolveu tomar a iniciativa e colocar a comida no forno.

Em seguida, prepararia uma salada para que pudessem jantar assim que tivessem fome.

E acabou que ela foi a única a jantar. Ted disse que estava apenas com sede, mas que

mais tarde talvez comesse uma torrada. A idéia de comer uma lasanha não o atraía muito.

O Tio Bob e a Tia Marta ainda não haviam descido e Cris não estava sentindo que

deveria subir para o quarto. Ficou sentada sozinha, na cozinha, e se lembrou das inúmeras

vezes em que fizera refeições ali. Recordou-se das sensações que já experimentara na

 presença dos tios. Ela não se assustava com as emoções fortes que eles estavam manifestando.

Só queria que resolvessem tudo e acertassem o que fosse preciso.

“Ó Deus, faz com que eles resolvam tudo, Senhor!” orou.

E ficou ali sentada, comendo e orando. No fim, guardou o que havia sobrado do jantar,

aliás, em grande quantidade. Embora Ted ainda estivesse dormindo, resolveu fazer uma

torrada para ele. Uma vez pronta, passou manteiga e depois, mel, como sua mãe fazia para

ela, quando estava doente.

Por um instante, ficou a pensar se seria uma boa mãe. Achou que sim. Esperava que

sim. Antes de tudo, porém, acima de tudo, esperava ser uma boa esposa.

E foi com o coração cheio de bons anseios que Cris pegou a torrada e se dirigiu para a

saleta. Encontrou o Ted sentado na cama, com um lenço de papel na mão, tapando o nariz.

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acender o fogo e dirigindo-lhe um sorriso de compreensão. Você ‘tá dando a entender que os

dois querem ficar sozinhos.

Cris fez força para não ficar sem graça.

- Oh, tio, espero que não tenha sido muito mal-educada falando assim.

- Não, não. De forma alguma. ‘Tá falando como uma jovem... uma jovem que ‘tá...

como é mesmo aquela palavra?

- Apaixonada, completou Cris, sorrindo.

- Ah, é, uma jovem apaixonada.

- E estou, concordou ela em voz suave. Estou mesmo.

O Tio Bob inclinou a cabeça para um lado, fitando-a.

- Será alguém que conheço? indagou com um brilho alegre nos olhos.

- É, replicou ela. Pra dizer a verdade, é, sim. É alguém que você conhece. Mas não vá

dizer nada pra ele porque...

Outra vez ela parou, à procura da palavra certa para expressar seu pensamento. Contudo

o tio deve ter lido a mente dela, pois disse:

- Porque talvez você queira ser a primeira a contar pra ele.

Cris acenou que sim.

- Então fique esperando bem aqui e acenda o fogo. Vou fazer o café e depois acordar o

seu “príncipe encantado”. Nesse caso, não vou trazer a garrafa de café. Vou deixar pra ele

trazer.

- Obrigada, Tio Bob. Você é tão legal comigo!

O tio fez um gesto como que dispensando os agradecimentos e voltou correndo para a

casa. Cris deitou-se de bruços sobre o velho cobertor e procurou se acomodar nele. Durante

alguns momentos, ficou a contemplar, com intenso prazer, o Oceano Pacífico, grandioso e

infinito. Pôs-se a respirar fundo, e o ar frio e úmido da manhã fez seus pulmões arderem.

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como o dela.

Cris continuou com o olhar fixo no namorado que caminhava em sua direção. Nesse

instante, compreendeu, tanto com a mente como com o coração, que nunca mais se esqueceria

dessa imagem do rapaz vindo ao seu encontro na praia. Nunca perderia a visão desse homem

que, duas semanas atrás, passara bem perto da morte, mas agora estava bem vivo e bem

apaixonado por ela.

- Hmm, que cheiro bom! exclamou ele, parando junto ao fogo.

Cris achou engraçado o fato de que as primeiras palavras dele, numa ocasião tão

significativa como aquela, tivessem sido tão corriqueiras.

- Eu te amo! disse ela de sopetão.

Imediatamente ela tapou a boca. Ela pensara dizer: “É o bacon!” Entretanto seu coração

estava tão cheio de amor pelo Ted que a declaração simplesmente escapou quase sem ela o

querer.

O rapaz foi se abaixando lentamente e se sentou perto dela, no velho cobertor. Largou a

garrafa e as canecas, e ficou a fitá-la fixamente como se não conseguisse acreditar no que

ouvira. Pela expressão do rosto, dava a entender que queria que ela repetisse o que dissera.

Cris tirou a mão da boca e fitou aqueles profundos olhos azuis. Respirou fundo e

“mergulhou” na alma dele.

- Eu te amo! repetiu, num tom lento e bem determinado. Eu te amo, Ted.

- É, achei que era isso mesmo que você havia dito, comentou o rapaz com voz

emocionada, e continuou: Também te amo, Kilikina!

Os dois ficaram imóveis. O bacon parecia soltar pequenos foguetes enfumaçados,

formando miúdas chamas brilhantes. No alto, três gaivotas circulavam soltando seus piados

agudos, como se fossem arautos do Rei, tocando trombetas.

Lenta e ternamente os dois se aproximaram e seus lábios se encontraram num beijo.

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espiada neles.

E assim o longo e lento piquenique particular dos dois foi transcorrendo tranquilamente,

durante aquela calma manhã de outubro. Eles riram, beijaram-se, brincaram um com o outro,

oraram, e comeram até não poder mais. Cris sentiu que tudo estava perfeito; mais perfeito que

isso era impossível. Estava mais maravilhoso do que ela imaginara nas fantasias que criara.

Contudo, na hora em que pegavam o cobertor e ajeitavam o vasilhame para ir embora,

ela sentiu uma tristeza com que não contara. A razão era que Ted não a pedira em casamento.

 Na verdade, não pensara que ele o faria; não pensara mesmo. Entretanto, depois que ela

lhe abrira tanto o coração e ele acolhera tudo com uma atitude igual e muita alegria, era

natural que ele dissesse aquela frase que mudaria a vida dos dois. Era preciso que ele

indagasse:

“Vamos nos casar?”

Todavia ele não a dissera. É verdade que falara outras palavras maravilhosas. Contou

que estivera esperando que ela tivesse certeza de que o amava e lhe confessasse isso. Disse

que Douglas e Trícia estavam certos. Desde o primeiro dia em que a vira na praia, quando ela

caíra junto deles cheia de algas marinhas, ele já compreendera que ela seria a pessoa certa

 para ele. Afirmou que depois nunca mais namorara outra garota. Aliás, ela fora a única que

ele beijara, a única que ele amou. A única. Entretanto não disse:

“Quer casar comigo?”

Voltaram para a casa caminhando lentamente sobre a areia. Ted não tomara o remédio

antes de vir para a praia e agora estava sentindo muita dor. Cris teve de carregar a cesta com a

frigideira, os pratos, os outros utensílios e o vidro de geléia. O rapaz só conseguiu levar o

cobertor dobrado e a garrafa térmica vazia. Contudo os dois objetos pareciam muito pesados

 para ele.

Quando entraram em casa, ele estava com o rosto pálido e começara a suar frio. Deixou

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Entretanto a mãe não tivera esse tipo de relacionamento nem com a Marta, que era irmã dela.

- Sabe de uma coisa? disse Bob, quando voltavam para casa. Tomei uma decisão muito

séria hoje.

Cris pressentiu que o tio iria falar de seu relacionamento com a esposa. Então se

acomodou melhor no banco do carro para lhe dar toda a sua atenção. Nesse momento se deu

conta de que aquele lugar, o banco do “carona”, na Kombinada, era horrível. No carro do tio,

 porém, era muito confortável. Quanto ao Volvo, ainda não sabia como seria andar nesse

assento, pois ainda não tivera esse prazer.

- Tenho feito aquilo que você sugeriu, continuou ele. Tenho lido a Bíblia. Comecei pelo

 Novo Testamento, com os quatro primeiros livros: Mateus, Marcos, Lucas e João.

Cris fez um aceno com a cabeça, concordando.

- O que tenho notado sempre é que Cristo amava as pessoas, apesar das fraquezas

humanas. Ele não ignorava os problemas delas, mas falava a verdade com amor. E sempre

dizia o que era necessário.

A jovem ficou um pouco tensa. Como seria que seu tio iria aplicar isso no dia-a-dia?

- Vou começar a falar algumas verdades pra minha esposa, disse Tio Bob em tom firme.

- Com amor, acrescentou Cris.

- Isso, com amor, concordou ele.

Aqui ele fez uma pausa e depois prosseguiu:

- Cris, me passe aí meu celular.

A jovem lhe entregou o aparelho. Ficou a olhá-lo e viu-o acionar a memória para discar 

o número de sua casa.

- Vai dizer agora? Por telefone?

- Não, replicou o tio. Vou só perguntar se ela quer que a gente passe no restaurante e

leve o almoço pra casa.

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estava desarrumada.

- Ah, dá uma ligada para o Ted amanhã e conte tudo isso pra ele, pediu Cris. Ele vai

ficar simplesmente maravilhado. Tem orado pelo grupo todos os dias, quero dizer, quando

não ‘tá dormindo.

- Ele ainda ‘tá bem grogue, né? perguntou Katie, afofando o travesseiro de Cris e

apoiando nele o cotovelo.

- É, mas já melhorou muito, replicou, com um largo sorriso e enfiando as roupas sujas

num saco próprio que havia num canto do seu closet. É, ‘tá bem melhor.

- Mas por que essa expressão de alegria, minha amiga? quis saber Katie. Será que posso

deduzir que o Ted ‘tá bem melhor porque você finalmente fez aquela importante declaração?

Cris se ergueu e fitou-a com as mãos nos quadris.

- É, fiz. Nosso café da manhã foi perfeito. E agora o meu namorado, aquele rapaz

incrível e maravilhoso, não precisa mais ter a menor dúvida com relação aos meus

sentimentos por ele.

- Ah, finalmente você já pode dizer “O meu amado é meu e eu sou dele”, comentou

Katie com uma entonação poética.

- Já ouvi isso. É de Cântico dos Cânticos, né?

- Creio que sim.

- Você leu esse livro nesses últimos dias? indagou Cris.

Ela foi até a cama da amiga e, com movimentos rápidos, esticou os lençóis e o cobertor 

e ajeitou os travesseiros. Um deles estava com a fronha da Pequena Sereia e o outro com a da

“Minnie”.

- Não, replicou a outra.

- Eu li o Cântico dos Cânticos quando estava em Basiléia. É o poema lírico mais

estranho e exótico que já vi. Tem só oito capítulos.

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- Você leu aquela parte que diz “Os teus cabelos são como o rebanho de cabras”?

indagou Katie. Que romantismo tem isso? Ou então aquela outra frase: “O teu pescoço é

como a torre de Davi”? Essa então é linda mesmo! comentou Katie, em tom irônico. Se um

rapaz me dissesse essas coisas, tenho certeza de que me apaixonaria por ele na hora!

Cris riu as gargalhadas. Riu tanto que teve de se sentar.

- Ah, agora já sei por que você riscou o coitado do Mark da sua lista. Ele não disse as

frases que você gostaria de ouvir.

- É, o coitado do Mark! repetiu Katie com um suspiro. Ele não aprendeu essa frase sobre

o rebanho de cabras lá em Brightwater.

Cris riu de novo.

- Ah, não, Katie, não fale assim dele. O Mark ainda é um amigo muito querido, você

sabe, né?

- Ah, sei. Mas não me entenda mal. Acho o Mark simplesmente maravilhoso No

domingo, ele assumiu tudo lá na igreja e cuidou de tudo. É um ótimo rapaz! Só não é ótimo

 pra mim. Eu gosto de uma pessoa com mais “tempero”!

- ‘Tá querendo dizer que aqui na escola não há muitos rapazes com “tempero”?

- É, eu diria isso, sim. Mas não tire nenhuma outra conclusão aí, Cris. Estou muito

satisfeita aqui. Sinceramente. Aquela minha mania de ficar procurando o cara perfeito acabou.

- Ué! Por quê?

- Resolvi me tornar uma das mulheres de Provérbios 31.

- E o que é isso? Uma nova agremiação aqui da escola?

- Não, mas não seria má idéia. Poderia trocar o velho Clube A. A., que eu e a Selena

fundamos na Inglaterra, por esse novo.

- O que é esse A. A.? quis saber Cris.

- Já esqueceu? O primeiro A significa “apenas” e o segundo, “amigas”. E eu e a Selena

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somos as únicas associadas nesse clube. Nosso lema era que iríamos ser apenas amigas dos

rapazes. É, mas depois que ela me falou de como o relacionamento dela com o Paul ‘tá indo,

acho que o número de associadas diminuiu. Agora é uma só: eu. Então creio que posso fundar 

um novo clube, o P-31, a sigla da mulher de Provérbios 31.

- Ah, entendi, replicou Cris, disfarçando um sorriso. E posso perguntar quais seriam os

 pré-requisitos para uma pessoa ser sócia desse Clube P-31 ?

- Muito simples. A base é a primeira parte do versículo 10, que diz: “Mulher virtuosa,

quem a achará?”

Cris fitou-a, erguendo as sobrancelhas, como quem indaga algo, e ficou a aguardar a

explicação.

- Não entendeu, não? Olhe, lá não diz: “Um bom marido, quem o achará?” Diz “Mulher 

virtuosa...” Então acho que isso significa que é o homem que tem de procurar.

Cris deu uma risada e jogou seu travesseiro na amiga. Katie se abaixou, e ele bateu na

 parede.

- ‘Tá pensando que estou brincando? Não! Pode acreditar em mim. Já analisei isso por 

todos os ângulos. Daqui em diante, me ponho completamente nas mãos de Deus. Vou apenas

continuar fazendo meu trabalhinho aqui, bem no centro da vontade dele. E se houver algum

“amado” pra mim em algum lugar por aí, vou deixar que ele comece a me procurar, pra

variar. Vou ficar bem aqui - como uma futura mulher virtuosa – esperando que ele venha me

achar.

Cris já ia abrir a boca para comentar algo, quando Katie a interrompeu.

- E não venha me dizer que sente muito por eu não ter ninguém em perspectiva, quando

você e Ted já estão com tudo acertado e tão chegados um ao outro.

Cris baixou os olhos para o chão.

- Era isso que ia dizer, não era?

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- Como é que sabia?

- Ah, digamos que nós duas estamos mais ou menos no verso oitenta e quatro de nossa

música. Sabe, né? No verso oitenta e quatro, igual ao primeiro, só que um pouco mais alto e

um pouco pior.

Cris se encaminhou para a cama e se sentou ao lado da amiga

- É, mas quando nós cantamos juntas, não saímos tão mal assim, não.

- Não; não é juntas, não, replicou Katie, entregando-lhe o travesseiro com a fronha da

Pequena Sereia para ela se recostar. Não cantamos mais juntas, não. Temos de largar nossa

velha música. Agora você vai começar a cantar uma nova, Cris. Só que seu dueto agora é com

o Ted. E eu vou passar a cantar solo, ‘tá bom? Agora, as músicas antigas não se aplicam mais

a nós, a nenhuma de nós.

Cris sentiu uma grande admiração pela amiga. Aliás, achava que nunca a admirara tanto

quanto nesse momento.

- Você deixa Deus ir realizando o que ele quiser em sua vida, e eu vou convidá-lo pra

fazer o que ele quiser na minha também. E além disso não vamos mais nos comparar uma

com a outra, ‘tá bem? concluiu Katie, num tom de voz que dava a impressão de que desejava

muito que Cris concordasse com ela.

- “Como quiseres!” disse esta, com um aceno afirmativo.

E nas semanas seguintes, Cris notou mudanças verdadeiras em sua colega. Um exemplo

disso foi que, na terça-feira, ela pegou emprestada sua lixa e cuidou das unhas. Ela nunca vira

aquela sua amiga, com seu jeitão meio de garoto, lixar as unhas antes. É verdade que as

“roia”, que arrancava as cutículas, mas lixar, nunca. Também nunca passava um creme

hidratante nas mãos.

E Katie lixava as unhas, toda contente, enquanto Cris estava na Internet, fazendo uma

 pesquisa sobre Milton, o poeta cego. Katie mencionou que já estava quase conseguindo a

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receita ideal para o seu chá de ervas.

Por volta de quinta-feira, ela tinha certeza de que afinal obtivera a mistura adequada.

Para comemorar a vitória, ela fora ao Galpão da Economia e comprara um bule de louça e

algumas xícaras de vários feitios e desenhos, para fazer um chazinho no quarto e chamar 

algumas colegas.

Então, na quinta-feira à noite, às 7:30h, quatro amigas dela vieram para tomar chá. Katie

disse que pensara em convidar outras, mas só conseguira comprar seis xícaras no Galpão. Cris

havia arrumado o quarto e ajeitara tudo para que as seis “provadoras” pudessem se sentar por 

ali. Katie preparou a bebida numa chaleira elétrica. Enquanto esperava que as folhas do chá

“cozinhassem”, ela serviu alguns biscoitos.

Selena, que era uma das convidadas, estava contando que sua irmã, Tânia, iria se casar 

no feriado do Dia de Ação de Graças, e que o noivo dela conseguira um emprego em

Oklahoma.

Cris queria ouvir o relato, mas estava mais preocupada com o chá de Katie. Então foi

 para um canto do quarto onde ela estava coando o chá e colocando nas xícaras.

- Katie, cochichou ela, quero lhe perguntar mais uma vez. Por favor, não fique com

raiva de mim. Tem certeza de que, desta vez, ninguém vai ter nenhuma alergia com seu chá?

- Tenho 99,9% de certeza, replicou ela. A mistura que fiz agora é totalmente diferente

da que fiz no semestre passado. Desta vez não pus nenhuma espinheira.

- Você pôs espinheira da outra vez?

- É, mas eu não sabia que era espinheira silvestre, que causa coceira. ‘Tá bom?

- Afinal, por que você planta espinheira?

- Porque ela é boa pra quem ronca. Eu a sequei e misturei com hibisco seco. E pus só

uma pitadinha. Mas desta vez, não. Este meu preparado aqui é o “Verão Indiano”. tem maçã,

gengibre, canela e outros condimentos. Nenhum dos ingredientes tem problema algum, eu lhe

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garanto.

Cris poderia até se sentir mais tranquila, se a amiga não tivesse empregado o termo

“preparado” para se referir ao chá. Contudo voltou para seu lugar, e quando Katie lhe

entregou uma xícara com a cheirosa bebida que ainda fumegava, sorriu graciosamente.

- ‘Tá uma delícia, Katie! disse Selena, que foi a primeira a prová-la.

Esse comentário positivo fez com que as outras corajosamente se arriscassem a tomá-la,

“avançando num terreno onde ninguém mais tivera coragem de entrar”.

- ‘Tá bom, sim, confirmou Cris.

Contudo, meio despistadamente, olhou para a parte interior do braço para ver se não

estava aparecendo nenhuma manchinha na pele. Por enquanto, nenhuma.

- A combinação dos sabores ‘tá perfeita, continuou Selena entusiasmada. Gostei do

equilíbrio entre o gengibre e os condimentos. Você pôs cravo também? Estou sentindo o

gosto.

- Pus.

- ‘Tá muito bom, pois não ficou muito forte. Desta vez, você conseguiu, Katie. Este chá

aqui vai fazer sucesso.

Cris e as outras meninas concordaram. Katie era toda sorrisos.

- Então quero anunciar oficialmente o nascimento do chá “Verão Indiano”!

Todas aplaudiram.

Vinte e quatro horas depois, Cris constatou que não lhe havia aparecido na pele

nenhuma manchinha. Também não tivera nenhuma outra reação adversa. Então pegou um

 pacotinho do chá e levou para a livraria. Donna gostava de tomar chá, e Cris achou que talvez

ela aprovasse o novo sabor que a Katie criara.

E de fato ela apreciou o chá, tanto quanto Cris, Selena e as outras garotas. Na sexta-

feira, quando já estava quase na hora de Cris encerrar seu horário de trabalho e se preparar 

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 para ir a Newport Beach, Donna lhe perguntou se poderia lhe arranjar mais daquele chá.

- É, posso lhe trazer mais um pacotinho na segunda-feira. Ou então você pode ligar para

o nosso quarto e pedir a Katie pra lhe entregar.

- É que eu queria dar um pouco para um conhecido meu, explicou Donna. Há poucos

dias, ele abriu uma livraria em Murrietta, com uma cafeteria ao lado. Só que ali eles servem

coisas diferentes. Acho que gostaria de colocar este chá no menu dela.

- Mas será que primeiro a Katie não precisaria registrar o chá e tirar a licença no

departamento de alimentos e remédios? indagou Cris.

Cris não queria de forma nenhuma impedir que Katie vendesse seu chá. Contudo ela já

estava vendo a amiga, na pressa de atender ao pedido, preparar uma mistura do chá e colocar 

espinheira junto com as outras ervas. Já até imaginava os fregueses da cafeteria passando mal

 por causa do chá e a colega sendo processada por danos físicos.

- É, acho que você tem razão, concordou Donna. Ultimamente as leis estão muito

rigorosas nessas questões. Isso é bom, mas também estringe muito as pessoas, não é?

 Nesse moneto, Cris sentiu certo contentamento por essas leis. Contudo não expressou

seu pensamento.

- Se você e a Katie puderem ir visitar essa cafeteria, acho que vão gostar. Chama-se

“Ninho da Pomba”. E a livraria é “A Arca”. Ótimos nomes, não acha?

Cris ficou a olhar sua chefe por uns instantes. Estava usando uma blusa de gola alta, cor 

de abóbora, e um cardigã creme. Tinha o cabelo todo penteado para trás, seguro por um

arquinho dourado. Às suas costas, estavam fileiras e fileiras de livros nas estantes. E na mão

ainda segurava a xícara vazia. Parecia um modelo perfeito para um anúncio do chá da Katie.

A figura de Donna lembrava um ambiente agradável, caloroso e acolhedor.

- É, ótimo mesmo, concordou Cris. Dentro de mais alguns dias o Ted deve ficar bom.

Talvez possamos ir lá todos juntos.

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vida amando-o de todo o coração!

 Ah, mais uma coisa. Donna me disse para escrever tudo, com todos os detalhes. Então

tenho de registrar um detalhe aqui. Estou amando estar apaixonada. Gosto demais do jeito

que acordo de manhã e logo penso no Ted e no grande amor que sinto por ele. E aí dou um

 sorriso.

Ultimamente, fico sorrindo o tempo todo. Não há nada que me deixe pra baixo! Na

 semana passada, a Katie disse que tenho no rosto o misterioso brilho do amor. Disse que

 parecia que meus olhos estavam sempre rindo por causa de algum segredo meu; comentou

até que melhorei a postura. Dei uma risada. Ela falou que o amor do Ted por mim está me

tornando muito bonita e que o meu amor por ele está curando-o.

Só sei que o amor me ajudou a subir ao céu e aprofundar bastante meu relacionamento

com Deus, mais que antes. O amor me dá fôlego, pois tenho “mergulhado” mais no mar da

 paciência e da compreensão. O amor me fez ver detalhes da vida como uma joaninha

andando numa pétala de margarida. Ao mesmo tempo, porém, me levou a abrir mais o meu

“abraço” e alcançar familiares e amigos, chegando-os todos ao meu coração.

O amor é... ah, como eu gostaria de ter palavras para descrevê-lo! O amor é o maior 

dom que Deus nos concede. É o seu mais precioso galardão. Aliás, ele é um eco do próprio

coração de Deus, que vai de nós, seus filhos, para ele. E isso se dá para que este mundo, que

está se desintegrando, possa ver, em primeira mão, o poder de uma vida nova, ressurreta.

 Neste momento, só vejo amor em minha vida. Eu mesma fico rindo das minhas tolices.

 Estou percebendo que sou tão inexperiente em tudo. Nunca havia experimentado uma

 sensação tão inebriante como essa do estar apaixonada. Ela me deixa tonta! Ah! Estou

emocionalmente embriagada nesse grande dom de Deus que é o amor! Imagine só!

Dez dias depois, Cris releu o que escrevera no diário e que denominou “Canto ao

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Amor”. Ainda sentia a mesma euforia. Ted já voltara a assistir as aulas e reassumira sua

 posição de líder de jovens, na Igreja de Riverveiw Heights. Já havia se passado pouco mais de

um mês do acidente. Ele ainda andava devagar e dormia bastante. Contudo já retomara suas

atividades normais. E Cris tinha o namorado de volta. A vida era um mar de rosas.

Ted relatou para ela que o Tio Bob ainda estava demonstrando amor para a esposa, e

“lavando-a” com palavras. Tia Marta não o abandonara, mas também não se tornara mais

chegada a ele. Estava como que “parada” no lugar. Contudo a opinião do rapaz era que essa

era a melhor posição para ela no momento.

Cris fez as aulas que a igreja exigia daqueles que quisessem se batizar. Depois

inscreveu-se para se batizar no domingo anterior ao feriado de Ação de Graças. Comprou

alguns cartões na livraria e convidou os parentes e amigos para o evento. No momento em que

escrevia nomes e endereços no envelope, veio-lhe a indagação de quanto tempo ainda levaria

 para estar fazendo o mesmo com o convite de casamento, que enviaria a essas mesmas

 pessoas.

Ted ainda não a pedira em casamento. Contudo sabia que era apenas uma questão de

tempo. Haviam inclusive conversado sobre o assunto de forma generalizada. Lembraram-se

de como Douglas havia ido falar com o pai de Trícia e lhe pedira a mão da moça em

casamento. E ele fizera isso antes de pedir a ela. Cris achava que o Ted também iria conversar 

com o pai dela. Mas quando?

Dentro de mais alguns dias, todos iriam se encontrar na igreja. Além disso, os pais dela

 já haviam convidado o rapaz e o pai dele para passarem o Dia de Ação de Graças com eles.

Bob e Marta também iriam. Cris ficou a pensar se nesse dia, depois que acabassem de

almoçar e antes de comerem a sobremesa, o Ted não iria se ajoelhar e, na frente de todo

mundo, lhe pedir para se casar com ele. Seria um momento inesquecível.

A jovem sabia que, se ela não gostasse tanto de surpresas, esse suspense iria deixá-la

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louca. Outro fator que a ajudava era que se sentia plenamente preparada para dar a resposta. O

Ted poderia fazer o pedido, em qualquer momento, em qualquer lugar e de qualquer jeito. Sua

resposta seria “Sim”.

 Na véspera do seu batismo, ela estava no quarto terminando um trabalho da escola no

laptop da Katie, quando o telefone tocou. Era sua mãe.

- Nós ficamos um pouco espantados com esse convite para o seu batismo, disse ela

- Vocês vão vir, não vão?

- Vamos, replicou a mãe, lentamente. Mas você sabe que foi batizada quando era bebê,

não sabe?

- Sei, e tenho muito respeito por isso, mãe, replicou Cris. Por favor, não pense que estou

discordando do que você e papai fizeram naquela cerimônia, não. O que estou fazendo é

demonstrar, com minha vida, que o confirmo de todo o coração. É por isso que quero ser 

 batizada agora, que sou adulta.

- Tanto eu como seu pai fomos batizados quando criança e não sentimos necessidade de

nos batizar de novo, depois que nos tornamos adultos.

- É, eu sei. E isso foi certo para os dois. Mas eu penso diferente, mãe. Será que vocês

 podem respeitar essa minha decisão, embora não concordem plenamente com ela?

Cris não conseguia entender por que essa questão deixava os pais meio incomodados.

Eles eram crentes. Por que não se alegravam ao ver que ela estava dando esse passo de fé?

 No fim da conversa, ambas concordaram em que cada um iria procurar enxergar o ponto

de vista da outra.

Quando os pais dela chegaram a Igreja de Riverview Heights, a mãe foi até a saleta

onde Cris já aguardava o momento do batismo, vestida com uma bata branca apropriada.

Estava de calça e os pés, em contato com o chão, estavam gelados. Começou a desejar que

não tivesse se aprontado tão cedo. Nesse dia, ela era a única mulher a ser batizada. Por isso se

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sentiu muito feliz de sua mãe ter ido ali, para vê-la.

- Que bom que vocês vieram! exclamou.

- Ah, nós não poderíamos deixar de vir, não, replicou a mãe, abraçando-a. Eu receei que

você interpretasse mal meu telefonema de ontem; e não queria isso. Eu e seu pai conversamos

sobre o assunto e queremos que saiba que respeitamos sua decisão. Estamos muito felizes

com você. Aliás, sempre estivemos. Parece que os jovens de hoje tem uma ligação mais

emocional com a fé cristã. O Ted nos explicou que, fazendo isso, você está como que se

apropriando da fé. Então nós entendemos que essa demonstração de fé é importante pra você.

- Obrigada, mãe, disse Cris, abraçando-a também.

De certa forma, esse momento era a realização de um anseio da jovem. Ela sempre

desejara ser mais chegada à mãe, mais amiga dela. Não tinha como saber se a mãe estava

vendo as coisas por um prisma diferente. Mas ela estava. Cris sentia claramente que era como

se as duas tivessem chegado a um novo tipo de relacionamento, em que ambas eram adultas.

E sendo adultas, conseguiam enxergar uma a outra como amigas.

A mãe deve ter pensando mais ou menos o mesmo, pois deu-lhe um sorriso amistoso.

- Eu e seu pai queremos lhe comunicar que apoiamos todas as decisões que você tomar 

daqui em diante. Estamos muito felizes por você. Aliás, pelos dois.

E com isso, a mãe saiu e foi para o salão. Cris ficou sozinha e se pôs a pensar no que ela

dissera. Ficou a bater os pés no chão frio, para tentar aquecê-los. O que será que a mãe quisera

dizer quando falou que estava feliz pelos dois?

 Está feliz pelo Ted também? Mas ele não vai se batizar!

Então se lembrou de que no dia anterior o rapaz saira com o carro deles e ficara fora o

dia todo. E não dissera aonde fora. Cris também não perguntara, pois estava com muito

trabalho da escola para fazer.

 Mamãe disse também que ele lhes explicou por que quero me batizar. Será que ele foi

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lá em casa ontem?

Sentiu o coração bater um pouco mais rápido.

Será que ele foi perguntar aos meus pais se podemos nos casar? Será que ele agora vai

me pedir em casamento? Hoje?

O pastor bateu a porta da saleta e avisou que assim que ela ouvisse a música deveria

subir para o batistério. Imediatamente, Cris parou de pensar nos pais e no Ted e se concentrou

no que estava para acontecer. Sabia que seria a primeira da fila. Havia preparado algo para

dizer no momento do batismo. Nesse instante, começou a ouvir um hino bastante conhecido.

“Como um rio glorioso, e a perfeita paz de Deus.”

Cris sorriu. Gostava muito desse hino. Era um dos que ela mais gostava lá em sua antiga

igreja de Brightwater. Teve a sensação de que, nesta ocasião tão importante, revivia um

momento de sua infância. Nas igrejas que frequentara nos últimos anos, cantavam-se quase

que só os corinhos modernos na hora do louvor. Então estava gostando muito de ouvir um dos

antigos cânticos no instante em que entraria no batistério.

O batistério era uma espécie de piscininha quadrada que ficava à frente do salão.

Geralmente, havia ali umas folhagens que a ocultavam. Hoje haviam removido os vasos. O

Pastor John já estava dentro dele, com a água pela cintura, sorrindo para Cris e acenando-lhe

 para que entrasse também.

“Firmado em Deus”, continuava o hino, “o coração é plenamente feliz.”

Movendo-se cautelosamente, a jovem pôs um pé dentro da água e constatou que estava

morna. E o hino prosseguia:

“Encontrando paz e descanso perfeitos, como ele prometeu.”

Caminhou até o centro do batistério e se posicionou de frente para o pastor. Ainda

estava sem coragem de se virar para a congregação. O hino terminou e o pastor explicou

acerca do batismo de Jesus no Rio Jordão. Disse também que Cris estava ali em obediência à

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ordenança do livro de Atos: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de

Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados”.

Ainda meio hesitante, a jovem se voltou para a congregação e avistou o Ted na primeira

fila, olhando para ela todo sorridente. Perto dele havia vários dos jovens do grupo da igreja,

 pelo menos uns vinte. Todos pareciam fitá-la muito sérios.

Que bom número de testemunhas! Não fazia idéia de que todos esses iriam

comparecer!

Em seguida, o Pastor John leu Mateus 28.19,20: “Ide, por tanto, fazei discípulos de

todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a

guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a

consumação do século”.

Aqui ele se virou para Cris e pôs a mão no ombro dela, como que a tranquilizá-la.

- Eu pedi a Cris, disse ele, para explicar por que ela decidiu se batizar.

Pela primeira vez, a jovem compreendeu que, de fato, aquilo fora uma decisão sua, e

uma boa decisão. E ela a tomara por i mesma.

- Entreguei minha vida a Cristo, principiou ela, quando tinha quinze anos.

 Nesse momento, ela avistou Katie e Selena que estavam sentadas perto do Ted e dos

 jovens do grupo. Mark também estava ali, bem como o Wesley, irmão da Selena, e mais cinco

alunos da Rancho Corona.

- Nesse dia, continuou, eu me ajoelhei e pedi a Cristo para perdoar meus pecados, entrar 

em meu coração e assumir o controle de todo o meu ser. Daquele dia pra cá, já vi o Senhor 

operar de várias maneiras na minha vida.

Aqui ela percebeu que estava falando muito depressa e tentou se acalmar para ir um

 pouco mais devagar.

- Sei que Deus está comigo, o tempo todo. Ele tem me transformado. Estou aprendendo

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a confiar mais nele em todas circunstâncias.

 Nesse ponto, ela fez outra pausa e depois concluiu:

- Em todas as decisões da minha vida.

Essa parte sobre as “decisões” não estava no que ela preparara para falar. Contudo era

verdade também.

- Resolvi me batizar, em primeiro lugar, para confirmar a direção que meus pais já

haviam dado à minha vida, pois eles me batizaram quando eu era pequenina.

 Nesse instante, olhou para a mãe, que sorriu. Com isso, Cris ficou ainda mais segura de

que sua decisão realmente fora acertada. Avistou a Tia Marta sentada ao lado de sua mãe.

 Nunca pensara que ela iria comparecer. E então fixou os olhos nela ao terminar sua palavra.

- A segunda razão por que resolvi me batizar é que entendo que isso é um ato de

obediência. É como diz naquele versículo que o Pastor John citou há pouco. Deus nos ordena

que abandonemos nosso viver egoísta, no qual procuramos agradar somente a nos mesmos, e

nos entreguemos a ele de todo o coração. Só assim poderemos viver como ele quer que

vivamos.

Sentindo uma empolgação maior, resolveu acrescentar mais detalhe que não estava em

seu pensamento antes.

- É como se Deus fosse o oleiro e nós, a cerâmica. Ele não quer que nós saiamos por aí e

 procuremos nos transformar em algo que ele não quer, pois não foi para isso que ele nos

criou. Ele quer que fiquemos sempre no seu “torno”, mesmo que às vezes fiquemos até meio

tontos, com aquele girar incessante, com a mão dele a nos moldar e apertar. Foi ele que nos

criou. Ele sabe nos dar a forma que devemos ter, ou melhor, a forma que ele quer que

tenhamos. Assim seremos como ele quer que sejamos. Então Deus quer que fiquemos no

“torno” para nos moldar com suas próprias mãos.

 Novamente ela fez uma parada e depois concluiu:

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- É, com aquelas mãos que ainda têm as cicatrizes dos cravos.

Aqui ela se deu conta de que o que acabara de dizer fora totalmente de improviso.

Provavelmente sua tia ficaria irritada com sua palavra. Entretanto ela se sentia interiormente

“limpa”. Estava limpa e preparada para ser imersa na água e depois levantada, identificando-

se publicamente com a morte e a ressurreição de Cristo.

Então o Pastor John, em voz baixa, pediu a Cris que juntasse as mãos à altura do peito.

Ela fez o que ele dizia e fechou olhos.

- Cristina Miller, continuou o pastor, num tom profundo, agora eu a batizo em nome do

Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Em seguida, Cris sentiu que ele a abaixava de costas, segurando-a firmemente, e toda

ela - o corpo, o rosto, o cabelo, tudo - mergulhou na água. Por um segundo, houve um silêncio

mortal.

Por fim, aquelas mãos firmes a ergueram, tirando-a da água. A congregação rompeu em

aplausos, recebendo-a de volta ao mundo dos vivos. Assim que se levantou, com água

escorrendo por todos os lados, soltou uma risadinha repentina, por entre os lábios fechados.

- Vai em paz, disse o pastor, pois Jesus Cristo, o Senhor da tua vida, estará contigo

sempre.

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18

Ao contrário do que Cris pensara, Tia Marta não teve uma reação forte por causa do

 pequeno “sermão” que dera na hora do batismo. Ela só foi mencionar o fato na quinta-feira,

quando toda a família se reuniu na casa dos pais da jovem para comemorar o Dia de Ação de

Graças.

Cris e Ted chegaram a Escondido na véspera. E os dois foram ajudar a mãe de Cris a

fazer as tradicionais tortas de abóbora. O método de trabalho de cada um dos três era diferente

do dos outros. Além do mais, a cozinha era meio pequena. Por causa disso, a confecção das

tortas acabou se tornando uma aventura de quatro horas, cercada de muitas risadas. E a certa

altura, os dois jovens inventaram uma “guerra” de farinha de trigo. Isso bastou para que a mãe

de Cris logo ficasse agitada, querendo dar uma limpeza geral.

 No dia seguinte, ao final do almoço, quando ela serviu as tortas, os dois jovens

começaram a se gabar, em tom brincalhão, de seu trabalho como confeiteiros. Contudo a mãe

logo os corrigiu, dizendo que, na verdade, eles haviam exagerado um pouco na hora de

colocar os condimentos. Então anunciou que se alguém quisesse uma sobremesa de sabor 

menos picante, deveria optar pela torta de maçã que ela fizera.

- A Cris tem mesmo a mania de exagerar e “condimentar” muito as coisas, interpôs Tia

Marta.

Ela estivera calada a maior parte do tempo. E quando disse isso, dirigiu-se ao pai de

Ted, que se achava sentado ao lado dela. Cris compreendeu que ela se referia à palavra que

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dera no batistério.

- Então cada um diga o que vai querer, concluiu a mãe de Cris, ignorando o comentário

da irmã.

 Nesse momento, Cris se deu conta de que ela deveria ter feito isso quase que a vida

toda.

- E você fez a torta de passas com frutas cristalizadas? quis saber o pai de Cris.

A jovem sorriu. Todos os anos ele fazia a mesma pergunta. E todos os anos, havia mais

de vinte anos, no Dia de Ação de Graças, a mãe preparava pelo menos uma dessas tortas. E

toda vez seu pai era o único que comia dela. E mesmo assim ele perguntava. Parecia até que

ela poderia esquecer da torta.

- Torta de passas? repetiu o pai de Ted. Se tiver, eu também aceito.

- Bryan, interpôs o pai de Cris, você gosta dela ainda quente, com sorvete de creme?

- E existe outro jeito? indagou Bryan com um sorriso.

Cris foi para a cozinha ajudar a mãe a cortar as tortas. Estava sorrindo interiormente ao

ver como seu pai combinava com o do Ted no gosto pela torta de passas.

 Agora ‘tá tudo certo!

 Não faltava mais nada para o Ted a pedir em casamento. Ele só teria de dar uma

escapada até a cozinha, vir por trás dela, abraçá-la e sussurrar ao seu ouvido:

“Que tal se a gente passasse o resto da vida fazendo as tortas do Dia de Ação de Graças

 juntos?”

E em sua fantasia, ela se imaginou respondendo com uma frase bem espirituosa do tipo:

“Sim, desde que façamos tortas bem condimentadas!”

Ou talvez fosse melhor dizer algo bem romântico, como:

“Ah, você sabe que sempre vou ser o seu ‘docinho’ preferido!”

- Cris!

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Virou-se e viu que a mãe a fitava com um ar de preocupação. No meio de seu devaneio,

ela ficara imobilizada segurando a faca no ar, ainda na primeira torta.

- Ah, eu... e... estava pensando em quantos pedaços vamos cortar.

- Quantos quiser. Tem muita torta. Quer colocar estes dois pedaços de torta de passas no

microondas pra mim?

- Claro, mãe, replicou ela, voltando-se para a mãe e sentindo o rosto avermelhar-se.

Quando será que vou superar essa idiotice de ficar vermelha? Quando eu tinha quinze

anos, ou mesmo dezoito, ainda era compreensível. Mas agora já estou com vinte anos. Sou

uma mulher prestes a assumir um compromisso com um rapaz e ainda estou ficando com o

rosto queimando, como se fosse uma garotinha!

Cris se pôs a pensar se o Ted também tinha esses problemas de envergonhar-se de certas

situações. Talvez fosse por isso que ainda não a tivesse pedido em casamento.

Após a sobremesa, o Tio Bob pediu que todos fossem para a sala, a fim de bater uma

foto do grupo todo. Sua câmara fotográfica era provida de um disparador automático, e

 poderia colocá-la sobre uma cadeira.

Seus pais e mais a Tia Marta e o pai de Ted se sentaram no sofá, meio apertados. O

David se acomodou no chão, à frente do sofá, bem no centro. Então sobrou espaço de cada

lado dele. Cris se posicionou à direita do irmão, à frente de sua mãe. O Ted se sentou à

esquerda, à frente do pai dele. Para surpresa de Cris, David, que não era de fazer 

demonstrações afetivas, passou um braço em volta do pescoço da irmã e o outro no do Ted.

Suas mãos pendiam dos lados, sobre o peito dos dois, como os tentáculos de um polvo. O Tio

Bob veio se sentar no braço do sofá, inclinando-se um pouco para o lado da esposa.

- Todo mundo diz “Ei!”, falou ele.

- Eu pensei que a gente tinha de falar era “giz”, comentou David.

E foi então que Cris observou que a voz dele estava mudando. Aliás, estava com um

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som muito engraçado, principalmente porque ele se achava muito perto dela.

- Mas, desta vez, vamos falar “ei”; insistiu Tio Bob. Fica um sorriso mais natural do que

com “giz”, que é mais rígido.

- Giz rígido! repetiu David, caindo na risada.

Ted e Cris se entreolharam, presos como estavam nos tentáculos daquele “polvo”

 brincalhão. A expressão do olhar de ambos dizia:

“Ah, não! Será que eu era assim quando tinha a idade dele?” Nesse instante, a câmera

funcionou e o flash brilhou.

- Bate outra, gritou Tia Marta, imediatamente. Eu fechei os olhos.

Cris e Ted se viraram de frente para a máquina fotográfica.

- Vou contar até três, avisou Tio Bob. Um, dois, três!

 Nesse instante, ouviu um grito geral:

- Ei!

E a câmera clicou.

- Agora quero um do Bryan e Ted sozinhos, disse Tio Bob, assumindo o papel de

fotógrafo oficial da família.

- Vocês dois podiam se sentar aqui nesta poltrona, orientou ele. Vamos ficar mais perto

da janela, para ter uma iluminação melhor. O Bryan pode se sentar e o Ted ficar atrás.

Todos os outros se puseram a olhar o pai e o filho que ocuparam as posições que ele

designara. Cris observou o quanto os dois se pareciam. E aqui ela sentiu uma emoção calorosa

a envolvê-la.

 Puxa, Ted, se daqui a vinte e cinco anos você tiver essa aparência que seu pai tem

agora, posso me considerar uma mulher feliz. Ei! Mas o que estou dizendo? Com você, daqui

a vinte e cinco anos, serei feliz de qualquer maneira. Bom, mas se você ficar parecido com

 seu pai...

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Em seguida, deu uma olhada rápida para sua mãe. Ela era mais baixa do que a filha pelo

menos uns dez a doze centímetros. Estava bem gordinha. Tinha o rosto bastante arredondado

e o corpo bem “cheinho”. Seu cabelo estava quase todo branco, e ela não o tingia e tampouco

mudara o corte curto que adotara havia vários anos. Além disso, não usava nem um pingo de

maquiagem. Enfim, era uma mulher simples, honesta, reservada e nada sofisticada. E Cris

sempre admirara essas qualidades dela.

 Mas espero que, daqui a alguns anos, eu me pareça mais com a Tia Marta. É claro que

não vou querer os alongamentos do cabelo e nada disso. Quero apenas continuar sendo

atraente para o Ted. Bom, pelo menos, “puxei” meu pai na altura. Mas espero manter o peso

e não engordar muito.

Cris teve a impressão de que o processo de acompanhar o Ted nos próximos vinte e

cinco anos seria um esforço e tanto.

- Assim ‘tá bom, disse Tio Bob, ajustando a câmera. Ted, coloca a mão no ombro do

seu pai. Isso, assim!

Cris notou que o rapaz ainda parecia meio constrangido pela aparência de suas mãos,

desde que os médicos haviam tirado os pontos. As duas tinham muitas cicatrizes claras, nos

lugares onde ele havia se cortado no vidro. Ele pôs a mão no ombro do pai, mas virou-a um

 pouco, para que a palma, e não o dorso, estivesse de frente para a máquina, e as marcas não

aparecessem.

Foi então que Cris se lembrou de como ele fora feliz de os vidros não terem atingido

nem seu rosto, nem o pescoço. Alguns anos antes, o Tio Bob sofrera um acidente e tivera

queimaduras no pescoço e na orelha esquerda. Contudo Cris já se acostumara com as

cicatrizes dele e nem as notava mais. Nesse momento, pensou se a Tia Marta, que sempre

 busca a perfeição em tudo, havia tido dificuldade para aceitá-las.

Ted, pra mim, suas cicatrizes são lindas. São uma prova de que você poderia ter 

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morrido, mas não morreu. Deus o conservou com vida por alguma razão. Por minha causa.

 Não, por nossa causa. Por aquilo que vamos realizar para o avanço do reino dele aqui na

Terra.

- Excelente! exclamou Tio Bob depois de bater a terceira foto de Ted e o pai.

Em seguida, tirou várias fotos da família de Cris e depois mais cinco da jovem ao lado

de Ted.

- Ei! disse Cris, obedecendo ao comando dele para sair com um sorriso bem natural.

- Ei você também, boca cheirando a torta! interpôs Ted, na brincadeira.

- Ih, você ‘tá dizendo que a torta ficou muito condimentada? indagou ela.

- Acho que, no ano que vem, podemos colocar de novo a canela em dobro, mas tirar o

cravo.

- “Como quiseres!” sussurrou ela.

O Tio Bob tirou o último retrato e a câmera automaticamente começou a rebobinar.

- Acabou o filme, anunciou ele.

Cris deu uma espiada a sua volta e reparou que todo mundo ainda estava de olho nos

dois, que continuavam naquele diálogo rápido.

Tia Marta aproximou-se deles com um sorriso significativo.

- Essas fotos vão ser ótimas para o anúncio do jornal, comentou.

- Que anúncio do jornal? quis saber Ted.

Tia Marta ergueu ligeiramente uma das sobrancelhas, fitando Cris. A jovem não

 precisou ouvir mais nada. Compreendeu perfeitamente o que sua tia estava querendo dizei.

Sabia que, na página social do jornal local, eles publicavam notícias sobre casais que haviam

ficado noivos, com a fotografia dos dois e tudo o mais. No entanto não explicou isso para o

namorado.

E o Ted, por sua vez, também não fez o esperado pedido de casamento naquele final de

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semana. Cris acabou se conformando com o fato. Tudo bem. Seus sonhos não estavam

desfeitos, simplesmente haviam sido adiados.

E isso não a incomodou muito inicialmente. Na verdade, ela só começou a se sentir um

 pouco transtornada quando voltou para a faculdade. É que Selena foi conversar com ela na

livraria. A amiga estava toda empolgada, contando acerca do casamento da Tânia, sua irmã.

Ela e Jeremy haviam se casado na igreja de Paul, em San Diego, cujo pastor era o pai dos dois

rapazes. Selena fez uma careta horrível ao descrever as roupas das damas, uma das quais era

ela. Era um vestido verde hortelã, cheio de babados. As duas combinaram de se encontrar na

“Selva” naquela noite, após a aula de Cris, para que Selena contasse tudo, com todos os

detalhes.

Depois que a colega foi embora, Cris se pôs a fazer alguns cálculos. Douglas e Trícia

estavam casados havia um ano e meio. Tânia e Jeremy tinham se conhecido na época em que

Douglas e Trícia tinham ficado noivos. Na noite anterior, Katie lhe contara que uma colega

delas do dormitório tinha conhecido um rapaz na primeira semana de aula. Esses dois tinham

se casado também agora, no feriado de Ação de Graças.

 Por que será que todo mundo ‘tá se casando, mas eu e o Ted não estamos nem noivos

ainda? Quanto será que ele ainda vai demorar? Ele não deve estar esperando que eu diga

alguma coisa. Ou ‘tá? Não. Ele é do tipo que quer ele mesmo tomar a iniciativa do pedido.

 Então ele ‘tá esperando o quê?

Entretanto não foi difícil arranjar várias explicações lógicas. As primeiras da lista eram

o dinheiro e os estudos. Então resolveu tirar tudo isso do pensamento e se concentrar somente

nos trabalhos que estava fazendo. Tinha de terminar vários deles para entregar antes do

recesso do Natal. O único momento que tinha para estudar era o intervalo entre as aulas e o

trabalho. Havia muito tempo já, descobrira que não era de estudar até mais tarde como a

Katie. Então, à noite, preferia sair para fazer caminhadas pelo campus na companhia do Ted

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ou para ir à “Selva” rir e conversar com os amigos.

 Nos finais de semana, sempre ficava ocupada com as atividades relacionadas com o

grupo de jovens da igreja, das quais, aliás, ela estava começando a gostar muito. A cada

domingo, o número de participantes aumentava mais. No domingo seguinte ao Dia de Ação

de Graças, mais de vinte deles haviam comparecido à reunião da manhã, e dezesseis tinham

vindo ao culto da noite. Duas garotas disseram que, após terem assistido ao batismo de Cris,

elas também haviam decidido se batizar.

Como o plano de viajarem na semana do feriado de Ação de Graças se frustrara devido

ao acidente de Ted, ele estava pensando em organizar uma viagem ao México. Nesse caso,

iriam na semana intermediaria entre o Natal e o Ano-Novo. Planejavam visitar um orfanato

em Tecate. Pelo visto, o grupo seria de mais ou menos trinta pessoas, entre estudantes da

Rancho Corona e jovens da igreja.

Quando faltava mais ou menos uns dez dias para o recesso de Natal, Cris se ofereceu

 para preparar todo o alimento que iriam levar e, inclusive, para fazer as compras. Ela se

encontrava na cantina, sentada ao lado de Ted, na mesa que costumavam ocupar. Foi então

que disse para ele que iria cuidar dessa parte do passeio.

- Então vou ajudá-la, disse o rapaz.

- Ah, não vai, não, retrucou Cris, abanando a cabeça.

Ted reagiu dando-lhe um ruidoso beijo no rosto, na frente de todo mundo.

- Eu te amo! falou ele.

Ele nunca dera demonstrações afetuosas assim em público antes. Aí Cris teve certeza de

que, se algum dos amigos tinha alguma dúvida de que os dois estavam namorando, agora não

teria mais. Na verdade, nenhum deles questionou nada. Todos pareciam bem à vontade na

companhia dos dois, apesar de o casal estar nessa nova fase do namoro em que se mostravam

mais apaixonados. Até o Mark se mostrava tranquilo e bem natural.

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 Naquela noite, ao jantar, Mark comunicou à turma que decidira convidar uma colega da

sua turma de Geologia para sair com ele na sexta-feira anterior ao recesso de Natal. E foi

 pedir conselhos a Cris e Katie.

- Bom, ainda faltam dez dias, principiou Katie. Mas você deve conversar com ela pelo

menos nesta sexta, pois, num primeiro encontro assim, é bom ter uma semana de

antecedência.

Depois, murmurou consigo mesma:

- Se bem que não tenho muita experiência nessas questões.

Cris deu-lhe um cutucão com o cotovelo, e Katie devolveu-o na mesma hora.

- É; só estou dizendo que é muito bom saber com uma semana de antecedência,

comentou Katie em tom defensivo. É só isso.

- E aonde vai levá-la pra jantar? indagou Selena.

- Estou pensando nessa cafeteria nova que abriram em Murrieta, replicou o rapaz.

Chama-se “Ninho da Pomba”. Fica ao lado de uma livraria que se chama “A Arca”. Nos

finais de semana lá, eles têm música ao vivo.

- Ah, por que não me disseram isso antes? perguntou Ronny. Minha banda ‘tá

 procurando mais oportunidades de se apresentar.

- É, eu já ouvi falar desse lugar, interpôs Cris. A Donna, minha chefe, disse que o

gerente da lanchonete, Katie, talvez queira comprar o seu chá, o “Verão Indiano”.

- Ah, por que não me disse isso antes? indagou a jovem, imitando o Ronny.

- Ah, porque não sabia se primeiro você precisaria tirar uma licença ou algo parecido no

departamento de remédios e alimentos, explicou Cris.

- Então leve um pouco do seu chá para o México, sugeriu Ted. O pessoal do orfanato

vai gostar demais. E lá você não precisa de nenhuma licença do governo.

A moça fitou-o com uma expressão de dúvida.

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- É... disse, e eu vou levar um carrinho com uma daquelas “sombrinhas” próprias e

distribuir copinhos descartáveis de chá para todo mundo do povoado...

- Cris, interpôs Mark, tentando voltar ao assunto inicial, você acha que será legal se eu

convidar a Jenna para ir ao “Ninho da Pomba”? Será que não é um lugar pouco sofisticado

 para um primeiro encontro?

- Não, replicou a jovem. Acho que é perfeito.

- Você se importa se eu for também? perguntou Ronny, voltando-se para o Mark.

Este fitou-o com um olhar estranho.

- Quero dizer, eu posso convidar uma menina pra ir comigo, se for o caso. Só quero

conhecer essa cafeteria.

- Ah, que negócio é esse de convidar uma menina pra ir com você se for o caso?

interveio Selena, dando um leve murro no braço do seu colega.

O rapaz dirigiu-lhe um sorriso com a boca meio torta, que era sua marca registrada.

- ‘Tá querendo dizer que você vai comigo? indagou ele para a colega.

- Não, seu “panaca”, que não entende as coisas. Convide a Vicki!

Cris sabia que Vicki, a colega de quarto da Selena, sempre queria receber atenção dos

rapazes do campus.

- Mas será que ela ainda conversa comigo? perguntou Ronny.

- Só tem um jeito de ficarmos sabendo, explicou a colega. É se você a convidar pra sair.

Ronny inclinou a cabeça de lado e fitou a amiga com uma expressão meio tímida.

- Você pode convidá-la pra mim? pediu.

- Oh, seu medroso! exclamou Selena.

- O que e que há com vocês, rapazes? interveio Katie. Parece que têm medo de nós, as

garotas!

- Eu não tenho, disse Ted.

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- Ah, você não conta, replicou Katie, dirigindo-lhe um olhar significativo.

 Num gesto brincalhão, Ted abraçou o próprio peito, como se as palavras dela fossem

flechas que o atingiram em cheio.

- Estou falando sério, gente, insistiu Katie. Por que não há homens nesta escola... Não;

vou mudar. Por que não há homens no mundo que saibam iniciar um relacionamento com

uma mulher?

- De que é que ela ‘tá falando? indagou Selena, olhando para Cris.

- Pois vou lhe dizer do que estou falando, replicou Katie. Estou falando de namoro

sério, de correr riscos, de homens que não têm medo de ser homens. Estou falando de homens

que não têm medo de se aproximar ousadamente de uma moça e lhe dizer: “Os teus cabelos

são como o rebanho de cabras. Quer sair comigo hoje?”

Cris soltou uma risada e os outros riram também. Ela não sabia se todos eles entendiam

que sua colega estava fazendo referência a um texto de Cântico dos Cânticos.

- E pode mandar flores também, mas isso é opcional, continuou Katie em meio ao

rumor dos risos que já iam diminuindo.

- Sabe o que mais? interpôs Mark. Você tem razão. Von procurar a Jenna agora mesmo

e convidá-la pra sair comigo.

- Não vai querer que todos nós vamos juntos? perguntou Selena em tom de brincadeira.

Os olhos do rapaz brilharam e ele se virou para a colega.

- Excelente idéia! exclamou. Assim, em vez de só eu e o Ronny arranjarmos esse

encontro de duplas, que ia ser meio estranho, todos vocês poderiam ir também. Aí eu digo pra

Jenna que é a turma toda que vai lá. Desse modo, nem vai ficar parecendo que estamos tendo

um encontro.

-Ah, você não tem jeito! disse Katie. Aqui estou eu, tentando lhe dar um conselho sábio

e você vira e chama todo mundo pra servir de “isca” pra moça, e seu encontro fica mais ou

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menos “disfarçado”.

- Você não é “isca” não, Katie, replicou Mark, olhando com uma expressão de

admiração.

E aqui ele se debruçou ligeiramente sobre a mesa e, embora todos estivessem ouvindo

suas palavras, ele se dirigiu unicamente a ela.

- Você, continuou ele, é uma jovem muito especial e tenho certeza de que, algum dia,

vai aparecer um homem que tem um encanto e um jeito espirituoso igual ao seu. Contudo

acho que você já pensou nisso, esse cara não pode ser um rapaz do interior, como eu.

- Ah, bobagem! replicou ela. Eu achava que só um rapaz do interior ia saber dizer essa

frase sobre o rebanho de cabras.

- Este rapaz do interior aqui não sabe.

- Não, retorquiu a moça, você não.

Katie disse isso com tanta ternura que Cris logo compreendeu que Mark e sua amiga

tinham uma amizade muito profunda.

 Naquela noite, quando as duas estavam de volta ao quarto, Cris resolveu sondar a

colega.

- Que conversa foi aquela sua com o Mark sobre o “rapaz do interior”?

Katie estava digitando em seu laptop um trabalho de três páginas que deveria ter 

entregado nesse dia, mas do qual havia se esquecido. Parecia que ela sempre entregava seus

trabalhos com um dia de atraso. Entretanto, por algum motivo, sempre conseguia “dobrar” os

 professores, de modo que eles não lhe tiravam pontos por causa disso.

- Ontem nós conversamos... não, foi anteontem, principiou Katie, entre uma teclada e

outra. Foi na segunda-feira. Na segunda-feira, nós conversamos sobre você e o Ted.

- Você não me contou isso.

- Ué, nessas últimas duas noites, sempre que chego aqui, você já ‘tá dormindo...

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- Que foi que falaram sobre mim?

Katie virou-se na mesa ligeiramente e olhou para a amiga que já estava acomodada

entre as cobertas.

- Vai querer mesmo saber?

- Quero, sim!

- Ah, não foi nada importante. Só que você e o Ted estão muito felizes e muito

apaixonados, e que é isso o que todos nós queremos ter algum dia.

- Ahhhhh, fez Cris. Que lindo!

- É, lindo mesmo! Aí eu e o Mark entendemos que, como há muita probabilidade de nós

dois participarmos do seu casamento, é melhor a gente ficar mais ou menos atento nisso.

Vamos ter de ajudar um ao outro quando chegar a hora de passar aqueles trotes no Ted,

aqueles que as pessoas fazem antes do casamento.

- Antes do casamento? disse Cris. Ainda vão ter de esperar muito. Acho que vocês ainda

não precisam pensar nem nos trotes de antes do noivado.

- É, mas é apenas uma questão de tempo, replicou Katie. Você sabe disso e eu também

sei. Todos nós sabemos. Você vai ver. O Ted é um cara muito criativo. O pedido de

casamento vai ser um momento memorável.

Cris se encolheu mais debaixo das cobertas e ficou a escutar o ruidozinho leve das

teclas do computador. Seu coração estava tranquilo. Fosse qual fosse o momento em que o

Ted a pedisse em casamento, ela estaria com a resposta preparada.

Katie continuou digitando, mas indagou:

- Você e o Ted também vão ao “Ninho da Pomba” com a turma?

- Acho que sim. Você vai?

- Não, creio que não.

- Por quê?

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- Ah, Cris, vamos lá! Faça as contas. Você e Ted, Mark e Jenna, Ronny e Vicki e a

Selena vai chamar o Paul. Obviamente, vou ser a número 9. Vou ficar sobrando.

- Mas somos todos amigos, Katie, insistiu Cris. Eu quero que você vá. Ninguém vai

deixar que tenha a sensação de que ‘tá sobrando. Você pode levar um pouco do seu chá, como

a Donna sugeriu. Vai ser legal demais. Vamos, sim! Vou ligar para o Douglas e a Trícia. Faz

um bom tempo que você não os vê!

- Ah, é! Douglas e Trícia! Aí vou ser a número 11. Cris, seja qual for o jeito que você

 pensar, eu vou sempre estar sobrando. Prefiro não ir.

- Não... prefere não! disse Cris. Você vai ficar aqui sozinha, muito triste, sabendo que

todos nós estamos lá nos divertindo.

- Sabe o que mais? interpôs Katie, caminhando para a porta. Nós havíamos combinado

que não iríamos “cantar essa música” nunca mais. Essa musiquinha sobre a coitada da Katie.

Vou abrir a porta e essa velha música vai sair daqui agora. Certo?

E assim dizendo, abriu a porta. Em seguida, fez uma série de gestos com a mão, como

quem está “expulsando” algo porta afora e depois fechou-a ruidosamente.

- Assunto encerrado, disse. Agora, se você não se importa, tenho de terminar de digitar 

meu trabalho.

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E Cris não voltou a conversar com a amiga sobre ela ir ao “Ninho da Pomba”. Depois

de pensar um pouco sobre a reação dela, resolveu deixar o assunto morrer.

 Na sexta-feira à tarde, Mark deu uma passada na livraria para lhe contar que a Jenna

havia aceitado seu convite. Então eles iriam na caminhonete dele, a não ser que Ted e Cris

ainda tivessem um lugar para os dois no seu carro.

- Acho que o Ted chamou a Selena pra ir conosco, se o Paul não vier, replicou ela.

- E a Katie? indagou o rapaz.

- Ela não vai, explicou a jovem, procurando dar à voz um tom bem natural.

- Ué, por que não?

- Ah, isso você terá de perguntar a ela, disse Cris.

A jovem não sabia se tal resposta já era uma explicação ou se o rapaz iria compreender 

e desistir do assunto.

Felizmente, nesse momento, chegou um freguês e ela teve de interromper a conversa.

- ‘Tá, concluiu Mark. Então depois a gente se vê.

Cris fez um aceno de cabeça e abanou a mão para ele. Assim que saiu do trabalho, foi

ao seu quarto para pegar um agasalho. O “Ninho da Pomba” ficava a apenas quinze

quilômetros da universidade. Contudo aquele passeio em grupo acabara se tornando um

evento importante para todos.

Cris chegou a pensar na hipótese de deixar um bilhete para Katie. Iria sugerir-lhe que

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convidasse algumas das meninas do dormitório para irem com ela no Buguinho. Contudo não

o fez.

Quando desceu, viu que o Ted já a esperava no saguão. Para sua surpresa, ele lhe

entregou um cravo branco.

- Sem motivo, disse ele.

Cris ficou emocionada, mas também bastante curiosa. Onde teria ele comprado a flor?

Sabia que no campus não havia floricultura.

- Você foi à cidade hoje à tarde? indagou.

- Fui à igreja e fiquei algum tempo lá.

Foram descendo o morro com as janelas abertas e o sistema de aquecimento do carro

ligado. Já faziam isso habitualmente, pois gostavam da sensação do ar fresco batendo no

rosto. Contudo, agora que o inverno chegara, mesmo ali no deserto, estava fazendo bastante

frio. Durante o dia, ainda fazia um pouco de calor, quando o Sol não estava encoberto.

Entretanto, assim que ele se punha, a temperatura baixava bastante.

- Havia muitos vendedores de flor na rua, como no Dia de Ação de Graças? perguntou

ela, girando o cravo entre os dedos e aspirando o perfume acre da flor.

- Não, replicou Ted, fitando-a e sorrindo. Você ‘tá doida pra saber como foi que arranjei

esse cravo, né?

Cris disfarçou um sorriso.

- Só estou curiosa, explicou ela.

Ela calculou que ele dera uma passada numa floricultura e pedira um único cravo. A

questão era que ele não lhe dera a flor envolta num embrulho típico dessas lojas.

- Eu o peguei na igreja. Estava jogado no lixo, disse o rapaz.

- Ah! exclamou Cris, largando a flor no colo.

Agora ela já não lhe parecia tão maravilhosa e romântica.

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- Eles tinham tido lá um almoço de confraternização ou algo assim. E depois jogaram as

flores fora, claro. Então vi esse cravo e me lembrei de você.

Aí Cris compreendeu que o que importava mesmo era o fato de ter pensado nela. Para

Ted, o mais importante era pensar nela, e não onde ele pegara o cravo. Provavelmente, ele

sempre seria assim.

- Obrigada, disse ela por fim. Amei!

Em seguida, inclinando-se para ele, deu-lhe um beijo no rosto.

- E te amo também, completou.

- Eu te amo mais, falou ele, brincando.

- Não, eu te amo mais, insistiu ela.

- Mas eu te amei primeiro, retorquiu o rapaz.

Cris riu.

- ‘Tá bom. Você venceu. Você me amou primeiro, mas eu te amo mais.

- Não acho, disse ele, virando-se ligeiramente para ela. Acho que é impossível você me

amar de forma mais completa e profunda do que eu a amo. Acho que ninguém neste mundo

 pode amar alguém tanto quanto eu te amo.

Cris compreendeu que não poderia ganhar dele nisso. Nem queria.

- Conversei com seu tio hoje, disse Ted. Você falou com ele nestes últimos dias?

- Não. A última vez foi no Dia de Ação de Graças.

- Ele disse que os retratos ficaram ótimos e que vai mandá-los pra nós. Disse também

que ontem à noite a Marta lhe falou que não vai mais embora de casa.

- É mesmo? E o que mais ele contou?

- Parece que ela parou com as aulas de cerâmica e disse ao marido que já que ele ‘tá se

esforçando pra melhorar o casamento deles, ela vai fazer o mesmo.

- Será que ela vai passar a ir à igreja com ele?

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- Não sei, respondeu Ted.

- Você acha que eles vão procurar um conselheiro matrimonial?

- Ah, sei lá.

- Que bom que você me contou tudo isso. É um alívio pra mim. E que bom que ela

resolveu se esforçar pra salvar o casamento. Será que o fato de você ter passado aqueles dias

lá pode ter contribuído pra eles ficarem mais unidos? É que tendo de cuidar de você, os dois

tinham um objetivo em comum que os uniu.

- Pode ser, replicou Ted.

- Pois eu acho que isso contribuiu, sim, e muito.

- Isso significa que você acha que eles devem ter um filho?

Cris ficou espantada com a idéia levantada pelo namorado.

- Ah, eles já estão muito velhos pra isso, não estão?

- E eu sei lá! replicou Ted, dando de ombros.

Aqui houve um momento de silêncio entre os dois, e depois o Ted indagou:

- Quantos filhos você quer ter?

Cris pensou uns instantes.

- Não sei. Às vezes acho que foi bom sermos só nos dois na minha casa, eu e o David,

apesar de não sermos assim muito amigos. Quando eu era mais nova, queria ter tido muitos

irmãos, uns seis ou oito. Mas, depois que trabalhei naquele orfanato, acho que dois é bom.

Talvez quatro. Gosto de números pares.

Ted deu um sorriso amplo. O Sol estava se pondo e sua luz, entrando pela janela do lado

do motorista, iluminava o perfil dele.

- Eu quero quatro, disse com voz forte, dois meninos e duas meninas. Mas aceito o que

Deus mandar. E se tiverem boa saúde, melhor ainda.

Cris ficou admirada ao se dar conta de como estavam conversando sobre filhos, sobre o

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futuro deles, com a maior naturalidade. Na verdade, ela não deveria se admirar com isso.

Ultimamente, os dois vinham tendo esse tipo de conversa com certa frequência. Ambos

falavam do assunto livremente e com muita franqueza, embora nenhum deles houvesse usado

expressões como “nossos filhos”, ou “o que Deus nos der”. Contudo, por trás de tudo, havia o

senso de que estavam falando de uma vida juntos.

Ted esticou o braço e pegou a mão dela. Fitou-a com um sorriso de plena felicidade,

depois voltou a se fixar na estrada. Cris passou os dedos de leve sobre a mão dele,

acompanhando as marcas das cicatrizes.

- Elas ainda doem? perguntou.

- Não muito. Algumas ainda estão um pouco doloridas.

- Amo suas mãos! disse.

Ela pegou a mão dele, levou-a aos lábios, beijou-a e em seguida apertou-a de leve

contra o próprio rosto.

- Ama? indagou ele.

- Sim.

Os dois se entreolharam de um jeito meio acanhado e sorriram.

Quando Cris dissera “Sim”, lembrara-se de que, um dia, os dois iriam dizer essa mesma

 palavra, no altar, um para o outro. Ao que parecia, Ted também pensara nisso.

Vamos lá, Ted, diga: “Quer casar comigo?” Você sabe que vou responder que sim.

Contudo o rapaz não disse nada. Nesse momento, estavam entrando no estacionamento

do “Ninho da Pomba”. Cris sentiu um misto de alegria e impaciência. Se fosse um pouco mais

corajosa, iria fazer-lhe alguma pergunta, colocando no meio palavra “casar”. Assim o Ted

certamente iria ser forçado a dizer o que ela tanto queria.

Entretanto, bem no fundo do coração, Cris sentia-se tranquila. Os dois já haviam

chegado até ali. Achavam-se bem ligados um ao outro. Tudo estava perfeito. Então dava para

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esperar o pedido que ela já previa que ele iria fazer. E esperaria, quer ele o fizesse dentro de

três minutos ou de três dias ou de três anos.

Quando caminhavam de mãos dadas em direção à entrada,Ted disse:

- Olhe ali! Não é o Buguinho?

- Oh, a Katie veio!

- Ótimo! exclamou o rapaz. Eu estava com esperança de que ela viesse.

- Você conversou com ela sobre isso hoje?

- Não.

Cris se sentiu muito satisfeita com sua amiga. Calculou que ela deve ter pensado melhor 

e concluído que ficaria mais feliz passando aquelas horas na companhia dos amigos. Seria

melhor do que continuar aborrecida pelo fato de não ir lá com um rapaz.

Assim que os dois entraram, Cris logo sentiu vontade de se aproximar da lareira. As

chamas douradas pareciam acenar para lá e chamá-la para junto delas.

- Ted, tem uma lareira aqui! exclamou.

Avistou Selena, Paul, Ronny e Vicki sentados perto do fogo. Eles haviam ajuntado duas

mesas pequenas e colocado ali as quatro cadeiras.

- Cris! gritou Selena, acenando para ela.

Paul estava sentado ao lado de Selena. O rapaz usava um típico gorro escocês de tweed.

Cris o vira algumas vezes, mas não se lembrava de que ele usava uns óculos redondos,

apoiados sobre o nariz reto.

- Vocês viram a Katie? indagou Cris, depois de cumprimentar o grupo.

- Ela ‘tá lá na livraria com o Mark e a Jenna.

- Ela veio com alguém?

- Acho que não.

- Vocês vão pedir algo pra comer? quis saber o Ted.

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- Já pedimos, informou Selena.

 Nesse momento, Cris escutou uma voz grave atrás dela.

- Vocês falaram em comer?

Todos se viraram e avistaram Douglas e Trícia. Cris deu uma risada, e eles começaram

a se abraçar uns aos outros.

- Eu devia saber que assim que, alguém falasse em comer, você apareceria, comentou

ela.

- Você já pensou no que vai pedir? indagou Ted a ela. Se já resolveu, vou fazer o

 pedido.

Como ela ainda não vira o menu, não sabia o que escolher. Como iria resolver?

- Ah, pede um sanduíche qualquer, falou. Pode ser de rosbife, se tiverem aí. Se não

tiverem, qualquer um serve.

Ted e Douglas se entreolharam, como se estivessem fazendo um comentário silencioso

sobre a maneira como Cris geralmente fazia pedido num restaurante.

- Puxa! exclamou Douglas. Essa foi a decisão mais rápida que já vi você tomar.

E aqui ele deu um leve murro no braço de Ted.

- Você deve estar exercendo uma boa influência sobre ela, e ela sobre você, amigo.

- É, confirmou o Ted, ela até me convence a pôr gasolina no carro antes de o ponteiro

chegar na reserva.

- Exatamente o que eu disse, continuou Douglas. Que boa dupla vocês dois estão

formando!

Trícia dirigiu um olhar significativo para Cris, que entendeu que sua amiga casada

estava lhe perguntando: “Ele já a pediu em casamento?”

Cris fechou os olhos e abanou a cabeça lentamente e bem de leve.

- Então vamos fazer nosso pedido, disse Douglas para Trícia. Oh, gente, vamos puxar 

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mais uma mesa e algumas cadeiras, se estas aqui já estiverem ocupadas.

Cris e Trícia logo se puseram a contar para ver quantas pessoas havia no grupo deles.

Em seguida, arranjaram as cadeiras para todos. Cris se sentou na que estava mais perto da

lareira e ficou sentindo o calor do fogo passar através da calça jeans que usava. Estava

amando o ambiente da lanchonete. No contorno da lareira, havia um “cordão” de pinheirinho

 bem cheiroso, enfeitado com ornamentos típicos de Natal e pequeninas sementes vermelhas.

As janelas também estavam circundadas por luzinhas bem brilhantes, e sobre a porta de

entrada, via-se uma imensa grinalda com motivos natalinos.

Aquele lugar lhe lembrava uma cafeteria a que ela e as amigas costumavam ir quando

estava em Basiléia. As lâmpadas eram cor de âmbar; as mesas, cadeiras e outras peças, de

uma madeira escura. Tudo isso dava ao ambiente a sensação aconchegante de um lar. Cris

estava gostando muito das janelas bem amplas e daquele profundo aroma de café no ar.

Entretanto o de que ela mais gostava era o fato de estar com os amigos. A certa altura,

avistou uma placa de bronze ao lado da lareira, onde se achavam gravadas as palavras: Será

que existe na Terra um prazer maior do que o de se estar num círculo de amigos crentes,

 perto de uma lareira? C. Si Lewis.

Cris pensou que, quando ela tivesse a casa dos seus sonhos, onde moraria junto com o

Ted, iria mandar fazer uma placa com esses dizeres e a colocaria perto da lareira.

Instantes depois, Katie, Mark e Jenna chegaram e se juntaram ao grupo. Cris sentiu que

agora o círculo estava completo. E o fato de a cafeteria estar toda decorada com enfeites de

 Natal tornava a ocasião ainda mais festiva.

- Fiquei muito alegre de você ter vindo! disse baixinho para Katie.

A amiga se sentou numa cadeira ao lado de Cris.

- Que foi que você disse? indagou.

- Fiquei muito alegre de você ter vindo, repetiu.

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- Eu também. Você tinha razão. Isso aqui é o meu lugar.

Cris sorriu.

- Já são sete horas? indagou Ronny, levantando-se.

- São 7:05h, respondeu Trícia.

- Ah, então vou lá ver se o gerente já chegou. Disseram que ele chegava às 7:00h.

Quando o rapaz se afastava, Trícia perguntou:

- Por que ele quer ir lá saber do gerente. Ele o conhece?

- Não, explicou Selena. O Ronny tem uma banda e eles querem tocar aqui.

Ted chegou à mesa trazendo guardanapos e talheres, que entregou a Cris. Em seguida,

sentou-se numa cadeira que se achava diretamente em frente a da namorada.

- Você quer se sentar perto da Cris? indagou Katie

- Não, replicou o rapaz. Aqui ‘tá bom, pois posso fitar seus “olhos de matar”.

Fazia tempo que Cris não ouvia essa expressão. A última vez fora quando ainda estava

cursando o ensino médio. E não fora seu namorado que a dissera.

 Nesse momento, o Ted se inclinou para o Mark, que se achava sentado à sua esquerda, e

cochichou algo para ele.

- Ei, não é justo vocês ficarem com segredinhos aí! protestou Katie.

- Não é segredinho, não, respondeu Ted.

O Mark não disse nada. Levantou-se e saiu. Cris não entendeu o que estava

acontecendo. Contudo, apesar de o outro ter saído, também não quis descobrir o que fora que

seu namorado lhe dissera, e que, segundo ele, não era segredo.

Cris se achava de frente para a porta de entrada e de costas para o balcão onde se faziam

os pedidos. Observou que havia muita gente chegando ao “Ninho”. Ficou satisfeita de seu

grupo já ter pegado aqueles lugares perto da lareira.

- Pedi sopa pra você, informou Ted. De cevada com carne.

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- Ah, não tem sanduíche, não? indagou Cris.

- Só de presunto e de peito de peru. Achei que a sopa seria melhor porque vem com

carne. Ela é acompanhada de um pãozinho.

- ‘Tá bom, replicou.

Ela devia ter se lembrado de como Ted agia com certa lógica todas as vezes que tinha

de comprar algo. E no fim, a sopa seria melhor do que o sanduíche, pois iria ajudá-la a se

aquecer. O Ted compreendera isso. Estendeu a perna debaixo da mesa e deu uma pisada de

leve no pé dele.

- Ei Katie, disse o rapaz, você ‘tá querendo machucar meu pé? indagou ele, brincando.

- E pra que eu iria querer fazer isso? perguntou a jovem.

Cris fitou o namorado com um fingido ar de raiva e deu-lhe um chutezinho na perna.

Ele dirigiu-lhe uma rápida piscadela. Ou será que estava piscando para alguém que se achava

atrás dela?

Então elas ouviram uma voz forte atrás de Katie:

- Ei, moça, os teus cabelos são como o rebanho...

As duas se viraram ao mesmo tempo e soltaram uma exclamação de espanto.

- Rick! disse Katie, a primeira a recuperar a fala.

- Katie!

A voz dele falhou por um momento, mas em seguida concluiu a frase, como se alguém

lhe tivesse pagado para dizer isso à jovem. Então, dando um sorriso amplo, ele repetiu bem

alto:

- Os teus cabelos são como o rebanho de cabras. Quer sair comigo?

Todo mundo caiu na risada, menos Cris e Katie. Fora isso que esta expressara, aliás com

as mesmas palavras. Ela dissera que queria que algum rapaz, um desconhecido, a convidasse

 para sair, dirigindo-lhe esse estranho elogio. Só que aquele homem alto, de ombros largos,

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cabelos e olhos castanhos, que fitava o rosto dela, examinando cada detalhe dele, não era

 propriamente um desconhecido para nenhuma das duas.

Katie se levantou bem devagar, e ele se aproximou e abraçou-a.

- O.k., disse ela em tom expansivo, vou sair com você, já que pediu de uma forma tão

legal.

Rick sorriu.

- Olhe só! disse ele, afastando-se um pouco e olhando-a mais atentamente. Puxa,

quando foi que você cresceu?

- Ah, é por causa do meu cabelo. Eu o cortei.

- Um cara chamado Mark me disse pra vir aqui e lhe dizer que seu cabelo é como o

rebanho de cabras, mas eu não sabia que era você. E não é, né? Quero dizer, é você, sim, mas

seu cabelo não tem nenhuma semelhança com cabras.

Cris nunca vira um cara como Rick Doyle ficar confuso ao falar. Nesse momento, ele

 parecia mais um adolescente do que um astro do futebol - aliás, muito convencido - como era

quando estavam na escola.

O rapaz virou-se para olhar as outras pessoas que estavam por ali.

- Oi, Rick! disse Cris, calorosamente.

- Oh, Cris! exclamou o rapaz, abaixando-se para abraçá-la. Que bom ver todos vocês

aqui. Quase não acreditei quando vi o Ted e o Douglas chegando lá no balcão. E o Ted me

disse que vocês dois estão... e aqui ele fez uma pausa e olhou para o Ted.

Cris também fitou o namorado. Este permaneceu com a mesma expressão facial.

- Ele me contou que vocês dois estão cada vez mais unidos, concluiu o recém-chegado.

Isso é maravilhoso! Estou muito feliz pelos dois. Estou mesmo!

- Também acho maravilhoso, concordou ela.

Cris estava muito alegre de perceber que conseguia conversar com Rick Doyle com toda

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tranquilidade. Entre eles não havia nada que pudesse constrangê-la, nenhuma recordação

negativa do namoro tumultuado que tinham tido no colégio.

Mark voltou a sentar-se, e Katie se pôs a repreendê-lo por haver convencido o Rick a

fazer uma brincadeira com ela, sendo que, na verdade, a brincadeira acabara sendo com ele.

- Foi ele que me instigou a fazer isso, defendeu-se Mark, apontando para o Ted.

Este, por sua vez, fez uma cara de inocente e se virou para o Douglas, dando a entender 

que fora ele quem tivera a brilhante idéia.

- Não olhe pra mim, disse Douglas.

 Nesse momento, Cris se deu conta de que todos os rapazes com quem tivera algum

relacionamento sério e profundo estavam ali naquela mesa. Obviamente, porém, nenhum

deles era mais importante do que o Ted. E a firme devoção que tinha por ele aumentou mais

um “grau”. Nenhum daqueles homens se comparava com ele.

Depois que Rick foi apresentado aos outros, Katie indagou:

- Quer se sentar aqui conosco?

- Não, obrigado. Tenho de voltar para o trabalho. Disseram-me que tem um rapaz aqui

querendo conversar comigo. Parece que a banda dele quer tocar aqui.

- Ah, é o Ronny, interpôs Selena. Ele ‘tá conosco.

- Voltar para o trabalho? indagou Katie.

- É. Sou o gerente. O Douglas não lhe disse?

- Não. Ele não disse nada. Você é o gerente?

Rick acenou que sim.

- Meu pai comprou esta lanchonete e me pôs pra trabalhar aqui. Quer dar uma volta por 

aí comigo? Vou lhe mostrar tudo.

Ficou claro que ele estava convidando apenas a Katie. A jovem se levantou e foi

seguindo-o. Assim que eles saíram, Cris ouviu-a dizer:

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- Você já pensou em servir aqui chás de ervas especiais?

Cris virou-se para Ted, com os olhos arregalados.

- Puxa! exclamou. Estou pasmada!

- Não se espante, replicou o rapaz simplesmente. Isso é coisa de Deus.

- Com uma pequena ajuda dos filhos dele, comentou Trícia.

- É, concordou Ted, com uma pequena ajuda dos filhos dele.

A garçonete trouxe as bandejas com os pedidos, e todo o grupo deu as mãos para orar.

Douglas fez uma oração em voz alta. Quando ele a encerrou, Ted e Cris disseram em

uníssono:

- Como quiseres, Senhor!

Os dois ergueram a cabeça e se entreolharam. Cris teve a sensação de que estava fitando

uma lagoazinha de águas claras, que refletiam sua imagem. Seu “coração” estava fitando-a

também e sorrindo.

Todos se puseram a comer, mas o prato de Katie, junto à cadeira vazia, ficou intocado.

Ronny voltou e anunciou que sua banda iria tocar no “Ninho da Pomba” em fevereiro.

Cris achou a sopa deliciosa e o calor da lareira já a aquecera da cabeça aos pés. Estava

muito feliz.

Dois rapazes que se achavam junto à janela, montando um equipamento de som,

começaram a tocar algo. Com isso, Cris teve dificuldade para conversar com Selena que

estava do outro lado da mesa. Contudo contentou-se em falar com Douglas, Trícia e Ted que

se encontravam mais próximos. Estavam comentando sobre a viagem que fariam ao México,

onde visitariam um orfanato. Nesse instante, Katie retornou à mesa. Seus olhos verdes

 brilhavam como lâmpadas natalinas.

- Gente, estou simplesmente estonteada! exclamou ela. Vocês já tiveram a chance de

conversar com esse cara? Ele só fala assim: “O Senhor fez isso! Deus cuidou daquilo”. Como

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é bom estar na companhia dele!

- É tremendo! disse Douglas.

- É, concordou Katie. É tremendo! E vocês também são tremendos. Ele me contou que

continuaram mantendo contato com ele estes anos todos, que lhe escreveram incentivando-o a

entregar a vida pra Deus. E sabe o que mais? Ele atendeu. Estou... bom... estou estonteada,

maravilhada e...

- E um pouco fascinada também? disse Cris, sondando-a.

- É, um pouco talvez.

O grupo ficou em silêncio, esperando que Katie explicasse melhor.

- Bem, gente, o cara disse que meu cabelo era como um rebanho de cabras, não disse?

Quero dizer, como é que uma garota não vai ficar fascinada com uma declaração tão poética?

Todos caíram na risada juntamente com a jovem.

- E olhem só o que encontrei no depósito! disse Katie, colocando sobre a mesa um

 pacote de balas em formato de coração. Sobremesa! concluiu cla.

- Ah, mas essas balas são muito velhas! comentou Trícia. Quero dizer, esta lanchonete é

nova, né? Mas não estão vendendo mais docinhos do Dia dos Namorados *. Agora, em todo

lugar, só tem balas com motivos natalinos. Não quero nem saber de onde elas são.

- Do Galpão da Economia, replicou logo o Ted, abrindo o pacote e derramando na mesa

os corações. Estive lá hoje e tinha uma caixa cheia dessas balas logo na entrada. Agora é a

melhor época de comprá-las.

- Comprar, tudo bem, insistiu Trícia, mas chupar? Acho que não.

E assim dizendo, ela pegou uma das balas e leu uma mensagem gravada nela.

- “Passe-me um fax”, leu. Passe-me um fax? Desde quando começaram a escrever isso

nessas balas? Sempre achei que eles punham frases como: ‘Ama-me”, “Seja fiel”, etc.*  O “Dia dos Namorados” nos Estados Unidos é comemorado em fevereiro. É por isso que “Trícia”

disse que as balas eram velhas. (N. da T.)

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Em seguida, ela pegou outra balinha e leu:

- “Beije-me!”

- Beijo, sim! disse Douglas, que, em seguida, puxou a esposa para si e plantou-lhe um

sonoro beijo nos lábios.

Trícia deu uma risadinha infantil. Até parecia que era a primeira vez que ganhava um

 beijo. Cris sorriu ao ver os dois amigos tão apaixonados um pelo outro. Antes de casar, o

Douglas nunca havia beijado ninguém. Por isso, no dia do casamento, quando ele beijou a

noiva no altar, a igreja toda rompeu em palmas. Foi a maior “explosão” de aplausos que Cris

 já vira num casamento.

- Olhem este aqui, interpôs Katie. “Chama-me pelo alto-falante”.

Todos os presentes começaram a ler as mensagens de sua bala. Douglas pegou uma que

dizia: “Mande-me um e-mail”.

- Esta aqui deve ser do pacote interativo, comentou.

Ted pegou um coraçãozinho e colocou-o diante dos olhos de Cris, como que querendo

 provar o que Douglas acabara de dizer. Na bala estava escrito: “Casa comigo.”

A jovem leu e em seguida ergueu os olhos para Trícia.

- Puxa, disse, não dá pra acreditar nas frases que eles escrevem hoje em dia. Estou com

você, Trícia. Antigamente eles punham: “Seja doce comigo”, e coisas assim.

- Olhem só, falou Katie, lendo: “Doces lábios”.

- Quero essa aí, disse Trícia.

- O que você ‘tá fazendo? indagou Katie. ‘Tá formando uma sentença de balas?

- Claro. Tente fazer uma.

- Aqui pra você, Trícia, disse Cris. Achei outra “Chama-me pelo alto-falante”.

Ted colocou outra balinha à frente de Cris. Nela estava gravado:

“Casa comigo.”

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- Acho que já temos uma dessas, disse a jovem, afastando-a para um lado e procurando

uma que tivesse algo que ninguém havia lido ainda.

Ted também se pôs a procurar. Por fim, ele pegou uma bala, levantou-se e foi para o

outro lado da mesa, ficando junto de Cris. Em seguida, colocou a terceira balinha perto das

outras duas que já havia dado para ela, formando uma fileira de três.

- Pronto. Depois que se diz algo três vezes, aquilo fica valendo. Pra sempre.

Cris ficou paralisada. Só conseguia ver as três balas enfileiradas diante de seus olhos. E

em todas elas estava escrito:

“Casa comigo. Casa comigo. Casa comigo.”

Virou-se para o namorado que nesse momento se abaixou, apoiando um dos joelhos no

chão e pegando as mãos dela nas suas. Fitou-a diretamente nos olhos e disse:

- Kilikina, minha Kilikina, quer casar comigo?

A voz dele era como uma cachoeira que caía sobre Cris.

- Sim! replicou ela sem um minuto de hesitação. Sim, repetiu um pouco mais alto.

Em seguida, falou uma terceira vez, com toda firmeza e em meio a uma cascata de

lágrimas:

- Sim, meu Ted, eu me caso com você!

Durante alguns segundos, foi como se o mundo todo tivesse parado, e os dois ficaram

imóveis. Não respiravam, nem piscavam, nem se mexiam. Estavam imersos um na alma do

outro. O único som que Cris escutava era de um coração batendo. Contudo não sabia ao certo

se era o seu ou o do Ted. Os dois pareciam bater em uníssono.

- Que é que você ‘tá fazendo aí, Ted? indagou Katie. Deixou uma bala cair aí no chão?

Ainda tem muitas aqui.

O rapaz não se mexeu. Cris sorriu.

 Ninguém sabe de nada. O Ted acaba de me pedir em casamento, mas ninguém sabe

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disso ainda. É um segredo só nosso.

Katie deu uma espiada para a fileira de balas que estava perto de sua amiga e soltou um

grito como somente Katie era capaz de soltar. Aí o segredo de Cris e Ted foi descoberto.

Todos os presentes pararam de conversar e até de comer. Os dois cantores que tocavam violão

também interromperam a música.

- Finalmente! exclamou Katie em voz bem alta.

E assim dizendo, ela se pôs de pé e gritou:

- Ei, pessoal! Preciso fazer uma comunicação a todos! Minha melhor amiga aqui foi

 pedida em casamento!

Imediatamente todos cercaram Cris e Ted, abraçando-os e dando-lhes os parabéns. E

Katie indagou à amiga:

- O que você respondeu?

- Eu disse “Sim”! replicou a jovem num tom firme.

- Ela respondeu que “Sim”, falou Katie, pondo-se a bater palmas.

E todos que estavam na lanchonete também começaram a aplaudir.

Mark passou os braços em volta de Cris e lhe deu um abraço tipo “amigo de infância”.

- Sua avó vai gostar muito dele, disse o rapaz. E eu não vou mais dizer “Você não me

 pega!”, pois ‘tá claro que o Ted é o homem de sua vida.

- E é mesmo, concordou Cris, sorrindo e depois dando uma risadinha.

Trícia estava chorando, e Selena, também. Quando está última abraçou Cris, comentou:

- Puxa, no casamento da minha irmã eu quase não chorei, mas aqui... O que há de

diferente com você e o Ted?

Rick aproximou-se e também dirigiu um sorriso afetuoso para Cris. Inclinou-se para a

 jovem e lhe deu um beijo no rosto.

- Você esperou um herói e o conquistou, disse o rapaz, falando-lhe ao ouvido. Parabéns,

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“olhos de matar”!

- Obrigada, Rick!

Cris virou-se para o namorado. Ele estava recebendo os cumprimentos com um amplo

sorriso nos lábios.

 Ele parece um garotinho de cinco anos para quem fizeram uma festa surpresa, com a

 presença de uma porção de amigos.

Enquanto ela ainda pensava isso, um garçom se aproximou trazendo um bolo redondo,

no qual havia uma velinha acesa.

- Com os cumprimentos do Sr. Doyle, explicou o rapaz.

- Faça um pedido! disse Katie. Faça um pedido!

- Já fiz, replicou Ted, passando os braços em torno de Cris. E ela aceitou.

- Ah, que lindo! suspirou Trícia. Oh, Ted, não sabia que você era tão romântico!

- Você ainda não viu nada, replicou o rapaz.

Levou a mão ao queixo de Cris e, com um leve toque, ergueu a cabeça dela. E em

seguida, beijou-a como nunca a beijara antes.

Quando se afastaram um do outro, Cris viu, com o canto dos olhos, que a velinha ainda

estava acesa. Ele não tinha mais nada a pedir. Tampouco tinha fôlego para soprar a vela.

- E a vela, gente? indagou Katie. E a vela?

Cris fitou Ted bem nos olhos. O rapaz a estava olhando “daquele jeito”. Seus olhos

azul-acinzentados pareciam ainda mais luminosos, com um brilho diferente.

- Deixe acesa, murmurou ele, segurando o rosto dela suavemente. Deixe acesa pelo

resto da vida.

Cris deu um beijo na palma da mão do namorado, aquela mão forte que agora tinha uma

cicatriz. E com voz bem baixa, que só Deus e o Ted poderiam ouvir, disse:

- Como quiseres!

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