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    AAASSSCCCLLLTTTIIICCCAAASSS

    HHHEEESSSPPPRRRIIICCCAAASSS Higino Martins Estevesndice

    LIMIAR................................................................................................................ 3

    KKAALLLLIIKKIIAA.............................................................................................................................. 4Quem eram os artabri?...............................................................................................................4

    que porventura existiu a KALLIKIA?.................................................................................. 5

    SIL, o rio da linhagem................................................................................................................ 9

    Ainda mais sobre a KALLIKIA (e acerca dos stures)........................................................... 9

    LLUUSSIITTNNIIAA............................................................................................................................. 12

    CC

    EE

    LL

    TT

    IIBB

    RR

    IIAA.......................................................................................................................... 13

    BBTTIICCAA...................................................................................................................................... 14

    O fantasmal (H)I(S) mbil........................................................................................................ 14

    Crdova, Huelva e outras.......................................................................................................... 14

    Sevilha....................................................................................................................................... 15

    Baetis......................................................................................................................................... 16

    Quem eram os Turdulie Turdetani?........................................................................................ 16

    Trones ou Trodes.................................................................................................................. 17

    Trodes no cltico insular......................................................................................................... 17

    Hispnia.................................................................................................................................... 17

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    LIMIAR

    A bibliografia dos estudos clticos era h bem pouco pobre no captulo da pennsula

    hesprica. Para v-lo chega folhear o volume The Celts, editado aquando da exposio

    no veneziano Palazzo Grassi do ano 1991. Aqui no oportuno desenvolver as causas

    do atraso, complexas e vrias, mas sim deixar constncia de que vo surgindo estudosque tentam ultrapassar a situao, sem ter atingido ainda um eco suficiente.

    No sou historiador, s um fillogo, debruado na Galiza, na que busquei primeiro.

    Foi faclimo; a lingustica cltica fora aqui to desleixada que para apanhar nesse campo

    chegava atend-lo.

    Assim pude notar que nos estudos histricos circulam tpicos aceites sem crtica da

    lingustica, como a ideia de a lngua cltica ter desaparecido da pennsula nos primeiros

    sculos da era. Ora bem, tenho certeza de ter datado o final do cltico peninsular arredor

    do ano 1000, primeiro pela etimologia de Orraca1, depois pela de outros vocbulos.

    Trs apanhar uma nutrida colheita de palavras no campo calaico, pegaram a surgir

    dados das Clticas vizinhas, num processo errtico e nada sistemtico que continua.

    L e c as notcias da toponmia produzem nos estudos clticos da pennsula ocidental

    mudanas to profundas que talvez estejam a refunda-los.

    A comunicao inclui quatro captulos do livroAs Tribos Calaicas (Tribos, 2008),

    que teve escassa difuso, e acrescenta as pesquisas posteriores na toponmia btica, que

    configuram uma quarta Cltica hesprica. No se revisa aqui a situao lingustica geral

    na pennsula (o cltico foi decerto lngua geral da pennsula, como materna ou franca),

    nem de outros espaos clticos possveis (a Carpetnia). Cabe destacar a apario de um

    artigo ou demonstrativo fraco, de notvel arcasmo, que a meu ver ilumina etimologiasdesesperadas.

    1 grafia romnica de *WAKAesposa, evoluo local do clt.*WRAKK, hipocorstico de *WRAK, -AKONOS id.,nome que os montanheses dos sculos IX, X e XI do Reino de Leo, ignaros em latim, davam Esposa por excelencia, amulher do rei. O estudo publicou-se em revistas e na Rede: www.adigal.org.ar,Etimologas.

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    KKAALLLLIIKKIIAAQUEM ERAM OS ARTABRI?

    Estrabo, no sc. I a.C., pe-nos sempre no Norte: II 5, 15 navegando aos chamados rtabroio rumo para o Norte; III 2, 9 Entre os rtabroi, que moram no mais distante do Setentrio e do Ocaso daLusitnia...; III 3, 5 Os derradeiros so os rtabroi, que moram perto do cabo que dizem Nrion, ondese junta o lado ocidental e o setentrional.

    Precises que pouco aclaram. Nrion prximo pode notar qualquer distncia. Mais precisa a notcia

    que situa o grande Porto dos rtabros numa baa com muitas vilas apinhadas, que ser o seio das riasda Corunha e do Ferrol (III 3, 5). No mesmo trecho diz tambm se chamar arrotrebas; logo so dousnomes, no deturpaes ou variantes de um s.

    Para P. Mela (III, 13), os artabriocupam a costa norte, e imediato aps eles vm os stures. Mesmoos lbiones(ltima tribo do conventus lucensisantes dos stures, para Plnio) eram artabri.Artabrilogo um nvel de agrupamento humano diverso e maior do que o dos lbiones.

    Plnio nega existir a gente dos artabri. Diz que existe a dos arrotrebas, e que por manifesto error,por uma troca de letras, se lhe atribui o nome de artabri. Confuso estava ele, sem saber-se se a confusonasce nele ou nas fontes. Plnio no nega existir a palavra artabru-. Recusa atribu-la aos arrotrebas, eaplica-a ao promontrio de longa ponta, por uns chamadoArtabrum, por outrosMagnume por muitosOlisiponensepelo oppidumdeste nome [Olisipo, Lisboa], cabo que separa as terras, os mares e o cu

    (IV 113). Quer dizer, atribuiArtabrumao Cabo da Roca, o do lado direito ou norte da foz do Tejo.Cabo rtabro to longe doMagnus Portus Artabrorum corunhs? No sei se foi estudado. A meu ver

    cabe aceitar o testemunho explcito, fruto de confuso mas de transmisso certa. que artabro-no etnnimo, mas outro, que quadra averiguar. A buscar ocorreu-me uma ideia, que depois vi partilhada

    por C. Torres Rodrguez2: rtabro do norte. O cabo boreal da foz do Tejo dizia-sePromontoriumArtabrumpor artabro-ser setentrional, do Norte; os artabride Mela, rtabroide Estrabo, erammeramente os (callaeci) setentrionais, do Norte. Ignorar o cltico explica as imprecises dos autoresgrecolatinos. No sabiam cltico, mas nas notcias transparecem as vozes dos intrpretes locais.

    A traduo ainda no etimologia. Como analisar? Aceite de todos artabriconter o cltico ARTOSurso. Coromines concordava. O que descreio se aludir abundncia do animal nos soutos galegos,mas constelao da Ursa, que nota o polo norte celeste. Tambm era cltico designar tais estrelas com

    o nome da Ursa? A origem do mito, difcil de discernir, arraiga na pr-histria e v-se em toda a Europa.A verso ocidental comum a grega, no a nica: Calisto, companhia de Artemisa, como esta juraraficar virgem. Seduziu-a Zeus sob a forma de Artemisa e ficou prenhe. Tentou ocult-lo e descobriu-ano banho Artemisa, que a virou em ursa. Artemisa, para ca-la, ou Zeus, para ocult-la; diferem asverses, mas ao cabo foi acolhida no cu por Zeus, que pus a imagem sua nas estrelas (a Ursa maior emenor). Calisto forma arcaica ou forasteira da mesma Artemisa. Este nome mostra o vnculo com osursos, como lhe acontece homloga cltica Arti. Calisto era me de rcade, av dos arcdios, logosua Senhora dos Animais, e dos ursos. Nela vibram harmnicos das Artemisas hiperbreas. O carizvirginal bravio, isento de homens, da terra na que Senhora dos Animais. Para R. Graves, a virgindade um dos trs aspectos da Terra.

    Identidade, oposio e articulao destas figuras tm grande interesse, mas excede o fim atual, que sublinhar as razes europeias do mito, anterior difuso da cultura grecolatina. O mito que associa Polo

    Norte e Grande Ursa de origem pan-europeia, talvez paleoltica, se no anterior.

    4. Cr-se ARTOSvir do ie. *rkos, cf. scr. rkah, gr. , lat. ursus. A desinncia -abro- no clara; tambm de cantabrie *vellabri 3. Se s tivssemos artabri, com a suspeita do vnculo com aUrsa do cu, talvez poderamos crer o -A- ser vogal temtica de ARTursa, mas, ante essoutrasformas, no parece provvel. O sentido da desinncia deve de ser locativo.

    2 Casimiro Torres Rodrguez,La Galicia Romana, Corunha, 1982, p. 120.3 Para MacNeill *VELLABR(em T. F. ORahilly,Early Irish History and Mythology, Dublin, 1976, p. 9).

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    A ideia a ocorrer, sem certeza, unir -abro- ao clt. *MROG(I)- pas fronteirio 4, irl. mruig, bruigm., gals, crn., br. brof., presente em *KMBROGEScompatriotas, paisanos, nome que se davam asi os britanos que hoje dizemosgaleses5. Entram aqui os gauleses broga (brogae Galli agrum dicunt) eallbrogesestrangeiros.

    Seria: ie. *k(o)-mrog(i)-> protoclt. *ART-AMROG- > *ARTABROG-. Cumpre explicar a falta do-G(I)-. Talvez tenha a ver com o tom. Em Cmbrogese allbrogeso tom imediatamente anterior, emrtabro-e cntabro-vai mais afastado. Estes adjetivos frequentes tiveram forte eroso desde o singular.*RTABROG- teria nominativo sg. *RTABROXS, que passaria para *RTABROSS, *RTABROS,

    confundindo-se com os temas em -O. Da confuso sairia o pl. *RTABROI. Na nova verso de marcano DCECeH de Coromines, no tocante ao galego cmaro, port. mod. cmoro, topo a brilhante hiptesedo timo *KMMERGO- confinante, que provoca a Coromines similar dificuldade para explicar a

    perda do -G-. Isso me anima a propor a soluo simples duma base j sem -G-, o que dele a dificuldadede cmaroe de rtabro-: *MRO-, isto , *KMMRO- > *KMMARO- > cmaro,e tambm *K(O)-MRO- > *RTAMBRO- > rtabro-. Os sentidos no cltico seriam terra confinante, da terra confinan-te (da banda) da Ursa. O passar ao latim explica artabr(de *RTABROI) e artaber(de *ARTABROS,cf. lat. vir ante o clt. wiros; em cltico tambm pde ter tais redues:gutuaterparece tema em -O).Sei do arriscado destas hipteses, mas o vazio requer ser enchido.

    5. RTABRO- logo seria primeiro do pas limtrofe (para o lado) da Ursa e depois meramente queest para o lado da Ursa, setentrional ou rtico. Sim, mesmo sem atinar na anlise da desinncia,

    difcil no juntar rtabro- com . De corolrio digamos que RTABRO-do Norte, do ladoda Ursa ope-se a DEXSIO-destro, da (mo) direita, do Sul, pois a orientao pelo Oriente ou Lestedetermina [no hemisfrio norte] a mo direita assinalar o Sul.

    6. Arrotrebaeparece etnnimo. Existe TREBcasa familiar; unidade agrria. Est em Contrebia,atrebates, trebacoriie outras. ARRO-, cf. a gramtica cltica, foi o clt. comum *ARSO-, ie. *ers(o)-msculo. designao na linha usual das autodesignaes destes guerreiros halstticos de ethoshomerico, nos que o alarde eram obrigas indeclinveis, como para o samurai japons. ARROTREBScasas dos machos est perto de arroni(que leio arronii), latinizao de *ARRONIOI, que se explicaqual arrotrebae: *ARRONIO- < *arsonio- < ie. *ers-(onio)-, cf. gr. , , .Como estes, ser masculino, bem macho. Algo prximo de neriiou *NERIOIviris, varonis.

    QUE PORVENTURA EXISTIU A KALLIKI?Ao ver artabriinsinuou-se a autoconscincia dos calaicos (galegos pr-romanos). Se na lngua localfalavam nos do Norte, havia outros do Sul. No Norte limita o mar. Aonde chegava o Sul calaico? Se oCabo da Roca, no Tejo, foi antesrtabro, a Lusitnia falava tambm essa lngua. O continuumv-senas notcias mais velhas, que no separamgallaecide lusitani, mas depois, na vasta zona pegam a ver-se matizes. No sc. I d.C., Plnio fala do Douro que separa a Lusitnia dos calaicos (IV 112) 6. A notcia

    pde dever-se a Augusto pr a Gallaecia na Citerior. Mas a identidade calaica preexistia. Gallaeciapouco figurou na ordem territorial latina, em tempos de Caracalla e Diocleciano. A dura do nome, no

    4 J. Vendryes, o. c., M, p. 67. Vincula-se com lat. marg, -inise gt. marka.5 Galsprocede do nome que lhes deram os seus vizinhos saxes, welisestrangeiro,ingl. welsh.

    6 Ao estudar o timo deDouro, ilumina-se a questo do linde sul calaico. O rio Duriusem latim (Plnio e Mela); (Estrabo), (Ptolomeu, Apiano) e (Dio Cssio) no grego. U latino era igual a O breve fechado cltico. O OdeEstrabo era qual Ulatino longo. O micro de Ptolomeu-Apiano j era O breve aberto. O mega de Dio Cssio s destaca a lon-gitude. Para integrar tal assembleia de vogais cumpre pr o clt. calaico *(RNOS) DWORIOS, no *DORIOS, de O tnicobreve fechado. O mega de Cssio tenta verter o ditongo crescente nas fonologias latina e grega. Que significava? adjetivode *DWORESportas e seria (rio) das Portas. O tema ie. *dhwer-usava-se mais no plural, ali com vocalismo O, *dhwores.

    O Rio das Portas pe a pergunta de que portas. Apesar de atravessar a Celtibria, a nada divide. Portas ao unir-seao Esla. Sem ser paralelo exato, so prximas das danubianasPortas de Ferro, uma traduo deIsarnodrum, latinizao de*SARNDWORON. Tal -durumaplica-se a acidente geogrfico; na Glia frequente como segundo membro de composto emnomes de vila, onde mera metonmia. Estou certo de Rio das Portas ser nome dado por lusitanos e calaicos ao GrandeLimite. Portanto robora o limite sul da Kallikia.

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    latino, e a dos trs conventsque a fazem (atravs da organizao territorial eclesistica) indica quedeveram preceder institucionalizao romana. No teriam durado a no ter sido o reconhecimento davelha organizao local.

    2. Parafraseando Mircea Eliade: todo cosmos cristaliza desde o centro, cosmos o que pende do centro.Todas as culturas arcaicas pem o Centro do Mundo, o nfalos da Terra, na montanha sagrada. savessas, todo lugar com a condio de centro sagrado tem algo de Montanha Sagrada a unir Cu e Terra,e de Eixo do Mundo, que une os mundos superior, mdio e inferior, quer dizer, Cu, Terra e Infernos.

    Se a Galiza velha (Kalliki) existia antes da ordem latina, tinha um centro aglutinante, cf. Olmpiaou os santurios que uniam os gregos. O Centro do Mundoseria a parMontanha Sagrada. H algumrasto desse ponto? A meu ver temo-lo claro; pasma no ter-se visto. Para Ptolomeu, na terra dos *tburosou *trburos7estavaNemetbrigaque a vila santa ou consagrada antes que vila do santurio comose dizia. Ora bem, -BRIG()dantes foi altura, outeiro; monte8. Depois, por morar os celtas halstticosem alturas fortes, chega a ser castro; oppidum, vila forte. legtimo arcaizar a traduo, conforme anatureza religiosa do material, e entender tambm montanha sagrada.

    A sacralidade essencial, mas dir-se- que toda vila para os seus a figura da Cidade Sagrada, doCentro do Mundo. Por que devera ser o ncleo da Kallikia para o conjunto dos avs pr-romanos?Alm de ser a nica assim chamada, concorre a rasgo de situar-se em lugar adequado. Para Cuevilhas,estaria em Mendoia ou Trives Velho, num crculo com centro na Pvoa de Trives e rdio de uns dousquilmetros. Justo a, perto do Monte Furado e a Pvoa de Trives, os historiadores coincidem em pr o

    encontro dos limites dos trs conventos, asturicense, bracarense e lucense. Os lindes, alhures controver-sos, a so pacficos. A Vila Santa, a par Montanha Sagrada, estava justo no centro da ordenao terri-torial romana dos galecos (galegos romanos), e logo deveu ser antes a Vila Santa, Montanha Sagrada,o Eixo do Mundo dos calaicos, o nfalos da Kallikia.

    3. A condio de Centro do Mundo e mstica Montanha Sagrada envolve na geografia religiosa a deponto sobranceiro a que se subordinam as terras de arredor. Hoje qual ontem, os que vo a Jerusalmsobem, mesmo se vm de stios fisicamente mais altos. Bem que baixe do Hbron ou da Galileia, quemvai a Jerusalmsobea ela. Essa maneira de falar no era exclusiva do hebreu.

    Comarca prxima de Trives oBolo. O certo o timo ter L duplo: *BOLLO- ou *WOLLO-. Parece-se com o *WOLBRIXS(antes que *WOLBRIG), que ode Ptolomeu e o valabricensisde epgrafes deixam reconstruir. A geminao de *WOLLO- era expressiva, hipocorstica, comum nas

    lnguas indo-europeias antigas, similar aos nossos diminutivos acarinhantes, e revezava corriqueira-mente com a simplicidade. Mas *WOLBRIG- no oBolo. Este da diocese de Astorga, herdeira doconvento asturicense, e os de *WOLBRIXS, os nemetates(que tm oNemeton), eram bracarenses.

    No identifico, s traduzo o nome. *WOLLO- vir do ie. *upolo-baixo, inferior, adj. baseado na prep.*upo(> clt. WO, WA, WE; irl.fo, galsgwo), cf. clt. (O)UXSELLO- alto, superior vem de *(e)ups,cf. gr. arriba, elevado. O vocalismo de valabricensisdifere por tono, cf. o O brevetemtico dos primeiros membros em portugus (franc-prussiano). Deslocado o tom, o O aberto, oratono, passava para A, qual em galego. Depois, o precedente WO- dissimila em WA- por harmonizao.

    No gauls, WOpassou regularmente a WA: vassallus < *upo-sth-. Os neoclticos para baixo, inferiorhoje so derivados do ie. *pd-suaos ps, mas bvia a origem recente; para a noo na antiguidadedeve-se pr outro adjetivo, que seria este *WOLO-, com a variante substantivada e afetiva *WOLLON.

    7 Asterisco pela discutida forma do etnnimo. Sempre o vi impresso tburos, leitura dos cdices ptolemaicos com .Fez bem Coromines ao revisar as fontes e ler , forma surpreendente que altera tudo. A edio de K. Mller jinsinua a leitura corretaser talveztriburos; no sei doutras. Vinha-se supondo a sequncia Tibursabl.-loc. lat. > Tibres >Trives. Prefiro outra evoluo, ao menos paralela, *Tribursabl.-loc. lat. > Tribris > Trives. A leitura de Coromines (Actas do

    I Coloq. Sobre Lenguas y Culturas Prerromanas de la Pennsula Ibrica, Salamanca, 1976, p. 138, n. 2), facto novo prenhede sequelas no futuro. Importa constatar que o nome dos de Nemetbriga contm o prefixo tri-, o que aludir ao seu lugarcentral na Kallikia, convergncia das trs partes. Cremos ser *TRI-BOROI que contm trs. Transcrever o breve clticopor O talvez pague tributo freq. equao O breve fechado cltico = U breve aberto latino. Quanto semntica de -BORO-(< ie. *bhor-o-, cf. gr. (), lat. (bi)fer), lembremos que biferfoi que produz dous, depois que contm dous.8 Do ie. *bhrgh-, cf. germ. burgs.

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    Em suma, *WOLBRIG- significava castro de abaixo, de juso, e *WOLLON, que aqui importamais, ser neutro substantivado, e como ptria afetivamente geminado, do mesmo adjetivo, comsignificado de o (pas) de abaixo, de juso,scilicetde abaixo (= adjacente) deNemetbriga.

    4. Temos topado um Centro da Kallikia e um Monte Sagrado dos calaicos das trs partes, mas, dissipa-do o caos arredor dele, devramos ter um nome a designar a entidade autoconsciente. Ser KALLAIKO-,mas vem-se dizendo desde Plnio (III 28; IV 112) que decerto foi primeiro nome de uma tribo bracaren-se, e que s depois, pela glria que a tribo ganhou na luta com Roma, foi por sindoque dado a todos oshabitantes do NO com beneplcito geral. Assim, como usual, tudo nasceria dos romanos descartando

    uma incmoda conscincia nacional antiga. Desconfio. Alm da desconfiana, qualquer explicao devepartir da interpretao do nome. De Plnio para c, ignorando o significado local, gira-se no vazio.

    No digo nada novo, mas a estranheza tenaz nestes temas pede repetir o sabido at a opinio acabarde receb-lo. Sabe-se que o pr-indo-europeu *KALAabrigo, refgio passou ao cltico com matizesvrios: porto9, lar, ptria10, abrigo de montanha11. A geminada de KALLAIKOS-gallaecus hipo-corstica, expressiva, pelo contedo emotivo do caso: o vnculo com a Terra. A desinncia -AIKO- (ameu ver anterior gaulesa -KO-) talvez rasto de laringal prepalatal. De qualquer jeito, j foi estudada.

    Creio que o geminado KALLAIKO- no foi nome tribal autoatribudo, sim nome nacional lato sensue um adjetivo que caberia traduzir paisano, terrants ou do torro, expresso esta que nota afetivi-dade e que com efeito aparece na lngua medieval, talvez por ao do substrato 12. A notcia de Plniosobre a tribo deve conter uma ponta de verdade. certo os do Porto (KAL) chamarem-se *KALAIKOI,

    com L simples, pois que foram os primeiros a defrontar os romanos de Dcimo Jnio Bruto na batalhado Douro, junto de guerreiros de outras tribos. O chefe romano recebeu nome deles, mas imediato onome cresceria na lngua local merc do prstimo atingido, e passaria de da tribo do Porto a da Terramediante o cmbio crtico da geminao expressiva. Talvez KALLAIKOItenha existido dantes no sen-tido lato, mas receberia novo impulso nesses acontecimentos histricos.

    5. Os artabrieram muita gente para tribo; decerto eram do Norte. Algo similar h no sul: osgrovii.Creio serem conjuntos de tribos, designaes de origem territorial. Mela pe-nos do Douro ria de Vigo.Depois as notcias tingem-se da teima helnica que Schulten viu: castellum Tydede Plnio, com psilo,que repete Slio Itlico, que heleniza mais chamando aosgrovii de etlios; e Marcial muda *Groviumem Graium [veterum], nome de rio, talvez o Lima, para aproxim-lo de Grae-cu/Grai-co-. Dos posterio-res a Mela excluo Ptolomeu, que desloca osgroviia leste, o que faz descrer da transmisso.

    Groviino tribo; vem da raizgw

    her-/gw

    hor-aquecer; calor, cf. gr. quente, lat.formus,germ. warmaz. Em irlands hgorimeu aqueo (*GOROMI) egransol (*GRN< *gwhr-ein).Logogrovii(*GROWIOI) os da terra quente, do calor, ou tambm os do Sul.

    6. Temos o Centro da Kallikia, uma vizinhana do Centro e a autodesignao dos habitantes. As fontesso posteriores conquista romana e logo subsiste razovel dvida sobre a cultura que atribuir a tripar-tio da Kallikia. No repetirei o de atribuir tudo aos romanos; nem a gratuita atitude inversa. Nestecaso, luz do dito, convm recordar certos dados gerais a meu ver pertinentes:

    a) A distribuio territorial em trs distritos parte da herana indo-europeia, cf. as trs tribos dosdrios, os ramnes, ttiese lceresda Roma antiga, as trs partes da Glia (mais de trs; o sintagma arqutipo mtico) e tantos outros. Este arranjo viria do sistema de matrimnios por primos cruzados queBenveniste estudou na perspetiva lingustica.

    9 Da o nome velho do Porto, vivo em (Vila Nova de) Gaiae no adj.portucalensis. Dele extraiu-se secundariamente o nomedo novo estado,Portucale. Ao replicar-se em Vila Nova de Gaiao nome do Porto, a vogal tematica ldima, , ficou guardada.*KALlatinizou em *Gala. Com queda do L deu Gaa, e depois Gaiapara manter o hiato. No tempo bilngue no se perdeude todo a memria da forma antiga da lngua local, com -C-. Dessa memria vem o baixo-lat.portucalensis.10 Este seria o sentido no derivado KALLAIKO-.11 Eis o francs suo chalet, do pr-romano *KALETTO-.12 Por caso, noLivro de LinhagensIV, flios XXVr e V: e veo fallar com os da terra.

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    b) Tal arranjo territorial para ser no precisa de laos administrativos a abranger o conjunto nacional,por riba do nvel tribal. Se no caso dos drios havia histrica unidade poltica, e tambm no romano, nohavia unidade grega, nem nos gauleses. No havia unidade politica na Irlanda antiga, s nacional, laxana figura doArdRou Rei Supremo, que no era cabea de estado, mas sacerdote respeitado,primusinter pares, smbolo da *WERItoda. A unio cresceu ao for-la os invasores. A unio laxa irlandesa

    parece contest-lo na diviso quaterna com que surge na histria. Explic-lo no daqui, mas pode-sedizer que a quaternidade pouco durou, sucedida por um sistema de cinco partes. No fundo um sistemade trs partes, Ulster, Leinster e Connacht, do que Munster fica excludo. Do sistema trial e do matrim-

    nio de primos cruzados s h vestgios inertes e cristalizaes lingusticas a rachar o limiar da histria.c) A unio nacional nos povos sem rgos pblicos por riba da tribo vive na comunicao lingustica,

    nos ritos comuns e no comrcio regular de feiras ou festivais intertribais. No mundo celta eram laos na-cionais as feiras, festivais-assembleias, em galico enaich(cltico *OINKOI13) e a religio organizadados drud(< *DRUWIDES). Esta foi radicalmente proibida pelos primeiros imperadores; s a inrciados usos lingusticos e comerciais tolhia a disgregao. O estudo do cltico final deparar surpresas.

    Neste ponto, a pergunta sobre a realidade da Galiza pr-romana exige atentar os OINAIKOIcalaicos,dos que h testemunho no epgrafe de Torres de Nogueira e na traduo latina. , foram traduzidos aolatim por conventsassembleias, e no Imprio designavam, no aquelas reunies soberanas, mas umacategoria territorial, as trs partes que Nemetbriga une. Os convents no so metfora jurdica roma-na, sim ldimas assembleias (ou festivais, feiras, romarias, etc.) populares da sociedade cltica, depois

    aproveitadas no Imprio para organizar a terra. Antes da conquista, os OINAIKOI(asturicense, braca-rensee lucensediriam-lhes depois) eram reunies de tribos que reconheciam os vnculos entre si jun-tando-se anualmente num ponto mdio da terra. Quatro grandes festas anuais tinham os celtas; a mais

    poltica e maior celebrava-se arredor do primeiro dia do ms equivalente ao nosso agosto. Na Kallakiaaconteciam nas chs de Lugo, Braga e Astorga. Foi a nica festa a esvair-se (quase) de todo, pelo cariz

    poltico. As outras reciclaram-se: na Candelria(*AMBWOLKCircumpurificao, o 1 dia do msequivalente a fevereiro); nosMaios(*BELTONIOSda Morte [do Meio Ano Escuro], pelo 1 de Maio);e nos dias de Todos os Santose dos Defuntos(*SAMONISReunio [amorosa], pelo 1 de Novembro).

    Arredor do primeiro dia do ms equivalente a agosto celebravam *LUGUNSTADbodas de Lugus[com a Terra]. A festa foi genialmente manipulada por Augusto, que tinha o poder mas precisava sacra-liz-lo. No podia apelar memria da velha monarquia romana, desprestigiada no processo de forma-o do estado e tingida pelos ltimos reis etruscos com o carimbo da usurpao. Sbio na teologia dos

    povos imperiais, viu o culto de Lugus esparso na mor parte do seu Imprio. Lugus, Deus-Rei, SoberanoSbio, adorado de todos os povos celtas, a par do seu perfil indo-europeu, trazia os significados univer-sais da monarquia sacra dos povos arcaicos. Frazer mostrou ser um sacerdcio no que o rei consorteda Terra e a garantia da sua fecundidade. Octvio de um s golpe enervou a raiz religiosa da soberaniacltica e ps-se no lugar de Lugus, identificando-se com ele. Da pr-lhe seu nome a Sextilis; no pelahonra do calendrio, que qualquer ms lhe daria. Em Sextilis os celtas celebravam a festa de Lugus, cf. atradio irlandesa. O 1 de Sextilis, dia de Lugus e *LUGUNSTAD, foi doravante dia e ms de Augus-to, Agosto. Eis a to buscada raiz do culto imperial, ansiosamente pesquisada pelos historiadores.

    D vertigem tamanho facto ter sido esquecido. Augusto vigiou zeloso a observncia da identificao,raiz do seu culto. a razo pela que o Santurio do Souto lucense, o *NEMETONque depois foi lcus,onde em agosto tinham assembleia as tribos do tero noroeste calaico, foi afinalLcus August. Schulten

    cria o apelido vir-lhe de ser fundao de Augusto. Certo, se se entende que ele se identificou a Lugus.E traduziu *NEMETON LUGOUSSanturio de Lugus porLcus August. Eis por que a ch de reuniodos calaicos do Sul, a [*LANDou LN] BRKAR, foi depoisBrcara Augusta. Eis por que a[*LNouLAND] ASTURIK, da reunio dos calaicos do Leste, chegou a ser aAsturica Augusta.

    13 Em calaico OINAIKOS(OINOSum e suf. -AIKO-); ara de Torres de Nogueira, Cor., a CossOenaec(dat. lat.). Cossosassimilavam-no a Marte. KOSSOSOINAIKOS(dat. KOSSIOINAIKI) par do lat.-germ.Mars Thingsus, Marte do Thing(assembleia), id est*TWAZ. tambm o deus cltico *NDS,NDONTOS (irl.Nuadu), par doMitrvdico e Trnr-dico, doNumaevemerizado da Roma velha (e do Marte tardio, virado deus do direito). KOSSOSvem do ie. *ko(m)-stho-.Vale companheiro e era scio soberano deLugus(= Vruna, *Winaz).

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    Planuras? . Na tradio irlandesa as assembleias tm-se nos campos. Agosto, ms quente da colheita, bom para juntar-se ao ar, sacrificar, julgar, acordar, concursar artesos, correr cavalos e carros emhonra dos heris, e para msica, cantos, esponsais (no tempo das bodas de Lugus). De Lugo, Astorga eBraga sabe-se terem nascido, no de castros celtas, mas de acampamentos romanos postos a para vigiaras reunies que cifravam a identidade nacional e religiosa do povo calaico. Nascem da vontade de dom-nio, de um domnio de tipo britanico, que no obsta a cultura dos dominados enquanto no interfiracom os seus interesses polticos e econmicos.

    SIL, O RIO DA LINHAGEM1. Em artigo de 197814e de novo em 199215, dei-lhe ao Sil o timo *SLda semente, que ainda subs-crevo. O P. Flrez identificava Silcom osl,slisterra mineral de Plnio, o que aceita o historiadorCasimiro Torres Rodrguez. A ser o timo, deveria supor-se genitivo, e *slisno pode dar Sil; s *sisou cousa similar. Coromines16tambm tira Silde *SLON, e cita a forma Siledo ano 957, que firma a

    base *SL. Tal qual eu no 1978 (e ainda no 1992) supunha da semente metfora do gro de ouro.Pensa aparente-mente SLvir do sentido metafrico do sumidoiro, do leito profundo.

    2. Depois uma srie de dados ps-me na via que ora creio mais cingida aos documentos que ele reuniu.A se v prevalecer, nas neoclticas, o valor metafrico animal: irl. mod.sol[] speed, sperm, race,tribe, clan, gals hildescendncia, gals ant.sldescendncia; semente; mlharas, ovas de peixe.Creio em *(RNOS/SROUM/ ABON...) SLpalpitar um Rio da Linhagem. Por qu?

    O Sil nasce no conventus asturicensisassembleia dos sturos [dos do Leste] (antes foi OINAIKOSSTURON). Ao deix-lo, o Sil era linde de lucensise bracarensis(antes OINAIKOS RTABRONas-sembleia dos do Norte e OINAIKOS GROWIONassembleia dos do Sul), at afluir no Minho, consti-tuindo o que na Idade Mdia se disseRibeira Sagrada. A sacralidade crist do lugar, bvia nos grandesmosteiros a sitos, continua outra anterior pag, decerto doutro cariz e valor. No fao reducionismo;falo numa substituio, no num disfarce. Pois bem, que significaria essa sacralidade? Estudos etnogr-ficos vinculam a distribuio territorial interna dos povos antigos com as estruturas de parentesco. Tem-se enxergado algo destas sugestivas perspetivas nos quxuas andinos. Algo assim ocorreria no mundoindo-europeu mais primitivo, que distribuiria a comunidade nacional em trs territrios, ligados a algumtipo de exogamia. Benveniste fala nos matrimnios de primos cruzados na pr-histria indo-europeia.Entre os histricos s subsistiam ecos, mas suficientes para formular a hiptese de o Sil ter sido o Rio

    da Linhagem, por unir as trs partes da Cltica do Noroeste peninsular. Ciente sou das resistncias que ahip-tese pode levantar, pelos vastos corolrios, mas, lanada e submetida crtica, com certeza sair umfirme critrio enriquecedor, qualquer que for.

    AINDA MAIS SOBRE A KALLIKIA

    (E ACERCA DOS STURES)

    1. Perseguimos pegadas de uma Kallikia pr-romana ciente de si, com a ordem territorial prpria dastribos indo-europeias arcaicas. E vimos convergir as fronteiras dos convents-OINAIKOIna vila santadeNemetbriga, vimos o que significava, e o centrado de cada convento numa ch que depois teria umacampamento militar romano, embrio de vilas medievais (Lugo, Braga e Astorga). E vimos a impor-tncia que o Sil devia ter nessa ordem, como Rio da Linhagem a reunir as trs partes. margem desses

    resultados, tambm claro os limites da terra vir do perfil geogrfico. Gentes de fala cltica havia forada terra calaica, os lindes dependiam da Terra, do feminino factor geogrfico. Ora quero profundar um

    par de linhas j apontadas, que suponho levaro a firmar o que primeiro foi suspeita e agora convico.

    14Dos trs Lgoves Arquienos ou Do que duas inscries latinas nos ensinam sobre o passado da Galiza, na revista Grialn59, Jan.-Fev.-Maro 1978, Vigo, pp. 14-44.15 Revista AGLIA n 31, Outono 1992, Corunha-Santiago-Ourense, pp. 351-377.16 Nota 6 do verbetesilodo DCECeH, no no DCELC.

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    2. Organizao social

    Com o visto e a comparao, enxerga-se na Kallikia estas estruturas sociais:

    1) Na base o primeiro so as famlias, grupos de parentesco certo e imediato que moram na mesmacasa ou em habitculos contguos. O nome cltico era *WENI, dirigida pelo tigernosdominus. Onome da casa como ente social e econmico era TREBcasa solarenga; casa linhagem; unidade deexplotao agrria, diversa da casa-edifcio, *TEGOS, TEGESOS.

    2) Arriba o cl, grupo lbil de famlias com um antecessor comum. Demografia e exogamia fazem

    do antecessor um factor s referencial. O nome cltico era *WXS, WKOS; em composio -WIKES.A morada desta reunio de famlias era o castro, BRIXS, BRIGOS. cabea do cl, centria, gentilida-de, como se queira chamar, havia um chefe chamado *KWENNOScabea, chefe. Provavelmente a

    par havia um sbio, letrado e sacerdote. O nome si arrepiar: *DRUWIS, DRUWIDOS.

    3) A unio de cls fazia uma tribo, a maior unidade poltica de direito positivo efetivamente exercido,pequeno estado, civitas. O nome era TEUTnao. Sem anacronismo, estado; reino era tambm*RGION, mbito do imprio (mdico) do *RXS, RGOSrei, a par do qual havia o doutor do povo,que chamaremos DRUWIS TEUTS. mbito fsico dessa sociedade organizada era o *TROS, TRESOS,neutro, pas, territrio. Outro nome, no referido populao, era LAND. Outra voz prxima a distin-guir *MROGIS> BROGISpas fronteirio; marca, pas visto pelos vizinhos. Se se quer ver o tamanhode uma tribo calaica, cabe pensar numa comarca grande: Lemos ou a Terra de Srria.

    4) Alm das tribos s havia federaes laxas, baseadas na noo de origem comum, e plasmadas nosOINAIKOI, assembleias e festivais anuais, nomeadamente a vernal em honra do deus-rei Lugus, no inciodo dcimo ms cltico, equivalente a agosto. Havia na Kallikia trs federaes, OINAIKOI-convents:a) a dos do Norte ou rtabros, com reunio na planura-santurio sita onde hoje est Lugo; b) a dos doSul ougrvios, reunida na ch dos brcaros, onde Braga; e c) a dos do Leste ou Nascente, os sturos,reunidos na ch onde Astorga. Presidia as federaes um *ARDW-RXSSumo Rei,primus inter

    pares, o rei da tribo anfitrioa. A par dele, com mais relevo, havia um DRUWIS OINAIK. Se se quer umparalelo territorial desta entidade de tribos federadas, cabe imaginar o sintagma MROGEIES/ MROGSKOMBOROIpases confederados, reunidos.

    5) No cosmos do homem antigo s havia mais outro grau: o mbito em que se exercia a conscincia decomunho lingustca e religiosa. Na Kallilia parece contrari-lo haver fora dela gentes com as que acomunicao lingustica e religiosa se dava. Cumpre matizar essa ideia prvia e pr o factor geogrfico.

    Os que partilhavam lngua e religio podiam ficar muito longe dos irmos da fronteira diametralmenteoposta. Da as Clticas, espaos em que a comunicao era possvel de jeito sistemtico. As paisagensmudaram lindes, mas no caso calaico remanesceram na Gallaecia e no Reino de Leo. No ideolgico, aordem territorial da Kallikia fundava-se no parentesco mtico, cuja base histrica indiscernvel, masque vigorava potente, cf. a etimologia do rio Sil, Rio da Linhagem. No centro da Kallikia no haviaumRXS. Sim um OLLAMOS DRUWISDoctor Maximus, a presidir conclios em Nemetbriga. Onome da terra era KALLIKI, territrio dos kallaikoi[os da Terra, do torro]. Para o conjunto da

    populao, a Terra, Kallikia, era o cosmos. S os letrados sabiam do mundo, do *BITUS, BITOUSomundo (habitado dos vivos). Este horizonte limitava-se aos de lngua e cultura afins. Alm dele, ocaos dos brbaros no recebe ateno.

    3. Etimologia de stures

    Dir-se- que exagero o imaginar. Decerto a reconstruo otimista, mas ao no topar estorvos, os cticoscorrem risco de deslocar para si o cargo da prova. O argumento maior de uma Galiza pr-romana vemdado na sua tripartio, com Nemetbriga no centro. Nisto quero insistir.

    J se viu os rtabros serem os setentrionais17, o que dalgum jeito j se sabia. Alm desse valorbsico, creio que esse nome na Kallikia servia a nomear os habitantes da entidade conhecida comoconventus lucensisem data romana. Em geral ARTABROIera setentrionais, e alm disso, na Kallikia,

    17 Cap. 16 do nosso contributo para o III Congresso Internacional da Lngua Galego-portuguesa na Galiza.

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    valia tambm o que lcnsesem data romana. As dificuldades de Plnio com o nome artabri18sofrema influncia subliminal da barreira dos idiomas e a ideologia imperial.

    Por que suponho essoutra aceo? Por no Sul da Kallikia surgir outro agrupamento similar. Falo nosgrvios, que, se acreditamos em Mela (nico hispnico dos que tratam da nossa antiguidade [Estrabo,Mela, Plnio e Ptolomeu]), ocupavam toda a costa bracarense. Ao buscar a etimologia degrovio-, chega-mos a concluir serem os da terra quente, do Sul. Assim se insinuava os stures ou sturoiser os do

    Nascente ou Oriente. A articulao de nomes e sentidos bvia.

    No sei se algum me precede na ideia. Custa crer ningum ter visto a a raiz ie. *us/aus/us. Digo j,sturesser derivado atemtico (frequente em cltico19), de *ASTURnascente, aurora, do ie. *aus-ter. *ASTURser homlogo do germnico comum *Austr- (cf. anglo-sax.astre /ostre), tenimorelacionado com *austro-para leste e *austo-no leste (cf. ingls east, por caso). A famlia indo-eu-ropeia da raiz vasta. Alm de germnica, ndia, grega, bltica e itlica. Aqui a gens Aurelia o casomais claro, mas tambm h auster, -tre austrlis, -e(com mudana de sentido, cf. os nomes de vento).

    Duas questes pe a etimologia: a eliso do uau do ditongo e a forma precisa do sufixo. Quanto aoprimeiro, o cltico deslocava o uau dos ditongos descrescentes slaba seguinte, em condies s vezessabidas: a) ante -S- intervoclico20, e b) ante -R-, cf. o latim, mas mais sistematicamente (clt. tarwos

    perante lat. taurus). No caso atual no h prpria mettese do uau, mas contgio progressivo do timbre,o que no fundo afim. Alm disso, duas notas enquadram tais factos e podem levar a supor um pendorgeral para a eliminao de ditongos decres-centes: dum lado, o cltico ter confundido pronto ditongos

    longos e breves; doutro, uau e iode ser lbeis; fonologicamente parecem ter sido sentidos alongamentoda vogal, sobretudo do A.

    O sufixo era -TERO-, no -TRO-. As formas germnicas tm sncope, no anaptixe (como austrlis).Aquele estabelecia oposies binrias e o segundo fazia nomes de instrumento.

    Cabe notar o outro nico testemunho cltico velho da raiz21. Asturis-Austuris, lugar que no fim doImprio de Ocidente figura na Nrica, beira do Danbio, perto de Vindobona(Viena). So ablativo-locativos plurais latinos; temas em O ou A, diversos de astures. De leve, pois que transparece na tradi-o o regnum asturorum, que resgata o tema asturo-, que seria antigo e preterido por razes convergen-tes. Estrabo favoreceu um vnculo paretimolgico com os topnimos homfonos da Anatlia antiga22.

    Nestes preciosos testemunhos o tema tem ditongo numa das duas variantes. Processo de desapario?Tambm tm labializao da vogal postnica, antes da perda do uau; e h o sufixo na forma plena, bem

    que mudado o timbre voclico. As duas formas so do sculo V:Austuris, variante plena, naNotitiaDignitatum Occidentalium34, 45, segundo Schulten.Asturis posterior; da vida de So Severino, porEugippio escrita em latim (I, 1 e 5). No vi o texto, mas sendo o Apstolo da Nrica, antes ermito noOriente do sc. V, o livro ter sido escrito no VI. LogoAusturis anterior aAsturis, contra a opiniode Schulten, que supunha o processo inverso de cunho etrusco; a teima etrusca levou-o a descobrir in-meros tesouros sem deixar-lhe encontrar o s que anelava. Por adir outra stura s anatlias, tirava ostopnimos nricos de um stura feminino singular. Certamente pode ser tema em A, mas no singular.Se mal no lembro, os casos de ablativo-locativo toponmico so todos variantes plurais de nominati-vos tambm plurais:Aquis Granni, Sacris,Flaviis,... deAquae Granni, Sacrae,Flaviae,...

    18 Histria Natural, IV 114.

    19 Houve variante temtica, como prova o medieval regnum asturorum, de nom. sg. asturus(< *ASTUROS). Talvez estafosse maioritria e sturesse tirasse secundariamente do g. pl. autctone ASTURON, latinizado asturum.20 H. Lewis-H. Pedersen, Celtic Grammar, Gttingen, 1961, p. 8.21 Schulten associou, mal a meu ver, oAsturado Lcio, paroxtono, e a srie de topnimos gregos proparoxtonos, homo-fonos casuais ou paralelos remotos cuja reviso nos desviaria. O asturmoderno oxtono , quer um derivado regressivo deAstrias, quer leitura defeituosa do nome antigo por semiletrados; o -U- breve, como testemunhaAstorga, deAsturica, eos textos de Estrabo (e ).22 A. Schulten,Los cntabros y astures y su guerra con Roma, Austral, Madrid, 1962, p. 88. Tenta adequar os testemunhos tese etrusca.

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    Estes nomes valem orientais. Os celtas da Nrica eram os mais orientais do continuumeuropeu,fora os isolados da Pannia e da Dcia, sem falar dos glatas anatlios. A lngua germnica herdou asituao extrema ao substituir a cltica pouco depois. No fantasia ver no germnico *AUSTRO-RKJA-(> ant. alto alem. star-rhi > alem. ster-reichustria) o decalque ou substituio, parcial ao me-nos, do precedente cltico.

    tradicional interpretar stures como tnico tirado do rioAstura, citado por Floro (sc. I), PauloOrsio (sc. V) e Santo Isidoro (sc. VI). O primeiro cita-o no quadro da guerra cntabro-stur. A dis-tncia temporal dos outros faz suspeitar serem informes livrescos ou paretimolgicos. No h rio que

    se preste. Tem-se dito ser oEsla, mas Coromines provou claramente s poder vir do *ESTULAque elereconstrui e que julga adjetivo tirado do clt. *ESTUScascata, fervena. Logo explica-se a menode Floro como paretimologia do topnimo real, *STULA, sob a influxo do nome dos adversrios deRoma, os sturesou sturos, que constantemente devia nomear. Floro, como Plnio, no sabia cltico.

    4. A segregao das Astrias do conjunto galego comea quase inocentemente na historiografia latinacomo sequela do papel dos calaicos sturos na guerra dos anos 29-19 a.C. de Roma contra os monta-nheses. Depois ser longamente aproveitada para outras manipulaes.

    Surgiu aKallikia, a Cltica do noroeste ibrico, com organizao desenvolvida no limite impostopela natureza, no vaso apto para verter a tradio cultural indo-europeia e cltica, que inclua, com alngua, a sacralizao do numeral trs e o sistema de parentesco por matrimnio de primos cruzados.

    Trs conventos, que foram OINAIKOI, tinha a Kallikia e um centro cultual em Nemetbriga. Tal

    estrutura vinha do tempo mais velho que podemos enxergar e persistiu atravs da conquista romanacom fora suficiente para atingir reconhecimento nos tempos de Caracalla e Diocleciano. Estas constata-es dariam seguras se pudssemos robor-las alhures, fora da Kallikia.

    LLUUSSIITTNNIIAAa)Ammaia:

    Na ordem territorial latina, distrito firme aLusitnia, de trs conventos: oscallabitnus(centro emScallabis, Santarm), opcnsis(comPx Jlia, Beja) e o meritnsis(emmerita Augusta, Mrida).Desses nomes s um apresenta perfil autctone, Scallabis.Mas a antiguidade da tripartio assegura-a aconvergncia emAmmaia, hoje Portalegre, Alto Alentejo. O cariz religioso ficou gravado no nome, de*AMMme; nutriz, palavra cltica gerada na lngua infantil e registada em muitas partes. Antes foi*AMMDI, adj. f. de *AMMcom valor de (vila) da Me Nutriz, quer dizer, da Deusa Me Terra.

    b) Scallabis:

    Scallabisser nome cltico apesar da aparncia. Hoje Santarm fica na beira destra do Tejo, mas se que atina o mapa da Lusitnia romana que tenho vista Scallabis, a latina ao menos, ocupava as duas

    beiras. Isso leva fcil para a raiz ie. *skel- partir, fender, cf. lit.skelifendo, gt.skaljatelha, lats.culter, cultellus,scalpare,sculperee ingl.shilling. de todo o cltico: gal.scoilt,scolf. fenda,scoilt-fender,scail-esparger-se, partir-se,scalpfenda, buraco. As lnguas britnicas mudaram muito o

    perfil: *sk- > *ks- > *- > *w-.

    O -ll- geminado afetivo. A desinncia, da ibera Saitabis, pode confundir, se no se atina a ver que ocltico foi lngua franca na pennsula antes do latim23. Esse -(a)bisera decerto cltico, a desinncia do

    23 Provam-no as duas capitais hispanas de remota lngua no indo-europeia, a ibera Barcelona e a basca Pamplona. margemdas etimologias ltimas, em latim eramBarcino, -onisePompaelo, -onis. Segundo a gramtica histrica catal e navarro-ara-gonesa, hoje deviam ser cat. *Barcel(port. *Barcelo, cast. *Barceln) e cast. *Pampln, do acusativo sg. latino. A desinn-cia -ona dos topnimos paralelos da pennsula, s se explica pelo acusativo sg. clt., *BARKNONA(N)e *POMPAILONA(N).

    O argumento supe tais vozes populares no instante de fixar-se a forma romance nica, por nivelao casual continuara declinar-se cltica tempo depois de o cltico ter sido substitudo como lngua franca pelo latim, ao menos no nvel culto.A fala popular, incrivelmente mixta, sincrtica, de facto guardava estruturas do substrato, as quais cabia supor, mas no saberao certo. possvel que na conservao ajudasse a feminizao paretimolgica.

    Outro caso TucciouItucci(gr. ), hojeMartos, Jam, sempre zona crida ibera. cltico: i Tukkeo rico, crasso,cf. Tucca, tuccetum, *tuccnum, etc., precedido de um demonstrativo debilitado frequente em Hispnia.

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    instrumental plural, que no galico podia funcionar de dativo24. um caso de labilidade casual similarao dos topnimos latinos em ablativo de funo locativa:Aquis Granni(nas guas de Granno),AquisCelenis, Treveris, etc. Logo, Scallabis(*SKALLBISse atino) seria (com as) Fendida(s). *SKALLfendida, partida a base. Fendida por o Tejo passar a parti-la. O instrumental ser possessivo oulocativo. Em frases como a francesa aux confins de la terrevemos a comutabilidade dos valores loca-tivo, dativo e instrumental. Tambm o possessivo prximo. Nas ln-guas clticas no h verbos comoos romnicos tere haver. A posse nota-se com a preposio de companhia: em vez de tenho um livro,diz-se um livro comigo. Talvez esse fosse o matiz expressado no topnimo.

    c)Lusitn:Se ao tnico se tira a desinncia complexa -tn, cunhada por latinos, fica o tema luso-,prximo do dosque Estrabo (III 4, 13) pe nas fontes do Tejo, tema luson-. Raiz indo-europeia seria *lus-ou *leus-, mas dela no h notcia. O que h *pleus-pluma; velo; guedelhas e arrancar (Pokorny838), cf. lat.plma (< *plus-m), alem. mdio vls>Flauschvelo, lit.plskosguedelhas, let.pluskasid., pruss. ant.plauxdineleito de pluma. O grau zero em cltico era *LUS- com a perda cltica do P.Firma a raiz no cltico o irl. mdio lfloco (de l), pl. loa(< *LOUS-, grau pleno, tema em A ou U).

    Logo os temas luso-e luson-seriam guedelhudos, de cabeleiras longas, o que acorda com velhasnotcias. Que so quase paradoxo, se se lembra os castelhanos na Idade Mdia ter dito aos portuguesesde chamorros, palavra talvez de origem basca para rapados. Vaivns da moda, que no sc. XIV osfez levar cabelo curto, talvez trs os passos do rei D. Fernando (1367-1383), enquanto os castelhanos

    ainda o levavam longo antiga. Outro paradoxo os catales chamarem dexamorrostanto aos portu-gueses quanto aos galegos (Coromines), apesar de os lavradores galegos, sempre arcaizantes, teremlevado o cabelo longo at fins do sc. XVIII.

    CCEELLTTIIBBRRIIAADifcil discernir estruturas. Regio mais exposta s influncias mediterrneas e ao precoce acosso latino, possvel que os prprios autctones minguaram o rigor tradicional da ordem territorial antiga.

    Sabem-se sim os lindes aproximados, os orientais pelos lusitanos e galegos, os ocidentais por acha-dos arqueolgicos que notam a natureza lingustica dos povos que moravam at o curso mdio do Ebro.Pelo sul pde ser o Tejo, mas os celtismos que aparecem mais ao sul (v. nota 23) difuminam lindes. Oque talvez no se inclui Cantbria. Os cumes altos separam; mas tambm certo que, se a etimologiade cantabride Coromines atinar, seu nome significaria os do pas de abaixo, para o mar e esta qualifi-cao s pde ser atribuda pelos vizinhos do sul, com os que deveram ter vnculos estreitos.

    No h um tnico geral prprio; celtiberi claramente exgeno. Nem vejo o lugar santo ou nfaloscultual. Mas por horror vacuiproponho Uxama-Burgo de Osma(clt. *OUXSAM), estimada posiomdia por esse valor de a mais alta (congruente com um centro ao que se sobe). nico assomo deestrutura que tenho visto o que assinala Kuno Meyer e Coromines recebe:Are-vaciseriam os vaceusdo Leste. Em Estrabo , o nome dura emAravaca(< *AREWKK), lugar prximo do Esco-rial; logo seriam *ARE-WKKOI. Os Vaceus, dos que tiram nome, em latim eram vaccaei, forma quesupe o clt. *WAKKAIOI. Isto muito se assemelha ao lat. vaccae ao scrt. va. Eis os famosos tourosde Guisando; a teofania em figura de vacum parece ter sido favorita desta gente. A traduo dependedo valor antigo das palavras latina e snscrita, bastante isoladas, junto do cltico. Provavelmente a

    gente da Divina Vaca, com paralelos ndios.Compensando a mngua na tradio, a fortuna concedeu-lhes os melhores textos subsistentes do

    cltico, os bronzes de Botorrita.

    24 Ainda hoje o galico tem a desinncia de dativo -(a)ibh, que vem, no do dativo pl. -BO, mas do instrumental pl. *-BIS.

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    BBTTIICCAAAACCLLTTIICCAAEESSQQUUEECCIIDDAA

    ((CCAABBRRAA,,CCRRDDOOVVAA,,HHUUEELLVVAA,,OSSONBA, SEVILHA,BAETIS)

    Andaluzia sempre foi vista como Oriente em Ocidente, mesmo antes da onda islmica. Cdis e Mlagaso dados firmes dessa antiga presena do Mediterrneo oriental nas terras do sol-pr. Mas no interior asincgnitas deixavam campar a fantasia. Tartssios e outras mitologias disputavam encarniados o vazio.

    Na verdade a estavam os ignorados de sempre, os povos de lngua cltica. Nem a arqueologia nem as

    notcias antigas saciavam a curiosidade. Teve de ser a lingustica histrica a que veio dar uma chave paravarrer o longo olvido. Surpreendidos vemos a luz nova que devagar vai a cair na cena. Primeiro foramas etimologias de Sneca e Argantnio, depois as que Coromines topou na Serra de Andvalo. Maistarde abalou-nosIgabrum, o nome antigo da vila de Cabra. Postos na pista, pegamos a buscar e cremoster dado com as origens de Crdova, Huelva e restantes nomes rematados em -ubatono. E com as deSevilha e Btis.

    O tudo desordenado, sem que surja uma tripartio ou qualquer outra organizao interna do vastoterritrio. Juntarei os dados na ordem cronolgica das pesquisas. Primeiro preciso revisar o preteridoassunto da prtese de I mvil nos iberismos.

    OOFFAANNTTAASSMMAALL((HH))II((SS))--MMBBIILL

    Bezerrono pode ser separado do hispano-latino ibex, -iciscamura. Diz Coromines: Sabido es quela desaparicin de una I- es frecuente en los iberismos... (DCECeH, becerro, nota 2). , o I- aparece edesaparece em palavras do substrato e da toponmia hispana sem razo aparente.

    A mobilidade sugere a vogal ser um pronome demonstrativo fraco ou j um artigo. Vem roborar apresuno o velho nome da cordovesa Cabra,Igabrum, que de etimologia patente. Cabra foi famosapelo cordovo, coiro de cabra curtido suave e resistente. Tal fama si ser atribuda Crdova islmica,mas era mais velha.Igabrum cltico: galicogabor(irl.gabhar, escocsgobhar), galsgafr[gavr],crnicogavare bretogabrougaffr, vm do velho GABROS, documentado em gauls. de gneroepiceno, de toda a espcie, cf. cabra, epiceno feminino.

    Como soavaIgabrum, bvia grafia latina? Os I e U breves latinos, laxos, algo abertos, equivaliam aosE e O breves fechados clticos, cf. Coromines e Hubschmied. As nasais finais eram fracas, realizadas em

    geral na nasalidade de vogal anterior; hoje usamos graf-las com -N. A escrita cltica seria *GABRONou *IGABRON, neutro de valor similar ao atual. A meu ver cumpre escrever * IGABRONe traduzir o(que ) caprino. Para alm da alegria do achado, deixa-nos o corolrio do demonstrativo-artigo. Quese reencontra no nome velho de Martos, Jam, zona sempre julgada ibera. Surge na forma dupla TucciouItucci(gr. T). o cltico *I TUKKEo (que ) crasso, pingue, gorduroso, cf. Tucca, tuccetume*tuccnum. Gordura era metfora da riqueza; melhor fora traduzir (oppidum) da riqueza, rico.

    As palavras com prtese so clticas e o gnero das duas, neutro. Se buscamos etimologia cltica aodemonstrativo ou artigo, as neoclticas no ajudam. no indo-europeu que h apoio: *i/eiserviu a fazerdemonstrativos em latim e germnico: latim is, ea, ide gtico is, ita. Tirando as neoformaes do femi-nino latino e dos neutros, ficam os prottipos *isanimado (depois masculino e feminino) e *iinanima-do (neutro). Guardemos isto.

    CCRRDDOOVVAA,,HHUUEELLVVAAEEOOUUTTRRAASSCoromines viu a desinncia tona de Cordba, Onba-Onba, Ossonba,Mainba, ser o sufixo -wa25.Depois creu ver timos bascos nos temas bsicos, mas aquilo era inobjetvel. O perfil indo-europeu dosufixo diz onde buscar. Cordbafoi *KRDW, do tema *KORDO-. Vejo a o gal. mdio crod,mod. crodh, gado; bens, riquezas, talvez de paralelo britnico26. O timo *KRODOStem mettese na

    25Actas del I Coloquio sobre Lenguas y Culturas prerromanas de la Pennsula Ibrica - 1974, Univ. de Salamanca, 1976, pp.

    123-124.26 Gals corddf. tropa; famlia. Incerto: pudera vir de *KORDou de *KORII.

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    primeira slaba, cf. os parentes achados por Pedersen e Pokorny: germ. *er(gt. hairda, ingl. herd,alem.Herde), scr. rdhas, eslavo ant. rda. Quadra adir gr. monto. Todo leva para o indo-europeu (neogramtico) *kordhose *kordh, de uma semntica afim degado(mas inversa: ganha-do > tropa de animais), depecnia,peclio(pecu-) e do germ. *feu- gado, que deu o baixo-lat.

    feudus. De Crdova Cabra, antesIgabrum-I GABRON (oppidum) caprino. Logo *KRDWpodetraduzir-se a (vila) dos gados (ou dos rebanhos). Se incerto, passemos a essoutras vilas de possveistimos *NW, *UXSNWe *MINW.

    Do fcil ao difcil, eis Ossonba, na costa ante Faro, no Algarve. O Mestre via impossvel o cltico27.

    O gnio a adormeceu. Cuido ser claro a termos *UXSNW. Por qu? Sculos depois (XII e XIII),os muulmanos chamavam-na Uknuba. O nico jeito de conciliar Ossonbae Uknuba o clt.*UXSNWa (vila) dos touros. No cabe escusar a grafia latina -SS-, nem o inequvoco -KS- rabe,inconciliveis com um proto-basco oso, que so ecos do cltico -XS- (fricativa velar surda + sibilantesurda), resultado de um indo-europeu -ks-. O ie. *uksn- touro reflete no clt. *XS, UXSNOS(gal. oss, galsych, pl.ychen, crn. pl. ohan, bret. md. pl. ouhen, mod. ochen), no germ. *oson(gt.auhsa, anglo-sax. oxa, alto alem. ant. ohso) e no scr. ukn.

    *NW incerto. Ideias abundam, mas o corpo breve resta certeza. S por encher vazio, traduzoa (vila) da gua. Stokes sups *ONO- para explicar os galicos onfaisf. mergulhar e onchmons-tro aqutico (lit. co de gua). Tambm cabe *NWde A- labializado, cf. var. gal. anf., palavrade glossrio roborada pelo gauls anampaludem do glossrio de Endlicher, que recua a *AN(Anas!,

    velho nome do Guadiana) e aparenta com o gt.fanilameiro, nrd.fenpaul, etc. Se que atinam osque veem Minoba ter sucedido a M, a mais ocidental colnia fcia, teramos a uma paretimo-logia em cltico, *MAINOWa (vila) do tesouro (consagrado), de acordo com paralelos.

    SSEEVVIILLHHAAVimos a probabilidade de o I mvel ser um demonstrativo fraco ou mesmo j artigo. E vimos ser casosneutros. Os casos animados, feminino e masculino, deveram ter o regular -S. Se que damos com (H)IS-,teremos ocasio de verificar a hiptese. EisHispalis, o velho nome de Sevilha, que no latino e do quecabe duvidar da transcrio. A vigncia do latim na Idade Mdia como lngua escrita tradicional leva-nos a fitar na transcrio rabe, certo reflexo da pronncia popular. Apesar das complexidades do alifato,no caso o nome aparece comoIxblia ,. Da quadra tirar algumas concluses:

    a) Descarta-se a aspirao inicial. O rabe, rico em consoantes larngeas, farngeas e aspiradas, casode hav-la no deixaria de refletir.

    b) O rabe no ter oclusiva labial surda (P) nada diz da consoante da segunda slaba. Ver-se- que alngua original podia ter combinatoriamente as duas pronncias, sonora e surda.

    c) O I tnico sem dvida um rasgo evolutivo do nome dentro do rabe. efeito da imelado rabe,frequente no hispano, pela qual um A passa para E, e s vezes para I.

    d) Quanto ao -A final, no Imprio o povo pronunciava *Ispliaou *Isblia, como nota a forma rabe.A meu ver, a flutuaoHispalis-*Ispliaencerra a chave da etimologia.

    Digo-o j. SobHispalisesconde-se o cltico *IS BALa vila. O genitivo *ESIS BALIS(e o restoda declinao) no podia entrar nos temas latinos. Vejamos primeiro o peculiar tema cltico em longo,e a seguir a difculdade de *BAL, *BALISvila.

    No indo-europeu (digamos-lhe neogramticopor simplificar) havia um tema feminino que no nomi-nativo e acusativo sg. apresentava -I(I mais vogal neutra ou laringal) e -I- no resto da de-clinao. O-Ivirou em -em snscrito e cltico e -Iem latim e grego. O rasgo cltico revelou-se no estudo donome fulcral da grande deusa cltica, *BRIGANT, g. *BRIGANTIS, por toda a parte conhecido naforma latinaBrigantia. A adaptao produziam-na os mesmos bilngues ao recuar a lngua local, nive-lando a declinao anmala. Na poca republicana dos contactos latinos com Hispnia, a adequao

    27 Op. cit., p. 124, linhas 15 e 16.

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    levou outro rumo. Respeitou o nominativo BALI, mas adindo o S do caso animado feminino. E por que*BALcom B-? Quais as razes para traduzi-lo assim?

    O cltico perdeu o fonema P indo-europeu. O cltico que no o recria desde KW(hispano-cltico eprotogoi-dlico) tinha um leque amplo para realizar o B, no limitado pelo trao de surdez. Alm disso, anascente lenio cltica das oclusivas intervoclicas criava uma oposio fontica, no fonolgica, ques notavam os de fora. Da as transcries latinas com P de palavras clticas de B etimolgico. O casomais claro Alpes, clt. *ALBES, mas h muitos outros. claro o caso do -PlontiumdePtolomeu, que vive no asturianoBelncio. Este nome prova a tradio fonolgica cltica. No caso em

    estudo a posio da labial no era intervoclica.Existiu *BAL, *BALISvila? Eis o gal. bailelugar; povo, vila; herdade masculino. O caso mais

    claro o nome oficial de Dublin,Baile tha Cliatha Vila do Vau das Paliadas, que na lngua antigafoi *BALIOSJTOUS KLTON. *BALIOSfoi o ie. *bhw-liio-, da raiz *bheu-. A flutuao do gnero de*BALIOS, BALIpara feminino no tem dificuldade. Sevilha l foi meramente a Vila.

    BBAAEETTIISSHouve o nome autctone indo-europeu *BAIT, g. BAITIS. Tem apoio neocltico? H, mas requer acla-rao pela distncia. O fcil o gnero feminino; quase todos os potamnimos eram femininos, eptetos daDeusa. Os rios no orbe cltico eram fronteiras e nos vaus travavam-se as batalhas, de gua na cinta. Noimaginrio medieval a cena seria nas pontes. Alm disso, o arcaico ethoscelta exigia nos guerreiros oalarde amedrontador, cf. os samurais, ao invs do mundo atual. Da tantos nomes de rios conter os con-ceitos louco e violento, como Mera (*MER). O gal. bathlouco, selvagem foi o clt. *BAITO-,em *BAIT, g. *BAITS, ou *BAIT, g. *BAITIS.

    QQUUEEMMEERRAAMMOOSSTTUURRDDUULLIIEETTUURRDDEETTAANNII??To ensarilhado anda na historiografia que desat-lo parece impossvel. Repetem-se palavras a ocultarque nada se sabe, alm das velhas notcias que no se sabe traduzir. Grande entusiasmo suscitou a tesede Schulten: tartssios,ramo dos etruscos, mas a alegria foi-se pelo esgoto, e cumpre recomear. So microscpio lingustico pode trazer luz, analisando o tema que fica trs tirar as desinncias de Turdulie Turdetani. Sempre junto dos Celticida Btica do oeste, fcil v-los parte dos tronesou *trodesclticos. Nas registos v-se seu percurso.

    1) Bem que Ptolomeu (no II d. C.) no o mais antigo autor a cit-los, sua notcia (II, 11, 22) podejulgar-se a do lar original da tribo. Situa trones no NO da Bavria, no alto vale do Meno, ao sul dosChattide Hessen, terra em paz julgada mbito da cultura cltica.

    2) Depois surge grande parte da tribo ao sul do Loire, na Turena(Tourainee Turenne), centrada emTrones(Tours). Ser o ramo de mais vasta fama, pelos seus filhos Gregrio e Martinho.

    3) De qualquer desses stios (ou doutros) veio Hispnia, talvez a incios do IV a.C., a onda dos*trodes(*turodeloi> lat. turduli) a apossar-se da Btica (Sevilha, parte de Huelva e Cdis) junto deuns celtici(armados de lana). Diz Estrabo (III, 1, 6) terem leis e crnicas de 6000 versos28, o quevai com o que Csar diz do ensino drudico e a tradio das Ilhas. Tanto tempo se creram sequela dostartssios, para Schulten etruscos, que a sua identidade cltica ficou invisvel. Diz Estrabo (III, 3, 5):arredor dele [cabo Nrio] moram os Clticos, parentes dos do Anas. Dizem que eles e os Trdulosinvadindo l [extremo NO] tiveram dissensos trs passar o Lima. Alm do dissenso, morto o chefe, aficaram esparsos. Da se dizer Esquecimento o rio 29. Posidnio tomou a tradio de clticos outrones, na fonte uma epopeia, com o tempo justo para ser registo oral em verso usual nas tribos.

    28Outros lm 6000 anos: deve ler-se v em vez do v dos cdices.

    29III, 3, 5: oov o, vv v. ooooovv v ooo ooo-vovov,vv oov ov ov.

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    TTRROONNEESSOOUUTTRROODDEESSTroneseram os da Bavria, talvez o lar original, os da Turena e os do calaicoTuronion. Nome da raizie. *teu- inchar-se; ser forte, de vasto futuro. No cltico deu TURO- forte, antropnimo hispano. Aampliao nasal no difcil; a explicar a dental, mais incerta, menos documentada. Mas oov(g. pl.) uma tribo calaica que Ptolomeu pe nos brcaros, na confederao grvia, do Sul. Apesar datorta geografia ptolemaica, a qualificao de o til. Estes *ooso os de Turonion,

    brcaros, no os rtabros de Tordoia. Os dous temas (Turod-e Tron-) coincidem no ponto. DizamosTurduli(< *Turdeloi) ser sncope de *Trodeloi, forada pela desinncia adida dos latinos. Igual nosinnimo Turdetn, com a desinncia obscura -tn.

    TTRROODDEESSNNOOCCLLTTIICCOOIINNSSUULLAARRH uma voz galica oportuna, oculta pela mudana voclica e o disfarce semntico: tuirpilar, coluna,

    pl. tuirid, tema dental30. Diz Vendryes que au figur tambm sustento, suporte (a falar de um ho-mem), heri, chefe. Tiro-lhe o figur. Tuirsofreu o influxo de tor(< lat. turris) e de tr(< fr. tour),sobretudo no gnero feminino. Tuiridfoi *TRODES, forma igual de Ptolomeu. A relao com a raizindo-europeia clara: colunas e capites devem ser fortes e suportar teitos e povos com fora suficiente. palavra importante por fazer parte do nome irlands da batalha divina, a Cath Maighe Tuired, semprevertida (mesmo eu) Batalha do Campo dos Pilares, mas nada tolhe verter Batalha do Campo dos He-ris. Valores inextricveis no adj. tuiredach(< *TURODKO-), fornecido de colunas e poderoso.

    Ao cabo oportuno buscar o nome da Cltica esquecida.Btica cltico, mas meramente tpico.No usual designar um pas por um rio. A meu ver, o nome esconso foiHispnia. A tradio medievalque o dava metade sul da pennsula, Espanha islmica, no nasce nos muulmanos dum acaso geo-grafico, arraiga numa tradio remota.

    HHIISSPPNNIIAAVolvamos etimologia deHispnia. As pnicas giram no vazio sem atingir certeza. O demonstrativofraco ou j artigo visto naBtica(e emIgnatiuseIdatius) parece trazer uma luz como a que Renfrew eAlinei-Benozzo deitaram na questo indo-europeia. Aqui tambm surgem folguras que antes no havia.

    O demonstrativo-artigo coincide no feitio com o demonstrativo anafrico indo-europeu reconstrudo,

    que nas neoclticas deu os pronomes pessoais de 3, um paralelo com o lat. illeno rumo romnico. Vai aseguir a reconstruo de Lewis-Pedersen31com negrita, preenchida com conjeturas posteriores:

    Singular PluralMasc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro

    N is s id ouido ioi iis V i s id ouido ioi iis Ac in sian/sn id ouido ss ss I ii ii ii iobis ibis iobis

    D iii iii iii iobo ibo ioboAb iid esis iid iobo ibo ioboG esio esis esio eson esn esonL iio iii iio esu esu esu

    Cabe traduzir este, esta, isto. Algures (neoclticas) deu pronomes pessoais de 3, e cruzou-se comoutros demonstrativos. Alhures (cltico hesprico) enfraqueceria para virar artigo. A era ldimo artigo,na sua forma mais arcaica: ispara masculino-feminino (gnero animado) e ipara neutro (inanimado). Ofacto pesar na futura reconstruo do cltico. Eis o paradigma do demonstraivo-artigo, com o dual:

    30Em tuirido primeiro I no soa; nota a palatalidade do R. O forte tom inicial fazia do segundo I uma vogal neutra, colorida

    de I pelo D palatal, palatalidade por sua vez vinda do E desinencial (-des), que tingiu o D antes de cair.31

    A Concise Comparative Celtic Grammar, Vandenhoeck & Ruprecht, Gotinga, 1961, p. 216.

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    Singular Plural DualMasc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro Masc. Fem. Neutro

    N iiss iiss ii ioi iis iou iai ioiV i i i ioi iis iou iai ioiAc in in i ss ss iou iai ioiI ii ii ii iobis ibis iobis iobn ibn iobnD iii iii iii iobo ibo iobo iobn ibn iobnAb iid esis iid iobo ibo iobo iobn ibn iobn

    G esio esis esio eson esn eson iou iou iouL iio iii iio esu esu esu iou iou iou

    Difcil Hispniano coincidir no elemento inicial comHispalis. A atinavam os antigos, de SantoIsidoro de Sevilha adiante. Vejamos objees possveis; a destaca o P, em palavra suposta cltica.Aplica-se o visto em Sevilha da fortuna das labiais sonoras clticas no ouvido dos forasteiros. O cltico

    perdera o fonema P indo-europeu e os dialetos clticos que no o recriaram depois desde o KW(hespricoe protogoidlico) tinham um amplo leque para realizar o fonema B, no limitado pelo trao de surdez.

    A incipiente lenio cltica das oclusivas intervoclicas fazia a diferena fontica, no fonolgica, snotada pelos de fora, entre o B intervoclico e o que no era. Assim como os latinos tomaram com P

    palavras clticas de B etimolgico no intervoclico. Notvel Alpes, clt. *ALBES, mas h outras,como, em posio inicial, o -Plontium de Ptolomeu, que hoje dura no asturianoBelncio,

    provando a tradio fonolgica cltica. No caso presente a posio da labial no era intervoclica e arealizao era marcadamente oclusiva e algo ensurdecida.

    A via a percorrer na busca do tema central breve. Chega revisar a letra B dos lxicos neoclticos,nomeadamente galicos, na busca de um adjetivo feminino de timo *BNIou *BNI, com umsentido que apresente paralelos na designao de territrios. S damos com o adjetivo gal. bnbranco;

    brilhante, puro, verdadeiro. Isto teima no conhecido simbolismo da cor branca na cultura cltica;as palavras para branco eram a par belo e santo.Bnfora *BNO-, indo-europeu *bh-no-ou*bh-no-(Vendryes). germnico: anglo-sax. bnianrendre brillant e alem. bohnen. A raiz *bh-ou *bh- brilhar, luzir, donde scr. bhtiele brilha, bhnamfulgor luminoso, grego luz,fao visvel, manifesto, etc.

    O adjetivo *BNO- d *IS BNa branca, que ainda no *IS BNI. Pode verter-se a (terra)

    da Branca, Brilhante. Caso similar Albio,Albionis(clt. *ALBI, ALBIONOS), que tambm fala nacor alva. outro dos eptetos principais da deusa cltica, no fundo sempre uma Me Terra. Ora, difcil distinguir a terra da deusa, o positivo do derivado, que constantemente se confundem. A relao comhispnus obscura e pode suspeitar-se este ser um derivado regressivo, de todo secundrio.

    No deixarei de falar da extenso geogrfica do nome. antiga a tradio muulmana de designarcom o nome deEspanha metade sul da pennsula, na altura a islmica. Comeou por aludir Btica,

    primeiro sector da pennsula atingido pelos latinos. Depois, o nome estendeu-se por metonmia. *ISBNI, ou *IS BN, tem todas as caractersticas prprias para ter sido o nome local da Cltica btica.

    As teses pnicas tm o consolo de ter havido decerto nessa palavra uma mistura inextricvel deparetimologias, pelas quais cada lngua e cultura cria ver nela um sentido prprio, quaisquer queatinasse. Contudo, no fundo de tudo cuido que os aborgines do Sul, de lngua cltica, os mais antigos no

    territrio, lhe diziam sua terra:**IISSBBNNII,,ggeenniittiivvooEESSIISSBBNNIISS

    (ou **IISSBBNN,,ggeenniittiivvooEESSIISSBBNNIISS)

    a (terra) da (Deusa) BrancaNo ignoro que h argumentos no fechados, mas consistentes para suster a tese semtica; mas

    preciso p-los no contexto. Creio que se pode atingir uma explicao integrada, que decerto vir roborara complexidade da pesquisa etimolgica. Aceito os estudos dos semitistas eu no o sou e incluo um

    jogo de paretimologias.

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    1) Primeira certeza o nomeHispania os romanos t-lo herdado dos pnicos, no quadro da guerraque os defrontou. Tomarom o nome e a interpretao, a meu ver paretimolgica. Diz-se vir do pnico Y+ SPNYHilha coelheira (Bochart) ou de Y + SPNYMilha dos coelhos (Littmann). Os latinos criamnisso, como notam textos de Ccero, Csar, Plnio o Velho, Cato, Tito Lvio. Concludente Catulo aochamar pennsula de cuniculosa.

    2) Os cartagineses tinham a maior implantao na costa sul, isto , na Btica, alm das presenaspontuais em longes costas do seu mundo comercial, como Cartagena. Da ser altamente provvel que onome tenha sido aplicado num incio, no a toda a pennsula, mas Btica. O nome grego da pennsu-

    la,, paralelamente parece ter correspondido costa do levante, viesse ou no do rio Ebro.3) No tempo da Reconquista o nomeEspanhaaplicava-se metade sul, mais precisamente muul-

    mana. Isso pode interpretar-se como uma inovao, ou talvez seja melhor v-lo como um eco de umatradio local persistente.