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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
MARIA IGNÊS SCAVONE DE MELLO TEIXEIRA
A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO MUSICAL E A INFL UÊNCIA DOS
PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO
CURITIBA 2007
MARIA IGNÊS SCAVONE DE MELLO TEIXEIRA
A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO MUSICAL E A INFL UÊNCIA DOS
PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Stricto Sensu, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marilda Aparecida Behrens
CURITIBA 2007
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os meus mestres de ontem e de hoje, que contribuiram
para a construção do meu conhecimento na música, na educação e na vida, em
especial minha orientadora Prof.ª Dr.ª Marilda Aparecida Behrens.
RESUMO
A presente pesquisa buscou investigar teses e dissertações de mestrado e doutorado que tiveram como objeto de estudo a Educação Musical. Visou estudar a trajetória histórica da presença da música nas escolas do Brasil e do mundo, e procurou identificar os paradigmas da educação que envolvem este processo.Os procedimentos adotados na pesquisa foram estabelecidos pela análise de 13 trabalhos entre teses e dissertações selecionadas pelas palavras chave “Educação Musical”, “Música na Escola”, “Musicalização”, “ Ensino Musical”, fazendo um recorte de quatro desses trabalhos para um estudo mais aprofundado. As teses e dissertações pesquisadas apontam que aulas de música, desde as séries iniciais do ensino fundamental, são necessárias e imprescindíveis ao desenvolvimento das crianças. Assim, também o contato com a história da música, com os signos musicais e toda a sua complexidade, deve fazer parte da educação global do ser humano. A pesquisa buscou investigar se existe algum tipo de sistematização do ensino musical na escola que tenha inspirado estudiosos da área a construir uma didática que viabilize a introdução do ensino musical na escola brasileira. Este estudo tem ainda a intenção de servir de apoio aos educadores e outros pesquisadores para encontrar novos caminhos para tornar o ensino regular de música uma realidade e um direito a todas as crianças. No referencial teórico escolhido, destacam-se entre outros os trabalhos que dizem respeito às teorias sobre os Paradigmas da Educação encontrados em Behrens (2005), Yus (1998), Freire (1971,1986), sobre a História da Educação de Luzuriaga (1981), e sobre Educação Musical com estudos bibliográficos de Janibelli (1971). Os procedimentos adotados na pesquisa foram estabelecidos pela análise das teses de doutorado e dissertações de mestrado sobre Educação Musical, caracterizando uma abordagem de pesquisa qualitativa e do tipo estado da arte fundamentado nos modelos de Romanowsky (2002) e Romanowsky e Ens (2006). Na conclusão deste trabalho, observou-se que existe uma inquietação dos profissionais da área de música, no sentido de colocar esta disciplina nas escolas brasileiras, visando melhorar o ensino da música e as políticas para a inclusão desta disciplina no currículo das escolas em caráter definitivo. Palavras-chave: Educação musical. Paradigmas da educação. Histórico da educação musical.
ABSTRACT
This research investigated MA and PHD studies about Music Education. It aimed at studying the history of the presence of this discipline in Brazilian and foreign schools, and at identifying the educational paradigms throughout this historical process. The criteria used in this research were the analyses of 68 papers chosen in educational data banks, and among them 13 were selected by the key words “Musical Education”, “ Music in the School “, “Early Childhood Music Education“, “ Musical Teaching”, and among them 4 were selected for a deeper research. The main goal of the research was to verify the importance of Music Education through the history of the education, the reality of Musical Education in Brazilian schools, including the methods and syllabi, and the possibility of making Music Education accessible to all the children in Brazil. The main references for this paper were found in the Paradigms of Education (Behrens 2005), (Yus 1998), (Freire 1971, 1986), History of Education (Luzuriaga 1981) History of Music Education, bibliographic studies of Janibelli (1971). The method of the research adopted was “the state of the art qualitative research”, following the analyses of de Romanowsky (2002) e Romanowsky e Ens (2006). In conclusion, it was possible to notice that Music Education is a challenge among music teachers in Brazil, because this discipline is until this day not included in every student’s education or, sometimes, it is relegated to a limited time in the school schedule, and in accordance with the new paradigms of education every child should have Music Education. Key-words: Music education. Paradigms of education. Music education history.
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO .........................................................................................................8
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA.....................................................................................12
1.2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................12
1.3 OBJETIVOS .........................................................................................................17
1.3.1 Objetivo geral ............................................................................................17
1.3.2 Objetivos específicos ..................................................................................17
1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA ...............................................................................17
2 VISÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO MUSICAL ................................................................20
2.1 PRÉ-HISTÓRIA.....................................................................................................20
2.2 SÉCULOS VI E VII .................................................................................................21
2.3 SÉCULOS XV E XVI ...............................................................................................22
2.4 SÉCULO XVII .......................................................................................................24
2.5 SÉCULO XVIII ......................................................................................................25
2.6 SÉCULO XIX ........................................................................................................27
2.7 SÉCULO XX .........................................................................................................27
2.7.1 A contribuição de Emile Jaques Dalcroze .........................................................28
2.7.2 A contribuição de Carl Orff ..............................................................................29
2.7.3 A contribuição de Zoltán Kodaly ......................................................................30
2.7.4 A contribuição de Shinichi Suzuki ....................................................................31
2.8 VISÃO HISTÓRICA INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO MUSICAL ...................................34
2.9 VISÃO HISTÓRICA DA MÚSICA NO BRASIL ..............................................................44
3 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO E OS PARADIGMAS .............................................................53
3.1 O PARADIGMA CONSERVADOR E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO MUSICAL .............60
3.2 PARADIGMAS INOVADORES E A EDUCAÇÃO MUSICAL.............................................63
4 CAMINHOS TRILHADOS NA PESQUISA ........................................................................71
4.1 ESTUDOS SELECIONADOS SOBRE A TEMÁTICA ......................................................73
4.2 A ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE A EDUCAÇÃO MUSICAL E
APONTAMENTOS SOBRE OS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO. ..........................................94
4.2.1 As Contribuições de Araújo (2001) ...................................................................96
4.2.2 As contribuições de Moura (1984) ....................................................................98
4.2.3 As contribuições de Gonçalves (2003) ............................................................101
4.2.4 As contribuições de Del Ben (1997) ................................................................107
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................112
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................116
ANEXO A - LISTA DAS TESES E DISSERTAÇÕES QUE COMPÕE M O ESTUDO ..................123
8
1 APRESENTAÇÃO
Na trajetória de professora de Educação Musical e Piano atuando desde 1980
até hoje, passando por diversas experiências em escolas de música no Brasil e no
exterior, a autora da presente pesquisa, optou por realizar uma investigação das
contribuições da educação musical para o desenvolvimento da formação das
crianças.
A musicalidade nasce com as crianças e, por volta dos 3 anos de idade, já
possuem aptidão para o aprendizado de um instrumento musical e tocam com
naturalidade e facilidade quando corretamente orientadas.
O aprendizado musical por meio das experiências: corporal, auditiva e oral, a
chamada “musicalização infantil”, prepara a criança para a familiarização do
ambiente musical cuja freqüência e repetição muito lhes agrada tornando o ato de
aprender música uma experiência prazerosa e lúdica.
Quando a prática musical das crianças caminha junto à afetividade do
docente e da participação efetiva dos pais no processo de aprendizagem, os alunos
podem obter melhores resultados na prática musical. Estes resultados, em geral,
ajudam nos hábitos para o exercício da atenção, e no desenvolvimento de
procedimentos que podem favorecer seu aproveitamento escolar em outras
disciplinas.
A experiência vivenciada como docente permite afirmar que crianças que no
início do processo de aprendizagem musical apresentam características de
indisciplina e falta de concentração, não só nos exercícios musicais, mas ainda nas
outras atividades da escola, em geral em poucos meses evoluem para o hábito da
atenção que as leva a vencer as dificuldades que a execução musical apresenta
àqueles que a praticam.
Parece simples tocar um instrumento musical, porém é preciso lembrar que
esta prática requer uma acurada coordenação motora e disciplina. No piano, por
exemplo, para tocar é necessário que haja uma coordenação entre as mãos
esquerda e direita que produzem movimentos muitas vezes diferentes, alternados,
polirítmicos, contrapontísticos, com efeitos de uma dinâmica que requer a
alternância do toque forte e fraco, rápido e lento, sons e silêncios, contagem de
tempos e leitura de notas musicais.
9
Todo o corpo entra em ação na execução de uma peça musical no piano,
incluindo os pés nos pedais, a respiração para contagem dos tempos, a memória, a
leitura, que é feita de modo vertical e horizontal simultaneamente na pauta musical,
com símbolos diferentes a serem decodificados e tocados em cada mão, além da
audição e, sobretudo, a emoção e a criatividade.
Toda esta gama de informação, embora complexa, pode tornar-se fácil, a
partir de uma orientação adequada e muitos exercícios práticos por parte do
interprete, que antes de tudo adquire o hábito da atenção para o desenvolvimento do
seu talento musical. “Podemos escolher focalizar nossa atenção onde quisermos,
nossa concentração se desenvolve e as coisas freqüentemente parecem se
aprimorar com o mínimo de esforço” (BARRY, 1987, p. 33).
As aulas de musicalização, com jogos rítmicos musicais, quando utilizam as
canções folclóricas nacionais, que já são assimiladas desde a mais tenra idade
pelas crianças, tornam-se ainda mais fáceis e agradáveis pela familiaridade que as
crianças encontram em suas melodias.
É comum numa aula de música a criança pedir para que ela mesma repita
muitas vezes um trecho musical que julga não estar totalmente dominado, seja na
prática da musicalização ou no próprio instrumento musical. As crianças quando
aprendem um instrumento com alegria apreciam, a disciplina, a ordem e ficam
encorajadas a vencer novos desafios a cada conquista realizada.
Este procedimento pode trazer benefícios à auto-estima da criança, quando
esta consegue executar uma peça musical com qualidade, por mais simples que
seja a obra. ”Nós temos que praticar e educar nossos talentos, isto é, repetir as
atividades até que elas aconteçam naturalmente, de modo fácil e simplesmente”
(SUZUKI, 1993, p. 43). Por outro lado, a repetição poderá se tornar um empecilho no
ensino-aprendizagem quando mal orientada, desestimulando os alunos.
Muitos ex-alunos de música, quando entram no mundo do trabalho exercendo
as outras profissões que optaram que não a música, voltam a procurar na prática
musical um caminho para a ampliação de uma atividade artística, ou ainda como um
entretenimento, pois, uma experiência musical relevante e edificante na infância
torna-se um hábito prazeroso que em geral se mantêm ao longo de toda a vida. “A
verdadeira educação, reforça a capacidade de continuar a dar sentido à vida, à
medida que ela se desenvolve” (FLETCHER apud FERGUSON, 1995, p. 303).
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As aulas de jogos rítmicos musicais, ou musicalização, podem dar uma
contribuição efetiva nas escolas brasileiras de educação infantil. As experiências
vivenciadas na docência de educação musical por esta autora no decorrer de sua
carreira, demonstram que a presença constante e sistematizada da Educação
Musical na escola e na vida das crianças é um procedimento que pode valorizar a
educação global do ser humano.
Professores de música, muitas vezes ouvem depoimentos de pais, que
acreditam que o desenvolvimento criativo, a capacidade de improvisação, de
concentração, a auto-estima e a disciplina de seus filhos, se devem à educação
musical que estes receberam desde a primeira infância.
Pessoas que se tornam profissionais da música têm seu trabalho valorizado
quando encontram uma platéia com uma formação musical que seja capaz de ter
conhecimento para a compreensão das obras de arte apresentadas nas salas de
concerto, ou qualquer outro tipo de mídia. Um público com noções de música pode,
com mais consciência e informação, desfrutar da beleza dos conteúdos que as
obras musicais apresentam, que levam à sensibilidade, e ao contato com as
emoções.
A construção do conhecimento integral, deveria incluir a prática artística, para
aprimorar nas crianças o senso estético e a visão do todo, cujos fundamentos são
encontrados nos relatos apontados no paradigma holístico da educação (CAPRA,
1996; MORIN, 2001).
A inclusão do ensino musical na educação infantil é uma discussão recorrente
nos congressos e apontada nas dissertações e teses que envolvem os profissionais
da música, em especial pelas inquietações que esse assunto provoca. No meio
acadêmico, têm sido motivo de investigação, os benefícios que norteiam a prática e
o aprofundamento do conhecimento musical, para o desenvolvimento e a formação
do indivíduo.
Estudar música é ainda, na nossa sociedade, uma oportunidade para poucos,
apesar de ser uma disciplina que contribui para delinear a formação cultural, além de
possibilitar ao aluno ampliar seu conhecimento, para que possa, por meio dele,
buscar seus talentos (GONÇALVES, 2002).
No currículo do ensino fundamental, cada disciplina incluída cria uma
diversidade de opções de conhecimento teórico que a escola oferece aos seus
11
alunos, porém a música não acompanha esse processo crescente de
aprimoramento. Em geral, as escolas não dispõem de material didático para
propiciar a aprendizagem de conteúdos relevantes para a formação e a construção
do conhecimento musical. Outro fator importante a ser destacado, é relação da
música com as demais disciplinas, ou seja, a interdisciplinaridade.
A intenção desta pesquisa é investigar os temas discutidos por profissionais
da área de educação musical, seus objetivos e conclusões, bem como as sugestões
didáticas e pedagógicas desses profissionais, para contribuir no aprimoramento do
ensino musical na escola.
Há muito se discute a importância de se acrescentar no currículo das escolas
de ensino fundamental mais opções teóricas do ensino musical, visando a
aprofundar o seu conhecimento. Nesse sentido:
Nos países de primeiro mundo, a música é elemento fundamental na educação. A Educação Musical é praticada de maneira regular nas escolas de todos os níveis, buscando não só objetivos artísticos musicais, mas, sobretudo desenvolver nos educandos a percepção de maneira geral, na expectativa de torná-los mais sensíveis e criativos no seu próprio ato de viver (GONÇALVES, 1996, p. 23).
A disciplina de educação musical no ensino fundamental precisa envolver o
estudo das imagens das figuras musicais (que incluem os módulos rítmicos, as
figuras de notas, as claves, as notas musicais escritas na pauta e toda a simbologia
dos signos musicais), o conhecimento histórico dessa disciplina, enfim, todo o
universo musical trabalhado na teoria e na prática.
O conhecimento de música erudita dos diversos períodos, incluindo o século
XX, o contato com a música brasileira nas diferentes épocas e estilos pode
enriquecer e apresentar a arte musical como uma abertura cultural ao universo da
criança.
As implicações da construção do conhecimento musical das crianças estão
de acordo com a citação: “ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a
qualquer forma de discriminação” (FREIRE, 1996, p. 35). É, portanto, necessário
levar o conhecimento musical às escolas brasileiras, desde as bases teóricas até as
inovações que ocorrem na educação musical.
12
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
A formação de professores para atender às aulas de música, desde as séries
iniciais do ensino fundamental, é necessária e imprescindível ao desenvolvimento
das crianças. Considerando que o contato com a história da música, com os signos
musicais e com a sua complexidade como parte da educação global da pessoa,
certamente contribuirá para uma melhor construção do desenvolvimento do
indivíduo, surge a seguinte pergunta, que norteará este trabalho:
Com base em pesquisas sobre Educação Musical, defendidas em teses e
dissertações que tratam sobre o estado da arte realizadas no Brasil de 1991 a 2003,
e excepcionalmente uma dissertação de 1984, também incluída, busca-se investigar
o seguinte problema: quais são as contribuições que as pesquisas realiza das
em dissertações e teses sobre educação musical, def endidas entre 1991 e
2003, com a inclusão de uma dissertação realizada e m 1984, apresentam para
o ensino de música, qual é o paradigma pedagógico q ue vem caracterizando
essa área de conhecimento, e no que essas observaçõ es, as discussões, as
sugestões e os avanços a que se chegou, podem contr ibuir para o ensino da
música?
1.2 JUSTIFICATIVA
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) indicam o campo das Artes e
apresentam na primeira parte do documento, os objetivos, a apresentação, a análise
e a proposição de encaminhamento para o ensino e a aprendizagem de Arte no
ensino fundamental:
Na proposta geral dos Parâmetros Curriculares Nacionais, Arte tem uma função tão importante quanto à dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades. A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação
13
de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. Esta área também favorece o aluno ao relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo. Por exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático.
O processo de aprendizagem que inclui a arte no currículo das escolas tem
importante papel no desenvolvimento dos alunos, com todos os benefícios citados
no documento dos PCNs - Artes , com o aprimoramento da percepção e demais
experiências vivenciadas pelo exercício das artes, inclusive para melhor
desempenho nas outras disciplinas do currículo escolar.
O documento prossegue com a seguinte citação:
Uma função igualmente importante que o ensino da arte tem a cumprir diz respeito à dimensão social das manifestações artísticas. A arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significados e valores que governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na sociedade. A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais. Essa forma de comunicação é rápida e eficaz, pois atinge o interlocutor por meio de uma síntese ausente na explicação dos fatos. O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido (PCNs, 1997, p. 14, v. 6).
Segundo o documento, nota-se que além de refinar o desenvolvimento dos
sentidos, a arte é fator preponderante na socialização das crianças, e abre
possibilidades mais abrangentes do conhecimento por meio da linguagem artística,
da criação, dando oportunidade ao sonho e fortalecendo o imaginário infantil.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Fundamental (LDB) de
1996, no ensino regular fundamental são abordados conhecimentos gerais que
incluem matemática, português, história, ciências, entre outras disciplinas, como
também religião, artes e educação física. Essas áreas do conhecimento são
contempladas com documentos de apoio, entre eles os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs, 1997, v. 6), para o aprofundamento dos conteúdos a serem
abordados, direcionados segundo a faixa etária dos alunos.
A proposição sobre ensinar arte e aprendê-la tem por finalidade apresentar ao
professor uma visão global dos objetivos, critérios de seleção e organização dos
14
conteúdos, orientações didáticas e de avaliação da aprendizagem de arte para todo
o ensino fundamental.
No que diz respeito à música, existe uma discussão permanente entre os
educadores musicais, no sentido de definir uma posição eficiente para a introdução
definitiva do ensino da música no ensino fundamental. Com referência a esse
desafio, encontramos a seguinte citação: propõe: “pleitear a participação da música
de forma adequada e definitiva no quadro disciplinar das instituições de ensino
regular é uma das expectativas de realização para muitos dos que se dedicam ao
ensino dessa arte” (GONÇALVES, 2003, p. 2).
O entendimento dessa realidade demonstra o quanto a separação dessa
disciplina do contexto geral da educação relega o desenvolvimento de habilidades
artísticas e especificamente musicais a um âmbito de pouca ou nenhuma
importância dentro do processo educativo e, muitas vezes, compromete a
necessária interdisciplinaridade. Para Gonçalves (2003) a educação interdisciplinar,
em consonância com a educação musical, traz para suas práticas os exercícios que
trabalham a liberdade.
Corresponde à realidade a impressão de que a educação musical no ensino
fundamental é muitas vezes o resultado de abordagens ministradas por professores
de artes que não têm formação em música. Isto significa que a escola não tem
levado em conta os benefícios de seu aprendizado para o desenvolvimento dos
alunos, A inclusão dos aspectos culturais que envolvem o ensino-aprendizado da
música, agregariam os conhecimentos para uma melhor formação das crianças.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o ensino da música
deve abranger os requisitos que incluam a comunicação e expressão em música,
interpretação, improvisação e composição. O documento se refere ainda, à
importância da apreciação significativa da música, da escuta, do envolvimento e
compreensão da linguagem musical.
As proposições dos PCNs (1997) relativas à música são bastante relevantes
no que diz respeito a um conhecimento musical profundo. Mas para que toda essa
gama de conhecimentos seja construída na escola, faz-se necessária a inclusão de
uma carga horária própria para a formação dos alunos. Cabe então lembrar a
importância que assuntos como improvisação, interpretação, composição e os
demais itens incluídos naqueles PCNs (1997), requerem para uma educação
musical aprimorada e bastante avançada bem como professores bem preparados.
15
Segundo os PCNs (MÚSICA, 1997), alguns dos aspectos do conhecimento musical
a serem abordados com os alunos incluem a produção sonora, a escrita musical, o
ritmo, nuanças de dinâmica (ou seja, de intensidade dos sons), timbre, ouvido
musical, tonalidades, a atuação de um maestro na orquestra, os instrumentos da
orquestra e suas funções no grupo musical, introdução à história da música num
estudo comparativo com as demais artes e estilos de época, o resgate do folclore
nacional, a música popular brasileira, os grandes nomes da música de todos os
tempos, entre outros. Todos esses temas, quando trabalhados e aprofundados,
representam um acréscimo à cultura geral dos educandos e poderão, ainda, inspirar
novos talentos para a arte musical.
Essa gama de informações, não raro, só é adquirida por poucos privilegiados,
que têm uma situação sócio-financeira que possibilita não apenas o acesso a
escolas particulares que, em alguns casos, oferecem aulas de música, mas também
a escolas ou conservatórios de música onde essas abordagens são estudadas e
aprofundadas.
Segundo os textos encontrados nos PCNs (MÚSICA,1997, v. 6), fica claro
que é preciso abrir espaço para que música seja trabalhada na sala de aula e seja
acolhida e contextualizada .Os textos ainda se referem ao fato de que “a inclusão da
base musical de todas as culturas até o século XIX no ensino fundamental, dá ao
aluno maiores oportunidades para o desenvolvimento de uma inteligência musical”
(PCNs, 1997, p. 48).
As dissertações de mestrado e teses de doutorado estudadas na presente
pesquisa, podem contribuir para informar se existem suportes pedagógicos
adequados disponíveis, e incentivos para se fazer um trabalho mais aprofundado de
educação musical no ensino fundamental.
Seria uma perda para a educação se as abordagens da prática musical na
escola fossem limitadas apenas às comemorações de datas ocasionais (dias das
mães, páscoa, festa junina, entre outras.) sem a preocupação de utilizar a atividade
artística como elemento construtor do processo de desenvolvimento dos alunos.
Conforme a citação a seguir: “o potencial educativo de música é amplamente
conhecido, porém nem sempre explorado pelo professor, devido às dificuldades em
encontrar orientação sistematizada nesse sentido” (ZAGONEL, 1989, p. 9).
A arte se integra a várias áreas do conhecimento, pois traz em seu bojo uma
visão de mundo mais ampla. Acredita-se que o indivíduo que tem a oportunidade de
16
vivenciar as diversas linguagens artísticas, entre elas a musical, de maneira mais
aprofundada e sistematizada, terá uma concepção da realidade mais extensa e
estará, conseqüentemente, melhor instrumentalizada para a vida. Deste modo:
“podemos dizer que a musicalidade é uma forma de inteligência humana que
combina de forma muito particular e dinâmica capacidades e operações perceptivas,
motoras, associativas, emotivas, construtivas, simbólicas e racionais entre outras”
(FUKS, 2004, p. 81).
O estudo realizado das dissertações e teses, pode mostrar ferramentas já
pesquisadas que facilitem o ensino da música em diversos aspectos. Além disso,
também se buscou investigar se os estudos têm apresentado alternativas de
soluções no sentido de que professores e alunos tenham a oportunidade de entrar
em contato com essas abordagens artístico-musicais, a fim de que,
democraticamente, todos se beneficiem com a pluralidade do conhecimento.
Acredita-se que a acomodação, a falta de engajamento e de uma consciência
crítica que não levam em consideração as mudanças culturais, sociais, existenciais,
econômicas e, sobretudo, psicológicas e emocionais das crianças e dos jovens,
deve ser sanada em qualquer área educacional. Assim, a escola não pode se furtar
a utilizar novas formas de construção de conhecimento.
É importante notar que: “ensinar exige curiosidade, o exercício da curiosidade
que convoca à imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjeturar, de
comparar” (FREIRE, 1966, p. 98).
Nesse contexto, a música, entre outras manifestações de artes, poderia
auxiliar na formação de crianças, jovens e adultos.
No ensino da música, a imaginação, a intuição e as emoções, são
amplamente desenvolvidas. No entanto, o ensino da linguagem artística vai além
desses elementos, possibilitando o estabelecimento de relações entre a música e as
demais atividades escolares. Desta maneira, a música pode se tornar uma prática
com características que facilitem processos interdisciplinares, pois, “a lógica que a
interdisciplinaridade imprime é a da invenção, da descoberta, da pesquisa, da
produção científica, porém gestada num ato de vontade, num desejo planejado e
construído na liberdade” (FAZENDA, 2001, p. 19).
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1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo geral
Analisar pesquisas, constituídas por teses e dissertações sobre educação
musical, realizadas no Brasil entre 1991 e 2003, e uma exceção com data de 1984,
objetivando propiciar a exploração dos encaminhamentos constantes nesses
estudos e a investigação das possíveis contribuições para a inclusão da música na
escola, atendendo um novo paradigma no ensino e na aprendizagem da música.
1.3.2 Objetivos específicos
� Investigar o processo histórico da educação musical no Brasil e no mundo
e apontar contribuições relevantes ao ensino da música.
� Examinar, a partir do levantamento realizado, os paradigmas apontados
nas dissertações e teses quando caracterizam as preocupações e os
problemas encontrados no ensino da música dentro da escola.
� Levantar os problemas de pesquisa, os objetivos e as conclusões das
teses e dissertações selecionadas para estudo e análise, assim como
apontar contribuições relevantes para a proposição de um novo paradigma
na educação musical.
1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA
Para a elaboração deste trabalho foram eleitas as concepções encontradas
nas práticas de pesquisa que caracterizam a metodologia de pesquisa qualitativa e
do tipo estado da arte.
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Estados da arte podem significar uma contribuição importante na constituição do campo teórico de uma área de conhecimento, procuram identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática pedagógica, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras investigadas que apontem alternativas de solução para os problemas da prática e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focalizada (ROMANOWSKY e ENS, 2006, p. 39).
A sistematização do material já escrito e pesquisado em determinada área do
conhecimento, segundo Romanowski e Ens (2006), envolve os mais diversos
assuntos dentro do tema analisado, numa abrangente dimensão gerada pelos
diferentes aspectos encontrados em cada pesquisa.
A metodologia que se utiliza em pesquisas classificadas do tipo estado da
arte, inclui, segundo Romanowski (2002) e Romanowski e Ens (2006), a definição
dos pesquisadores selecionados, a pesquisa em todos os bancos de dados que
disponibilizam material sobre o assunto a ser pesquisado. É ainda necessário que se
estabeleça um critério para a escolha e coleta dos materiais a serem pesquisados,
leitura atenta e minuciosa, elaboração de sínteses, relatórios e conclusões sobre os
textos eleitos.
O conceito de método qualitativo, fundamentado nas concepções de Bunge
(1980), define este método como “um procedimento regular, explícito e passível de
ser repetido para conseguir alguma coisa, seja material ou conceitual” (BUNGE apud
ENGERS, 1994, p. 13).
O grande desafio da pesquisa em educação, segundo Zago (2003), é ter a
possibilidade de conexão, adquirida na análise detalhada daquilo que ocorre no
âmbito social e educacional do estudo em foco, e buscar conclusões consistentes
que proporcionem novas idéias, novos recursos e possibilidades de relações
significativas para o avanço do conhecimento, da prática educacional. É necessário
que se coletem dados que tenham uma base confiável, de uma procedência
rigorosamente fundamentada.
Situar o problema levantado nesta pesquisa no âmbito abrangente das
discussões encontradas nas teses e dissertações estudadas, interpretar os
resultados obtidos, numa comparação entre a posição dos pesquisadores e apontar
as sugestões que tenham a finalidade de contribuir para o avanço de uma
19
transformação na escola brasileira, visando à valorização crescente do ensino
musical, são os focos aqui pontuados.
20
2 VISÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO MUSICAL
Com o intuito de fazer uma abordagem histórica da presença da música e do
ensino musical ao longo da história, seguem os dados coletados nesta pesquisa
para situar a trajetória do ensino aprendizagem que envolvem o conhecimento e a
arte musical.
2.1 Pré-História
A história da humanidade inicia seus registros a partir da pré-história, no
período anterior à escrita; portanto, as comprovações arqueológicas dos utensílios,
habitações, de desenhos em cavernas, levam a crer que essa fase da história foi
dividida em três períodos: o da Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro,
na Europa e Oriente Médio.
Os instrumentos musicais já começaram a aparecer, desde esta época
remota, sendo que “cachimbos de vento”, flautas simples, datam de antes da Idade
da Pedra e foram achados em todo o hemisfério ocidental em tempos antigos.
Entre os mais antigos instrumentos musicais que se conhecem figuram alguns apitos, com cerca de 4000 anos, feitos com ossos de patas de rena, que foram encontrados na França. Do Paleolítico Superior também foram encontrados outros apitos em osso (sobretudo de aves de grande porte)-nos quais os estudiosos reconhecem os antecedentes dos vários tipos de flauta que evoluíram posteriormente, quer na Europa, quer no Egito, quer ainda entre algumas sociedades contemporâneas de índios da América. Tal não significa, no entanto, que os primeiros instrumentos a serem fabricados pelo Homem tenham sido forçosamente esses instrumentos de sopro.Na Gruta dos Três Irmãos, no Ariège francês, foram descobertas pinturas do mesmo período, nas quais os estudiosos identificaram o chamado arco-musical – que consistia num arco em madeira flexível, com uma corda de cipó tenso unindo as duas extremidades – considerado precursosr da harpa que é ainda usado em algumas partes da África do Sul e da Oceania. É uma das mais antigas representações conhecidas de um instrumento de cordas (AFONSO, 2001).
21
2.2 SÉCULOS VI E VII
Com o predomínio do cristianismo, a educação na Idade Média, segundo
Luzuriaga (1981), não criou grandes teóricos, mas sim muitos educadores,
sobretudo ligados a monastérios, sendo eles monges e eclesiásticos.
Mesmo os grandes teóricos, como Santo Tomás de Aquino e Alberto Magno,
entre outros, dão grande ênfase à filosofia, à fé, sem contudo dá-la especificamente
à educação.
Santo Isidoro, no entanto, criou diversas escolas e “é o autor das famosas
Etimologias, que serviram de texto nas escolas da Idade Média” (LUZURIAGA,
1981, p. 90). Ainda segundo Luzuriaga (1981), Cassiodoro, que foi um monge
beneditino, exerceu grande influência na educação monástica e, por meio de seus
escritos, deu ênfase à introdução das artes na educação.
A arte na educação na Idade Média estava voltada para o ensino do canto,
para a formação de cantores. Segundo Araújo (2001), a formação de cantores tem
forte influência do catolicismo já que tinha o predomínio do controle da educação.
O papa Gregório Magno (590 a 604) fundou a Schola Cantorum, que foi a
precursora dos conservatórios e organizou a música que fixou a melodia católica
que recebeu o nome de canto gregoriano. Mais tarde esse canto foi denominado de
cantochão por serem seus sons com durações iguais, notas iguais, sem
diferenciação na intensidade (ANDRADE, 1987). Na Schola Cantorum aprendia-se
canto, prática instrumental, harmonia e composição, sendo a música sempre voltada
para os serviços litúrgicos.
Na crítica de Mário de Andrade, “o canto gregoriano apresenta musicalmente
a essência do ideal e mais íntima da religião católica e foi a criação mais sublime
que ela deu em música. É dogmático, humilde e anônimo” (ANDRADE, 1944, p. 44).
No século XIII, segundo Luzuriaga (1981), o pensador espanhol Raimundo
Lúlio (1232-1315), foi um grande estudioso que se devotou à evangelização e que
dedicou uma obra ao seu filho, chamada Doutrina Pueril, cuja pedagogia enfatiza e
recomenda “seguir a natureza na educação e no estudo da língua materna, assim
como a seleção de alunos, professores e matérias de ensino segundo as aptidões”
(LUZURIAGA, 1981, p. 92).
22
Cabe aqui ressaltar uma significativa visão humanista do pensador medieval,
que acreditava no respeito à natureza na educação e no desenvolvimento da língua
materna No mesmo sentido, o pedagogo espanhol Lúlio (1232-1315) demonstrou
grande sensibilidade pelas características do fenômeno holístico na educação, na
busca de uma sociedade austera e rígida, em que todos os processos educacionais
eram permeados pelos ditames clericais.
2.3 SÉCULOS XV E XVI
A partir do século XV, na Renascença, surge a grande reforma
Renascentista, que descreve uma nova concepção do homem e da vida, que afasta
o homem da visão triste, peculiar à Idade Média, e inaugura o viver com alegria e
prazer, segundo Luzuriaga, (1981). Influenciaram nessa nova era os grandes
descobrimentos geográficos, o desenvolvimento comercial; no aspecto educacional,
há uma ruptura da submissão religiosa (LUZURIAGA, 1981).
Segundo Mário de Andrade (1944), no século XV a música começa descobrir
um mundo novo. Ela que era feita nos parâmetros dos costumes, da fé religiosa e da
tradição, passou a ser analisada sob o ponto de vista estético. Assim, surgiram
grandes discussões sobre como se devia fazer arte, incluindo inclusive a opinião das
mulheres, que já podiam se manifestar na criação e na crítica musical e literária.
Ainda neste século “a influência humanista foi maior no ensino e cultura
superior em academias fundadas no estilo platônico e em ateneus docentes”
(LUZURIAGA, 1981, p. 95). Surgiu na organização escolar o Colégio, também
chamado de escola secundária, em que se ensinava grego e latim. A difusão da
cultura e da música influenciou a população em geral, que tinha acesso aos
espetáculos artísticos. A educação na Renascença deu grande atenção aos
exercícios físicos, que incluíam natação, jogo de bola, dança, salto, corrida,
equitação, entre outros, e à população em geral estimulava-se o ensino de grego e
latim, além da língua materna e do conhecimento musical.
A educação humanista da Renascença, de modo particular no século XVI, na
Espanha, chama atenção pelas novas idéias adotadas, sobretudo no aspecto
literário e artístico. Foi a primeira a aplicar a psicologia à educação. Segundo
23
Luzuriaga (1981), a figura de Juan Luís Vive (1492-1540) contribuiu para a inclusão
da psicologia educacional, pois acreditava que o ensino deveria ter como ponto de
partida as impressões e sensações para que a imaginação viesse a fluir com
naturalidade, sendo que a razão tem a função de intervir no discernimento dos
sentidos. Na pedagogia daquele pensador, encontrava-se o incentivo ao
experimento, à pesquisa, o que o coloca à frente de outros pedagogos pela
utilização de paradigmas educacionais mais ousados, em que recomendava
inclusive a crítica aos dogmas e experiências de outros mestres.
Ainda no humanismo europeu, no século XVI, segundo Manacorda (1989),
eram encontrados ambientes de aprendizagem que estimulavam a utilização de
jogos na educação, e a erradicação dos elementos de uma pedagogia rígida, dando
ênfase à expressão dos educandos por meio do desenvolvimento do hábito das
discussões, da produção de textos e já tentando, ainda que modo rudimentar, iniciar
um processo de desenvolvendo da auto-estima nas crianças.
São os primeiros rudimentos de um ensino com pesquisa, em tempos
remotos.
Retomando a direção histórica do processo educativo ao longo do tempo,
buscou-se investigar os registros, em documentos sobre introdução do ensino da
música fora dos ambientes religiosos, ainda no século XVI, ocorridas devido às
mudanças culturais e educacionais.
Segundo Luzuriaga (1981), Comenius foi o grande destaque como educador
desse século e o primeiro a organizar a didática, sendo que sua relevante
contribuição para a educação foi a criação do método, estruturando-o, inclusive, no
que se refere ao ensino das artes. Assim, Comenius estabeleceu algumas regras
para o método de ensino que, em síntese, engloba o aprender fazendo, e que leva a
seguir um determinado roteiro para orientar e ensinar com ferramentas, não apenas
com teorias. Preconizava, ainda, a boa qualidade daquilo que estava sendo
praticado, utilizando caminhos já conhecidos pelos educandos. “A educação
musical no séc.XVI estava presente, sobretudo na igreja luterana” (LUZURIAGA,
1981, p. 140).
24
2.4 SÉCULO XVII
Os relatos sobre a história da pedagogia, registrados por Luzuriaga, 1975,
permitem observar que o século XVII foi marcado por características muito
peculiares na educação, com a intervenção e participação do Estado no
estabelecimento da educação pública em diversos países da Europa. A escola foi
dividida em três graus: inferior, médio e superior, com horário de três horas pela
manhã e três à tarde, com exames anuais submetidos a uma banca examinadora
que expedia os certificados de aprovação. Os professores habilitados começaram a
ser remunerados pelos fundos públicos.
As correntes filosóficas lideradas por Bacon e Descartes, influenciam a
educação, embora esses pensadores não escrevessem sobre educação. É
importante notar que a educação recebeu uma orientação filosófica regida pelos
pensamentos desses pensadores. Bacon (1561-1626), considera que:
O conhecimento vem da experiência, das percepções sensíveis, pelo que se deve começar pelo estudo da natureza, do conhecimento das coisas. Para isso, cumpre empregar o método indutivo, pelo qual os fatos particulares são objeto de agrupamento, experimentação e comprovação, para chegar aos conceitos gerais, isto é, ao conhecimento (LUZURIAGA 1975, p.136).
A educação musical, no século XVII, segundo Araújo (2001), sofreu a
influência das ordens religiosas do catolicismo. Com essas influências, o ensino da
música foi integrado ao ensino regular, pois, na época era considerado importante
para a prática religiosa nos serviços da igreja.
No que diz respeito à arte musical no século XVII, a música alemã tem como
referência o compositor Johann Sebastian Bach (1685-1750). Em suas citações,
Mário de Andrade (1944, p. 88) afirma que a obra de Bach “se resume no
movimento mais impetuoso e mais dramático de toda a história da música”. E
acrescenta sobre a personalidade de Bach: “foi tão fascinante que, por momentos, a
gente se deixa levar por um esplendor genialíssimo” (Ibid., p. 88).
25
2.5 SÉCULO XVIII
A pedagogia do século XVIII foi marcada por Rousseau (1712-1790), um dos
personagens que mais se destacou no cenário da história da pedagogia, embora
não tenha sido propriamente um educador, pois, segundo Luzuriaga (1975),
Rousseau tinha uma formação acadêmica totalmente desregular, e uma vida
errante: dava lições de música e ganhava a vida também copiando partituras
musicais, entre outras atividades. Mas seu contato com pensadores, artistas e
filósofos, e o caráter complexo e contraditório de sua personalidade, levaram
Rousseau a formar uma concepção pedagógica chamada de naturalista.
Esta pedagogia prega o evangelho da natureza ante a cultura e a sociedade. Esta educação se constitui em um desenvolvimento caracterizado pela atenção dada ao que vem de dentro de cada ser, portanto não é uma educação que vem de fora para dentro, em que a afetividade deve ocupar lugar semelhante ao da razão, ou seja, na mesma proporção (LUZURIAGA 1975, p. 37).
O autor afirma ainda que Rousseau via com clareza a diferença entre a
mente do adulto e a mente infantil, reconhecendo esta última como uma fase distinta
do desenvolvimento humano, que deve ser respeitada e estudada. O mesmo
procedimento, segundo as idéias de Rousseau, aplicava-se à adolescência.
Segundo o pensamento dele, a educação deve ser integral, em ambiente de
liberdade, e observando as necessidades físicas, morais e intelectuais das crianças.
No século XVIII, destacam-se ainda, entre outros grandes nomes, Kant (1724-
1804) e Pestalozzi (1746-1827). Segundo Luzuriaga (1975), no século XVIII os
professores de filosofia das Universidades começaram a lecionar também
pedagogia, o que os levou a pesquisar profundamente o assunto. O autor cita ainda
o pensamento de Kant, que acreditava que somente pela educação se construía um
ser humano, pela disciplina, cultura, moralidade e civilidade, acreditando ser esse o
grande objetivo da educação. Para aquele autor, assim como Rousseau, Kant
reconhecia que a natureza infantil é diferenciada do adulto e deve ser respeitada.
Na educação, Pestallozi foi considerado como “o maior gênio, a figura mais
nobre da educação e da pedagogia, o educador por excelência e o fundador da
escola primária popular” (LUZIRIAGA, 1975, p. 173). Dedicado a uma educação que
26
atendia crianças pobres e afetadas pela Revolução Francesa, foi um empreendedor
de diversos Institutos para abrigar essas crianças, e escreveu importantes obras
sobre educação, que o destacaram no âmbito da pedagogia de modo extraordinário.
Seu pensamento pedagógico se caracterizava pelo espírito humanitário, que antes
de tudo leva a educação à humanização do homem, à busca da perfeição,
incentivando o trabalho. Acreditava que conhecimentos sem atividades práticas não
ajudavam no crescimento do ser.
No que concerne à música, o século XVIII, “é o período clássico da música”.
(ANDRADE 1987, p.116), sua característica principal foi a considerada como
“Música Pura”, ou seja, a música não tem qualquer outro significado a não ser o fim
de ser apenas música. E acrescenta que a música “comove em alegria e tristeza
pela boniteza das formas, pela boniteza dos elementos sonoros, pela perfeição da
técnica e equilíbrio do todo” (Ibid, p. 116).
Segundo Andrade (1987), o século XVIII, ou período clássico, destacou-se
como sendo o mais fecundo pela qualidade e quantidade de grandes compositores,
que escreviam música de modo admirável. Os conceitos estéticos da época levavam
os compositores a uma maior perfeição, o que consagra aquele século como o mais
refinado dos períodos musicais.
Foi nesta época que surgiram os Conservatórios de Música que, segundo
Zahar (1982) eram instituições de ensino musical rigorosas, que se destinavam à
formação de músicos, cantores e instrumentistas. A origem dos conservatórios
remonta ao século XVI e se mantiveram até o século XVIII como estabelecimentos
de caridade que abrigavam órfãos e que incluíam a música no currículo escolar.
Outro fato relevante a apontar no século XVIII foi o surgimento do piano,
instrumento de teclado derivado do cravo, que começou a ser construído em
Florença, na Itália, e teve, a partir daí, considerável popularidade. A partir de então
muitos compositores se dedicaram à composição musical para piano, que se tornou
um instrumento muito requisitado para o estudo musical.
No século XVIII, destaca-se Froebel, em 1837, na Alemanha, que foi o
educador a dar grande atenção à educação pré-escolar e que fundou o primeiro
Kindergarten (Jardim de Infância). A educação pré-escolar sempre teve o canto
como uma das principais atividades. Esse educador compôs canções especialmente
para crianças bem pequenas, com a finalidade de desenvolver seu aprendizado. O
conjunto das canções denomina-se “Mutter und Koeselieder” (MOURA, 1984, p. 2).
27
2.6 SÉCULO XIX
No começo do século XIX, também Maria Montessori demonstrou dar grande
importância ao aprendizado musical, sobretudo no que diz respeito à educação
auditiva, que ela acreditava colocar o indivíduo numa relação direta com o meio e
com o movimento. Criou exercícios próprios para desenvolver o refinamento da
audição, que iam além do simples cantar, incluindo ruídos, silêncios, palavras assim
como a própria música. A promoção da curiosidade das crianças para que fossem
capazes de solucionar seus próprios problemas faziam parte das técnicas
montessorianas que tinham como um de seus objetivos “criar um clima capaz de
desenvolver um sentido musical, uma inteligência musical” (MOURA, 1984, p. 3).
Montessori se propunha a trabalhar a expressão corporal por meio de
movimentos, com o uso de técnicas e exercícios corporais que promoviam o contato
do ser consigo mesmo, ampliando a consciência corporal e espacial, para que as
crianças desenvolvessem a atenção. Tinha como objetivo “modificar padrões
rotineiros de movimentos repetitivos e automáticos que impedem a percepção do
indivíduo de si mesmo e do outro” (MOURA, 1984, p. 4).
Os métodos utilizados na educação em geral, desenvolvidos por Pestalozzi e
Montessori, segundo Gainza (2004), junto a outras pedagogias inovadoras que se
expandiram na Europa e nos Estados Unidos, influenciaram também o ensino
musical não só naquelas regiões, mas também na América Latina, incluindo o Brasil.
2.7 SÉCULO XX
Segundo Gainza (2004), o século XX, se destacou pelas grandes inovações
tecnológicas, num ritmo frenético nunca visto antes na história, com a forte influência
da psicanálise, da chegada do homem ao espaço e, naturalmente quando ocorreu o
forte e definitivo avanço da tecnologia digital.
A chamada sociedade da informação, que transmite o conhecimento por vias,
sobretudo tecnológicas, não deixa de determinar a realidade que foi proporcionada
28
pelos avanços tecnológicos em praticamente todas as áreas da vida humana, que
tornou o mundo globalizado a partir do século XX.
A educação musical no século XX, para Gainza (2004), também sofreu
grandes avanços no estudo e na criação de novas metodologias, sobretudo no que
diz respeito à iniciação musical, voltada às crianças e à escola. Segundo a autora, a
Europa e Estados Unidos se destacaram nas inovações e estudos metodológicos da
educação musical e, nesses locais a música se destaca pela formação do ser desde
a pré-escola até a universidade.
A partir de 1930, começaram a se projetar no cenário da educação musical,
novos métodos pedagógicos para a iniciação musical infantil, com recursos em que
utilizavam as mãos para representar os signos musicais, com sílabas rítmicas para
ensino rítmico como “ta-tá, ti-ti”, que ainda hoje são utilizados naquele ensino. Eram
uma grande novidade como técnicas pedagógicas eficientes.
Na mesma época são divulgadas nos Estado Unidos as teorias de John
Dewey (1859-1952), filósofo e educador e que ancorou suas idéias na convicção da
necessidade de uma educação para todos, sem restrições, de modo que todos
pudessem ter acesso a uma formação educacional democrática. Esses conceitos
impregnaram os educadores musicais da época. Desses, os que mais se
destacaram no início do século XX, foram: Emile Jacques Dalcroze, (Suíça, 1865-
1950), Edgar Willems (Bélgica, 1890-1978), Shinichi Suzuki (Japão, 1900-1999),
Carl Orff (Alemanha, 1895-1982), e Zoltán Kodaly (Hungria, 1882-1967).
2.7.1 A contribuição de Emile Jaques Dalcroze
Dalcroze (1865-1950), criou inovadoras técnicas de educação musical que
desenvolveu o estudo da Eurítmica, ou seja – bom ritmo, e baseou seu sistema
pedagógico utilizando o corpo humano como o principal campo no desenvolvimento
rítmico e motor da criança, segundo Teixeira (2006). O uso de todo o corpo,
envolvendo movimentos largos, assegurava uma experiência positiva,
desenvolvendo um poder de controle de movimentos, hábitos de ouvir com atenção,
integração do corpo, mente e emoção. O conhecimento deve ser absorvido não
29
apenas pelo ouvido ou leitura, mas com todos os sentidos do corpo humano
(FINDLA, 1971).
Segundo Teixeira (2006), para Dalcroze (1865-1950) toda criança possui
senso rítmico. Ninguém lhes ensina os movimentos naturais que desenvolvem
desde o nascimento. As dificuldades de desenvolvimento rítmico podem demonstrar
algum problema motor a ser observado na criança. O desenvolvimento da atenção
por meio de jogos rítmicos ajuda a criar o hábito da observação e da concentração.
É um procedimento que contribui para que a criança possa ter um melhor uso de
sua capacidade de aprendizagem em todas as áreas.
Cumpre considerar a proposta de Dalcroze, In: Teixeira (2006) para uma
abordagem lúdica musical na educação como disciplina, o que atende às idéias para
construção e produção de objetos de conhecimento que implicam atenção,
dinâmica, curiosidade, sociabilidade e emoção, bem com a apreciação do belo, por
meio de jogos e conteúdos de recursos lúdicos, jogos rítmicos, musicais, cênicos e
artísticos em geral, incluindo ainda artes plásticas e literatura, visando ao
desenvolvimento global do indivíduo na prática pedagógica (TEIXEIRA, 2006).
Segundo Trias (1994), educar a criança por meio do jogo é algo digno de ser
profundamente considerado. O jogo, devidamente orientado e pedagogicamente
bem tratado, será uma fonte inequívoca de grandes proveitos.
2.7.2 A contribuição de Carl Orff
Segundo Gainza (2004), surge nas décadas de 1950 a 1960, o período dos
Métodos Instrumentais, ou seja, educadores como Carl Orff (Alemanha, 1895-1967)
concentraram suas pesquisas educativas musicais em crianças, utilizando um vasto
conjunto de instrumentos musicais para a iniciação musical. Os chamados
“Intrumentos Orff”, com ênfase nos tambores, instrumentos de madeira e metal que
são tocados com baquetas como os xilofones , assim como o uso da voz, se
integram aos elementos básicos rítmicos da fala, movimento e dança, combinados
numa só linguagem. É dada grande ênfase à criatividade e improvisação,
30
começando com padrões rítmicos simples que vão progredindo para exercícios mais
complexos.
2.7.3 A contribuição de Zoltán Kodaly
Segundo Moura (1984), na mesma década, o músico e pedagogo Zoltán
Kodaly (Hungria, 1882-1967) fez um trabalho com grande ênfase no canto coral. Seu
método é ainda hoje aplicado em todas as escolas da Hungria desde a pré-escola
até o equivalente à oitava série do curso fundamental, num trabalho musical em que
ao chegar ao final do ensino fundamental o aluno pode ler, à primeira vista, uma
partitura de até 4 vozes diferentes, o que é um grande avanço no conhecimento
musical. Partia Kodaly do princípio de que a música pode e deve ser para todos.
Para colocar em prática esse seu conceito, entregou-se ao objetivo de tornar a
música accessível a todas as crianças da Hungria e esse método é ainda hoje
aplicado em todas as escolas daquele país, tornando a música parte integrante da
educação geral. Então acrescenta: “o objetivo da educação musical na pré-escola
húngara consiste em despertar o interesse pela música em cada criança,
desenvolvendo as habilidades musicais e as emoções dos alunos por meio da
participação no canto” (MOURA, 1984, p. 19).
Moura (1984) explica ainda que as aulas de música são ministradas pelo
professor regente da sala, com duas aulas semanais, com duração de 15 minutos,
que incluem jogos cantados, movimentos corporais referentes à música cantada,
improvisação de canções e rimas e é dada grande ênfase às canções folclóricas
nacionais.
A memória e a imaginação das crianças são objetos de desenvolvimento do
método Kodaly, pois seu criador considerava esses elementos imprescindíveis ao
desenvolvimento das emoções, do intelecto e da personalidade do ser. Se em
muitas culturas a música foi destinada a uma pequena camada da população,
Kodaly, assim como seus contemporâneos, acreditava que as qualidades inerentes
ao estudo da música deveriam se expandir para toda a humanidade, que todo
31
cidadão deveria ter o direito de aprender e saber apreciar a boa música. Lutou por
esse propósito durante toda sua vida.
Kodaly utilizou em sua metodologia e criações musicais para o ensino de
música, melodias consonantes de fácil compreensão e interpretação, dando
prioridade à simplicidade em detrimento da complexidade. Acreditava que o caminho
para se chegar à compreensão das obras dos grandes mestres da história da
música seria inicialmente, pelo conhecimento e domínio das canções fáceis do
cancioneiro folclórico de cada país, a exemplo da língua materna, em que o
aprendizado inicia pelo simples para depois chegar ao complexo.
Kodaly, segundo Janibelli (1971), não se dedicou a escrever teorias sobre seu
método, porém suas idéias sobre o ensino musical eram bem determinadas e claras.
Fez, por outro lado, inúmeros arranjos para 2 e 3 vozes , e pesquisas sobre as
canções populares de seu país, que eram as molas propulsoras de seu material
didático. Acreditava que o aprendizado musical deveria ser prazeroso e com
excelente qualidade artística. Em seu método, Kodaly incluiu o “manosolfa”, que é
uma técnica que utiliza os dedos das mãos para representar cada nota musical. O
solfejo também foi amplamente abordado pelo autor (JANIBELLI, 1971).
2.7.4 A contribuição de Shinichi Suzuki
O método de educação do talento musical, Método Suzuki, foi criado no
Japão pelo violinista e pedagogo Shinichi Suzuki (1900-1999), também na década
de 1950, e é baseado nos princípios do aprendizado da língua materna. O termo
Educação do Talento é uma alusão ao fato de que a aquisição dos conhecimentos
da língua materna é acessível a qualquer criança. O aprendizado musical, segundo
o modelo do Método Suzuki, é semelhante ao do aprendizado da língua materna, o
que levou o músico a acreditar que “talento não é um acaso do nascimento”
(SUZUKI, 1983, p. 9), trata-se de educar e lapidar o talento natural que cada ser
humano traz dentro de si.
Suzuki (1983) costumava dizer “no Japão todas as crianças falam japonês!”
(p. 11), idioma complexo, como qualquer outro, mas tão fácil para as crianças
32
japonesas. Ele observou que todas as crianças adquirem o conhecimento da língua
materna falando e entendendo com desenvoltura e naturalidade seu idioma, num
processo gradativo.
Defendia ainda o músico japonês que as habilidades naturais aparecem pela
prática: o recém-nascido ouve sua mãe e familiares falando e, com um ano de idade
aproximadamente, começa a repetir as primeiras palavras, até chegar a formular
pequenas frases. Por volta dos dois anos de idade já possui um vocabulário
bastante extenso e aos cinco anos começará a ter as primeiras noções da escrita e
leitura de sua língua.
O mesmo processo é aplicado no Método da Educação do Talento Musical:
as crianças criadas num ambiente musical adequado poderão adquirir habilidade
musical, chegando a dominar seu instrumento com a facilidade com que aprendem
sua língua materna.
As crianças que iniciam cedo o estudo de um instrumento pelo Método Suzuki
têm encontrado rápido domínio do aprendizado, pois sua didática é facilitadora da
aquisição da prática instrumental. Os recursos indicados por essa metodologia
incluem ouvir e praticar o repertório, desenvolvendo em primeiro lugar o ouvido
musical e depois, a coordenação motora e habilidades técnicas no instrumento.
Suzuki (1983) usou algumas expressões-chave no desenvolvimento de suas
teorias, que são utilizadas para nortear a prática educativa musical, como:
“educação é amor” (p. 7), “talento não é um acaso do nascimento” (p. 9), “habilidade
gera habilidade, habilidade gera sucesso, sucesso motiva” (p. 13), “boas condições
ambientais produzem habilidades superiores” (p. 19). A participação dos pais tem
especial relevância dentro do Método Suzuki, e importância significativa na
construção do conhecimento musical das crianças. O comparecimento dos pais para
acompanhar seus filhos pequenos à aula de música, e no estudo em casa é
encorajado, porque promove melhores resultados de aprendizagem.
A construção de um ambiente ideal para facilitar o desenvolvimento das
habilidades musicais das crianças é bastante salientado pelo sistema Suzuki (1983)
de ensino musical, o qual se refere a esse aspecto por acreditar que o indivíduo
recebe grande influência do meio. O ambiente musical pode e deve ser estimulado
em casa, não somente pelo estudo do instrumento, como também pelo contato com
obras musicais por meio da audição de gravações e pela presença constante em
33
salas de concerto. As canções folclóricas cantadas pelos pais e familiares desde o
nascimento da criança possuem grande significado na construção do conhecimento
musical e do imaginário infantil. “Muitos de nós guardamos inconsciente lembranças
de acalantos associados a um colo quentinho, fragmentos de canções que, ao
serem entoadas, remetem-nos à infância” (FONTOURA; SILVA, 2001, p. 1).
Ainda como agentes facilitadores do processo de aprendizagem, os pais
devem tomar algumas providências em casa, como levar a criança a ouvir
diariamente o repertório que aprenderá no instrumento, do mesmo modo como o
bebê ouve sem interrupção todos os sons da linguagem de seu idioma.
A repetição agrada às crianças, pois é comum verificarmos que elas gostam
de ouvir histórias repetidas vezes, assim como cantar e ouvir as mesmas canções.
Após memorizar todas as melodias pela audição, o processo de aprendizado
do instrumento será facilitado, assim como acontece com o aprendizado das
palavras do vocabulário da língua materna. A prática de ouvir ajuda a desenvolver a
habilidade musical com mais naturalidade.
O respeito à individualidade vai levar os educadores musicais e os pais a
fazerem uma leitura detalhada de cada criança, observando cada passo de seu
desenvolvimento para que o aprendizado musical seja natural, tornando o ato de
tocar lúdico e prazeroso.
A afetividade que acompanha a vivência musical infantil junto aos seus
familiares, torna essa experiência prazerosa, divertida e de fácil aprendizado.
O conhecimento adquirido das melodias folclóricas desde a primeira infância,
quando as crianças ouvem e repetem essas canções, resulta da familiaridade dos
temas musicais nelas encontrados, na memória e no imaginário infantil, como os
sons da sua língua materna.
As canções, conhecidas e cantadas, tornam-se muito mais fáceis de serem
tocadas, da mesma forma como no aprendizado do idioma natal, ou seja, é mais
fácil escrever as palavras conhecidas que são pronunciadas com desenvoltura. Esse
é, portanto, o processo da iniciação de um instrumento musical pelo método Suzuki:
conhecer as músicas pela audição para, depois, aprender a tocá-las.
No mundo ocidental esses novos conceitos de educação musical tomaram
grande impulso na mesma época, ou seja, a partir da década de 1950. Segundo
Gainza (2000), houve um grande entusiasmo dos professores de música para
34
conhecer, praticar e desenvolver os novos métodos. Formaram-se líderes locais, em
diversos países, incluindo o Brasil, nos quais esses se especializavam em
determinadas tendências pedagógicas em congressos, seminários e oficinas e
depois trabalhavam na habilitação e formação dos professores de Educação Musical
em suas cidades e em seus países.
Esse fenômeno de atividades frenéticas, reunindo professores de diversos
campos da educação, que viam na música um meio interdisciplinar de
desenvolvimento do conhecimento, permaneceu até a década de 1990, com
encontros nacionais e internacionais em que se reuniam professores, pais e alunos
com franca disposição para participar ativamente das novas oportunidades que a
música oferecia em diversas áreas. As atividades incluiam o estudo de um
instrumento e participação em orquestras, nos conjuntos de câmera e bandas, no
estudo da pedagogia voltada para a educação musical, na musicoterapia, e no
desenvolvimento de palestras e atividades com o envolvimento dos pais, chamadas
“parents education” (educação de pais), pois as implicações de muitos desses
métodos incluíam a participação efetiva dos pais na educação de seus filhos.
2.8 VISÃO HISTÓRICA INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO MUSICAL
Gainza (2004) afirma que na década de 1960, o chamado período idealista da
educação musical, a Europa produziu novos métodos musicais que eram
comercializados nos Estados Unidos e consumidos também na América Latina. Nos
Estados Unidos, naquela década, não sobressaíram métodos criados pelos seus
pedagogos, porém eles se empenharam em editar, traduzir, construir, organizar e
divulgar o material utilizado nos referidos métodos. Os americanos seguiam com
muito afinco os ditames de cada método a ser aplicado, o que gerou uma excelente
qualidade de ensino e aprendizagem musical, colocando-os em destaque no cenário
mundial da educação musical.
Ainda dentro desse espírito de investigação e visando a formação continuada
dos professores e profissionais da música em geral, organizações governamentais
como o Instituto Interamericano de Educação Musical (INTEM), bem como a
35
Organização dos Estados Americanos (OEA), começaram a dar bolsas de estudos a
professores e alunos para o enriquecimento e ampliação da educação musical.
Juntamente com os fatos políticos que ocorreram a partir da década de 1960,
uma verdadeira euforia cultural tomava conta das diversas áreas da educação,
incluindo a educação musical.
No Japão, segundo Horiuchi (1983), In: Moura (1984), desde a pré-escola é
muito constante e abundante a presença da música. Em geral, as escolas dispõem
de um piano e os professores de pré-escola administram a educação musical, que
inclui canto, dança e jogos. Segundo a autora, o mesmo acontece em Israel, onde
aos 3 anos de idade a criança entra em contato com o ensino da música, com
elementos que incluem o uso de instrumentos de percussão, como xilofones,
metalofones, improvisação e apreciação musical, sempre utilizando jogos para o
movimento corporal.
Na União Soviética, segundo Amiran-Pougatchov (1974), In: Moura (1984), a
educação pré-escolar que induz a criança a ter os primeiros contatos com a música
a partir do primeiro ano de vida. Utilizam métodos que estabelecem relações das
canções com objetos. As cantigas de ninar, são um exemplo deste tipo de
aprendizagem, que são vivenciadas com o brincar de colocar uma boneca para
dormir. As músicas sobre animais são cantadas com a apresentação do animal à
criança e, assim, sempre trabalhando o abstrato, que é a música, com a
manipulação do concreto pela criança. Nesse país, a música é praticada diariamente
na escola, pois os educadores acreditam que só assim esse conhecimento poderá
ser bem assimilado.
O mesmo ocorre na Hungria, segundo Porcher (1975) in Moura (1984), onde
a disciplina de música, na primeira série da educação infantil tem a duração diária de
45 minutos e objetiva uma educação musical que desempenhe um papel efetivo no
desenvolvimento não só das habilidades musicais, começando pelo canto. Este
procedimento ajuda fazer as crianças a entrar em contato com suas emoções e
podem obter resultados que impliquem na contribuição do aprimoramento do
“cálculo mental, da leitura, da escrita, do desenho e atividades que utilizam a
memória e a imaginação” (MOURA,1984, p. 19).
Na Polônia, Lipska (1974), In: MOURA (1984), afirma que a educação infantil
é inseparável do contexto da educação musical, que incluem o canto, o
desenvolvimento das habilidades musicais, bandas rítmicas, apreciação musical
36
pela audição e a criação musical. Educadores daquele país acreditam que a prática
da percepção musical ajuda na capacidade de concentração das crianças. A
atividade musical na Polônia leva a uma educação musical continuada, em que as
crianças são incentivadas a participar de aulas de instrumentos, a assistir a
concertos e também a participar ativamente da vida musical de seu país.
As aulas de música ministradas nas escolas regulares da Alemanha, segundo
Nordrehein (1980), In: MOURA (1984), visam a desenvolver no aluno a capacidade
de ouvir e perceber a música, para poder, após observação, analisá-la de modo
consciente, buscando um aperfeiçoamento no conhecimento e prática musicais. São
incentivadas visitas às instituições musicais, contato com músicos de diversos
estilos, sendo que os alunos fazem parte da comunidade artística e musical de seu
país. As crianças são levadas a conhecer a história e fabricação dos instrumentos
musicais. Nas aulas de música, em salas de aulas os alunos aprendem noções de
teoria musical que vão sendo aprofundadas gradativamente, aprendem a tocar
instrumentos musicais, fazem exercícios rítmicos, além de disporem de vasto
material para associar a música às demais artes, como o teatro, a poesia, a
literatura, procurando desenvolver a criação artística nas crianças desde cedo. Todo
o processo é elaborado para que o ensino da música proporcione alegria e prazer às
crianças e adolescentes, além de um conhecimento profundo e continuado da arte
da música, e os benefícios para o seu desenvolvimento.
Na Suíça, Wirth (1983), In: Moura (1984), encontrou uma educação musical
semelhante à dos outros países europeus, sendo que esse país foi o berço da
criação de um dos principais métodos de educação musical do século XX, a
Eurítmica, de Jaques Dalcroze (1865-1950). Num ambiente em que valoriza o lúdico,
na Suíça as crianças, além de aulas de música regulares na escola, têm muitas
facilidades de estudar música em escolas especializadas. Jogos e brincadeiras
musicais são administrados de modo tão eficiente que as crianças atingem um alto
grau de conhecimento musical, que incluem leitura rítmica, melódica, em graus
progressivos bastante complexos, mas assimilados com muita facilidade e
naturalidade (WIRTH, 1983, In: MOURA 1984).
A educação musical na Suíça, assim como os demais modelos europeus,
forma crianças que aprendem a amar a música e as artes, que descobrem que a
expressão da emoção pode e deve ser accessível a todos, que “sentir” é um direito
de todos. As crianças são levadas a descobrir os ensinamentos musicais e artísticos
37
brincando, jogando, divertindo-se. Os mestres são preparados para fazer um
trabalho muito sério, porém alegre, procurando descobrir em cada aprendiz suas
habilidades inatas, e lapidando e desenvolvendo novas habilidades (WIRTH, 1983,
In: MOURA, 1984).
Trata-se de uma educação musical centrada na pessoa, embora sempre
trabalhada em grupo, visando a valorizar o potencial gerador do ambiente educativo,
que facilita a aprendizagem e leva o aluno a desenvolver-se rápida e
profundamente, tornando a escola um lugar de alegria e prazer.
Ainda no século XX, os estudos de Gardner (2000) aparecem com grande
expressão quando propõem o desenvolvimento da inteligência musical ao
apresentar a Teoria das Inteligências Múltiplas, em que destaca a preocupação com
a existência ou não de uma inteligência artística separada. O autor chega à
conclusão de que, na visão múltipla do intelecto, qualquer aspecto das Inteligências
Múltiplas pode ser encaminhado para as atividades artísticas e no caso da
inteligência musical, ela muitas vezes pode ser utilizada para fins não estéticos,
como uma decisão de ordem individual ou cultural.
Segundo o autor:
A capacidade artística envolve uma contínua exposição, em vários níveis desenvolvimentais, a certos conceitos nucleares, como estilo, composição ou gênero, e a certos problemas recorrentes, como executar uma passagem com sentimento ou criar uma imagem artística poderosa (GARDNER, 2000, p. 124).
Gardner (2000) sugere ainda que seja feita uma avaliação correta e
continuada da aprendizagem musical. Essa avaliação deve partir dos próprios meios
musicais, ou seja, pela prática musical. O currículo não deve ser elaborado em
função de uma avaliação, mas sim da criação de possibilidades de oferecer o que
há de mais importante nas diferentes formas de artes. Esses valores necessitam ser
orientados, de maneira correta, na escola.
A importância do ensino da arte na escola, pode ser constatada nesta
afirmação:
A educação artística é importante demais para ser deixada a cargo de apenas um grupo, mesmo aquele grupo designado como “educadores de arte”. Em vez disso, a educação artística precisa ser um empreendimento
38
cooperativo envolvendo artistas, professores, administradores, pesquisadores e os próprios alunos. (GARDNER 1995, p. 125)
No século XX, segundo os relatos de Moura (1984), cuja dissertação é
analisada nesta pesquisa, a educação musical passou a ter uma ênfase maior nas
escolas.
Nos Estados Unidos, sobre a Educação Musical cabe incluir a relevante
proposta de Howard Gardner que, com sua equipe, criou em 1985 o Arts Propel,
cujo objetivo era desenvolver uma série de instrumentos para trabalhar a produção,
percepção e a reflexão sobre as artes, incluindo a música (GARDNER, 1995). O Arts
Propel é um programa que foi adotado em diversas escolas americanas para a
vivência artística e musical (Music Propel), cujos domínios têm atraído o interesse de
professores de sala de aula, assim como de departamentos educacionais
associados a orquestras sinfônicas e óperas, para crianças desde a pré-escola até o
segundo grau.
As idéias que fundamentam o Arts Propel chamam a atenção de professores
de outras disciplinas pela sua originalidade e interdisciplinaridade. Elas incluem um
trabalho de observação na diferenciação de diversos estilos de arte, discutem as
relações entre elas, fazem planos de trabalho para a recomposição de uma
determinada obra, trabalhando, assim, a criatividade, a iniciativa, as discriminações
perceptivas, a avaliação e a auto-avaliação, em dimensões qualitativas diversas,
visando à manutenção do sucesso da qualidade do programa de artes avaliado em
elevados padrões.
A produção de conhecimento artístico orientado por Gardner (1995), envolve
a produção de arte, em que o aluno adquire o domínio das habilidades artísticas e
musicais, numa busca que desenvolve um trabalho continuado, pois é abordado em
profundidade. Esse procedimento inclui revisões para garantir a qualidade da
produção do estudo da arte, e a reflexão. No que concerne à solução de problemas,
esses são incentivados a ser resolvidos de maneira criativa. É dada ênfase também
à expressão, ou seja, é esperado que o aluno seja habituado a expressar suas
idéias e sentimentos, sobretudo na música, na execução de seus conteúdos.
No exercício de aplicação do Arts Propel, proposto por Gardner (1995) é
recomendado que a aprendizagem artística deva ser orientada. Como no exemplo
da educação musical, os professores precisam ter a capacidade de “pensar”
musicalmente, não se limitando a introduzir a música por meio da linguagem ou da
39
lógica. São qualidades cognitivas imprescindíveis que o educador precisa
desenvolver antes de se envolver com o magistério musical para crianças,
especialmente na pré-escola.
Gardner (1995) chama atenção para o fato de que historicamente, centena de
anos atrás, aprendia-se artes como aprendizes, que observavam passivamente seus
mestres, e que depois, de modo lento e gradativo, começavam a participar das
atividades, sempre sob o olhar e orientação do mestre ou treinador. Novos cenários
na atuação da educação artística e musical foram substituindo velhos padrões de
ensino-aprendizagem, sobretudo na escola, dando ênfase à produção artística.
Com as novas pesquisas na área da educação musical, nas últimas décadas,
surge o consenso de que somente a produção musical não é suficiente para a
educação global da criança, mas sim a relação do aprendizado musical com
elementos que formem uma concepção do todo, incluindo a criatividade, a
imaginação e o sentir.
Segundo declaração daquele autor: “como antigo educador nas artes,
acostumado a ver meu campo tratado como um lugar atrasado, fico especialmente
satisfeito com a atual situação: nossas idéias e práticas podem realmente oferecer
inspiração a áreas de currículo que tradicionalmente têm tido maior prestígio”
(GARDNER, 2000, p. 124).
Nos Estados Unidos, os documentos encontrados no Program in Public
School Survey, 1975, demonstram que programas de ensino de música envolvem a
participação de professores, músicos, pais, alunos e do governo. Os programas de
música do currículo das escolas públicas americanas são organizados de modo que
os alunos recebem uma educação musical geral, que visa ao estabelecimento de
aulas para o desenvolvimento auditivo, motor, criativo, lúdico, interativo com as
demais disciplinas.
Segundo Gardner (2000, p. 124), “a capacidade artística envolve uma
contínua exposição, em vários níveis desenvolvimentais, a certos conceitos
nucleares, como estilo, composição ou gênero, e a certos problemas recorrentes,
como executar uma passagem com sentimento ou criar uma imagem artística
poderosa”.
O autor sugere ainda que seja feita uma avaliação correta e continuada da
aprendizagem musical, avaliação esta que deve partir dos próprios meios musicais,
40
ou seja, pela prática musical, e o currículo não deve ser elaborado em função de
uma avaliação, mas sim criar avaliações que permitam discernir o que há de mais
importante nas diferentes formas de artes.
Esse processo diferenciado de currículo e de sistema de avaliação deve se
adaptar ao fato de que os alunos necessitam de ferramentas de educação que
facilitem a exploração individual de seus sentimentos, da reflexão pessoal e que
acima de tudo sua privacidade se mantenha preservada. As artes estão envolvidas
por questões de valor e gosto, e esses valores necessitam ser orientados de
maneira correta.
Os métodos europeus foram incorporados nos Estados Unidos, com inclusão
de vastos recursos de materiais educativos como ferramenta. As aulas incluem o
aprendizado de instrumentos musicais, como piano, flauta, violino, violoncello, entre
outros. Esses instrumentos estão disponíveis nas escolas públicas americanas
desde a pré-escola (MOURA, 1984).
Os alunos de instrumentos musicais recebem uma aula semanal individual
por semana, e é solicitada a participação efetiva de um familiar no processo de
aprendizagem do instrumento. Um dos métodos aplicados nas escolas dos Estados
Unidos é o Método Suzuki, com as exigências desse processo de ensino, que requer
o comprometimento dos familiares na participação da orientação musical do
instrumento.
Dentro desse programa de ensino musical, são mantidos minuciosos
programas metodológicos, como, por exemplo, o envolvimento de 800 crianças na
escola Parker Elementary School, em Houston, Texas. Esse programa representa
uma ascensão cultural à população local, segundo o documento, que reflete a
oportunidade de inclusão sócio-cultural. O programa foi uma solicitação do governo
para incentivar e sensibilizar a comunidade infanto-juvenil, para ajudar a promover o
crescimento da auto-estima das crianças, jovens e da população em geral, além de
integrar a escola à comunidade.
Devido ao sucesso do programa, outras escolas começaram a utilizá-lo, o que
propiciou a formação de orquestras e bandas com os músicos formados nas
próprias escolas públicas. O ensino da música foi então incluído na educação
continuada das escolas até o final do segundo grau.
Com a participação efetiva da comunidade, formaram-se associações de pais
para dar suporte aos professores. Elas serviram como agente transformador na
41
escolha e diversificação de atividades culturais e de lazer, exposições de artes,
concertos, visitas a museus, bibliotecas, filmes de arte. Essas opções foram
intencionalmente dirigidas para o refinamento da educação das crianças, desde a
mais tenra idade, para que isto se tornasse parte dos objetivos da formação escolar.
A iniciativa dos pais na organização de associações, levou-os a participar
ativamente da educação de suas crianças e não apenas a esperar passivamente
pelas decisões da escola.
O papel dos pais, segundo o documento, foi de crucial importância para o
sucesso do programa. “Estudos revelam que um impressionante número de pessoas
destacadas e originais em suas realizações foram educadas em casa, estimuladas
pelos pais ou outros parentes desde a infância, criadas para grandes expectativas”
(FERGUSON, 1995, p. 279).
Ainda segundo esta autora:
Os pais são nossos modelos de exploração. Com eles aprendemos a recuar ou avançar. Fomos imbuídos com suas expectativas. Com freqüência herdamos temores e ansiedades que percebemos neles. E se não estivermos conscientes do ciclo, com toda a probabilidade iremos transmitir aos filhos nossos próprios medos e os de nossos pais. Esta é a herança da inquietação, legada de geração a geração: medo de perder, medo de falhar, ficar para trás, ficar sozinho, não ser bom o suficiente. (FERGUSON, 1995, p. 279).
Em uma pesquisa sobre o envolvimento de pais no Programa aqui relatado
para inclusão da música nas escolas públicas nos Estados Unidos, foram colhidas
opiniões em seis áreas específicas num total de 31 perguntas, com um total de 771
respostas de pais envolvidos no processo.
Os resultados da pesquisa indicaram que os pais envolvidos no aprendizado
musical, junto a seus filhos, eram sem dúvida os grandes responsáveis pelo
desenvolvimento musical das crianças, no que diz respeito a tempo, esforços,
energia e todo tipo de apoio ao professor e à escola.
A motivação dos pais durante o estudo em casa foi o ponto mais crítico de
toda a pesquisa. Se a eficiência e sucesso do estudo em casa se fazem necessário,
é preciso cultivar a organização de uma rotina de horário de estudo.
Seguem os relatos dos números da pesquisa:
42
1) 87% dos pais disseram que seus filhos estavam progredindo dentro das expectativas ou melhor. 2) 98% consideraram o Programa de Educação Musical de sua cidade (escola) eficiente. 3) 89% consideram-se suficientemente envolvidos na Educação Musical de seus filhos e sentem-se satisfeitos com este envolvimento. 4) 79% das crianças praticam em casa, com alegria, 5 ou mais dias por semana. 5) 73% dos pais estudam em casa com as crianças. 6) 81% dos pais participam das aulas dos filhos. 7) 86% dos pais tinham uma organização doméstica de divisão de tarefas para que a participação em todas as atividades de seus filhos fosse possível. 8) 57% declararam que a disciplina, o exercício da memória, coordenação motora e desenvolvimento da inteligência a partir do estudo musical tiveram grande influência nas demais atividades escolares das crianças e no seu dia-a-dia. 9) 98% dos Congressos e Encontros Musicais são importantes para o desenvolvimento musical e social das crianças (THE NATIONAL ASSOCIATION FOR MUSIC EDUCATION).
A Associação Nacional para a Educação Musical (National Association for
Music Education) tem 70 000 educadores musicais trabalhando para a educação de
crianças nos Estados Unidos. As conferências nacionais e internacionais que
envolvem esses profissionais recomendam a inclusão do ensino da música na
escola.
O histórico sobre a Educação Musical na formação das crianças na Europa,
Ásia, e América, pode ser ampliado com o estudo de Gainza (2000). A autora afirma
que na Educação Musical no século XXI, os professores de música sempre estão
muito atentos e preocupados com a aquisição de novos conhecimentos e inovações
de materiais. Novas técnicas e novas idéias que possibilitem uma melhor qualidade
no ato da instrução musical são pesquisadas.
Na Educação Musical, assim como em outras áreas do conhecimento, é
imprescindível que haja pleno domínio das atribuições esperadas do profissional,
saber como proceder em cada caso, em cada situação dentro da escola para que o
ensino seja sempre em função do crescimento e desenvolvimento geral do indivíduo,
priorizando sempre o ser humano nas suas necessidades individuais e coletivas,
promovendo a aprendizagem colaborativa, incentivando os alunos a associar-se nos
procedimentos de pesquisas e novas descobertas (GAINZA, 2000).
Entre os anos de 1970 e 1980, destacaram-se, segundo Gainza (2000), os
métodos chamados criativos, em que professores e alunos são co-participantes no
processo de criação. Também novos e inúmeros compositores começam a se
destacar. O foco de atenção dos educadores então foi o processo criativo, em que
43
alunos e mestres deixam de somente executar aquilo que vem pronto, mas
começam a intervir nas produções musicais com pesquisas sonoras, e novos
materiais musicais apresentados. O nome que mais influenciou essa geração de
mestres e pedagogos foi Murray Schafer, cujo material pedagógico trouxe grandes
transformações ao pensamento da pedagogia musical.
No que diz respeito à formação docente, Gainza (2000), acredita que a
educação musical nos níveis inicial e superior não está atualmente acompanhando
os novos paradigmas da educação, a despeito das informações e modelos
educativos disponíveis para a preparação docente que permearam os avanços da
educação no século XX.
Segundo Gainza (2000), ainda no século XX os métodos foram criados de
acordo com as necessidades das realidades locais, sendo que os autores deste
século ordenaram a metodologia do ensino musical de modo progressivo para a
prática de ensino. São métodos que visam a um “modelo” de educação que
compreende uma produção coletiva, espontânea e que podem abranger outros
setores do conhecimento, utilizando a tecnologia, além de fatores como a ecologia,
os aspectos étnicos, tornando a educação musical mais democrática e não
excludente. Procuram fazer uma conexão com todas as áreas do conhecimento,
abrangendo também o lúdico, a cultura, a antropologia, com a intenção de transmitir
um saber sobre costumes, crenças e habilidades da comunidade e do dia-a-dia com
todos os recursos disponíveis ao redor da escola e da vida das crianças.
Na concepção de Gainza (2000), é preciso que os educadores musicais
busquem colocar em prática os diferentes modelos de educação musical que hoje
podemos importar e assimilar com facilidade, em face dos avanços da tecnologia e
comunicação. Como exemplo, explica que na pedagogia musical da Europa, o
paradigma de modelo étnico recreativo de “aprender fazendo”, aplica o ensino-
aprendizagem de jogos rítmicos corporais e danças étnicas, populares, sobretudo de
origem africana. Essas aulas em grupo são extremamente cativantes, com alunos
muito entusiasmados, a despeito da complexidade rítmica e dos padrões sonoros
abordados, assim como os movimentos corporais que requerem o desenvolvimento
das habilidades de crianças e jovens.
Ainda Segundo Gainza (2000), dentro da educação musical no século XX a
iniciação musical foi o principal objetivo, pois grandes métodos foram criados para
esse fim. Porém, essa prática não chegou a dar grande impulso ao ensino musical
44
superior, o que resulta num desnivelamento da educação e uma perda para a
formação docente. O sistema educativo musical, sobretudo nos países latino
americanos, não teve reformas significativas como acontece nos países nórdicos
europeus, por exemplo, cuja cultura valoriza e enfatiza a educação musical. A autora
afirma também, que é urgente que se vença o desafio de organizar a educação
musical nos âmbitos da iniciação até o ensino superior, sobretudo nos países latino-
americanos. Naturalmente o Brasil está incluído, e no qual se encontra o maior
índice de desatualização didática e educativa, ou seja, nos modelos curriculares,
que seguem ainda o regimento das décadas de 50 e 60.
Dentre as providências a serem tomadas, Gainza (2000), sugere a criação de
novas carreiras universitárias com mais opções de especialidades na área de
música, com maior ênfase na investigação educativa, revisando as técnicas de
ensino-aprendizagem e estimulando a reflexão, o espírito crítico e a criatividade,
provendo condições para que cada educador seja co-adjuvante no processo das
mudanças na educação.
Acreditando ser a música uma ferramenta imprescindível na formação integral
do ser humano, Gainza (2000) conclui o relato de suas pesquisas sobre a educação
musical no século XX, afirmando que assim como em qualquer área educativa, a
qualidade da Educação Musical está diretamente relacionada com a formação
docente aprofundada, atualizada e continuada, para que essa esteja presente na
educação integral do ser humano.
2.9 VISÃO HISTÓRICA DA MÚSICA NO BRASIL
No Brasil, a música sempre esteve presente em todas as manifestações
culturais. Embora na comunidade a música tenha um grande espaço, em geral, a
escola não tem oferecido um ensino de música relevante e significativo aos alunos.
No século XVI, os jesuítas trouxeram uma educação, que incluía o ensino de
língua portuguesa, doutrina católica e canto orfeônico além de música instrumental
aos nativos, aos brancos e aos filhos dos colonizadores.
Buscando sintetizar os fatos históricos que permearam a educação no Brasil
a partir da colonização portuguesa no século XVI, incluindo a educação musical,
45
foram encontrados dados que possibilitam a pesquisa em torno do assunto aqui
relacionado: “Estreitamente vinculada à política colonizadora dos portugueses”. Não
houve, contudo, a intenção de profissionalizar a população indígena em qualquer
área do conhecimento (RIBEIRO, 2000, p. 18).
O chamado Ratio Studiorum, segundo Ribeiro (2000), era um planejamento
que organizava a metodologia de estudos da Companhia de Jesus e que, publicado
no ano de 1599, estava longe de contribuir para a construção de um conhecimento
que incluísse o índio no processo educativo. O maior foco de interesse para a
educação eram os filhos brancos dos colonos e, entre esses, dando ainda prioridade
aos que tinham a pretensão de se tornar futuros sacerdotes, tornando então a
educação jesuítica de caráter elitista. Para os índios bastava a catequização para
angariar mais adeptos à doutrina católica, além de torná-los mais dóceis e
obedientes.
Dentro das categorias do Ratio Studiorum, havia interesses na educação das
classes dominantes, sendo que a educação voltada aos trabalhos manuais
rudimentares era aplicada a negros, índios e mestiços; às mulheres se destinava a
educação para as prendas domésticas.
Segundo Ribeiro (2000), com as novas idéias do Marquês de Pombal,
reformas significativas que abrangeram o âmbito cultural, foram tomadas iniciativas
no sentido de modernizar a cultura portuguesa envolvendo, inclusive, a educação. A
expulsão dos jesuítas causou grande impacto na abordagem da educação em 1759.
Nesta ocasião surge o ensino público, sem intuitos meramente religiosos, com a
contratação de um diretor e professores licenciados por meio de exames.
No século XIX ensinava-se matemática utilizando recursos musicais, e a
“tabuada cantada” era um exemplo desse procedimento (LOPES, 2000). Imitando
uma ladainha utilizando os números da tabuada, as tabuadas cantadas eram
praticadas aos sábados, no mesmo modelo do cantochão, de modo monótono,
repetitivo, mas segundo Lopes (2000), o método era apreciado pelos meninos.
O professor, conforme relatos históricos de Lopes (2000) utilizava uma
palmatória e ao menor erro de um dos alunos, ordenava que se parasse o canto e
se lhe aplicava o castigo com a palmatória. O professor de tabuada cantada era uma
espécie de regente dessa peculiar orquestra.
Segundo Lopes (2000), no início do século XIX D. João VI exerceu um
controle cada vez mais acentuado na educação, sobretudo no que dizia respeito à
46
educação primária, com uma preocupação de preparar docentes para o exercício do
magistério. As primeiras escolas normais foram criadas pelo decreto do Ato
Adicional de 1834, na Lei Geral de ensino de 1827 e, para ser admitido nessas
escolas, o candidato necessitava saber ler e escrever. Era necessário ter uma boa
morigeração, ou seja: “as exigências recaíam muito mais nas condições morais dos
indivíduos do que em sua própria formação intelectual” (LOPES, 2000, p. 106).
Para Janibelli (1971), D. João VI exerceu um significativo estímulo em
diversos setores culturais, dando impulso à cultura musical, à qual dava singular
importância, e atraiu músicos da Europa. Com isso, iniciou-se uma época de grande
movimento musical no Brasil, com a formação de coros, orquestras, óperas e
conjuntos musicais.
Ainda segundo Janibelli (1971), teve significativa representação no século
XVIII, a figura do padre José Maurício que criou, no século XIX, sociedades
particulares para estimular, cultivar e sustentar as atividades musicais O padre José
Maurício, fundou um curso de música, no Rio de Janeiro, que funcionou durante
vinte e oito anos.
Por essa escola passaram algumas das mais destacadas figuras da música: compositores, professores, modinheiros, cantores, copistas, figuras que brilharam na administração do Brasil Império, no terreno da organização social, como no ensino da música, sem falar na massa dos que se perderam no anonimato das Irmandades, mas deixaram, ao longo do século XIX, no quadro da vida musical do Rio de Janeiro, o rastro de perpetuidade da ação profícua do Pe. José Maurício (MATTOS, 1970, p. 19).
Dentre seus alunos mais ilustres figuravam Francisco Manuel da Silva, autor
do Hino Nacional Brasileiro, e o príncipe herdeiro, D. Pedro I. Criou então o primeiro
Conservatório Musical, onde “ensinava a cantar sem fazer esforço” (JANIBELLI,
1971, p. 41).
Depois de consolidada sua formação musical, o autor do Hino Nacional
tornou-se grande expoente no ensino da música, e criou o “Imperial Conservatório
de Música”, atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e
publicou o primeiro livro de Teoria Musical chamado “Artinha”, em 1833. Outros
livros começaram a ser publicados a partir de então (JANIBELLI, 1971, p. 43).
Nota-se, então, nesse ensinar a cantar sem fazer esforço, a preocupação de
tratar o indivíduo com respeito à sua natureza, às suas limitações, como
47
encontramos no paradigma holístico da educação, que visa a “formar educadores
que tenham o educando como centro, que mostrem reverência e respeito pelo
indivíduo, atentos às necessidades de cada educando, suas diferenças e é
novamente a “visão humanista da educação que propõe uma nova imagem do
homem que reaparece constantemente e de forma cíclica desde a Renascença”.
(BERTRAND 1982, p.136)
O magistério musical de José Maurício vinculava-se também à Igreja, uma
vez que um dos objetivos de sua escola era a preparação de músicos e cantores
para as cerimônias na Sé. "Os alunos usavam um laço azul e vermelho no chapéu, o
ensino era gratuito e a participação nos conjuntos musicais resultava em isenção do
serviço militar" (MARIZ, 1981, p. 40).
No Rio de Janeiro foram criadas sucessivamente novas escolas, constando
que, neste século, o Colégio Marinho tinha em seu currículo aulas específicas de
Solfejo, Teoria e Instrumentos. Foi criado também o Conservatório de Música
Religiosa, Escola de Música de Meninos Cegos, dirigida pelo cego Luís Alves de
Azevedo e o Liceu Musical, dos maestros Joaquim Giannini e Dionísio Vega,
segundo Janibelli (1971).
Segundo Ribeiro (2000), a monarquia brasileira não dava grande importância
à educação, fato que não ocorria na época em outras monarquias européias. A
distribuição de escolas no território nacional de então era elitista, e a exclusão
estava presente desde as séries iniciais com aqueles que não tinham condições de
ingressar e permanecer na escola. Essa escola representava um fator de ascensão
social, sem se preocupar com a construção do conhecimento para o
desenvolvimento do ser.
Fundamentado nos documentos históricos pesquisados por Janibelli (1971),
encontram-se os acontecimentos que permearam a Educação Musical no Brasil com
o advento da proclamação da República. Em 1890, o Imperial Conservatório de
Música do Rio de Janeiro transformou-se no Instituto Nacional de Música, dirigido
por Leopoldo Miguês, músico e compositor, com uma nova proposta de ensino
musical. Era uma visão de ensino livre de arte, como elemento essencial para a
aprendizagem e criação musical.
O compositor demonstrou uma nova dimensão para o ensino da arte que
dentro dos paradigmas da educação, se inserem mais uma vez nas propostas
48
holísticas, na busca da liberdade para a transformação da sociedade, privilegiando a
função cultural de desenvolver a criatividade, a alegria e o amor (Bertrand, 1982).
Foi a partir de então que a música começou a evoluir profissionalmente, com
a formação de músicos, intérpretes, compositores e maestros. Porém, na área de
educação musical não houve cogitações ainda neste século. Embora a
popularização da educação tenha sido incentivada por D. João VI, a cultura em
geral, incluindo a própria educação, ficou relegada a segundo plano. A educação
musical foi regularizada muito tempo depois. As datas que se seguem, e que são
referentes aos decretos-leis regulamentando a Instrução Primária e Secundária,
foram encontradas em Janibelli (1971). Este autor documentou que, em 1854, o
decreto Imperial Governamental dividia as Escolas Públicas em 1.º e 2.º grau, sendo
que no 2º grau eram mencionadas no currículo noções de música e exercícios de
canto.
Na República, o Decreto Federal n.º 981, de 8/10/1890, acrescentava, além
dos cursos Elementar e Médio, o Superior. Torna obrigatório o ensino de música e a
partir de então era exigido um professor específico para o ensino musical, mediante
concurso. Essa preocupação com o ensino musical sempre esteve presente entre os
educadores que não encontravam muito apoio das autoridades e, em geral sofriam
muitas críticas sobre esse procedimento, pois “a música era considerada como
folguedo, sem mais valor” (JANIBELLI, 1971, p. 41).
Com a Lei do Ventre Livre (1871), segundo Lopes (2000), as discussões em
torno da educação do povo em geral foram cada vez mais abordadas, não sendo
propriamente levado em conta o destino dos libertos, mas com ênfase na questão
eleitoral que tinha, como condição, a alfabetização dos eleitores. Intelectuais e
políticos acreditavam que o povo inculto poderia causar equívocos nas urnas. Assim,
os educadores da época começaram a organizar idéias pedagógicas que pudessem
trazer algo de novo às práticas educativas até então adotadas, em que “instruir,
nessa concepção, significava moldar, conscientizar, conformar o cidadão para o
exercício da cidadania” (LOPES, 2000, p. 116).
Foi então que começaram a valorizar e a importar modelos europeus e
americanos, que exigiram mudanças nos conceitos de espaço e de material a serem
utilizados, com possibilidades de acesso a livros e revistas didáticas, o que foi uma
verdadeira euforia na pedagogia.
49
Toda essa fertilidade no empenho de desenvolver a instrução nos meios
pedagógicos visava ao progresso da nação por meio da escolarização. A educação,
que nesse momento ainda funcionava na casa dos professores, em fazendas, em
espaços precários e tinha um caráter quase que individual, foi ganhando espaço
para estabelecimentos mais apropriados.
No Século XIX, a educação destacava-se pela sua importância com a
influência do suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), do educador também
suíço Jean-Henri Pestalozzi (1746-1827) e, sobretudo na Alemanha, por decreto,
torna o estudo obrigatório para todas as classes sociais. Pestalozzi (1746-1827) deu
ênfase às relações ensino-aprendizagem, com reflexões sobre o processo de
aprendizagem do aluno (LOPES, 2000).
Os relatos de Moura (1984) permitem notar que a música de fato não foi
totalmente retirada do currículo escolar das escolas brasileiras, porém sofreu
grandes modificações que minimizaram seus conteúdos e carga horária. Segundo
documentos pesquisados pela autora, em 1895 consta que nas quatro primeiras
séries do então ginásio, que na época tinha a duração de sete anos, faziam parte do
currículo duas aulas semanais de música.
Essa nova etapa de organização de ensino foi muito importante para que o
conhecimento se tornasse objeto de reflexão. O professor passou a ser o mediador
que criava condições de proporcionar aos educandos os sentidos de ver, sentir e
pesquisar.
A educação começou a buscar caminho para um processo de
desenvolvimento natural, com objetivos sociais para envolver toda a população,
direcionada à formação integral do ser. Esses conceitos eram defendidos por
Pestalozzi, (1746-1827) e se mantiveram na escola brasileira até 1930.
O envolvimento dos pedagogos brasileiros com a melhoria do ensino em
geral, inspirou a criação e a publicação de novos materiais na área da música para
serem utilizados na escola. Foi o caso do livro “Cânticos Infantis”, em 1895, que
segundo Janibelli (1971), para o ensino de música às crianças bem pequenas, do
“Jardim das Crianças” e a “Pequena Enciclopédia Nacional”, já em 1908, que
continha além de outros importantes ensinamentos, os hinos Nacional, da
Proclamação da República, entre outros hinos patrióticos.
Em 1926, no antigo Distrito Federal, foi criada na administração de Carneiro
Leão, que era também pedagogo, uma “Comissão de Música exercida em caráter
50
experimental, e com a finalidade de organizar programas de música, escolhidas para
solenidades e festividades escolares” (JANIBELLI, 1971, p. 42).
Com esse novo incentivo, surgiu um novo livro de música feito para as
classes maternais, e nesta mesma época ocorre uma Reforma (Lei n.º 3281, de
23/1/1928) que obriga os professores a terem uma orientação especializada para
trabalhar com crianças daquelas classes. Em seu regulamento, a nova lei
determinava também que a música seria ministrada em todos os cursos, com
programa de música vocal e instrumental.
Na década de 1930, na chamada Escola Normal, equivalente hoje ao
Magistério, também a música era disciplina obrigatória nos três anos de sua duração
com conceitos musicais que incluíam exercícios vocais e teoria musical (LOPES,
2000).
Nessa época, além da programação para Escolas Elementares, Jardins de
Infância e Ginásios, são criadas a chamada “Cadeira de Música” e o “Canto
Orfeônico”. Na Universidade do Distrito Federal (Rio de Janeiro), nos cursos de
formação de professores, estavam presentes disciplinas culturais e pedagógicas e,
sobretudo, musicais. Grandes professores, como o maestro Heitor Villa-Lobos,
Lorenzo Fernandes, Arnaldo Estrella, entre outros, faziam parte do corpo docente
dessas escolas (JANIBELLI, 1971, p. 42).
Em 1933, com todo esse interesse educacional voltado para a cultura e as
artes, assim como para elevar o conhecimento musical da população brasileira, foi
criado por Heitor Villa-Lobos, sob a supervisão do educador Anísio Teixeira, o
SEMA, que significava Superintendência da Educação Musical e Artística (Janibelli,
1971).
A Superintendência da Educação Musical e Artística (SEMA) reunia cerca de
200 professores, que ministravam o ensino da música e do Canto Orfeônico nas
escolas e que tinham uma orientação organizada pela própria Superintendência, que
criou o Curso de Pedagogia da Música e Canto Orfeônico. Os professores da escola
primária aprendiam música, declamação rítmica, além de princípios de teoria musical
para o ensino de canto. Com o advento do SEMA, foi instituído o ensino obrigatório
de Canto Orfeônico no Município do Rio de Janeiro (Decreto n.º 19.890, de 18 de
abril de 1931).
Ainda nos relatos históricos de Janibelli (1971), a autora esclarece o quanto
foi gigantesco o trabalho de Villa-Lobos durante 10 anos, enquanto esteve à frente
51
da direção da SEMA, de 1932 a 1942. Foi nesse período que o maestro implantou o
ensino obrigatório do Canto Orfeônico nas escolas, o ensino profissional para
formação de instrumentistas, criando ainda a Orquestra Villa-Lobos. Organizou e
publicou todo o programa de música e canto orfeônico para ser adotado nas escolas
de todo o Brasil. Concertos educativos em todo o Brasil eram apresentados para
alunos e para a população em geral. Villa-Lobos criou o coral dos professores do
Distrito Federal e realizou anualmente grandes apresentações orfeônicas com
caráter cívico, reunindo até 41.000 vozes.
Esse modelo de educação musical pelo canto orfeônico foi inspirado na
França, onde esse era obrigatório nas escolas e eram comuns grandes
apresentações orfeônicas.
Villa-Lobos deu muita importância à iniciação musical, desde o Jardim de
Infância, (JANIBELLI, 1971). Acreditava que o contato cotidiano das crianças com a
música resultaria na formação de adultos mais sensíveis. Outro objetivo do canto
orfeônico estava no empenho de ajudar por meio da prática do canto a alfabetização
musical do povo brasileiro.
Segundo Janibelli (1971, p. 40) “o canto orfeônico fazia parte dos programas
das escolas primárias e secundárias, concentrando o conhecimento na transmissão
de padrões e modelos das culturas predominantes”.
Villa-Lobos deu grande destaque à elaboração de arranjos musicais para o
ensino musical e publicou 276 músicas folclóricas nacionais para esse fim,
concentradas no álbum denominado “Guia Prático”. (Janibelli, 1971). Villa-Lobos
acreditava que a música era um direito de todos. Dizia o compositor:
Antes do aluno ser atrapalhado com regras, deve familiarizar-se com os sons. Deve-se ensinar-lhe a conhecer os sons, a ouvi-los, a apreciar suas cores e individualidade. A todo o povo assiste o direito de ter, sentir e apreciar a sua arte, oriunda da expressão popular. A música, eu a considero, em princípio, como um indispensável alimento da alma humana. Por conseguinte, um elemento e fator imprescindível à educação da juventude (VILLA-LOBOS, 1946, p. 498).
Havia, porém, a questão política que vinculava o trabalho de Villa-Lobos ao
governo totalitarista de Getúlio Vargas. Assim, o canto orfeônico estava associado a
uma atividade mais cívica do que propriamente educativa, a serviço da política.
Resolvemos iniciar uma campanha pelo ensino popular da música no Brasil, crentes de que hoje o canto orfeônico é uma fonte de energia cívica
52
vitalizadora e um poderoso fator educacional. Com o auxílio do Governo, essa campanha lançou raízes profundas, cresceu, frutificou e hoje apresenta aspectos de sólida realização... Mas para que esse ensino seja proveitoso e venha a completar, e não perturbar, a evolução natural em que se deve processar a educação da criança, é preciso que seja ministrado simultaneamente com os conhecimentos de música nacional. Encarado, pois, o problema da educação musical da infância sob esse aspecto, o ensino e a prática do canto orfeônico nas escolas impõe-se como uma solução lógica, não só a formação de uma consciência musical, mas também como um fator de civismo e disciplina social coletiva (VILLA-LOBOS, 1946, p. 502-504).
Mudanças ocorreram e o Canto Orfeônico, criado pelo maestro e compositor
Villa-Lobos, foi então instituído por Decreto-lei n.° 4244/42 no curso secundário
(atualmente de 5.a a 8.a série). Essa lei durou cerca de 20 anos.
53
3 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO E OS PARADIGMAS
A Educação Musical na escola tem sido incluída nas práticas de Educação
Artística, na maioria das instituições de ensino, sem alcançar um lugar definitivo e
sistemático dentro do currículo escolar, segundo Gonçalves (2000).
O questionamento de Schaffer (1986) sobre o porquê de ensinar música a
todas as crianças, o que incluir nesse ensino, que metodologias devem ser
aplicadas, e que profissional está habilitado a ministrar aulas de música nas escolas,
são respondidas pelas pesquisas daquele mesmo autor, que conclui que, como não
tem sido usual garantir o ensino da música nas escolas públicas, o aprendizado
musical vem perdendo força. Esse fenômeno se agrava com o crescimento da
criança, que acaba se afastando desse conhecimento. Há uma tendência a um
círculo vicioso, com os administradores escolares que não passaram pelo ensino
musical e segundo Schaffer (1986), não contemplam a educação musical como uma
disciplina significativa no desenvolvimento da criança.
A intenção de mostrar a importância do conhecimento musical leva Murray
Schaffer, em seu livro Ouvido Pensante (1986, p. 25-26), a relatar uma aula com
seus alunos no North York Summer School em 1964. Destaca-se de sua obra a
passagem na qual propõe a discussão com seus alunos sobre “o que é música?”. O
autor aponta, dessa discussão, as mais diversas respostas como: “música é alguma
coisa de que se gosta, é som organizado com ritmo e melodia, é som agradável ao
ouvido, é uma arte, é uma atividade cultural relativa ao som” (Ibid, p. 25-26).
Partindo dessas afirmações dos alunos, Schaffer (1986), aprofundou cada
uma dessas definições, levando-os a pensarem e a questionarem seus significados.
Na seqüência da aula, colocou num aparelho de som um jazz e pediu aos alunos
que gostavam de jazz que levantassem as mãos e o mesmo para os que não
apreciavam esse gênero musical. Para um dos alunos que disse “eu odeio jazz”, ele
perguntou: “você concorda que mesmo assim isso é uma música?” Nessa linha de
raciocínio puderam chegar à conclusão de que há algo errado na definição de que
música é alguma coisa de que se gosta. E, assim, as outras afirmações foram
igualmente exploradas, e junto aos alunos, que puderam perceber que existem
inúmeras possibilidades de entender o que é a música, dentre elas o som e os
ruídos. Até mesmo o som da batida de um latão de lixo percutido pode tornar-se
54
música. Viram também que, qualquer instrumento musical pode fazer um ruído ao
invés de produzir música, assim como uma frigideira pode se transformar num
instrumento musical.
Esse primeiro exemplo permite perceber que, a partir da abordagem do
conhecimento musical, pode-se avaliar a importância dessa informação a esse
respeito para os alunos. De maneira geral, os conceitos básicos não são
apresentados na escola e os brasileiros seguem até a vida adulta carecendo de uma
formação geral de um conhecimento que deveria fazer parte não só de sua
escolaridade, mas de sua formação, seja qual for o ramo de atividade que vier a
exercer. A própria legislação educacional adverte:
As oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do estudante como cidadão, principalmente por intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior. (PCNS, 1988, p. 19).
Embora a legislação recomende, ainda a música na escola brasileira é tratada
como uma complementação superficial e amadora dentro do currículo escolar.
Assim, não leva em conta os benefícios que o estudo efetivo desta disciplina poderia
aliar ao desenvolvimento do ser humano no seu todo. Nesse sentido, Loureiro (2003,
p. 35) alerta: “o fato é que se há música como disciplina escolar, pouco tempo é
reservado à sua prática, a não ser como recreação ou como recurso didático, auxílio
imediato para a promoção de festas escolares ou para minimizar as dificuldades no
processo de ensino e de aprendizagem”. A autora também afirma que, atualmente,
são poucas as escolas que incluem em seu currículo a disciplina Música e, se ela de
fato existir, destina-se apenas à prática excessiva de cantar de modo inconsciente
e mecânico.
Em seu livro Pequena História da Música, o autor Mário de Andrade (1944)
esclarece que desde tempos remotos, o povo brasileiro é considerado um povo
amante da música e tem sido dotado de grande habilidade para o exercício e criação
da mesma. O autor diz que a mistura das raças no Brasil trouxe ao povo grande
musicalidade. Esse fato chamava muito a atenção de estrangeiros, que vinham ao
Brasil no século XIX, e que já constatavam unânimes, essa peculiaridade. Os
profissionais da música famosos que aqui chegavam diziam que no Brasil
esbarrava-se com músicos em cada vila, mas que não tinham oportunidade de
55
completar seus estudos musicais. Destaca-se a referência de Mário de Andrade
quando afirma que “os brasileiros têm uma habilidade de canário que a terra do
Brasil lhes deu” (2001, p. 179).
Se orientado por profissional capacitado, o exercício de cantar é um dos componentes da musicalidade, pois
A música na escola não pode ser simplesmente ornamental para animar as festas, mas através da vivência das dimensões estéticas, sonoras, visuais, plásticas e gestuais, desenvolver a consciência crítica de valores humanos e encontrar meios de levar os alunos a atuarem como cidadãos (VISCONTI 2000, p. 11).
O desenvolvimento destes componentes depende da ação docente
qualificada no ensino e aprendizagem da música. Mas, de acordo com a Comissão
Nacional de Educação Musical, as escolas têm em média somente um professor de
música para cada 500 crianças (ABEMÚSICA, 2002, p. 27).
A própria inclusão da música no currículo escolar depende da formação e
qualificação do professor que se disponha a trabalhar com essa importante área do
conhecimento. Cabe ressaltar que muitos professores que atuam na área da música
não têm formação específica para a docência.
A formação e o direcionamento de uma educação musical que trate de
assuntos que construam o conhecimento musical das crianças na escola dependem
de planejamento detalhado, levando em consideração o meio sócio-cultural das
escolas. Para que a cultura de cada comunidade seja levada em conta, o docente
precisa ser competente para extrair dessa mesma cultura elementos para o ensino
da música, em especial aproveitando o conhecimento prévio de cada comunidade. A
bagagem cultural aproveitada para o ensino e aprendizagem provém dos ambientes
onde vivem as crianças, como a família, a igreja, a própria escola e ainda as
influências dos meios midiáticos.
A mídia interfere na escolha de crianças e jovens no que diz respeito à
preferência por artistas e seus grupos musicais, mas muitas vezes banaliza grandes
obras com arranjos de qualidade duvidosa e com critérios pouco artísticos. A
influência da mídia na formação das crianças e jovens é bastante decisiva na
padronização do gosto pela música e pela adoção de modelos de comportamento.
Segundo Subtil (2006, p. 168), “estudos revelam que as mídias, através da
veiculação dos diferentes objetos culturais, entre os quais a música, tem se
configurado como um fator cada vez mais importante no processo de socialização”.
56
No que se refere à influência social, autores como Martin-Barbero & Ray
(2001, p. 112), em seu livro Exercícios de Ver, fazem uma análise da influência da
indústria cultural nos meios sociais e sua capacidade de impor modelos culturais,
que “fortemente aceleram a integração da heterogeneidade cultural dos povos à
indiferença do mercado”. Ainda segundo Martin-Barbero e Ray (2001), os produtores
vendem seus produtos e seus modus vivendi, além de uma cultura imposta, que
abrange diversas áreas de conhecimento Dentre essas áreas encontra-se a música,
que leva os consumidores, com fascínio e habilidade, a perder sua referência sócio-
cultural, pois são levados a adotar valores incutidos na força da comunicação
altamente especializada. Nesse sentido, cabe a seguinte reflexão:
As crianças de 9 a 12 anos revelaram-se consumidoras contumazes de gêneros, artistas, programas, Cds e outros objetos decorrentes das veiculações midiático/musicais. Esse processo não fica apenas na superfície, mas molda formas de ver, sentir, representar e entender o mundo, a sociedade em que vivem e as relações humanas que neles habitam (SUBTIL, 2006, p. 167).
Os veículos de comunicação, como a televisão, o rádio, a Internet e a
indústria fonográfica, influenciam a cultura e a formação das crianças e dos jovens
na nossa sociedade. Sem dúvida, são ferramentas de grande abrangência cultural
que interferem no meio e afetam a formação do comportamento e do gosto artístico
e musical.
O estudo analítico de um programa semanal da National Broadcasting
Company (NBC), no artigo The Music Appreciation Hour, mostra o posicionamento
de Adorno (1994) e sua análise crítica à metodologia musical do referido programa:
Será mostrado que não apenas há insuficiência na parte puramente musical e pedagógica do programa, mas também que ele conduz a um mundo musical fictício dominado pelos nomes de personalidades, etiquetas estilísticas e valores pré-digeridos que não podem ser "experienciados" pela audiência do Music Appreciation Hour; na verdade, o programa apresenta o material de modo a fomentar, de modo proposital ou não, atitudes estereotipadas e convencionais, ao invés de levar à compreensão concreta do sentido musical (ADORNO, 1994, p. 326).
Assim, Adorno (1994) observou que mesmo sendo um programa sem fins
comerciais, pois era financiado pela própria NBC, tinha todas as características da
indústria do entretenimento comercial, que transforma a música apenas em
entretenimento, sem a devida atenção aos seus problemas estéticos e educacionais.
57
Em sua análise crítica sobre o referido programa da NBC, Adorno (1994)
observou que, mesmo com a intenção de fazer uma educação musical por meio de
um programa de rádio, faltava aos ouvintes uma verdadeira experiência musical,
confundindo arte com prazer, entretenimento e diversão, provocando uma aparente
ascensão cultural dos ouvintes. Para Adorno (1994) esse programa enfatizava
apenas o efeito musical, e tornando o conhecimento musical um estudo de
aparência.
Entende-se ser importante uma diversificação da cultura musical em todos os
momentos históricos e seus respectivos estilos como parte da construção do
conhecimento musical a ser incluída no ensino fundamental, de modo simples e
direto. Não se trata de ter uma formação musical unicamente influenciada pela
indústria cultural, mas por um ensino criterioso que possa proporcionar o direito de
escolha, assim como o refinamento do gosto pela arte, por meio do conhecimento.
Nas últimas décadas, a educação musical sofreu influência da comunicação
digital. Nesse sentido, é possível observar notáveis transformações no contato do
sujeito com a música. Como afirma Santella (2005, p. 16): “as misturas já bastante
intricadas entre as comunicações e as artes, ensejadas pela cultura das mídias,
foram incrementadas com o surgimento da cultura digital ou cibercultura, devido à
convergência das mídias que a constitui”. Nesse contexto, os recursos
informatizados, em especial a Internet, dispõem de vasta opção musical para os
mais diferentes estilos e preferências como, por exemplo, o site InForum Site -
Comunidades de Comunidades Virtuais, disponíveis na rede informatizada. Os jogos
virtuais são acompanhados por música eletrônica. Os professores também podem
utilizar alguns recursos de ensino de música por meio de CD-Room e vídeo de aula,
como o encontrado em Teixeira (2000).
Pode-se desenvolver com sucesso parte da musicalidade e do conhecimento
musical das crianças por meio da audição de músicas dos mais diversos gêneros.
Porém, apenas a audição não é suficiente para a vivência musical no seu potencial
de desenvolvimento artístico no ser humano. Segundo Araújo (2000), é viável criar
instrumentos para o ensino de música pela Internet, levando em conta as limitações
e possibilidades que possui esse veículo. É preciso criar soluções que possam
suplantar essas limitações, propondo novos procedimentos para o ensino musical.
58
Segundo Lacorte (2005), é imprescindível propiciar uma percepção musical
utilizando não somente o aparelho auditivo e a visualização dos conceitos musicais,
mas usando todo o corpo, para que a criança desenvolva a reflexão e a criatividade.
Como afirma Goleman (1992), há indicação de que uma exposição a um
leque maior de desenvolvimento de habilidades e conhecimento deva ser oferecida
na escola tradicional. Esse cuidado pode ampliar as possibilidades da inteligência
humana para uma preparação melhor para a vida.
O ensino musical e o contato com a arte podem estimular o espírito crítico e
criativo que não acolhe a padronização do pensamento, pois “a maneira como
ouvimos o mundo em nossa volta é tão individual como nossas impressões digitais”
(CAMPBELL, 1991, p. 10).
O mundo hoje é um macrocosmo de informações que faz de cada ser um
professor e aprendiz. Freire (1986) propõe que toda a prática educativa deve sempre
manter a existência de sujeitos, os que ensinam e os que aprendem, ou seja, os que
em situação de aprendiz também ensinam.
Segundo Behrens (2005), o século XXI se destaca pelo despertar da
compreensão, da importância da educação na sociedade, e de levar o ser humano à
busca de uma vida plena, em que possa desenvolver sua cidadania, suas
habilidades e seus talentos.
A educação que permite a reorganização da produção e distribuição do
conhecimento, segundo Behrens (2005), traz novos valores metodológicos,
ancorados em teorias que visam tratar o conhecimento com uma nova dimensão,
procurando superar a tendência do acomodamento aos conceitos tradicionais e
conservadores da prática pedagógica apresentada no decorrer da história.
A visão fragmentada levou os professores e os alunos a processos que se restringem à produção do conhecimento. As metodologias utilizadas pelos docentes têm estado assentadas na reprodução, na cópia e na imitação. A ênfase do processo pedagógico recai no produto, no resultado, na memorização do conteúdo, restringindo-se em cumprir tarefas repetitivas que, muitas vezes, não apresentam sentido ou significado (BEHRENS, 2005, p. 23).
Nas últimas décadas do século XX que se estende até a entrada do século
XXI, a humanidade passou a ser desafiada pela mudança paradigmática em todas
as áreas do conhecimento, na tentativa de acompanhar as rápidas mutações dos
costumes da humanidade.
59
Segundo Behrens (2005), as transformações que acontecem no mundo, a
competitividade, a obsessão pelo poder e pela eficácia, o empenho para gerar
produtos e tecnologia sofisticados, atingem a Educação em todos os níveis. Surgem
então estudos que se dedicam ao aprofundamento do tema “Paradigmas da
Educação”, no sentido de buscar a reestruturação de formas tradicionais de
intervenções pedagógicas.
A reflexão exige o entendimento do termo “paradigma”. Segundo Morin
(1971), In: Moraes (1998, p. 31): “paradigma significa um tipo de relação muito forte,
que pode ser de conjunção ou disjunção, que possui uma natureza lógica entre um
conjunto de conceitos-mestres”. Ainda segundo, Moraes (1998), o paradigma tem
sempre um conceito de relações, direciona os discursos teóricos, e proporciona um
processamento da evolução das teorias e do conhecimento científico, para o seu
crescimento, rupturas e transformações.
Começam então a surgir a partir do século XX, segundo Behrens (2005),
novos paradigmas da educação que vem transformando as atitudes e os antigos
valores educacionais. Esse movimento de mudança paradigmática tem provocado a
revisão de todo comportamento da antiga educação que alicerça o trabalho do
professor, bem como o papel da escola. O objetivo do novo paradigma aponta para
que se tenha uma escola e professores que busquem a excelência do ser e a
construção do conhecimento.
Então “será necessário oferecer atividades em que as crianças participem
cada vez mais intensamente da resolução e do processo de elaboração pessoal, em
vez de copiar e reproduzir automaticamente as instruções ou as explicações dos
professores” (ZABALLA, 2001, p. 115),
As mudanças ocorrem em todas as áreas do conhecimento, portanto a
educação musical não poderia ser uma exceção. Cabe aqui refletir sobre as
contribuições dos pesquisadores na busca de possíveis soluções científicas para o
rompimento de antigos paradigmas. Com desafios muitas vezes intrigantes, o novo
paradigma exige criar uma outra escola, outro professor, outro aluno e novos
procedimentos que transcendam a repetição, a discriminação e o preconceito, na
tentativa de construir um mundo melhor.
Educadores de todas as áreas se deparam com modificações nos modelos de
ensino-aprendizagem pelo surgimento de novos paradigmas educacionais, que vêm
60
transformando as atitudes e os antigos valores educacionais, na tentativa de
acompanhar as rápidas mutações dos costumes da humanidade.
Visando os melhores recursos e crescimento do sujeito, o objetivo é que
tenhamos uma escola e professores que busquem a excelência do ser e a
construção do conhecimento, vislumbrando uma sociedade mais desenvolvida,
saudável e feliz. A educação musical sem dúvida precisa acompanhar a mudança
paradigmática e deve caminhar paralelamente na construção do conhecimento
desde a infância.
O sucesso da prática musical, segundo Gonçalves (2003), tem sido efetivo no
trabalho com crianças e adolescentes que demonstram deficiências de ordem física,
de sociabilidade, intelectuais e emocionais. O contato com o ensino da música
demonstra evidências de que essa educação é considerada elemento imprescindível
na formação dessas e de todas as crianças. Com esse desafio, “a música,
considerada elemento indispensável à educação, deveria ser acolhida pelas escolas
de ensino regular e trabalhada de forma efetiva, como passo significativo aos
projetos educacionais que visam ao desenvolvimento integral do ser humano”
(GONÇALVES, 2003, p. 14).
3.1 O PARADIGMA CONSERVADOR E SUA INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO
MUSICAL
A abordagem tradicional da educação para Mizukami (1986) caracteriza-se
por uma transmissão de conhecimento que se repetiu por muitas gerações. Essa
transmissão foi adquirida no decorrer da mais remota história da educação, que se
confunde com a própria história da civilização, em que a sublimação da pretensão
de grandes aquisições do conhecimento transformava o sujeito num receptor
passivo das informações transmitidas pelo único espaço responsável pela instrução,
que era a escola.
Os registros desse paradigma na área da educação musical no Brasil
encontram-se nas citações de Ventura (2005):
61
O CNCO foi instituído pelo Decreto-lei nº. 4993, de 26 de novembro de 1942. A escola, idealizada por Villa-Lobos, teve o apoio do Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema. Na seqüência do projeto veio a implantação, em caráter obrigatório, do Canto Orfeônico nas escolas. Villa-Lobos já liderava grandes manifestações cívicas, utilizando grupos corais que eram denominados Orfeons. Contava com a colaboração de professores de música que eram encarregados da preparação dos alunos das escolas primárias e secundárias para as diversas festas cívicas que constituíam o principal espetáculo do governo de Getúlio Vargas. Eram milhares de crianças uniformizadas, executando gestos sincronizados, cantando de forma afinada e conduzidas pelo grande maestro. Uma verdadeira demonstração de civismo à moda alemã do Terceiro Reich. Dessa forma, o CNCO pretendia uma educação musical introdutória, sem maiores aprofundamentos e cujos objetivos populistas e demagógicos eram flagrantes.
A obrigatoriedade do canto orfeônico nas escolas foi sendo excluída, segundo
Ventura (2005), até que, em 22 de setembro de 1967 foi publicado o Decreto nº.
61.400, quando os objetivos da escola mudam radicalmente e passam a ser
orientados no sentido de se realizar uma verdadeira educação musical, inclusive a
pesquisa do som e da imagem, a musical e a do comportamento musical brasileiro.
A Educação Musical segue também a abordagem tradicional no que diz
respeito ao aluno, ao professor e à avaliação. O aluno tem o dever de memorizar e
reproduzir os ensinamentos; o professor repassa os conteúdos de forma dogmática
e fragmentada como verdade absoluta, levando a relação professor-aluno num
âmbito autoritário e disciplinador. A avaliação é focalizada na memorização e
repetição de conceitos.
No paradigma conservador, o conhecimento é apresentado de forma
“vertical”, muito bem definido por Paulo Freire, (1996), que denomina esse período
como “educação bancária”, pois as informações são “depositadas” mediante o poder
decisório do professor cuja metodologia limita-se a aulas expositivas. O docente
coloca-se à frente de uma sala de aula de alunos que, pacificamente, foram
treinados para ouvir e repetir os ensinamentos numa concepção estática de
conhecimento. Com seu ambiente austero, a aprendizagem era nada mais do que
um fim em si mesmo, as informações eram repassadas por meio de modelos
limitados. Nesse modelo único de transmissão de conhecimento, o aluno é levado a
dominar suas emoções, cercear suas iniciativas, sem que sejam consideradas a
imaginação, a sensibilidade e a afetividade.
A educação musical conservadora leva a um processo incoerente no que diz
respeito à formação do indivíduo no âmbito da arte. Essa requer uma abrangência
62
inesgotável da imaginação, e da sensibilidade. Em termos de arte é necessário que
se expressem as emoções de modo a que o indivíduo perceba plenamente os seus
sentimentos.
O paradigma tradicional, que permaneceu por muito tempo na prática da
educação, propôs que o adulto, ou mestre, detivesse a plena autoridade na prática
educativa. Nesse sentido, Behrens (2000) alerta que o professor apresenta
conteúdos prontos que permanecem imutáveis durante anos, e o aluno exemplar
conservador deve obedecer sem questionar.
O século XX manteve a tendência do século XIX, fortemente influenciado pelo método cartesiano – a separação entre mente e matéria e a divisão do conhecimento em campos especializados em busca de uma maior eficácia. Essa forma de organizar o pensamento levou a comunidade científica a uma mentalidade reducionista na qual o homem adquire uma visão fragmentada não somente da verdade, mas de si mesmo, dos seus valores e dos seus sentimentos (BEHRENS, 2005, p. 17).
Ainda sobre o paradigma tradicional ou conservador, a transmissão de
conhecimento nesse paradigma é “uma concepção mecanicista que estipula que o
professor é um transmissor de informações e que o aluno é um receptor que as
registra” (BERTRAND, 1982, p. 56).
A postura tradicional, segundo Behrens, tem como principal objetivo, dentro
de um comportamento austero e formal entre educadores e alunos, a transmissão
do conhecimento, sendo a escola uma “reprodutora dos modelos e apresenta-se
como o único local em que se tem acesso ao saber” (BEHRENS, 2005, p. 41).
Em suas considerações sobre a Educação Musical, Shaffer (1986), enfatiza a
necessidade do incentivo ao ato criativo a que a educação artística leva ao
educando:
Na educação, e considerando o aspecto da transmissão de conhecimentos, o professor tem todas as respostas, e os alunos, a cabeça vazia, pronta para assimilar informações. Numa classe programada para a criação não há professores: somente uma comunidade de aprendizes. O professor pode criar uma situação com uma pergunta ou colocar um problema; depois disso, seu papel de professor termina. Poderá continuar a participar do ato de descobertas, porém não mais como professor, não mais como a pessoa que sempre sabe a resposta (SHAFFER 1986, p. 286).
A citação nos leva a refletir, que para o ensino da arte, é preciso que novos
paradigmas de relacionamento entre professor e aluno sejam estabelecidos, para
63
que o processo criativo, por meio do desenvolvimento do pensamento artístico, leve
ao exercício da mente para análise e para que cada aluno possa conquistar de suas
próprias criações.
3.2 PARADIGMAS INOVADORES E A EDUCAÇÃO MUSICAL
No século XXI, a necessidade de mudanças pela evolução da tecnologia, da
ciência, da mídia e demais meios que caracterizam o processo de transformação da
sociedade levam a educação a buscar alternativas para um novo posicionamento na
prática pedagógica. Segundo Behrens (2000, p. 57), “o advento da mudança de
paradigma na ciência ensejou novas abordagens na educação”.
A busca da superação da abordagem conservadora leva ao surgimento do
enfoque holístico: “o grande desafio da visão holística é a superação do saber
fragmentado, que foi dividido na escola em disciplinas isoladas” (BEHRENS, 2000,
p. 63-64).
Entende-se por holístico:
Hoje, ser holístico é saber respeitar diferenças, identificando a unidade dialética das partes no plano da totalidade. A atual abordagem holística na educação não pretende ser uma nova verdade que tenha a chave única das respostas para os problemas da humanidade. Ela é essencialmente uma abertura incondicional e permanente para o novo, para as infinitas possibilidades de realização do ser humano. (CARDOSO, 1995, apud BEHRENS, 2005).
A visão holística abrange todas as áreas do conhecimento, como a medicina,
a psicologia, a economia, a sociedade, a religião, a educação e as artes, entre
outras áreas.
O aprendizado, afinal de contas, não significa apenas escolas, professores, matemática, notas, resultados. É o processo pelo qual vencemos cada passo do caminho desde que respiramos pela primeira vez; passando pela transformação que ocorre no cérebro sempre que uma nova informação é integrada, uma nova habilidade dominada. O aprendizado aciona a mente do indivíduo. Qualquer outra coisa é escolarização (FERGUSON, 1995, p. 273).
64
O paradigma holístico enfatiza uma educação que está muito atenta ao ser.
Essa atenção se dá no sentido de priorizar o desenvolvimento global do ser humano,
respeitando todas as fases do seu crescimento e da sua individualidade. Enfatiza o
aproveitamento de suas tendências e capacidades, considerando que cada pessoa
já nasce com talentos e que esses podem e devem ser desenvolvidos. Isso significa
que “a maior reforma da educação pode ser a descentralização, a derrubada das
paredes sem janela que têm isolado as escolas da comunidade, da vida real que
beneficiam o capital e o mercado” (FERGUSON, 1995, p. 271). “A verdadeira
educação, reforça a capacidade de continuar a dar sentido à vida, à medida que ela
se desenvolve” (ibid, p. 303).
A educação holística visa o desenvolvimento do aluno como explica a citação
a seguir:
O crescimento pessoal dos alunos e das alunas implica como fim último serem autônomos para atuar de maneira competente nos diversos contextos nos quais irão se desenvolver. Impulsionar essa autonomia significa tê-la presente em todas as propostas educativas, para que sejam capazes de utilizar sem ajuda os conhecimentos adquiridos em situações diferentes daquelas em que foram aprendidos (ZABALA, 2002, p. 115).
Ainda segundo Zabala (2002), o conhecimento fragmentado por disciplinas
que seguem caminhos dispersos dentro do currículo escolar, começa a ser
redirecionado, a partir do século XX, pelos movimentos renovadores da escola nova.
O autor cita Dewey (1859 - 1952), Montessori (1870 – 1952), Decroly (1997) e Freire
(1997), entre outros nomes, como os precursores de novas posições ideológicas na
educação.
Certamente o ensino da música traz benefícios ao desenvolvimento das
habilidades musicais, rítmicas e motoras, inerentes a cada criança. A educação
geral deve considerar os aspectos holísticos da formação do aluno para uma visão
global ampliada, que incluem a prática musical.
Por sua vez, a flexibilidade na ação pedagógica dos educadores é importante,
pois o educar precisa considerar um processo de aprendizagem para a vida.
A conquista da flexibilidade de pensamento e de ações é imprescindível no
processo educativo. O sistema educacional, como um todo, precisa de constante
renovação, possibilidade de mudanças e do entendimento de que as crianças
possuem grande capacidade de transcender e alcançar ilimitadas proporções de
65
desenvolvimento e conhecimento. Para que esse desenvolvimento ocorra, é preciso
que os educandos sejam estimulados, sejam instigados em sua curiosidade, pois
assim podem aprender por meio da ciência e da arte. O alargamento das dimensões
para aprender pode levar ao desenvolvimento da saúde física, mental, moral e
espiritual.
A música, como ferramenta de desenvolvimento do estímulo à criatividade, à
coordenação motora, entre outros atributos, pode contribuir para o exercício da
flexibilidade do pensamento e da cognição, especialmente pelo discernimento da
complexidade dos signos musicais.
O desenvolvimento da visão de totalidade na educação contribui para a
formação do indivíduo, nos mais diversos âmbitos de abrangência. Nesse sentido,
observamos o pensamento de Smuts, quando propõe: “matéria, vida e mente, longe
de serem descontínuas e distintas irão aparecer como séries mais ou menos
interligadas e progressivas no mesmo grande processo” (BEHRENS, 1991, p. 21).
A prática artística pode auxiliar na interconexão entre a matéria, a vida e a
mente, pois em geral contribui para atingir essa transcendência e para alcançar
ilimitadas proporções de desenvolvimento. Porém, precisa ser apresentada às
crianças desde muito cedo, para que desperte nelas o desejo, a busca e o direito de
escolha de suas habilidades e aptidões.
Nesse processo investigativo, é preciso perceber nos alunos o talento
artístico e desenvolvê-lo. Mas não é possível saber se o indivíduo tem talento
artístico sem nunca experimentar o exercício da arte, ficando este à margem do seu
conhecimento.
A educação holística envolve uma nova visão de professor, de aluno, de
escola, de avaliação e de ética, pois o paradigma holístico propõe uma educação
fundamentada na educação com amor, respeito, justiça, liberdade e democracia.
Nesse contexto, Behrens (2005) propõe que a educação holística é condição sine
qua non para busca do conhecimento integral, para a vida e para o progresso da
ciência, da tecnologia e do equilíbrio de cada ser, que é integrante único e co-
responsável na formação da sociedade.
A educação, que visa o desenvolvimento global do ser, ou educação holística,
tem, na concepção de Yus (1998), requisitos que incluem a educação ambiental, a
educação para a paz, a educação para os direitos humanos, a educação para a
igualdade ou co-educação e a educação para o desenvolvimento.
66
O trabalho educativo tem que manter uma relação entre a educação e a
transformação social, pois, de acordo com Oliveira (1996), a educação deve ter
como metas a criação de possibilidades de mudanças, a superação de uma
sociedade alienada. Para que essa se humanize, precisa encaminhar um processo
de elevação da consciência do ser individual, e ainda do grupo, da comunidade,
expandindo-se para toda a humanidade.
A universalização da educação, segundo Oliveira (1996), numa abrangência
social mais ampla, precisa dar ênfase a uma metodologia que busque uma visão
histórica crítica. Isso porque uma educação holística deve ter uma visão geral e
interconectada que possibilite a formação do cidadão, não apenas a de indivíduos
em disciplinas estanques e específicas da escola. A educação deve, com coragem,
transformar o meio, numa dinâmica que esteja sempre atenta à realidade, buscando
concepções idealistas para o bem comum.
Para tanto se torna necessário desenvolver o ambiente pedagógico que
considere a visão aberta. A teoria e a prática devem caminhar lado a lado na
formação de um sujeito competente e inovador, dando importância ao lúdico, aos
meios eletrônicos disponíveis e ao gerenciamento inteligente do tempo e das ações
escolares. Nesse contexto, a otimização da educação precisa contemplar um
excelente desenvolvimento de pessoas e de cidadãos competentes para o exercício
da emancipação e da colaboração mútua, numa permanente re-construção do
saber.
Dentro dessa perspectiva, os alunos, em contato com uma educação musical
holística, podem incorporar, em seu processo educativo, uma formação criteriosa e
assim desfrutar de seus benefícios, para se tornarem adultos com um conhecimento
ampliado, crítico e transformador.
O paradigma da educação, que diz respeito ao ensino com pesquisa, que
começou a ser observado de modo ainda primitivo no século XVI. Encontramos em
Pedro Demo (1996), nos seus estudos sobre “Educar pela Pesquisa”, a seguinte
afirmação, que se insere dentro dos conceitos do paradigma da complexidade:
A educação pela pesquisa consagra o questionamento reconstrutivo com qualidade formal e política, como traço distintivo da pesquisa. Numa parte, é mister superar a visão unilateral de considerar como pesquisa apenas seus estágios sofisticados, representados pelos produtos solenes do mestre ou do doutor.Noutra parte, pesquisa precisa ser internalizada como
67
atitude cotidiana, não apenas como atividade especial, de gente especial, para momentos e salários especiais (DEMO, 1986. p. 11).
Demonstra, ainda, o paradigma da complexidade que esse requer o
questionamento, a formação do sujeito competente e, sobretudo, do educador em
constante pesquisa.
Demo (1996), afirma que o espírito da pesquisa pueril por meio de sua
curiosidade, seu modo irrequieto e inquiridor, que gera o conhecimento natural,
lúdico e prazeroso, muitas vezes é interrompido na escola. Essa prefere privilegiar o
excesso de disciplina, preocupando-se com que a criança venha a aprender por
meio da imitação, com a transmissão de conhecimento sem ter como elemento
básico o juízo crítico, sem dar o devido valor ao conhecimento inovador, enfatizando
as aulas expositivas.
Os caminhos que norteiam o ensino com pesquisa são, segundo Behrens
(2005), frutos das transformações da sociedade pela influência do desenvolvimento
técnico, científico e da globalização do conhecimento numa sociedade em que a
informação está largamente acessível em todos os meios de comunicação. Desse
modo, a escola e os livros deixam de ser os únicos canais de transmissão de
conhecimento, como ocorria no período anterior a essa expansão, ou seja, até a
década de 1980 (BEHRENS, 2005).
Segundo Cunha (1996) apud Behrens (2005), o ensino com pesquisa se
caracteriza por contemplar a valorização da reflexão e sistematização do ensino-
aprendizagem, a análise, a curiosidade, o questionamento, assim como o
pensamento divergente. “Estimula ainda as práticas interdisciplinares, a investigação
e a pesquisa em todos os âmbitos da vida escolar” (BEHRENS, 2005, p. 86).
“Aprender a aprender” é o processo que prioriza esta conduta educacional (Ibid.,
p. 87).
Ainda segundo Behrens (2005), a posição do professor que atua no
magistério utilizando o ensino com pesquisa, que utiliza os conceitos do paradigma
da complexidade, se difere do antigo comportamento dos docentes conservadores
que eram os únicos transmissores do conhecimento. Nos processos de ensino -
aprendizagem do paradigma da complexidade busca-se fazer uma parceria entre
professores e alunos, com o intuito de que ambas as partes sejam participantes
ativos dos processos pedagógicos. O professor é então, neste ambiente de
aprendizagem, um orientador, um colaborador que incentiva a iniciativa, propicia
68
ambientes educativos que impliquem na curiosidade, na criatividade e na busca de
soluções de problemas.
No que se refere ao ensino da música, Schafer (1991) discute o
questionamento de como a música deveria ser ensinada em sala de aula e admite
que o “fazer musical” criativo deve ser o principal objetivo do currículo escolar
referente ao ensino dessa arte. Nesse currículo deve haver uma extensa margem
para o desenvolvimento da auto-expressão, da pesquisa, da construção do
conhecimento musical de modo democrático. Aquele autor afirma ainda que “a
possibilidade de todas as sociedades se tornarem auto-realizadas permanece,
entretanto, pequena, devido ao temor persistente a ações originais de qualquer
espécie” (SCHAFER, 1991, p. 279).
O paradigma emergente é “a aliança entre os pressupostos das abordagens
sistêmica, progressista e o ensino com pesquisa” (BEHRENS, 2003, p. 95). A autora
apresenta sugestões da prática do aprender a aprender, que é um dos principais
objetivos do exercício da prática do paradigma emergente na educação: “reduzir
gradativamente o espaço das aulas teóricas, procurando utilizar o maior tempo
disponível para a pesquisa, a busca de informações” (BEHRENS, 2003, p. 109).
No que se refere à educação musical, essa abordagem poderá ser aplicada
no sentido de proporcionar às aulas de Educação Musical, conteúdos que levem aos
currículos vivências musicais com exercícios rítmicos, educação do ouvido musical,
apreciação e crítica musical.
Entres as inúmeras sugestões de Behrens (2003), sobre a prática do
paradigma emergente, encontram-se ainda o incentivo aos alunos de buscarem um
envolvimento em trabalhos em grupo, desenvolver o hábito do exercício de diálogos
e discussões em seminários e pesquisas, utilizar os recursos eletrônicos disponíveis
para a pesquisa e comunicação, assim como todos os meios que facilitem a busca
do conhecimento, como bibliotecas, e recursos encontrados na comunidade.
Na educação musical, além utilização dos recursos midiáticos, as aulas de
música podem ser valorizadas com pesquisas na comunidade, com visitas a salas
de concertos, entrevistas com músicos profissionais populares e eruditos, visitas e
contatos com construtores de instrumentos musicais para uma formação musical
abrangente, que possa abrir portas para um conhecimento aprofundado.
Segundo Ferguson (1995), o paradigma emergente, requer a participação
efetiva dos pais, alunos e professores nas decisões sobre administração e currículo,
69
com exceção dos conteúdos determinados pela lei. Esse processo participativo
exercita o senso de responsabilidade das crianças e ainda dos pais, no processo
educativo, e tem como principal objetivo o desenvolvimento da autonomia, a empatia
e o auxílio mútuo entre os sujeitos envolvidos na educação.
Ilustrando essas expectativas para o ensino musical na escola brasileira,
encontramos a seguinte citação:
Enfim, o paradigma emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a visão uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência, procurando interconectar vários interferentes que levem o aluno a uma aprendizagem significativa, com autonomia, de maneira contínua, como um processo de aprender a aprender para toda a vida. Aliado a essa proposta, deverá ter como desafio contínuo a missão de reconstruir os caminhos da sensibilidade, da emoção, da intuição, da construção de valores, de solidariedade, de harmonia, de paz, de coleguismo, de parcerias, de trabalho integrado, visando formar um cidadão ético que busque a transformação da sociedade para torná-la digna, justa e humana (BEHRENS, 2003, p. 11).
Cabe aqui mencionar, segundo apontamentos de Schafer (1991), que as
inteligências, na sua diversidade, requerem metas e objetivos diferentes, de acordo
com as potencialidades de cada educando no ensino musical.
Na decisão de adotar uma metodologia para a Educação Musical que envolva
o paradigma emergente da educação, a escola e o professor devem ter uma visão
pedagógica que busque a pesquisa, a análise, a motivação, a diversificação dos
conteúdos, tendo como tarefa prioritária o desenvolvimento de cada ser
individualmente e em grupo, para desenvolvimento de uma visão ampliada e para
que: “a prática educativa transforme-se em verdadeiro contexto de aprendizagem e
socialização para seus usuários e usuárias” (ZABALA, 2002, p. 238).
Na presente pesquisa, foi feito um recorte para situar e identificar o ensino da
música ao longo da história, destacando modelos de paradigmas que são comuns
ao ensino em geral e ao ensino musical. De modo conciso, foram descritos os
paradigmas: tradicional, holístico e emergente, dando-se ênfase, nesse último
paradigma, ao “ensino com pesquisa”.
Sendo assim, cabe destacar que é importante promover novos modelos de
educação musical na escola, utilizando novas estratégias educativas, vencer
desafios na busca de valores, interesses e projetos que visem ao desenvolvimento
artístico musical de nossas crianças, para levar até elas seus benefícios. Ensinar
exige a convicção de que a mudança é possível (FREIRE, 1996, p. 76).
70
Na concepção de Schaffer (1991), a prática musical pode levar a criança a
entrar em contato com os ritmos do Universo que vibra com um número inestimável
de ritmos, cujas pulsações podem-se aprender a sentir para ajudar no
desenvolvimento da coordenação motora, da respiração, da autodisciplina, fatores
esses que permitem ainda a estimulação, a integração intelectual e física,
trabalhando assim como agente regenerador da percepção na sua totalidade.
Os novos paradigmas da educação, quando aplicados à Educação Musical,
serão fatores de um redimensionamento da dignidade da inclusão da música no
currículo das escolas brasileiras
71
4 CAMINHOS TRILHADOS NA PESQUISA
A abordagem de pesquisa qualitativa tipo estado da arte que determinou a
direção deste estudo, procurou observar e compreender o conhecimento gerado
pela proposição dos pesquisadores. Tardif (2002), assim justifica este tipo de
pesquisa como: “(...) uma epistemologia da prática profissional definida como o
estudo do conjunto dos saberes realmente utilizados pelos professores em suas
tarefas cotidianas” (ZAGO, 2003, p. 41).
Garnica (2004) orienta sobre as diversas características da pesquisa
qualitativa, que são: a efemeridade de seus resultados pelas mudanças que ocorrem
na sociedade, na tecnologia, influenciando diretamente a educação; falta de uma
imparcialidade rigorosa do pesquisador, que não se abstêm de sua experiência
prévia pessoal na interpretação dos fatos pesquisados. Portanto, esse tipo de
pesquisa não estabelece procedimentos regulares e estáticos.
No que diz respeito às determinações do sistema que utiliza o estado da arte
para a pesquisa, encontramos em Romanowski e Ens (2006), citações que alertam
para a necessidade de se estabelecer um estudo comparativo entre as obras
selecionadas em diversos aspectos como as regiões geográficas entre os estudos
selecionados, os problemas comuns encontrados nas obras, as observações de
ordem política e social, assim como os desafios e as dificuldades encontradas no
decorrer da elaboração dos trabalhos.
Segundo Romanowski e Ens (2006), existem limitações dentro do processo
de pesquisa denominada estado da arte, pelas dificuldades encontradas no acesso
restrito às obras que dizem respeito ao objeto de estudo. Trabalhos de teses,
dissertações e artigos em periódicos, por motivos de restrita publicação e
distribuição de cópias em bibliotecas, impedem a obtenção de um maior número de
cópias, dificultam o acesso à aquisição por parte dos interessados em pesquisar
determinado assunto.
Ainda, resumos algumas vezes mal elaborados que não dão uma visão ampla
da intenção do assunto referente ao trabalho apresentado, e os limites encontrados
nos bancos de dados na web, que muitas vezes se restringem a demonstrar curtos
trechos das obras selecionadas, são fatores que limitam a expansão de uma
pesquisa mais abrangente.
72
A abordagem qualitativa aqui selecionada permite uma reflexão sobre a
situação em que se encontra o ensino da educação musical na escola brasileira,
estudando dissertações e teses de mestrado e doutorado já pesquisadas por
diversos profissionais da área da música, conforme explicado anteriormente.
É possível abordar a educação musical sob os diversos aspectos que são
intrínsecos ao método da pesquisa qualitativa, segundo Zago (2003), como
etnografia, ou seja, coleta de dados, estudo de casos, pesquisa–ação, estudos de
abordagem do ensino da música dentro do sistema educacional contemporâneo,
mudanças ocorridas diante de uma tecnologia que vem avançando continuamente,
trazendo grandes transformações sociais, políticas, econômicas e culturais.
Para a elaboração da pesquisa aqui apresentada, foi realizado, inicialmente,
um levantamento de 39 teses e dissertações sobre o estado da arte na educação
musical no ensino fundamental das escolas públicas brasileiras, elaboradas no
período de 1991 a 2003, e uma exceção do ano de 1984, mediante pesquisas nas
bases de dados do Banco de Dados de Teses e Dissertações da Biblioteca Digital
do CNPq (IBICT). Foram ainda encontrados 68 registros no Banco de Dados
Bibliográficos da Universidade de São Paulo – Catálogo On-line Global-DEDALUS,
entre outras entidades fornecedoras dessas informações, consoante com as
palavras-chave: Educação Musical, Música na Escola, Musicalização, Ensino
Musical. A seleção foi feita de acordo com o assunto e o título das referidas teses e
dissertações.
Foram selecionados 13 trabalhos entre as dissertações e teses pesquisadas,
pois seus contextos vêm de encontro ao tema e desenvolvimento da presente
pesquisa, ou seja, demonstram como acontece a educação musical na escola
brasileira.
Dentre as temáticas dos trabalhos estudados, foram encontrados exemplos
do uso da tecnologia na educação musical na escola, com a utilização de recursos
da informática, da web, o ensino de música à distância, o uso do canto coral, os
desafios do ensino musical na escola, a música na educação e a
interdisciplinaridade. Foram também encontrados estudos sobre modelos de
educação musical em escolas no ensino fundamental, e os paradigmas da educação
no ensino da música.
73
4.1 ESTUDOS SELECIONADOS SOBRE A TEMÁTICA
Depois da análise dos 13 estudos, foram escolhidos entre eles 4 para serem
investigados, pois representam e explicam com maior profundidade a temática
objeto desta investigação, sobretudo no que diz respeito ao paradigmas da
educação.
O critério para o recorte da escolha das teses e dissertações que foram
escritas entre 1991 e 2003, e uma exceção de 1984, teve como princípio a busca de
respostas ao problema da presente pesquisa, que visa investigar a educação
musical no Brasil, as dificuldades e sugestões de inserção desta disciplina na escola
brasileira e os paradigmas da educação encontrados nas teses e dissertações
selecionadas.
Os paradigmas da educação estão presentes nos relatos daquelas pesquisas
pela descrição dos objetivos, das críticas e dos anseios dos pesquisadores, porém o
termo “paradigma da educação”, não foi usado pelos pesquisadores.
A escolha do período entre 1991 e 2003, deve-se ao fato de que neste
período, concentra-se um maior número de teses e dissertações sobre a temática
abordada nesta dissertação, nos bancos de dados pesquisados e que possibilitam
encontrar possíveis respostas ao problema de pesquisa.
Foi também incluída uma dissertação realizada em 1984, como exceção, em
função da relevância dos dados nela contidos, pois trazem uma colaboração para
indicar a realidade do ensino da música nas escolas naquela década, que muito se
assemelham aos dias de hoje.
A sistematização do trabalho não levou em conta a ordem cronológica restrita
na comparação dos textos, mas sim os conteúdos norteados pelas linhas temáticas.
As citações históricas sobre a educação musical no Brasil também foram
observadas neste estudo, com o intuito de localizar as mudanças de paradigmas
educacionais no decorrer dos registros encontrados.
Partindo da investigação de teses e dissertações sobre educação musical,
como já explicado, foi possível observar a realidade das possibilidades de ensino da
disciplina citada na escola brasileira, o papel do professor de música, suas
condições de trabalho e de aprofundamento dos conhecimentos por meio de uma
formação continuada.
74
Da mesma forma, também foi investigado nos referidos trabalhos, as
contribuições sobre a qualidade do aprendizado musical das crianças e as
condições que escola oferece para o ensino da música.
Ainda buscando mais dados nas teses e dissertações selecionadas, foi
possível detectar as aspirações, as sugestões, as apreensões e angústias dos
pesquisadores da área da educação musical pelas condições precárias no que diz
respeito ao espaço, ao planejamento curricular, à ação docente, ao descaso pela
decisão de construir um conhecimento musical desde as séries iniciais, resultando
numa evidente lacuna na escola brasileira.
Preocupada com a ausência do ensino musical nas escolas de nível fundamental, não obstante constar dos currículos, e ciente dos resultados positivos divulgados quando a música faz parte de processos informais de educação, busca-se esclarecer o conceito de música e estabelecer relação de afinidade entre a educação musical e a educação formal, para formular uma proposta com possibilidade de tornar efetivo o ensino da música nas escolas de todo o Brasil (GONÇALVES, 2003).
As descrições do estado da arte no que diz respeito às perspectivas para um
ensino de qualidade, permitem observar por meio das conclusões dos estudos que
há necessidade de uma abordagem holística do ensino. Assim, a inclusão da
música, pode atender ao paradigma educacional que está atento ao
desenvolvimento integral e amplo do ser. Nesse sentido: “A prática musical articula,
no mundo das sensibilidades, as atitudes e os comportamentos que realizam, em
razão dos sentidos, aqueles que dizem respeito à própria vida” (GONÇALVES, 2003,
p. 37).
Nas pesquisas selecionadas optou-se por analisar o do conteúdo de cada
etapa de seu desenvolvimento, partindo do resumo e verificando os outros itens
incluídos no texto, ou seja, a apresentação, o problema de pesquisa, a justificativa,
os objetivos, a metodologia e conclusões. Partindo dessas experiências para avaliar
os assuntos que se incluem nesta pesquisa, ou seja, qual o paradigma pedagógico
que deve caracterizar essa área de conhecimento, e o que foi proposto pelos
profissionais da área de educação musical.
Observar os paradigmas da educação musical na escola brasileira, levando
em conta também o que foi citado sobre o que acontece no ensino musical em
países estrangeiros, como um modelo para ser observado e assimilado, é o principal
instrumento de coleta de dados para este trabalho, assim como estabelecer relações
75
entre as passagens citadas. Para descrever os paradigmas da educação foram
selecionados textos de Freire (1992), Behrens (2000), Crema (1995), Mizukami
(1986), Demo (1996) entre outros.
O critério de escolha dos textos das teses e dissertações restringiu-se
àqueles que mais se afinavam às indagações do problema da presente pesquisa.
Das 13 dissertações e teses investigadas optou-se por apresentar o título, as
palavras-chave e o autor e ainda analisar os resumos escolhidos que se referem ao
ensino da música na escola e dão uma noção geral das necessidades e desafios a
serem vencidos pelos pesquisadores e profissionais dessa área de educação.
O conjunto dos resumos citados no presente estudo revelou que duas das
pesquisas são teses de doutorado, sendo que as demais, dissertações de mestrado.
Estudo 1: As contribuições de Fonterrada (1991) na Educação Musical.
A dissertação intitulada: “Educação Musical: investigação em quatro
movimentos: prelúdio, coral, fuga e final” (FONTERRADA, 1991), apresentou o
seguinte resumo:
Este estudo tem como objetivo propor uma forma de educação musical passível de ser vivenciada por qualquer pessoa. Para torná-la viável, procedeu-se em primeiro lugar a uma síntese das práticas e da educação musicais no Brasil ao longo do tempo, para conhecer suas formas e procedimentos. Buscou-se então conhecer como ocorre hoje em São Paulo através da análise das principais linhas da educação musical nas últimas décadas, da educação musical nas escolas de música, do ambiente sonoro urbano contemporâneo no qual a criança está imersa e de experiências de profissionais da área. Dessa análise, foi possível estabelecer uma classificação por tipos: o tradicional e o alternativo, dos quais a forma proposta neste trabalho se afasta. Partiu-se, no presente estudo, do pressuposto segundo o qual a música é uma linguagem. A investigação dessa idéia constitui o terceiro segmento do trabalho, que examina a possibilidade de aproximação entre a música e a concepção fenomenológico-existencial de linguagem de acordo com Gadamer e Merleau-Ponty. Essa compreensão direcionou a prática de educação musical na Unesp, durante os anos de 1989 e 1990, na qual se procurou constituir uma experiência de educação musical, através da imersão em um meio musical adequado. Ao final da experiência, foi possível a constatação da instalação de habilidades e domínio de conteúdos musicais, de acordo com o previsto.
As palavras-chave apresentadas foram: Educação Musical; Prática de
Educação Musical.
76
A pesquisa realizada por Fonterrada (1991), faz uma trajetória pela história da
Educação Musical no Brasil, com destaque à realidade do ensino da música no
Estado de São Paulo.
A proposta de Fonterrada (1991) vislumbra uma educação musical que seja
accessível a todos os cidadãos, partindo do pressuposto de que a música é uma
linguagem. Segundo Schurmann (1989), o fenômeno musical em suas diferentes
manifestações, tem estreita relação como a realidade em que se encontra, no
âmbito sócio-econômico e cultural, com funções específicas, inerentes a cada
cultura.
Schurmann (1989), baseado na evolução das teorias musicais através da
história, acredita que a música não é mero entretenimento, mas sim uma linguagem,
com uma “gramática”, constituída pelos fundamentos da harmonia musical. A
questão das definições da música como sendo uma linguagem tem na opinião de
Borges (2004) a seguinte avaliação:
A primeira conclusão a que quero chegar é a de que, de fato, estamos diante de uma metáfora quando encontramos a afirmação de que música é linguagem. A afirmação não tem nenhuma força ontológica. No fundo, a afirmação funciona como uma sugestão heurística: trate a música como trataria a linguagem e veja a que resultados você chega.
As conclusões de Fonterrada (1991) sobre a música e a linguagem, levaram a
uma discussão onde se chegou à uma experiência da prática musical na Unesp
(1989 a 1990), que gerou a implantação de conteúdos musicais, em ambientes
preparados para a aplicação do ensino musical, com resultados positivos.
Estudo 2: As contribuições de Del Ben (1997)
A dissertação intitulada: “A utilização do modelo espiral de desenvolvimento
musical como critério de avaliação da apreciação musical em um contexto
educacional brasileiro” (DEL BEN, 1997), apresenta como resumo:
A presente pesquisa teve como objetivo investigar a viabilidade de se utilizar o Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical de Swanwick (1988) como critério de avaliação da apreciação musical de crianças e adolescentes brasileiros de 6 a 14 anos, expostos a um processo de educação musical formal. O primeiro capítulo consiste em uma revisão de estudos, onde são discutidas, inicialmente, questões relacionadas à prática da avaliação no
77
processo de ensino e aprendizagem. Posteriormente, são abordadas questões referentes à avaliação em música e, em seguida, discute-se a problemática da avaliação da apreciação musical. No segundo capítulo apresenta-se a Teoria do Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical de Swanwick, a qual será utilizada como referencial teórico para a análise das respostas de crianças e adolescentes fornecidas através da atividade de apreciação musical. O terceiro capítulo apresenta o método desenvolvido para conduzir esta investigação, o qual consistiu em entrevistar 60 crianças e adolescentes de 1a , 4a e 8a séries do ensino fundamental expostos a um processo de educação musical formal, sendo 20 alunos de cada série. Foram utilizados dois tipos de entrevista (entrevista estruturada e entrevista semi-estruturada) e instrumentos não-verbais de avaliação. Na primeira parte do quarto capítulo os resultados desta pesquisa são avaliados à luz da Teoria Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical.Diante de alguns dados encontrados,na segunda parte deste capítulo, realiza-se uma nova avaliação das respostas da entrevista semi-estruturada, a qual levanta a necessidade de uma análise crítica dos critérios de avaliação da apreciação musical propostos pelo Modelo Espiral. Esta análise, apresentada no quinto capítulo, é realizada com base no próprio Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical e com apoio de resultados de outras pesquisas. Na conclusão , demonstra-se que os critérios previstos pelo Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical podem ser utilizados para avaliar a apreciação musical de crianças e adolescentes brasileiros de 6 a 14 anos. Sugere-se no entanto, que os critérios de avaliação sejam ampliados, uma vez que surgiram respostas musicais não contempladas pelos critérios do Modelo Espiral. Esta ampliação pareceu necessária principalmente para as duas fases do primeiro estágio de desenvolvimento musical- Materiais: fase sensorial e fase manipulativa. A conclusão traz ainda recomendações para estudos posteriores.
A investigação na dissertação permitiu detectar que a autora não apresentou
palavras chave.
A dissertação de Del Ben (1997), focaliza o método do modelo espiral de
desenvolvimento musical aplicado, em que foi realizada uma de pesquisa de
campo, em que os alunos são selecionados por faixas etárias específicas, com
crianças e adolescentes de 1.ª, 4.ª, e 8.ª séries do ensino fundamental.
Sendo esta dissertação selecionada para o presente trabalho para um estudo
aprofundado, cabe aqui relacionar os critério que permeou a inclusão deste trabalho,
que é: “testar um novo método de avaliação da apreciação musical com 45 crianças,
que não possuíam uma Educação Musical formal, e verificar o nível de compreensão
musical dos sujeitos e analisar a efetividade da utilização de instrumentos inéditos
de avaliação”.(DEL BEM, 1997, p. 59).
Esses instrumentos de avaliação são baseados na “Teoria e Modelo Espiral
de Desenvolvimento Musical de Swanwick (1988), que coloca como problema
central da educação musical a ausência de bases teóricas que possam fundamentar
78
sua prática” (Del BEN, 1997, p. 26). Segundo Del Ben (1997), as dimensões da
relação do indivíduo com a música pode ser individual ou particular, muitas vezes
impossível de ser partilhada, e há ainda uma segunda dimensão em que as
experiências que incluem um conhecimento objetivo dão margem à crítica musical
que pode ser compartilhada.
Os objetivos e conclusões nos relatos de Del Ben (1997), sobre a utilização
do Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical, demonstram uma educação voltada
para a crítica e avaliação, elementos estes encontrados nos paradigmas inovadores
da educação, como o paradigma da complexidade, que tem em Pedro Demo (1996),
uma significativa representação.
Estudo 3: As contribuições de Oliveira (2000)
A dissertação intitulada: “O ensino de música no Brasil: fatos e desafios”
(OLIVEIRA, 2000), apresenta este resumo:
O trabalho discute questões da Música em relação à aplicação da Lei nº. 9394, que estabelece novas diretrizes e bases para a Educação Nacional, apresenta uma visão da Educação Musical no Brasil e as características inovadoras do Curso de Licenciatura em Educação Musical oferecido pela Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás.
Nesta dissertação as palavras-chave encontradas foram: Educação Musical;
Diretrizes; Bases.
O enfoque dessa dissertação diz respeito à importância da concretização dos
propósitos que são ditados pela Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996 que
estabelece novas diretrizes e bases para a educação nacional, e acredita que é
necessário que o Educador Artístico - aquele responsável por impossível missão
polivalente, a de ensinar todas as Artes como previa a Lei 4024/61 que instituiu a
Educação Artística, seja erradicado da educação brasileira, dando lugar a
profissionais específicos de cada área das artes. Essa tarefa torna-se difícil segundo
o autor, pois, a rede pública precisaria aumentar seu quadro docente com
contratações de professores em todos os níveis de ensino, em cada disciplina
artística específica, sendo então urgente a preparação de um corpo docente com
profunda base teórico-prática para serem capacitados em abordagens
79
interdisciplinares abrangendo a relação entre arte, cultura, ensino e sociedade.
(OLIVEIRA, 2000).
Estudo 4: As contribuições de Lazzarin (2000)
A dissertação intitulada: “ Possibilidades de atribuição de significado na
apreciação musical: um estudo exploratório” (LAZZARIN, 2000), apresenta este
resumo:
A presente dissertação pretendeu entender, de uma perspectiva filosófica, as possibilidades de atribuição de significado ensejadas na atividade de apreciação musical. Foi desenvolvida sob a forma de um estudo exploratório, realizando grupos focais com estudantes de Magistério do Instituto Estadual de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre (RS). O referencial teórico apoiou-se em abordagens da Semiótica (Saussure, Peirce, Eco, Karbusicky), da Filosofia da Arte (Cassirer, Langer e Mukarovsky), buscando criar um texto que contemple as questões da aproximação entre linguagem e música e do entendimento da obra de arte como um signo. Também foram abordados aspectos referentes à formação de professores, a partir de autores da área (Tourinho e Fuks). Os resultados levaram à discussão de duas categorias de significado musical, criadas por mim: o significado musical estrito e o significado musical amplo. O primeiro refere-se à apreciação da obra musical em si. O segundo é aquele que, suscitado pela dinâmica dos grupos, gera discussões entre as alunas sobre concepções a respeito da música e sua relação com a Educação. A atividade de apreciação musical constitui-se em um importante momento de atribuição de significado dentro da Educação. Pôde revelar, através das categorias criadas neste estudo, possibilidades de compreensão, não só da obra de arte em si, mas do significado que as alunas atribuem à música no contexto da sala de aula.
As palavras-chave apresentadas foram: Significado Musical; Apreciação
Musical; Educação Musical.
A Educação Musical na escola, quando acontece continua tendo uma
abordagem que a direciona ao canto , em comemorações temáticas e os conceitos
para uma formação musical efetiva musical carecem de ter um lugar no currículo das
escolas.
Lazzarin (2000), em sua pesquisa de mestrado, traz uma proposta de incluir
na atividade musical da escola, o “pensar musical”, no sentido de levar os alunos a
entender a obra musical por meio de uma apreciação atenta e orientada, utilizando
dinâmicas de grupo para discussões de conceitos musicais.
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A importância desse enfoque deve-se ao fato de que a Educação Musical
deixa de ter uma função de educação passiva, passando ao estímulo da análise,
indo de encontro aos modelos dos novos paradigmas educacionais.
Estudo 5: As contribuições de Ficheman (2002)
A dissertação intitulada: “ Aprendizagem colaborativa a distância apoiada por
meios eletrônicos interativos: um estudo de caso em educação música” (FICHEMAN,
2002), apresenta como resumo:
A Educação a Distância e a Aprendizagem Colaborativa são assuntos que vêm sendo discutidos e pesquisados, tanto nos meios acadêmicos ligados à Educação quanto nos meios ligados à Tecnologia da Informação. Aos especialistas de Tecnologia da Informação cabe o papel de desenvolver sistemas que permitam aplicar as recentes pesquisas pedagógicas e apresentar aplicações educativas e novos sistemas de aprendizagem apoiados por computador. Este trabalho apresenta um sistema para aprendizagem interativa, que integra uma Aplicação Educativa e um Portal Educacional que oferece ambientes educativos colaborativos que incluem meios de interação entre usuários, alunos e professores, ligados em rede local ou fisicamente distribuídos numa rede de longa distância, podendo ser utilizado para a Educação Presencial e para a Educação a Distância. Este sistema faz uso das novas tecnologias oferecidas pelos meios eletrônicos interativos a fim de oferecer diferentes possibilidades criativas aos alunos e recursos pedagógicos aos professores. A abordagem proposta foi implementada no Sistema EduMusical, para um estudo de caso em Educação Musical. Este sistema, voltado para crianças e adolescentes, foi baseado em recentes pesquisas de educação musical e é composto pelo Editor Musical, uma aplicação de composição musical, e pelo Portal EduMusical. O Sistema EduMusical está sendo desenvolvido através de uma colaboração entre o Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e a Coordenadoria de Programas Educacionais da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Encontram-se como palavras-chave apresentadas: Educação Musical a
distância, Aprendizagem, Interativa, Tecnologia da Informação.
A proposta da autora permite refletir que os paradigmas educacionais
progressistas, segundo Freire (1996), apresentam a tecnologia como ferramenta de
aprendizagem. A inclusão e a utilização de recursos midiáticos na educação, permite
gerar ambientes virtuais de aprendizagem que podem apoiar os professores, dando
suporte de conteúdos, de planejamentos, bem como a participação colaborativa
individual e em grupo, trabalhando com módulos de aprendizado e equipamentos,
para serem usados em sala de aula.
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A dissertação de Ficheman (2002) faz um estudo de caso do ambiente virtual
de aprendizagem proposto pelo portal EduMusical, que trata do seguinte sistema:
O Portal EduMusical é um projeto de cunho sócio-cultural, cujo objetivo é usar a tecnologia para incentivar o desenvolvimento musical de crianças, adolescentes e adultos. Para isso, reúne atividades interativas de literatura, apreciação e composição musical, individuais ou colaborativas, em que o usuário aprende brincando na internet e em redes locais. Em alguns casos, é possível interagir em tempo real com indivíduos que estejam em espaços físicos diferentes. O EduMusical é fruto de uma pesquisa desenvolvida no LSI (Laboratório de Sistemas Integráveis) da EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), com o apoio da Coordenadoria de Programas Educacionais da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e do CNPq. A equipe é multidisciplinar, especializada em áreas como Programação Distribuída, Educação a Distância, Ensino Colaborativo/Cooperativo assistido por Computador, Computação Gráfica, Computação Musical, Informática Educacional, Educação Musical e Interação Humano-Computador. Os aplicativos são periodicamente testados junto ao público alvo, para verificar se os objetivos.
A participação de professores e alunos neste ambiente virtual de
aprendizagem, segundo Ficheman (2002), oferece possibilidades de ajudar a criar
processos criativos e de apoio nas aulas de Educação Musical.
Estudo 6: As contribuições de Loureiro (2000)
A dissertação intitulada: “O ensino da música na escola fundamental: dilemas
e perspectivas” (LOUREIRO, 2000), apresenta o seguinte resumo:
O trabalho em foco pretende refletir sobre o entendimento do atual processo e da dinâmica do fenômeno musical dentro das instituições escolares de ensino fundamental. A abordagem do tema através da confluência de dois caminhos: o da pesquisa bibliográfica e o da pesquisa de campo possibilitou o entendimento de uma prática educativa musical praticamente inexistente dentro do contexto escolar. A reflexão teórica, a partir do material escrito sobre Educação Musical, revelou-nos uma acentuada desarticulação entre o “falar sobre música” e o “fazer musical”, o que acabaria por apontar, sob a ótica de atores envolvidos no trabalho de campo, para o uso e funções inadequados da prática musical, em desarmonia com a realidade do aluno e dissonante com o contexto sociocultural brasileiro.
As palavras-chave apresentadas foram: Ensino de Música; Ensino
Fundamental; Currículo.
No sentido de estudar e fazer uma análise do ensino da música na escola
brasileira, Loureiro (2000), dá ênfase ao significado da educação musical, seus
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benefícios para a criança na sua formação integral, buscando verificar a presença da
música no ensino fundamental, assim como a formação do profissional da Educação
Musical.
Utilizando o estudo bibliográfico e pesquisa de campo, em seu estudo,
Loureiro (2000) conclui que a inclusão da música na escola, além de transformar a
formação da criança, contribui ainda na construção de sua cidadania, por meio do
seu contato com o universo cultural advindos de uma Educação Musical que
compreenda um convívio continuado com os valores artístico-musicais.
Estudo 7: As contribuições de Araújo (2001)
A dissertação intitulada: “O ensino da música nas séries iniciais das escolas
municipais de Curitiba, no ano 2000” (ARAUJO, 2001), apresenta como resumo:
O objetivo desta pesquisa é caracterizar o ensino da música nas escolas da Rede Municipal de Curitiba, no ano 2000. Para investigar esse assunto, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário distribuído a todas as escolas municipais com ensino de 1a
a 4a séries. A fim de contextualizar e situar a questão do ensino da música na educação escolar, buscou-se, por meio de uma exposição, analisar os motivos pelos quais o ensino sempre esteve presente na história da educação mundial e brasileira. Também foram destacadas as atuais prescrições legais que regulamentam o ensino da música na educação escolar do país: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e os Parâmetros curriculares Nacionais. Em seguida, à luz desse contexto introduziram-se aos dados atuais sobre esse ensino nas escolas municipais de Curitiba, por meio de sua apresentação e análise: a freqüência com que se realizam as atividades musicais;os tipos de atividades mais comuns nas aulas de música;a formação do professor que ministra tais aulas; e as principais dificuldades encontradas para a sua realização. Ao final, são analisadas as características desse ensino: a sua ausência em muitas escolas;a falta de regularidade do ensino da música em grande parte das escolas municipais de Curitiba; a predominância das atividades que envolvem o canto;a falta de professores com formação na área específica de música para ministrar as aulas.Propõem-se, na conclusão, outras investigações para o aprofundamento de algumas questões levantadas neste trabalho.
A investigação no texto permite detectar que a autora não apresentou as
palavras chave.
A metodologia na pesquisa de Araújo (2001), incluiu um questionário para
fazer um levantamento em 130 escolas municipais de Curitiba, com ensino de 1ª a
4ª séries, sobre o ensino da música. Constam do questionário perguntas sobre se a
aulas de música são disponibilizadas nessas escolas, e que tipo de metodologia é
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utilizada. Das escolas selecionadas, 84 responderam ao questionário, 58 alegaram
que trabalham com a disciplina de música e 26 afirmaram que a música não faz
parte do currículo escolar.
As conclusões da pesquisa de Araújo (2001), revelam que as escolas onde o
ensino da música acontece, as aulas não têm uma periodicidade regular; existe a
falta de profissionais habilitados na área de música, e muitas escolas dividem a
disciplina de música com a de educação artística. Em geral, o foco da Educação
Musical é o canto, e existe uma grande carência de material didático disponível para
o ensino musical.
Entre as sugestões de Araújo (2001), para tentar ajudar a sanar as
deficiências da falta de um corpo docente especializado, destaca-se a que se refere
à busca de intercâmbios entre as Escolas de Música do Paraná que formam
profissionais da música, com a Secretaria Municipal de Educação, para capacitação
de professores de música para rede pública.
Estudo 8: As contribuições de Tozetto (2002).
A dissertação intitulada: “ Educação musical: a atuação do professor na
educação infantil e séries iniciais” (TOZETTO, 2002). Essa dissertação apresenta o
seguinte resumo:
Este trabalho tem por objetivos apontar os desafios enfrentados pelo professor de Educação Musical no mundo globalizado e propor um caminho alternativo no processo de sua formação. A escolha do tema foi motivada pela obrigatoriedade do ensino da Música no currículo da Educação Básica e, em especial, na Educação Infantil e Séries Iniciais, nas quais se inicia a musicalização das novas gerações, expressa nas prescrições legais regulamentadoras da educação escolar brasileira. Ao referirmo-nos à Educação Musical como uma das dimensões da Arte na escola, nosso objetivo foi compreender os posicionamentos assumidos pelo professor a partir das tendências que marcaram o percurso histórico do ensino da Arte no Brasil e, em especial, da Música, e discutir as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais-Arte e seu desenvolvimento diante da insuficiente formação de professores para a área. Ao historicizar os currículos de Educação Musical no Brasil, foi necessário diferenciar Educação Musical e Ensino da Música. Discutimos a atuação do professor de Educação Musical não habilitado para a área, a partir de questionário e observações junto à disciplina Educação e Arte no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa e entrevista com professores de Educação Musical não habilitados. Concluímos que o professor apresenta limitações teóricas quanto aos conteúdos específicos da Música (as noções de som e ritmo e seus componentes) que permitem a leitura, escrita e interpretação musical, assim como mostra dificuldades na condução do desenvolvimento da
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Educação Musical como área de conhecimento. O professor não possui a concepção de Educação Musical como uma das formas de conhecimento humano que conduz à construção de argumentos capazes de revelar suas contribuições específicas para o desenvolvimento dos alunos e sua relação com as demais áreas de conhecimento, justificando sua presença nos currículos escolares; uma concepção de aluno como ser de conhecimentos, sujeito do processo de ensino-aprendizagem; e a concepção de avaliação como possibilidade de aprendizado musical. Apontamos para uma proposta de curso para a formação de professores de Educação Musical, a qual – estruturada numa sólida fundamentação teórica, aliada às especificidades da Música – seja capaz, na sua relação com o cotidiano, de potencializar os professores no desenvolvimento das competências musical, pedagógica e político-social-cultural necessárias para um ensino de qualidade, suprindo assim as carências manifestadas no ensino atual e sugerindo caminhos para a formação continuada.
As palavras-chave apresentadas foram: Educação Musical; Prática
Pedagógica; Formação do Professor.
A dissertação elaborada por Tozetto (2002), faz uma análise da Educação
Musical e sua abrangência na escola brasileira, a partir de uma visão histórica, e é
ancorada nas consultas feitas às leis que regem os Parâmetros Curriculares
Nacionais-Arte. Seus estudos levaram a constatar que existe um insuficiência de
professores habilitados a atuar na área da Educação Musical, e os professores
atuantes nessa área possui um conhecimento teórico limitado quanto ao conteúdo
que determina o ensino da música. Tozetto (2002), proõe como sugestão, a criação
de novos cursos para a formação de professores de Educação Musical, e formação
continuada, com uma estrutura que desenvolva uma competência sólida na
formação docente nesta área, e sua relação com o cotidiano numa interação sócio-
político e social, por meio da Educação Musical.
Estudo 9: As contribuições de Souza (1993).
A tese intitulada: “A educação musical nas séries iniciais do ensino
fundamental: olhando e construindo junto às práticas cotidianas do professor”
(SOUZA, 1993). Essa dissertação apresenta este resumo:
Esta tese decorre de uma investigação-ação educacional em ensino de Música nas séries iniciais do ensino fundamental, realizada por estagiárias do curso de Pedagogia (UFSM), professoras já atuantes e eu. Reflete sobre possibilidades e limites do professor de séries iniciais trabalhar com o ensino de Música no cotidiano escolar. Discute a reorganização dos trabalhos musicais em cursos de Pedagogia e a dinamização do ensino de Música nas escolas de ensino fundamental. Centra-se em dois focos: formação inicial (musical) de professores no curso de Pedagogia e a
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prática educativa nas séries iniciais do ensino fundamental. A tese, mais que uma teoria que informa 'sobre' o ensino de Música está firmemente conectada com a prática educativa 'nos' processos de escolarização, ação e reflexão na e para a prática educativa. Os capítulos se articulam entre revisões teóricas, a proposta de investigação acoplada à prática educativa e alguns resultados decorrentes desse processo de investigação-ação educacional no ensino de Música, a saber: olhando para o problema; contextualizando teoricamente; buscando caminhos metodológicos; vivendo uma trajetória investigativa; construindo junto à prática cotidiana; olhando, construindo e ouvindo, a música na sala de aula; pedagogas-professoras olhando um curso, construindo junto à prática e ouvindo a música das professoras de séries iniciais.
As palavras-chave apresentadas foram: Educação Musical; Ensino
Fundamental; Séries Iniciais; Pedagogia.
Souza (1993) busca demonstrar em sua pesquisa de campo as dificuldades e
os limites encontrados pelos professores das séries iniciais, no ensino da música no
dia a dia da vida escolar. Souza (1993) encontra dados em que são constatadas as
necessidades de reformulação do currículo escolar, em que a música encontre um
espaço apropriado para o desenvolvimento de seus conteúdos, beneficiando a
formação das crianças. Também se faz necessário, segundo Souza (1993), que
professores de música exerçam as atividades docentes dessa disciplina, numa
busca metodológica que ajude a construir um cotidiano de ensino musical para a
prática da música na escola brasileira.
Estudo 10: As contribuições de Soares (2000).
A dissertação intitulada: “Coro infantil: educação musical e ecologia social, a
partir das idéias de Koellreutter e Guattari” (SOARES, 2003), apresenta o seguinte
resumo:
A finalidade deste estudo é analisar uma atividade de coro infantil a partir das idéias de Koellreutter e Guattari, além de trazer à luz reflexões sobre as possíveis conexões entre educação musical e ecologia social. Tem como objeto de estudo um projeto pedagógico-musical desenvolvido em contexto não escolar que congrega cerca de 40 crianças pertencentes a uma comunidade localizada no município de Vitória, no Estado do Espírito Santo. Trata-se de um projeto de educação musical que toma corpo pelo desenvolvimento da atividade de canto coral. É o projeto Coro Infantil Morro dos Alagoanos. Quanto ao aspecto metodológico, utilizei os procedimentos da pesquisa-ação. Os ensaios, as apresentações e os passeios foram considerados como momentos que forneceram os dados para a presente pesquisa. Tomei as atitudes, as conversas informais, as discussões e os registros escritos produzidos pelas próprias crianças como meios que me possibilitaram responder à questão principal. O referencial
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teórico adotado foram as obras de Koellreutter (1988, 1994 e 1997) e de Guattari (1990) em função da compreensão que ambos possuem do valor da educação estética como meio essencial para a formação do indivíduo. O projeto do Coro Infantil Morro dos Alagoanos volta-se para um trabalho musical e ao mesmo tempo social, levando-se em conta o humano, sob a perceptiva apresentada por Koellreutter e Guattari da ecologia social. Além de cuidar do desenvolvimento de competências musicais, o canto coral é aqui compreendido como uma atividade relacionada com a educação musical enquadrada no âmbito do desenvolvimento da criança, caracterizando-se pela produção de novas significações de sua existência e de suas relações com todas as instâncias (humana, social, política e econômica). As conclusões a que cheguei levam à possibilidade de uma educação musical contextualizada, constituída a partir do professor-artista comprometido com sua função social, considerando o seu aluno como figura central do processo educativo, promovendo o desenvolvimento do "ser-em-grupo" e a re-singularização individual desse aluno.
As palavras-chave apresentadas foram: Coro infantil; Educação Musical.
Fundamentada nos estudos e teorias dos músicos Koellreutter (1988, 1994 e
1997) e de Guattari (1990), Soares (2003) busca um enfoque diversificado na
educação musical, tendo como instrumento o Coro Infantil. A pesquisa tem como
diferencial o fato de buscar uma atividade de Coral Infantil, com 40 crianças, fora do
contexto escolar do ensino fundamental. Trata-se de um projeto pedagógico-
musical, que prioriza a ação social e estética por meio da educação musical, com a
participação do professor-artista que no seu trabalho levar a arte às crianças,
promovendo o sentido do desenvolvimento do indivíduo dentro do grupo, assim
como a importância do significado da individualidade de cada ser. A esse processo
de desenvolvimento, Soares (2003) faz uma interação da educação musical com a
educação sócio – ecológica.
Estudo 11: As contribuições de Souza (2003)
A dissertação intitulada: “Educação Musical a distância e formação de
professores” (SOUZA, 2003), apresenta o seguinte resumo:
O presente trabalho tem como foco duas grandes temáticas que envolvem a educação musical – a formação de professores e a educação a distância. O objetivo principal é chamar a atenção dos educadores musicais para a importância da educação a distância, principalmente na formação de professores. As bases apontadas – prática reflexiva, autonomia, colaboração, motivação e diversidade - conduzem à compreensão da proposta no sistema a distância. São mencionados alguns resultados de uma pesquisa encaminhada pela autora para demonstrar as condições de um programa de educação musical a distância. Os argumentos tentam evidenciar as transformações ocorridas com os participantes da pesquisa,
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mostrando aos educadores musicais a importância pedagógica dos programas de educação musical a distância para professores.
As palavras-chave apresentadas foram: Formação de Professores; Educação
a Distância; Educação Musical a Distância.
A EAD é um ambiente de aprendizagem que propicia diferentes modelos ao
desenvolvimento ao aluno e professor, como a administração do tempo, a prática da
autonomia, a troca de informações e colaboração na produção das atividades
escolares via web.
A Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (DECRETO Nº 2.494, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1998, que regulamenta o Art. 80 do LDB nº 939/96 Art).
Segundo Souza (2003), o problema de pesquisa foi a verificação das
possibilidades pedagógicas que podem ser desenvolvidas num programa de
Educação Musical a distância, nas séries iniciais do ensino fundamental em Mato
Grosso. A pesquisadora trabalhou com 279 voluntários, entre eles, professores,
alunos do Curso de Licenciatura em Educação Básica, a distância. Foram alternados
atendimentos presenciais e virtuais nos municípios com a orientação da
pesquisadora e de 6 monitores. Na avaliação dos resultados desse programa, os
professores, concluem que é necessário dispor de mais tempo além de mais
atividades musicais. Solicitam mais atendimentos presenciais e mais atividades
relacionadas com o trabalho direto com as crianças.
Como conclusão da pesquisa, a autora demonstra que na formação musical
dos docentes, devem ser abordados os aspectos sobre o significado, a
compreensão e sobre o fazer musical, priorizando ainda os conceitos sobre a
didática para o ensino da música nas séries iniciais. Souza (2003) acredita que o
processo colaborativo entre os professores e alunos é importante, sempre com o
intuito de entender a educação musical como um todo, sem compartimentar seus
elementos.
88
Estudo 12: As contribuições de Diniz (2003)
A tese intitulada: “O sentido da música na educação: uma investigação
interdisciplinar” (DINIZ, 2003), apresenta o seguinte resumo:
A presente investigação descreve o caminho percorrido para compreender o sentido da música na educação e resgatar o valor das vivências musicais como prática educativa. Preocupada com a ausência do ensino musical nas escolas de nível fundamental, não obstante constar dos currículos, e ciente dos resultados positivos divulgados quando a música faz parte de processos informais de educação, busca-se esclarecer o conceito de música e estabelecer relação de afinidade entre a educação musical e a educação formal, para formular uma proposta com possibilidade de tornar efetivo o ensino da música nas escolas de todo o Brasil.
As palavras-chave apresentadas foram: Música na educação;
interdisciplinaridade.
A tese de doutorado acima citada, faz parte dos trabalhos selecionados para
um estudo mais detalhado na presente dissertação. O critério de escolha desse
material deve-se ao fato da autora ter estabelecido uma conexão aprofundada da
prática musical na escola, com a interdisciplinaridade, onde foram encontrados
elementos que possibilitam a verificação da presença dos novos paradigmas da
educação, que são parte integrante da presente investigação. Gonçalves (2003)
apresenta uma visão detalhada da relação do contato com a música e a emoção, e o
sentido que a Educação Musical dá ao desenvolvimento global do ser humano, itens
esses encontrados no s paradigmas holísticos da educação, segundo Ferguson
(1938).
Estudo 13: Os estudos de Moura (1984)
No recorte das dissertações optou-se por incluir este estudo por apresentar
relevância para a Educação Musical. Assim, embora tenha sido elaborado ainda na
década 1984, aproveitou-se por apresentar a contribuição de Moura (1984) cujos
relatos apresentam questionamentos e desafios semelhantes aos encontrados em
teses e dissertações mais recentes, no que concerne ao ensino da música na escola
brasileira.
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A dissertação intitulada: “Atividades musicais e desempenho do professor
atuante em classes de pré-escolarização” (MOURA, 1984), apresenta o seguinte
resumo:
A noção de importância dos primeiros anos de vida da criança, que vem se difundindo graças aos avanços da psicologia do desenvolvimento, outorga à educação pré-escolar posição de destaque. Neste período da vida infantil, a música tem sido apontada como elemento capaz de contribuir para enriquecer as conquistas da criança no seu processo de crescimento físico, mental ,afetivo e social. Na pré-escola brasileira,de acordo com a legislação vigente (Lei 5692/71), otrabalho com música tem sido considerado tarefa da competência do professor de classe. Sabe-se, porém, que desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, n .4024 de 1961, a música, nos cursos de formação para o magistério, sofreu perda gradativa do espaço que ocupava. A partir de lei 5692/71 e das especificações de seu artigo 7o , a música, na escola, passou a integrar a disciplina de Educação Artística. Nesse contexto, nos cursos de formação para o magistério em Curitiba, a música aparece apenas nas primeiras três séries, com carga horária de uma aula semanal, tendo como indicação oficial para seu conteúdo a parte de História da Música. Também nos currículos dos cursos de especialização para o magistério pré-escolar, a música, como parte da Educação Artística tem a prática de atividades musicais pouco enfatizadas. Considerando esses aspectos, a presente investigação teve como objetivo verificar de que maneira a pouca ou nenhuma relevância atribuída à música na formação do professor atuante em classes de pré-escolarização, interfere no seu desempenho em atividades musicais com os alunos. Foram envolvidos nesse trabalho 47 professores atuantes em classes pré-escolares com crianças de 5 e 6 anos de idade, pertencentes a 25 escolas das redes municipal, estadual e particular do município de Curitiba. O registro do desempenho desses docentes em relação à música, bem como informações e opiniões por ele fornecidas em questionário sobre o trabalho que realizam, constituíram o material de estudo para a presente pesquisa. Os resultados indicaram que os docentes observados não evidenciaram o desenvolvimento efetivo de atividades musicais em seu desempenho. Revelaram, no entanto, que os professores consideram a música como elemento importante na educação da criança e, percebendo como insuficiente a formação recebida nesse campo, mostram-se dispostos a adquirir ou ampliar suas condições para este tipo de trabalho. A criação de um núcleo de atividades musicais, a nível oficial,onde pessoal especializado em música se incumbisse da orientação dos professores de classes de pré-escolarização,bem como a inclusão da música nos currículos dos cursos de formação para o magistério e cursos de especialização em pré-escolar, dentro de uma perspectiva de aplicação didática, foram as sugestões apresentadas.
Neste documento não foram citadas palavras chave.
A dissertação de Moura (1984) completa 23 anos de idade, e podemos
observar que os mesmos problemas concernentes à Educação Musical na década
de 1980, persistem, com a lacuna da inclusão definitiva e sistemática de
metodologias para a Educação Musical nas escolas brasileiras, nas séries iniciais ,
incluindo a pré-escola.
90
A metodologia desse trabalho, envolveu o estudo dos currículos em ação nas
escolas municipais de Curitiba, pertence à categoria de avaliação iluninativa
(Parlett e Hamilton 1980, In: Moura, 1984), que tem como proposta a descrição e a
interpretação, sem o envolvimento da mesuração e a predição (MOURA,1984).
São apresentadas inúmeras sugestões de metodologias para o ensino da
música que envolvem o canto, a educação auditiva, atividades de rítmo e
movimento,experiências criadoras, e atividades com instrumentos musicais.
Fazem parte das conclusões de Moura (1984), a importância do ensino da
música desde a pré-escola até o ensino médio, da formação de professores de
música, a inclusão da música em cursos de especilização, sobretudo com ênfase na
aplicação didática de atividades musicais.
Foi possível verificar pontos comuns nas teses e dissertações selecionadas,
que dizem respeito à Educação Musical, que são: a falta de profissionais
qualificados para o ensino da música nas escolas brasileiras, a preocupação dos
pesquisadores quando descrevem as necessidades do desenvolvimento musical na
primeira infância, nas lacunas que envolvem os currículos na educação brasileira a
despeito das leis que regem o ensino nacional, a falta de diferenciação das
disciplinas de educação artística e educação musical, que em geral são aplicadas
por profissionais que não são habilitados a exercer esta dupla função.
Foram encontradas nas pesquisas relatos sobre o ensino da música e os
pardigmas da educação que vão dos pardigmas tradicionais aos paradigmas
inovadores, sugestões e modelos de aulas de música que envolvam a crítica e o
pensar musical, modelos de métodos de musicalização infantil que utilizam jogos
rítmicos, a voz, o corpo e a criatividade, advindas de outros países, e os benefícios
da utilização do ensino musical como um caminho para a interdisciplinaridade.
Também a visão do ensino musical mediado pelo computador, nos trás
exemplos de experiências da utilização da Educação a Distância (EAD), em
ambientes virtuais de aprendizagem, com resultados que demonstram que este
caminho poderá vir a ser uma opção para sanar a falta do professor presencial no
ensino da música, na escola brasileira
Dentre as dissertações e teses selecionadas e pesquisadas, foi feito um
recorte de quatro delas, cujos conteúdos atenderam aos objetivos da presente
pesquisa:
91
1. DEL BEMN, Luciana Marta. A utilização do modelo espiral de desenvolvimento
musical como critério de avaliação da apreciação musical em um contexto
educacional brasileiro. 1997, dissertação de mestrado da UFRS.
2. ARAÚJO, Rosane Cardoso de. O ensino da música nas séries iniciais das escolas
municipais de Curitiba, no ano 2000, dissertação de mestrado da UTPR, 2000.
3. GONÇALVES, Maria Inês Diniz. O sentido da música na Educação, tese de
doutorado em Educação da PUCSP, 2003.
4. MOURA, Ieda Camargo de. Atividades musicais e desempenho do professor
atuante em classes de pré-escolarização, dissertação de mestrado em Educação da
UFPR, 1984.
Autor Instituição Ano Abordagem e Paradigma
Moura UFPR
1984 Desafios da música na escola, capacitação docente, contribuição da educação musical para o desenvolvimento dos alunos. Busca de novos paradigmas educacionais, que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
Fonterrada PUCSP 1991 Desafios da música na escola, inclusão de conteúdos musicais na escola. Música como linguagem. Estudo dos Paradigmas: tradicional e inovador na educação musical.
Del Bewn UFRS 1997 Método de avaliação da apreciação musical na escola: Teoria e Modelo Espiral do Desenvolvimento Musical Inclusão da música na escola. Paradigma inovador – ensino com pesquisa.
Oliveira UFRS 2000 Desafios da música na escola, aplicação da LDB, interdiscipli-naridade, capacitação docente, inclusão de conteúdos musicais na escola. Busca de novos paradigmas educacionais, que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
92
Lazzarin UFGO 2000 Apreciação e compreensão da obra
musical na escola, capacitação de docentes. Busca de novos paradigmas educacionais, que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
Ficheman USP 2000 Educação musical à distância, tecnologias educacionais, portal EduMusical (USP/OSESP) Paradigma inovador – uso de tecnologia digital.
Loureiro UFSM 2000 Desafios da música na escola, inclusão de conteúdos musicais na escola, formação docente, educação musical para o desenvolvimento dos alunos, pesquisa bibliográfica e de campo. Busca de novos paradigmas educacionais, que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
Araújo UTFPR 2001 Desafios da música na escola, capacitação docente, contribuição da educação musical para o desenvolvimento dos alunos. Busca de novos paradigmas educacionais, que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
Tozzeto UTPR 2002 Desafios da música na escola, capacitação docente, contribuição da educação musical para o desenvolvimento dos alunos. Busca de novos paradigmas educacionais que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
Souza UFSM 2003 Desafios da música na escola, inclusão de conteúdos musicais na escola, contribuição da educação musical para o desenvolvimento dos alunos. Busca de novos paradigmas educacionais que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser.
93
Soares UNIRIO 2003 Educação musical pelo Canto Coral
Infantil, conexões sobre educação musical e ecologia social, contribuição do Canto Coral para o desenvolvimento dos alunos Paradigma holístico da educação.
Souza UFBA 2003 Educação musical à distância, formação docente, didática para o ensino da música na escola. Paradigma inovador – uso de tecnologia digital.
Diniz PUCSP 2003 Interdisciplinaridade, desafios da música na escola, capacitação docente, contribuição da educação musical para o desenvolvimento dos alunos. Busca de novos paradigmas educacionais que visem a educação musical como o desenvolvimento global do ser
QUADRO 1 - Teses e dissertações selecionadas por or dem cronológica
O quadro comparativo das teses e dissertações selecionadas demonstra que
os desafios encontrados no sistema do currículo das escolas para a inclusão da
música são comuns aos diversos estados brasileiros onde foram coletados dados
para esta investigação.
Existe uma lacuna gerada na escola pela falta de professores habilitados ao
ensino específico da música. Estes, em geral, são substituídos por profissionais com
formação em educação artística. Esse procedimento não supre as necessidades
para a docência do ensino musical. Este é também fator recorrente e pontuado nos
trabalhos selecionados.
O ensino da música quando ocorre na escola é limitado pela falta de material
didático disponível, e os conteúdos abordados não trazem em si recursos para o
desenvolvimento rítmico, melódico, e teórico musical que estimulam o
desenvolvimento global da criança, almejado pelos ditames do paradigma holístico
da educação.
A falta de meios que proporcionem a inclusão do desenvolvimento musical da
criança no currículo das escolas, leva os profissionais da música a desejar e buscar
alcançar os objetivos de uma educação musical levada a sério, ou seja, estabelecer
94
critérios de sistematização do ensino da música a exemplo do que ocorre em outros
países.
Segundo a vivência docente da autora desta pesquisa, pela prática e
observação de escolas no Brasil e exterior, é possível esclarecer que a escola
brasileira está distante do ideal de privilegiar seus alunos com os benefícios que a
prática musical proporciona à formação das crianças.
Nos países desenvolvidos, a escola se direciona ao estabelecimento da
prática dos paradigmas inovadores da educação, incluindo o paradigma holístico,
com a intenção de promover a excelência na educação em todas as áreas do
conhecimento, sobretudo com a inclusão não só de conceitos musicais, mas
também pela prática de ensino e aprendizagem de instrumentos musicais,
organização de recitais de música com a participação das crianças, e atividades
culturais que envolvam um conhecimento musical aprofundado.
4.2 A ANÁLISE DAS DISSERTAÇÕES E TESES SOBRE A EDUCAÇÃO MUSICAL
E APONTAMENTOS SOBRE OS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO.
Decorrente da investigação realizada a partir do IBCT, Banco de Dados e
Teses da Biblioteca Digital do CNPQ e no Banco de Dados da Universidade de São
Paulo – Catálogo On-line Global - DEDALUS, no período de 1991 a 2003, com a
exceção de uma dissertação datada de 1984, foram eleitos 4 estudos, sendo uma
tese de doutorado e três dissertações de mestrado. Os trabalhos escolhidos
permitiam investigar de maneira mais aprofundada a temática para atender o
problema proposto nesta dissertação, ou seja: quais são as contribuições que as
pesquisas realizadas em dissertações e teses sobre educação musical,
defendidas entre 1991 e 2003, com a exceção de uma dissertação realizada em
1984, apresentam para o ensino de música, qual é o paradigma pedagógico
que vem caracterizando essa área de conhecimento, e no que essas
observações, as discussões, as sugestões e os avanç os a que se chegou
podem contribuir para o ensino da música?
95
Entre os trabalhos coletados sobre a Educação Musical, foram selecionados,
três dissertações de mestrado e uma tese de doutorado, que contêm dados a
respeito dos paradigmas da educação relevantes para essa investigação.
De maneira geral, os trabalhos analisados envolvem a educação musical e
focalizam a importância do ensino-aprendizagem da música na escola desde a
educação infantil, e apontam a falta da formação de professores de música que
ocasiona a carência da qualidade do ensino nessa área, pois professores não
habilitados, com limitações teóricas, significam um fator que impede um
direcionamento adequado na construção do conhecimento musical dos alunos na
prática educativa.
A educação musical a distância também foi pesquisada, demonstrando que
as transformações que vem ocorrendo na educação em geral, também refletem na
busca de uma educação musical que utiliza a tecnologia e ambientes virtuais de
aprendizagem.
O tema sobre o ensino musical e a interdisciplinaridade, pesquisado por
Gonçalves (2003) em sua tese de doutorado, demonstra a importância do ensino
musical para a formação do ser humano nos mais diferentes aspectos de suas
potencialidades, e na interação com as demais disciplinas do currículo escolar.
Nota-se um consenso entre o pensamento e as conclusões dos
pesquisadores sobre as carências das possibilidades educativas musicais na escola
brasileira, a insuficiência de material didático disponível para o ensino da música,
bem como a falta de uma política educacional que valorize o ensino da música e a
formação continuada de docentes na área.
Moura (1984) demonstra que a educação musical em países como Japão,
Israel, Rússia, Hungria, Alemanha, Estados Unidos, entre outros, inicia-se desde a
mais tenra idade na pré-escola, visando ao desenvolvimento integral da criança,
assim como a expressão, a apreciação, a coordenação motora, a criatividade, o
incremento das habilidades auditivas. Os programas adotados para o ensino musical
naqueles países têm o cuidado de promover o aprendizado com ênfase na alegria e
n lúdico, utilizando vasto material didático apropriado às diferentes faixas etárias.
96
4.2.1 As Contribuições de Araújo (2001)
A dissertação de mestrado de Araújo (2001), intitulada O Ensino da Música
nas Séries Iniciais das Escolas Municipais de Curitiba, no Ano 2000 tem como
objetivo geral analisar “qual é a situação atual do ensino da música nas séries
iniciais do ensino fundamental, na Rede Municipal de Curitiba” (ARAÚJO, 2001).
Para a realização desta pesquisa, a autora realizou um “censo” em 130
escolas de 1.ª a 4.ª, série que tem o ensino da música incluído na atividade
escolar, com aplicação de questionário para obter dados de como se processa a
educação musical nas escolas de Curitiba. Investigou também a metodologia, a
carga horária e as atividades propostas na organização curricular. Apenas 64% das
escolas responderam o questionário, o que foi considerado, segundo a autora, um
percentual satisfatório para a pesquisa.
O referencial teórico da referida dissertação contém dados sobre a música ao
longo da história, incluindo o Brasil, e o último capítulo destina-se a investigar a
formação do professor de música atuante na escola pública, bem como apresenta
sugestões para futuras pesquisas sobre o assunto.
No que concerne à metodologia utilizada nas escolas de Curitiba para a
Educação Musical, o documento se refere primeiramente às orientações da
Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, que “propôs no seu Currículo Básico
da RME de Curitiba, Gestão 1997/2000, orientações para o ensino das artes, nas
quais foram especificados desde os encaminhamentos metodológicos até os
conteúdos a serem desenvolvidos em cada série” (ARAÚJO, 2001, p. 46).
O Encaminhamento Metodológico-Música compreende:
A compreensão das estruturas sonoras na produção humana. Simultaneidade: ontem, hoje, amanhã. O processo de produção, distribuição e consumo da paisagem sonora. O trabalho de estruturação artística a partir dos seus elementos caracterizadores, na construção do conhecimento social: densidade, intensidade, timbre, altura, duração. A estruturação artística na perspectiva do trabalho criador. Organização dos sons produzidos na totalidade humana em estruturas sonoras por meio da problematização e da improvisação livre, dirigida: vocal, instrumental, corporal, registrada, descritiva, narrativa, com diálogos, com acompanhamento: vocal, ostinatos, borduns; com elementos sonoros: altura (grave, médio, agudo), densidade (poucos sons, muitos sons, timbre (elementos geradores de som) intensidade (forte, fraco, médio), duração (rápido, moderado, lento); com canto: músicas folclóricas, eruditas, populares; com instrumentos musicais: antigos, atuais, diferentes culturas;
97
com audição de diferentes padrões sonoros: livre, dirigida, comentada; com construção de instrumentos musicais: sopros, corda, percussão; com críticas: às canções folclóricas, eruditas, populares atuais e de diferentes culturas. Formação instrumental para a execução de músicas atuais e de diferentes culturas. Ás estruturações dos sons a partir de arranjos dos elementos formais. Produção de textos críticos: melodia, harmonia, forma (gênero), estilo. (Ibid., p. 47)
Em sua pesquisa, a autora pôde verificar que o ensino da música acontece na
maioria das escolas municipais de Curitiba, dentro do currículo de Educação
Artística, sendo que as aulas não têm uma regularidade semanal, devido à falta de
professores especializados. É importante salientar que o professor regente da sala
de aula, é o que ensina música nessas escolas. Também a falta de material
disponível para o ensino da música é fator preponderante que dificulta a
sistematização do ensino musical.
A metodologia adotada nas escolas selecionadas em geral se limita ao canto,
não sendo encontradas outras atividades musicais mais específicas, como o estudo
de instrumentos musicais.
Os conteúdos legais previstos na LDB de 1996 e os PCNs não são abordados
nas escolas públicas de Curitiba, embora haja um interesse da Secretaria Municipal
da Educação para que o ensino da música seja abordado de modo mais abrangente,
cumprindo as determinações das leis vigentes.
A autora sugere que sejam feitos intercâmbios entre a Escola de Música e
Belas Artes do Paraná e a Secretaria Municipal da Educação para orientar e
organizar os conteúdos dos currículos direcionados à educação musical. Ela
acredita que aspectos sócio-econômicos, e até mesmo um preconceito no que diz
respeito ao ensino das artes no Brasil, são também causas do “desprestígio que os
cursos de música sofrem em relação aos outros considerados de maior importância
ou, por que não afirmar, com maiores possibilidades de rendimento” (ARAÚJO,
2001, p. 85).
Aproveitando este pensamento, encontrou-se um paradigma da educação
que se insere nos conceitos do paradigma conservador, denominado de ‘racional’,
assim concebido:
Otimizar a tendência do aluno enquanto futuro trabalhador, contribuir para a reprodução da divisão social do trabalho, apresentar as relações humanas de acordo com as estratégias do mercado, transmitir a imagem
98
do indivíduo oportunista, materialista, conformista, centrado na ordem estabelecida, socializar o indivíduo com a idéia de produção de consumo (BERTRAND, 1982, p. 106).
O paradigma racional apontado por Bertrand (1982), leva à reflexão sobre os
conceitos de educação ideológica defendidos por Freire (2004), e adverte sobre o
discurso que procura esconder a realidade, buscando demonstrar que é preciso
desapegar-se do pragmatismo pedagógico e da supervalorização do treino técnico e
científico dos alunos, em detrimento de sua formação no todo. Afirma em seu
discurso que “a ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos
fatos, com o uso da linguagem para penumbrar ou opacizar a realidade, ao mesmo
tempo em que nos torna míopes” (FREIRE, 2004, p.125).
Freire (2004) chama a atenção para o fato de que as direções do ideal da
globalização procuram camuflar a realidade de que esta continua favorecendo a
riqueza de uma minoria, resultando na pobreza de grande parte da humanidade.
Também defende ainda que, no exercício da prática docente, há necessidade da
crítica permanente, numa atitude predisposta a estar atento às necessidades do
outro, de saber ver e ouvir com acuidade para uma abertura perene ao diálogo.
Se a Educação Musical nas Escolas Municipais de Curitiba ainda não é
efetivamente aplicada como se faz necessário, a despeito da importância dessa
disciplina no desenvolvimento cultural e humano das crianças, é preciso que os
professores de música não esmoreçam na sua busca de realizar esse ideal, para
que o ensino da música, como dizia Villa-Lobos (1946) seja um direito concedido a
todos os cidadãos.
4.2.2 As contribuições de Moura (1984)
A dissertação de mestrado de Moura, (1984), intitulada Atividades Musicais e
Desempenho do Professor Atuante em Classes de Pré-Escolarização, tem como
objetivo geral “verificar de que maneira a pouca ou nenhuma relevância atribuída à
música na formação do professor atuante em classes de pré-escolarização, interfere
no seu desempenho ao realizar atividades musicais com os alunos”.
99
Para a realização da pesquisa, a autora analisou a realidade das classes de
pré-escolarização, não só no que se refere às atividades musicais, mas também
sobre a atuação dos professores.
No referencial teórico, encontra-se a descrição da educação musical pré-
escolar nas escolas de diversos países do mundo, mostrando detalhadamente como
esta educação acontece. Também são verificados os métodos utilizados, e os
modelos de realização de atividades relacionadas à música na pré-escola nos
países selecionados para a pesquisa.
A autora faz ainda um levantamento das contribuições que o ensino da
música proporciona ao desenvolvimento infantil, e relata com detalhes os valores
intrínsecos a essas atividades, como os de ordem emocional social, e afirma ser
importante “explorar o potencial de possibilidades que a música oferece para
enriquecer todos os aspectos da vida da criança” (MOURA, 1984, p. 34).
Sobre os conteúdos a serem adotados no ensino de música na pré-escola, a
autora dá ênfase ao canto, que considera ser uma das primeiras formas de
comunicação da criança e seu ambiente. Em suas pesquisas, conclui que os valores
educativos que o canto traz à primeira infância estão vinculados ao seu
desenvolvimento rítmico e melódico, além de contribuir para o desenvolvimento da
percepção, da afinação, da memória; também desempenha um papel importante no
uso da respiração.
Importa observar que mesmo o canto, sendo uma atividade aparentemente
simples, Moura, (1984), mostra que o ensino daquela disciplina requer cuidados
importantes na sua aplicação. A prática e o ensino do canto possuem uma gama de
requisitos a serem observados na sua metodologia que, para serem desenvolvidos
adequadamente, precisam de uma orientação profissional competente.
Moura (1984), na seqüência dos relatos sobre os conteúdos a serem
aplicados nos cursos de pré-escolarização, refere-se à educação auditiva,
explicando que esse desenvolvimento acontece antes do nascimento da criança.
A importância do desenvolvimento auditivo, segundo a autora, é de suma
importância, implicando na organização da personalidade da criança. Ela relata
ainda a diferença entre ouvir e escutar, ou seja, “ouvir significa receber sons e faz
parte da sensorialidade auditiva. Escutar é prestar atenção ao som ouvido,
implicando na afetividade e na inteligência aditivas” (MOURA, 1984, p. 43). A
habilidade adquirida no exercício de aprender a escutar desenvolve a capacidade de
100
atenção e concentração. A escuta atenta, é fator preponderante no aprendizado em
todas as áreas do conhecimento.
Sobre esse fator do exercício de aprender a escutar, Murray (1992) apresenta
em seu livro, “Ouvido Pensante”, a importância do ser humano ter a capacidade de
estar atento e reconhecer as diferenças básicas entre sons e ruídos, e ter
consciência de seus efeitos sobre seu organismo e propõe: “o progresso das
civilizações criará mais ruído, e não menos. Disso estamos certos. Com toda a
probabilidade, o nível de ruído aumentará não só nos centros urbanos, mas, com o
aumento da população e a proliferação das máquinas, o ruído invadirá os poucos
refúgios de silêncio restantes no mundo” (MURRAY, 1992, p. 143).
As categorias relativas aos conteúdos de musicalização na pré-escola,
apontadas por Moura (1984), envolvem as atividades de ritmo e movimento por meio
de jogos musicais, associadas ao uso da voz, que contribuem de modo positivo na
assimilação da linguagem, no entendimento da silabação e acentuação das
palavras. As atividades rítmicas incluem a dança com coreografias, o uso de
instrumentos de percussão tradicionais e confeccionados pelas próprias crianças,
utilizando materiais de sucata e utensílios domésticos, a participação em bandinhas
rítmicas, sempre levando em conta a faixa etária das crianças e a adequação das
atividades a elas.
As atividades criativas também são citadas por Moura (1984) como estímulo
ao uso da expressão corporal, atividades que impliquem no aprimoramento do
raciocínio espacial, que explorem espontaneamente o uso da voz, assim como de
instrumentos, trabalhando na criança a capacidade de improvisação. Exercícios de
imaginação individual e em grupo, dão impulso à liberdade de sentir e criar, sempre
tendo em mente que importa que as crianças pequenas sempre se sintam bem
sucedidas, e os resultados não precisam ser julgados.
Na análise paradigmática foi possível detectar que Moraes (1998, p. 55) se
refere à ruptura do paradigma como uma busca de “novos debates, novas idéias,
novas articulações, novas buscas e novas reconstruções, com base em novos
fundamentos”. Isso demonstra a necessidade de um processo de mudança dos antigos
modelos de educação, almejando a renovação não somente nos ambientes de
aprendizagem, mas também em todas as áreas do conhecimento humano.
A autora citada afirma que, com o advento das especializações, muitos
aspectos do conhecimento importantes à formação humana encontram-se
101
fragmentados, não levando em consideração o desenvolvimento da criatividade.
Essa fragmentação, decorrente de um pensamento reducionista, conduz a modelos
culturais irrelevantes e simplificados, que não priorizam o uso de metodologias de
abordagem ampla e abrangente na educação.
Foi registrada nas pesquisas de Moura (1984) a grande lacuna existente entre
o ideal de uma educação que inclui a educação musical desde a pré-escola, e a
realidade com que nos deparamos diante da escassez de material pedagógico,
sistematização do ensino musical nas escolas e falta de aproveitamento de
profissionais especializados nesse ensino, dentro das escolas. Segundo a autora, no
Brasil, a não obrigatoriedade de um horário especial de música, “gerou o fato de que
poucas são as escolas privilegiadas com o ensino musical a cargo de um
especialista” (ARAÚJO, 2000, p. 69).
Cabe aqui citar, como conclusão da pesquisa de Moura (1984), as razões que
levam a autora a sugerir que a música, na fase de pré-escolarização, deve ter uma
relação constante com as demais disciplinas, com horários semanais regulares, com
professores especializados, dada a importância da inclusão da música nos
currículos das escolas brasileiras.
4.2.3 As contribuições de Gonçalves (2003)
A tese de doutorado de Gonçalves (2003), com o título “O Sentido da Música
na Educação: Uma Investigação Interdisciplinar” tem como objetivo fazer um resgate
da importância da educação musical na prática pedagógica, estabelecendo um elo
com a interdisciplinaridade.
A autora faz uma reflexão sobre as práticas pedagógicas realizadas nas
últimas décadas, com a expectativa de explicar e “compreender melhor o fenômeno
musical, suas implicações e aplicações nos meios sociais e educacionais”
(GONÇALVES, 2003, p. 1).
Está incluído nos seus questionamentos o que ocorre com as técnicas de
ensino, a formação docente, além das atitudes que possam ser tomadas para a
resolução de problemas que impedem a convivência com música na vida escolar
102
brasileira, a despeito da constatação de que a influência positiva da experiência
musical na formação do ser traz benefícios em todas as áreas da vida educacional.
Gonçalves (2003) parte da observação da sua própria experiência pessoal
como pianista e professora de piano, para investigar o processo do diálogo
interdisciplinar. Esse procedimento levou a autora a afirmar: “na interpretação de
uma música, o racional e o sensível comunicam-se e se completam. O movimento
sonoro, com o objetivo musical, está submetido às teorias, às estéticas e, desse
modo, deve ser considerado na interpretação” (GONÇALVES, 2003, p. 6), Para
explicar a citação acima, a autora diz: “investigar-me na interação com a minha
prática levou-me a transcendê-la e, em um movimento interdisciplinar, desdobrá-la
em formulação de questões, no campo investigado” (Ibid, p. 5). O texto permite
explicar que a autora encontra pontos comuns entre o significado da educação
musical e o significado da interdisciplinaridade, tendo entre elas a sensibilidade
como fator preponderante.
Assim, partindo do princípio de que a sensibilidade garante a interação dos
campos que promovem a educação, a autora esclarece em seu texto alguns
conceitos sobre teoria musical, como tonalidade, consonância e dissonância, entre
outros, comparando esses conceitos aos diálogos interdisciplinares. Acredita que
para a música ser praticada nas escolas, faz-se necessário que seus conceitos
sejam aprendidos de modo aprofundado, e sejam conectados a uma educação geral
mais ampla.
Os paralelos que a autora estabelece entre as afinidades dos conceitos
musicais e a educação interdisciplinar, têm como ponto comum o desenvolvimento
humano em plenitude, com o comprometimento de priorizar o desenvolvimento da
sensibilidade.
A visão holística na educação musical leva a refletir sobre a superação da
proposta curricular disciplinar. Para tanto, busca uma visão interdisciplinar. Entende-
se interdisciplinaridade
O conceito de interdisciplinaridade, tal como é concebido e trabalhado por Ivani Fazenda, traz interrogações sobre o ser humano e sobre os seus fazeres, na perspectiva de complementariedade. O fazer humano é um revelar do ser, como individualidade construída nas relações com o mundo, seja no que tange às generalidades e particularidades, seja naquelas nascidas nos relacionamentos pessoal e interpessoal. (FAZENDA, 2000, apud GONÇALVES, 2003, p. 54-55).
103
A interdisciplinaridade, fundamentada nas pesquisas de Ivani Fazenda
(1994), entre outros autores, é um conceito muito abrangente, com um percurso
histórico que trata do tema com muitas direções e pesquisas. Segundo Fazenda
(1994), não é possível definir a interdisciplinaridade com um só conceito, pois
existem posicionamentos conflitantes de teóricos e estudiosos do assunto.
O movimento da interdisciplinaridade teve início em meados de 1960,
sobretudo na França, quando iniciaram os movimentos estudantis.
Como oposição a todo o conhecimento que privilegiava o capitalismo epistemológico de certas ciências, as organizações curriculares (...) evidenciavam a excessiva especialização a toda e qualquer proposta de conhecimento que incitava o olhar do aluno numa única, restrita e limitada direção, a uma patologia do saber (FAZENDA, 1994, p.19).
Entre os temas propostos para o exercício da interdisciplinaridade, encontra-
se o estudo da arte, da matemática, da geografia humana, da neurofisiologia, da
psicologia, todas essas disciplinas com o intuito de superação das dicotomias cultura
e ciência e ciência e arte. Aquele exercício inclui também as atividades musicais de
vez que é um tema propício para abrigar outras áreas do conhecimento, com vistas
a um projeto educacional que envolva o gosto pela arte e que vislumbre o despertar
da sensibilidade, pois “as atitudes interdisciplinares sustentam-se sobre as bases da
sensibilidade e esta é, por excelência, o habitat das atuações musicais”
(GONÇALVES, 2003, p. 17).
Na década de 1980, o movimento da interdisciplinaridade foi em busca de
epistemologias, o que gerou um posicionamento que a tem não como uma
categoria, mas como uma ação, como o exercício do conhecimento e da pesquisa
com flexibilidade e o desenvolvimento da interdisciplinaridade pelas próprias
disciplinas.
Entre os equívocos gerados pelos modismos da década de 1960, “a
interdisciplinaridade encontrou na ideologia manipuladora do Estado seu promotor
maior” (FAZENDA, 1994, p. 30). Esses foram cuidadosamente revistos a partir de
1980, quando surgiu uma nova etapa em que era valorizado o professor que tivesse
como perfil uma atitude interdisciplinar verdadeira.
104
Segundo análises de Fazenda (1994), a busca de envolvimento do modelo de
professor interdisciplinar que se apresenta comprometido com seus alunos, ousa
novas metodologias de ensino, amparados pela pesquisa e pelo bom senso. Suas
histórias de vida são marcadas pela obstinação de luta e pela vontade. O
pensamento de Fazenda (1994) vem ao encontro do pensamento de Freire (2004, p.
34), que diz: “Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo”.
No entanto, muitos outros fatores intervêm na inovação educativa para o
refinamento de sua qualidade, para a verdadeira mudança social, para o avanço da
tecnologia e da cultura.
De acordo com Gonçalves (2003) a educação interdisciplinar e a educação
musical juntas podem favorecer o crescimento, o conhecimento das pessoas, além
de proporcionar aos educandos um elo entre o conhecimento objetivo e subjetivo,
muito necessários ao desenvolvimento dos aspectos pessoais, coletivos e
interpessoais.
A pesquisa de Gonçalves (2003) apresentou e analisou diálogos com
educadores para observar em suas declarações, o que é percebido não somente na
educação musical, mas também na experiência musical de cada um. Nessa busca,
foi observada a constatação de que não estão claros para aqueles educadores os
conceitos musicais e, com isso, os resultados que o envolvimento musical, constante
e organizado, proporcionam nos processos do despertar da sensibilidade não são
satisfatórios.
Permeada pelos conceitos da investigação interdisciplinar, a tese em questão
se fundamenta no paradigma da complexidade, e a autora explica:
Articulada a partir do paradigma da complexidade (Morin, 1996), a interdisciplinaridade fundamenta-se na expectativa de pensar, elaborar e disseminar os conhecimentos como um todo relacionado. Acolhe a gama de influências que concorrem com as evidências factuais, mas, sobretudo, considera o envolvimento da personalidade do indivíduo na busca dessas evidências (GONÇALVES, 2003, p. 24).
Dando seqüência aos seus relatos, Gonçalves (2003) define o processo do
conhecimento como fruto de uma educação afetiva, permitindo a expressão de
sentimentos, que levam à ação, que desperta atitudes para a realização humana, e
explica os efeitos da vivência musical no desabrochar desses conceitos.
105
Suas referências sobre a interdisciplinaridade dão ênfase, sobretudo à
criatividade, que é uma habilidade que deve ser constantemente exercitada. Acredita
que a educação musical favorece esse tipo de desenvolvimento, ou seja, o
desenvolvimento criativo, gerado pela sensibilidade, que tornam o ser humano único
nos seus empreendimentos em qualquer área de atuação.
A autora pretende, com sua pesquisa, contribuir para reverter a realidade da
ausência da educação musical nas escolas brasileiras. Com um olhar atento sobre a
realidade de outras escolas no mundo, sobretudo no Japão, em que a experiência
do ensino musical é de grande importância desde a pré-escola e está vinculada a
outras áreas da educação, declara: “depositando nas práticas musicais a tarefa de
desenvolver, de maneira integral, a personalidade humana, Suzuki propala que o
intercâmbio com a música é caminho seguro para a educação do ser humano. É
uma forma de conduzi-lo às realizações relativas à vida interior” (GONÇALVES,
2003, p. 37).
Para a autora, que se ancora nos fundamentos de Fazenda (1994), fica
evidente seguir o conceito de que o educador deve estar sempre atento às
exigências para uma nova postura na educação.
A interdisciplinaridade resultante de pesquisas e de trocas constantes de
pensamentos que visem uma larga abrangência na formação do ser humano permite
que um número muito maior de pessoas possa entrar em contato com seus
verdadeiros dons e buscar uma vocação que busque a realização sensível e criativa
própria de cada ser.
Essa interdisciplinaridade, defendida por Gonçalves (2003), é um processo
que inclui todas as experiências das atividades humanas, na busca de
conhecimentos passados e do cotidiano, sejam eles de ordem intelectual ou prático,
que propiciem uma perspectiva educacional de construção de um conhecimento
vinculado a processos que priorizem a sensibilidade e o sentido.
A autora da tese cita conceitos diversificados de interdisciplinaridade em
diferentes países, sendo que na França significa a integração dos saberes, nos
Estados Unidos a integração dos fazeres e no Brasil, a conotação de
interdisciplinaridade explicitada por Ivani Fazenda, “não é sustentada pelo sentido
que traz o termo integração, - união de partes -“ (GONÇALVES, 2003, p. 61).
Sendo assim, esse conceito de interdisciplinaridade leva a observar a
importância da troca mútua de experiências entre os sujeitos e as ferramentas
106
destinadas à construção do conhecimento, respeitando as diversidades de cada um
deles, de cada cultura e de tudo que envolve o ser. É, antes de tudo, compartilhar
vivências na tentativa mútua da resolução de problemas e na busca do
conhecimento para a liberdade.
É importante mencionar a preocupação de Gonçalves (2003) de continuar na
luta pela busca da inclusão da música nas escolas, a despeito de serem inúmeros
os profissionais que já vêm lutando por essa causa, desde décadas passadas até os
dias de hoje. É importante não esmorecer e continuar dando sugestões e apontando
soluções para que a música e a interdisciplinaridade com as demais disciplinas se
completem na construção de uma escola mais completa, sem perder a esperança.
Cabe aqui complementar a descrição desse propósito com o pensamento de
Freire (2004), quando afirma que é indispensável acreditar que o ato de ensinar
requer a convicção de que as mudanças são possíveis e viáveis, que todo educador
deve interferir nos processos de mudança, tarefa essa nada simples, porém
promotora do comprometimento com o desenvolvimento do saber. Assim, Freire,
(2004) nos mostra que o triunfo dos educadores reside na força e certeza de que as
mudanças são possíveis e de que é preciso continuar trabalhando no sentido de
abrir caminhos para a inclusão na formação do indivíduo, visando à aquisição de
saberes indispensáveis a tal.
Com essa preocupação, Gonçalves (2003) apresenta uma visão
paradigmática progressista, conforme a afirmação a seguir:
A experiência que possibilita o discurso novo é social. Uma pessoa ou outra, porém, se antecipa na explicitação de nova percepção da mesma realidade. Uma das tarefas fundamentais do educador progressista é, sensível à leitura e à releitura do grupo, provocá-lo, bem como estimular a generalização da nova forma de compreensão do contexto (FREIRE, 2004, p. 82-83).
Se a educação musical enfrenta uma luta para encontrar espaço dentro da
educação formal no Brasil, encontrando respostas tímidas para a resolução desse
problema ao longo da história, não se pode esmorecer no sentido de continuar a
busca de sua realização, tendo em vista os benefícios dos ganhos para o
desenvolvimento humano que o contato com o desenvolvimento artístico musical
proporciona.
Nas conclusões de sua pesquisa, Gonçalves (2003) afirma que as
experiências obtidas com a música na percepção, na emoção, são estritamente de
107
âmbito individual, portanto, subjetivas. É necessário que o educador tenha
consciência da necessidade dessa vivência para ser capaz de realizar uma
educação musical que transcenda à simples transmissão de conhecimento.
Gonçalves (2003) sugere algumas metodologias para educação musical
encontradas em autores consagrados, como Schafer (1991) e Gainza (1978), cujos
conteúdos facilitam a prática educativa musical. Ela promoveu trabalhos
significativos de experimentação do uso da música e a interdisciplinaridade, na
cidade de Brasília, que proporcionou a professores e alunos terem uma rica vivência
nessa área.
4.2.4 As contribuições de Del Ben (1997)
Com a observação detalhada da dissertação de mestrado de Del Ben (1997),
intitulada, A utilização do modelo espiral de desenvolvimento musical como critério
de avaliação da apreciação musical em um contexto educacional brasileiro, foi
possível encontrar alguns aspectos de uma abordagem da pedagogia social de auto-
desenvolvimento, proposta pela autora.
A investigação de Del Ben (1997), basea-se em um estudo de caso. Essa
proposta demonstra a “aquisição de um saber-dizer-pensar-partilhar-fazer-viver que
corresponde aos componentes sinergéticos de uma práxis social: vivência expressa,
partilhada, interpretada e transformada.” (BERTRAND, 1982, p. 214).
O modelo espiral de desenvolvimento musical criada por Swanwick (1988) foi
utilizado como um critério para ser utilizado na prática educativa musical para alunos
de 1.a, 4.a, e 8.a séries do ensino fundamental de uma escola pública brasileira.
O enfoque de conteúdo da pesquisa citada sugere uma metodologia para ser
introduzida nos currículos de educação musical, sendo abordadas questões de
avaliação da compreensão da atividade de apreciação musical a que se
submeteram os educandos. A autora se fundamenta na afirmação de que a
avaliação, que envolve um raciocínio analítico, requer reflexão para a compreensão
do objeto a ser avaliado.
No ensino da música, a avaliação do educando daquilo que é assimilado pela
apreciação musical é parte do aprendizado, o que se torna uma difícil tarefa pela
108
subjetividade da experiência e compreensão musical, que é particular a cada
indivíduo.
As propostas da Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical (SWANWICK,
1998), “propõem que o conhecimento musical seja avaliado de forma abrangente,
contemplando simultaneamente o que o autor define como dimensões de crítica
musical, isto é, nas formas de responder à música” (DEL BEN, 1997. p. 3).
Nesse sistema de ensino, a prática musical é vista a partir do todo, não sendo
fragmentada em conhecimentos isolados. São estimuladas a observação e
avaliação de todo o contexto gerado na peça musical que resulta na composição da
obra, na sua execução, seguida pela apreciação. Sendo assim, a experiência
musical acontece de modo integral. Nesse processo, as estratégias pedagógicas
podem ser adaptadas por repertório que seja adequado na abordagem das
diferentes fases do desenvolvimento dos educandos.
A autora da dissertação considera que a apreciação musical é uma atividade
imprescindível na prática artística, e que o estímulo da prática da avaliação traz
grandes benefícios à aprendizagem em todas as áreas do conhecimento.
A avaliação, que sempre foi encarada como algo que julga valores
qualitativos e quantitativos de aquisição de conteúdos e desempenho escolar dentro
do contexto da educação, é, nesse método de desenvolvimento musical, revista
como uma tomada de decisão para a compreensão de fenômenos ligados à
apreciação musical.
Del Ben (1997) apresenta na dissertação o posicionamento paradigmático
sócio-cultural, também apontado por Beltrand (1982). Assim explica que é preciso
que o saber seja estabelecido por uma união de procedimentos humanos em que a
expressão, o julgamento, o compartilhar de idéias façam parte da transformação que
geram o desenvolvimento pleno do ser. O saber-fazer, assim como o saber-pensar,
e viver, e dizer, em conjunto, anunciam o encaminhamento de uma humanidade
mais solidária em busca da liberdade, da responsabilidade e da coragem para a
busca das transformações sociais e individuais.
Outra abordagem relevante apontada por Del Ben (1997) no desenvolvimento
dos alunos, é a Teoria Espiral do Desenvolvimento Musical (Swanwick,1998),
aplicada por Bem, 1997, esta teoria se apresenta como base significativa e
específica a importância das artes, especialmente da música, na experiência
humana.
109
A simplicidade do processo de avaliação da Teoria Espiral do
Desenvolvimento Musical (SWANWICK,1998) e a confirmação da viabilidade de sua
aplicação verificadas por Del Ben (1997), para diversificar os conteúdos dos
currículos na área da educação musical, com estratégias e abordagens
diferenciadas, demonstram que a educação musical para todos não é uma utopia. A
autora, no final de suas investigações, chega à seguinte conclusão:
Esta pesquisa espera ter contribuído com a educação musical por ter confirmado a viabilidade de se utilizar os critérios do Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical como modelo de avaliação da apreciação musical; por ter apresentado um método que poderá ser utilizado em sala de aula para avaliar o nível de compreensão dos alunos através da atividade de apreciação, e por sugerir uma ampliação às informações ao professor sobre como os alunos apreciam música” (DEL BEN, 1997, p. 178).
Nas teses e dissertações abordadas neste trabalho de pesquisa, foram
encontrados relatos que demonstram que os paradigmas tradicionais e inovadores
da educação, em geral convivem na área da Educação Musical, quando esta se
encontra no currículo das escolas brasileiras, na abordagem de seus conteúdos, na
atuação dos professores e na aplicação dos métodos de musicalização.
O estudo dos quatro trabalhos selecionados nesta pesquisa levou à
observação de que o ensino musical sistematizado, abordando os diferentes
enfoques educativos da arte musical, num trabalho individual e coletivo dentro da
escola podem trazer resultados muito efetivos na construção do conhecimento , na
interdisciplinaridade.
Os autores pesquisados acreditam que trabalhar por meio da música a
atenção, a coordenação motora, ritmos, audição, lateralidade, equilíbrio,
administração do espaço, a tonacidade muscular, a disciplina, o despertar do gosto
musical e apreciação da arte e o senso crítico, não só é uma determinação dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), mas uma necessidade premente quem
tem sido negada às crianças brasileiras em grande parte das escolas públicas. São
poucos os estabelecimentos de ensino de educação infantil que possuem a música
no currículo escolar.
As escolas brasileiras ainda não oferecem professores de música habilitados
a exercer a docência desta disciplina, assim como uma educação continuada para
estes docentes. Os professores de artes em geral, são muitas vezes incumbidos de
110
ministrar aulas de música, e muitas vezes atividade musical torna-se um exercício
de entretenimento, uma vez que é utilizada em ocasiões comemorativas, em datas
cívicas ou datas específicas como páscoa, dias das mães, primavera.
Portanto, pela observação da autora desta dissertação somada aos dados
coletados nos trabalhos pesquisados, a música é aplicada somente ao canto, na
escola de modo que não leva as crianças a fazerem uma reflexão e um estudo de
seus conteúdos, limitando-se ao canto repetitivo, gestos e coreografias muitas vezes
de gosto duvidoso.
Nos 4 trabalhos pesquisados com mais profundidade, a investigação Del Ben
(1997), adota um método de apreciação e avaliação musical com crianças e
adolescentes chamado “Teoria do Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical de
Swanwick” (1988), e demonstra que a aplicação de um método criterioso e bem
planejado para o ensino musical é apreciado pelos alunos, e traz a eles benefícios,
ampliando seu desenvolvimento cognitivo, crítico e capacidade a apreciação
artística.
A dissertação de Araújo (2001) concentra-se no que estava sendo adotado no
currículo das escolas municipais de Curitiba (PR) no ano 2000, e a autora relata as
dificuldades que estas escolas encontram no que diz respeito à periodicidade do
ensino da música nestas escolas, à falta de profissionais capacitados e o restrito ou
muitas vezes inexistente material didático disponível para o ensino da música
naqueles estabelecimentos.
A tese de doutorado de Gonçalves (2003), refere-se, sobretudo, à
necessidade da educação musical nas escolas, como fator que agrega a
interdisciplinaridade.
Este assunto tem sido observado no trabalho de ensino musical da autora da
presente dissertação, ao longo de sua carreira, e é possível verificar que a prática
musical constante leva a criança a uma amplitude na visão do conhecimento geral
adquirido pela educação musical.
Como exemplo para ilustrar esses fatores interdisciplinares, temos a
educação do ouvido musical que leva à facilitação do aprendizado de línguas, a
história da música que leva ao conhecimento ampliado da história e geografia geral,
as divisões matemáticas inseridas nos compassos musicais, nas contagens de
tempo. Da mesma forma, a compreensão e habilidade conhecer intervalos
matemáticos musicais levam ao aprimoramento do raciocínio lógico matemático.
111
Ainda na prática da criação, a expressão por meio da execução musical, desenvolve
habilidades de expressão em outras linguagens. Portanto, a música, no parecer da
autora desta dissertação, pode auxiliar na interdisciplinaridade, o que é um fator
decisivo no exercício dos novos paradigmas da educação, como por exemplo, o
paradigma holístico que visa desenvolver o ser humano em todos os âmbitos de
desenvolvimento.
A dissertação Moura (1984), desde aquela década aponta problemas
semelhantes no que se refere às lacunas do ensino da música na escola brasileira, e
a necessidade urgente de tornar o ensino da música não só obrigatório, porém bem
vindo pelos responsáveis pelas políticas educacionais.
Estes 4 estudos permitem perceber que existe a preocupação dos autores em
buscar novos paradigmas para o ensino e aprendizagem da música, mesmo não
utilizando a denominação de paradigmas.
112
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Sapo jururu, na beira do rio,
quando o sapo canta, menino,
é porque está com frio” (folclore brasileiro).
O imaginário que habita na mente das pessoas que escrevem, executam e
ouvem a música, assim como as experiências na vivência da arte musical que
contribuem e interferem na formação cognitiva individual e coletiva, têm uma relação
com o concreto e com a afetividade.
A diversidade do universo melódico permite que este possa ser multiplicado,
produzindo combinações infindáveis, tendo como ponto de partida um número
restrito de sete notas musicais. As produções rítmicas e sonoras dão espaço para os
vôos da imaginação daquele que produz a obra de arte e daquele que dela usufrui
pela observação, pelos sentidos, que envolve todo o ser, num exercício cósmico que
é infinito, segundo Teixeira (2006).
Dentro desse raciocínio, é possível perceber ainda as interferências do
imaginário que nos levam a sair do tempo, reorganizar o espaço, saindo do cotidiano
quando somos envolvidos pelos ritmos e melodias. “A flauta seduz o ouvido. O
tambor percute a pulsação uterina. Martelo, bigorna, tímpano servem agora a um
outro ferreiro alquímico sonoro. Martelam imagens de uma outra dimensão”
(DURAND, 1927, p. 61).
O mesmo ocorre com as palavras, que com poucas vogais e consoantes,
possibilitam a criação de um infinito universo de combinações expressivas que
permitem a comunicação humana. Assim também podemos classificar o
conhecimento humano, como uma rede de informação a ser assimilada, multiplicada
e partilhada. É infinito, inesgotável, sedutor e, sobretudo um direito de todo cidadão.
Embasado nas produções de profissionais da área de música, por meio do
estudo de teses de doutorado e dissertações de mestrado, procurou-se encontrar na
presente pesquisa, práticas pedagógicas que apontem paradigmas educacionais
que dêem atenção à expansão da imaginação, da criação, da experiência da
113
habilitação do exercício da crítica, da construção do conhecimento da cultura
artística e musical, e sua reabilitação na priorização da sensibilidade.
Este trabalho, seguiu um percurso, ancorado nas ciências sociais, quais
sejam, de ordem qualitativa e estado da arte, que podem proporcionar aos
pesquisadores, o estudo dos fenômenos culturais e suas vinculações com a
realidade.
Foi feito um levantamento no início da pesquisa de 39 teses e dissertações
sobre Educação Musical nas bases de dados do IBICT, Banco de Dados de Teses e
Dissertações da Biblioteca Digital do CNPq. Foram ainda encontrados 68 registros
no Banco de Dados Bibliográficos da Universidade de São Paulo – Catálogo On-line
Global-DEDALUS, entre outras bibliotecas.
Os assuntos que nortearam a escolha das teses e dissertações que foram
eleitas para o aprofundamento da pesquisa, foram os referentes à educação
musical, à visão histórica da música na escola, aos paradigmas da educação
musical adotados no ensino da música e a implicações tanto no que diz respeito a
sua existência na escola brasileira, como na sua ausência na prática educativa.
Foram analisadas 13 teses e dissertações selecionadas, e foram destacados
4 desses trabalhos, para um estudo mais aprofundado e abrangente.
Com o intuito de responder a pergunta do problema proposto neste trabalho,
as análises aqui apresentadas procuraram apontar e perceber a importância da
educação musical na escola brasileira, iniciando por uma reflexão sobre a presença
da música na história da humanidade e os paradigmas educacionais ali encontrados,
até chegar no século XXI, descrevendo também a trajetória paradigmática do ensino
musical.
Com as citações históricas da presença da educação musical desde a
antiguidade até os dias de hoje, foi possível coletar informações que contribuíram
para que no Brasil o ensino da música não mais seja relegado a um plano provisório,
empírico, inconstante e de pouca importância.
As sugestões que surgiram no decorrer da reflexão sobre as implicações do
estudo musical na vida das crianças e no contexto escolar, levam a crer que a
prática regular e continuada de uma educação musical levada a sério poderá induzir
114
à interdisciplinaridade, advindos do exercício da vivência musical utilizada nas
práticas pedagógicas.
Este estudo procurou mostrar, também, a importância das técnicas que
buscam o aprimoramento da atenção, da coordenação motora, da ampliação e
refinamento do universo do conhecimento no contexto da educação geral.
As leis que norteiam os currículos da escola brasileira, ou seja, a LDB, e os
PCNs, deixam explicitado que a música faz parte do currículo do ensino das séries
iniciais de 1.ª a 4.ª séries. No entanto, isto não representa a realidade.
A pesquisa observou, no trabalho de pesquisadores em Educação Musica,
que seus relatos mostram a realidade do ensino da música na escola brasileira e
apontam soluções que são palpáveis e não significam pressupostos sofisticados
para a implantação desta disciplina no currículo das escolas.
Professores de música continuam se graduando nos cursos superiores das
universidades brasileiras, porém não há espaço para o aproveitamento desses
profissionais nas escolas públicas do Brasil. Provas desta realidade são relatadas
pelos autores das pesquisas aqui selecionadas.
Muitas das teses e dissertações sobre a Educação Musical no Brasil, tratam
em geral de assuntos recorrentes, para a busca da solução dos problemas que
envolvem a falta da música nos currículos e a sistematização do ensino musical.
Os paradigmas que abraçam o ensino da música no Brasil, quando este
acontece em algumas escolas, estão ainda no âmbito dos sistemas tradicionais, em
que a transmissão de conhecimento ocorre de modo verticalizado (Freire, 1996) e
sem a função de investir na construção do conhecimento musical das crianças e dos
adolescentes.
Porém já podem ser observados esforços no intuito de aplicar os paradigmas
inovadores, que incluem a tecnologia e recursos midiáticos no âmbito da Educação
Musical.
Em geral, observa-se nestas pesquisas, que a história da educação musical
no Brasil, encontra-se inserida dentro de uma pedagogia que leva a música a um
contexto de utilidade cívica e de comemorações de datas em geral, simplesmente
115
como uma atividade de entretenimento, sem se preocupar com a formação musical
dos alunos e docentes.
Ainda nas citações históricas das pesquisas aqui estudadas, encontram-se
depoimentos de pedagogos, pensadores e cientistas que mostram todos os
benefícios de uma educação musical criteriosa e competente.
Cabe então sugerir que a luta não esmoreça. Faz-se necessário continuar
buscando o êxito nas conquistas de proporcionar melhores condições de
escolarização as nossas crianças, pois este é um direito que não lhes pode ser
negado. Crianças de alto poder aquisitivo em nossa sociedade estudam em escolas
privadas que ampliam seu quadro de conhecimento aos seus alunos com ensino de
artes, incluindo a música. Essas mesmas crianças, ainda possuem o privilégio de
freqüentar escolas de música particulares para o estudo de instrumentos musicais.
Sonho de muitos, oportunidade para poucos. O fascínio do contato com a
música, na busca do belo, e da expressão dos sentimentos, quando manejados por
educadores de talento podem levar à educação brasileira a um grau superior de
excelência.
“A mulher do sapo, foi quem me contou,
que aquele sapo menino era um professor” (folclore brasileiro)
116
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SUBTIL, Maria José Dozza. Mídia, gosto musical e a construção social da noção de infância. In: DOTTORI, Maurício et al. (Ed.). SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 1., Curitiba, 2005. Anais ... Curitiba: DeArtes UFPR, 2005.
SUZUKI, Shinichi. Educação é amor . Santa Maria: UFSM, 1998.
TEIXEIRA, Maria Ignês et al. Sensibilizando o tempo e temporalizando a sensibilidade: Uma proposta metodológica baseada em a lógica não-aristotélica de Gaston Bachelard. EDUCERE, 4., Curitiba, 2004. Anais ... Curitiba: PUCPR, 2004.
TEIXEIRA, Maria Ignês. Vídeo aula musical . Curitiba: Lumen, 2002.
THE NATIONAL ASSOCIATION FOR MUSIC EDUCATION. Reston, VA, 1907-2007. Disponível em: http://menc.org. Acesso em: 26 maio 2006.
TRIAS, Núria. Juegos rítmicos. Barcelona: Ediciones “Pilar Longueres”, 1994.
VENTURA, Ricardo. O Instituto Villa-Lobos e a música popular. Brazilianmusic.com. Disponível em: http://www.brazilianmusic.com/articles/ventura-ivl.html, 2005. Acesso em: 26 maio 2006.
122
VILLA-LOBOS, Heitor. Educação Musical. Boletim Latino-Americano de Música , abril de 1946.
VISCONTI, Márcia; BIAGIONI, Maria Zei. Guia para educação e prática musical em escolas. São Paulo: ABEMÚSICA, 2000.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
YUS, Rafael. Temas Tranversais . Porto Alegre: Artmed.1998.
ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo : uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ZAGO, Nadir; CARVALHO, Maria Pinto; VILELA, Rita Amélia Teixeira. Itinerários de pesquisa, perspectivas qualitativas em Sociologia d a Educação . Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
123
ANEXO A - LISTA DAS TESES E DISSERTAÇÕES QUE COMPÕE M O ESTUDO
124
1. ARAUJO, Rosane Cardoso. O Ensino da Música nas séries iniciais das
escolas municipais de Curitiba no ano 2000. Curitiba, 2001. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná UTPR.
2. DEL BEN, Luciana Marta. A utilização do Modelo Espiral de Desenvolvimento
Musical como Critério de Avaliação da Apreciação Mu sical em um Contexto
Educacional Brasileiro. Porto Alegre, 1997. Dissertação (Mestrado em Música) -
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS.
3. FICHEMAN, Irene Karaguilla. Aprendizagem Colaborativa Apoiada por Meios
Eletrônicos Interativos: um estudo de caso em Educa ção Musical . São Paulo,
2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) - Universidade de São Paulo,
USP.
4. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. Educação Musical-Investigação em
Quatro Movimentos: Preludio, Coral, Fuga e Final . São Paulo, 1991. Dissertação
(Mestrado em Psicologia da Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, PUC/SP.
5. GONÇALVES, Maria Inês Diniz. O Sentido da Música na Educação: Uma
Investigação Interdisciplinar. São Paulo, 2003. Tese (Doutorado em Educação)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP.
6. LAZZARIN, Luís Fernando. Possibilidades de Atribuição de Significado na
Apreciação Musical: um estudo exploratório. Porto Alegre, 2000. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS.
7. LOUREIRO, ALICIA MARIA ALMEIDA. O Ensino da Música na Escola
Fundamental: dilemas e perspectivas. Santa Maria, 2000. Dissertação (Mestrado
em Educação) - Universidade Federal de Santa Maria, UFSM.
125
8. MOURA, Ieda Camargo de. Atividades Musicais e Desempenho do Professor
Atuante em Classes de Pré-Escolarização. Curitiba, 1984. Dissertação (Mestrado
em Educação) - Universidade Federal do Paraná, UFPR.
9. OLIVEIRA Glacy Antunes de. O ensino de música no Brasil: fatos e desafios .
Goiânia 2000. Dissertação (Mestrado em Música) - Universidade Federal de Goiânia,
UFGO.
10. SOARES, Gina Denise. Coro Infantil: Educação Musical e Ecologia Social, a
Partir das Idéias de Koellreutter e Guattari . Rio de Janeiro, 2000. Dissertação
(Mestrado em Música) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO.
11. SOUZA, Cássia Virgínia Coelho. Coro Infantil: Educação Musical e Ecologia
Social, a Partir das Idéias de Koellreutter e Guatt ari. Santa Maria,1993
Dissertação (Mestrado em Música) - Universidade Federal de Santa Maria, UFSM.
12. SOUZA, Cássia Virgínia Coelho de. Educação Musical a distância e formação
de professores . Salvador, 2003. Tese (Doutorado em Música) - Universidade
Federal da Bahia, UFBA.
13. TOZZETO, Anita Henriqueta Kubiak. Educação Musical: a Atuação do
Professor na Educação Infantil e Séries Iniciais. Curitiba, 2002. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná, UTPR.